Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
De maneiras que é assim, de acordo com Pedro Nunca Santos: vota como eu digo que vou fazer e não como não fiz enquanto lá estive. Basicamente, é este o mantra do candidato-socialista. O secretário-geral-ex-ministro-demitido é também juiz desembargador do supremo tribunal da memória ténue dos eleitores hipnotozados. Fez delete do seu cadastro enquanto governante de pastas e afins. Serve-se do mata-borradas para eliminar gralhas de ingestão política. E agora quer renascer, mas não se diz ressuscitado. Faz fé cega na carreira que saiu da plataforma da geringonça e que descarrilou no apeadeiro da maioria absoluta. O homem não consegue lipoaspirar-se, mas diz que já fez a dieta necessária. Identificou as verrugas que sobraram da cirurgia plástica para embelezar os últimos oito anos e afirma ter no bolso uma lima para desbastar as agruras. Este post é dirigido aos militantes-camaradas socialistas. Mas não é dirigido por mim. É take-away ou Uber político cuja plataforma de distribuição assenta arraial no Largo do Rato, onde uma poderosa máquina de comunicação há 50 anos tem vindo a aperfeiçoar o desempenho dos bytes de propaganda. Deveriamos estar a lamentar meio século de usurpação da coisa pública pelo Partido Socialista. A subtração que fizeram ao povo Português. Porque tiraram mais do que deram, embora afirmem o contrário. Não foram oito anos de governação. Foram muitos mais. Mas para contas certas é melhor pedir ao secretário-geral. Ao outro. O da ONU.
crédito imagem: Horácio Villalobos/Cerbis via Getty Images
O que se passa em Portugal? Com esta história das eleições de Trump quase que me esquecia onde tenho assente o meu arraial. Pois. Não devo ser o único. António Costa também anda equivocado. São só boas notícias. É o tal crescimento do PIB que dá logo vontade de comemorar. É a tal intensificação das exportações. É o passeio dos alegres a Moncloa com direito a beberete com Rajoy. É o doutoramento honório casa de António Guterres nesse país de nem bons ventos nem bons casamentos. E, como cereja em cima do bolo, o beijo de aprovação do Orçamento de Estado de Juncker e companhia! Ah, como é bom fingir que está tudo bem e que os ventos de mudança dos EUA e da Europa não têm nada a ver, que não são suficientemente fortes para albalroar o casco de uma geringonça. Quem tem Centeno e Galamba não precisa de ver esses canais de televisão vendidos aos neo-liberais. Esses Bloombergs ou CNBC. Os juros dos government bonds dos EUA? Isso? Isso é lá com eles, pá. Aqui é porreiro pá. Trumponomics? Nunca ouvi falar. E nós temos a nossa escola. Temos o Constâncio. Temos o BCE, não precisamos de mais nada. E o Donald Trump até nem sabe onde fica Portugal. É na América Latina, não é?
"Cada filho vale 600 euros" - filhos? A taxa de natalidade mais baixa da Europa, ok? "IMI: taxa máxima em 0,45% e desconto por filho" - por filho? A taxa de natalidade mais baixa da Europa (outra vez). E não explicam qual o rácio de descendentes por metro quadrado? 7 anões por T0 ou 4 irmãos por moradia unifamiliar. "IVA na restauração" - simpático o bife de Seitan e o pudim de Tofu. Perguntem ao chefe Silva o que pensa da brincadeira? "Apoio ao desemprego: majoração para casais e apoio extraordinário" - Lembram-se do Rendimento Social de Inserção? Pois. Isto é diferente. Vai apenas eternizar a condição de desempregado. Nem vale a pena sair da cama. "Consumo mais caro: ISP, ISV, Tabaco" - pensava que iam devolver o poder de compra ao Zé. "Taxas moderadoras descem" - é despachá-los logo na Linha Saúde 24 e evitar que se desloquem ao centro de saúde. "Funcionários públicos sem cortes" - sim, os eleitores especiais devem ser recompensados. "Aumento das pensões" - não, não são 60 cêntimos. Esses fazem falta para mais meio litro de gasóleo. "Tarifa social de água e luz" - duches às escuras acabaram. "Apoios sociais: CSI, abono de família - manuais gratuitos, mas encomendados a editoras de amigos, está bem?
António Costa pode invocar as razões de peito que entender, afirmar que se enganou há dois anos quando prescindiu das decorações, mas é verdadeiramente escandaloso que o Presidente da Câmara de Lisboa e seus compinchas de autarquia tenham decidido esbanjar 300.000 euros em luzes de Natal. Um país falido não se pode dar a este luxo. Ponto final. A árvore de Natal da praça do Comércio, assim como as luzinhas que decoram a baixa, são um atentado à dignidade de centenas de milhar de cidadãos que não têm meios para mandar cantar um ceguinho. Dizem algumas mentes espirituosas que a esperança deve ser a última a morrer, a derradeira a apagar as luzes, mas este espectáculo serve apenas para prolongar a dor. Faz com que o povo pense que afinal está tudo bem. Mas meus senhores, talvez estas velas de aniversário sejam o último fôlego antes do estoiro final. A seguir ao fogo de artifício e ao espumante de fim de ano, veremos o estado da ressaca nacional. A situação que atravessamos nunca será ultrapassada se nos sujeitarmos à sorte de políticos que não entendem a gravidade destes tempos históricos. Trezentos mil euros serviriam para deixar obra por mais pequena que seja - a remodelação de um centro de acolhimento para sem-abrigo, a construção de um centro de saúde onde mais falta faz, a distribuição de rações de sobrevivência a quem mais fome tem. Enfim, não é preciso ser um génio para perceber o que quero dizer. Deste modo não se vai a parte alguma. Em vez das luzes high-tech penduradas entre os edifícios da cidade, uma iniciativa de contenção seria mais que bem-vinda. Por exemplo, uma noite de vigília à moda dos Nazarenos - uma corrente humana em que cada um acende a mecha da sua pequena vela - o pequeno isqueiro de empatia, de solidariedade silenciosa. Ainda ontem houve alguém que me disse que a decoração natalícia tem a importante função de atrair turistas, de trazer à capital forasteiros que deixam uma gratificação ao desgraçado, ao que eu respondi; qualquer dia esses mesmos turistas virão fazer a ronda dos cemitérios nacionais, prestar homenagem aos tombados em tempos de paz. Em dia de restauração o que necessita de ser refundado é o sentido ético e humano das nossas sociedades. Venha de lá esse pinheiro manso e o fósforo para atear a pira decorada por almas penadas, enforcadas pela miséria, enterradas pelos nossos olhos que ainda acreditam no pai Natal.