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Imaginação, perfectibilidade, literatura e política

por Samuel de Paiva Pires, em 26.01.13

Da introdução de Louis Menand a The Liberal Imagination de Lionel Trilling:

 

«For a key perception of the book is that most human beings are not ideologues; intellectual coherence is not a notable feature of politics. People’s political views may be rigid but they are not necessarily rigorous. They tend to derive from, or to be reflections of, some mixture of sentiment, custom, and moral aspiration. Trilling’s point is that this does not make those views any less potent in the political world; on the contrary, it’s the unexamined attitudes and assumptions – the things that people take to be merely matters of manners or taste, and nothing so consequential as political positions – that require and repay critical analysis. “Unless we insist that politics is imagination and mind”, as he puts it in his essay on Partisan Review, “we will learn that imagination and mind are politics, and of a kind we will not like.”

 

In Trilling’s view, the assumption all liberals share, whether they are Soviet apologists, Hayekian free marketers, or subscribers to Partisan Review, is that people are perfectible. A liberal is someone who believes that the right economic system, the right political reforms, the right curriculum, the right psychotherapy, and the right moral posture will do away with unfairness, snobbery, resentment, prejudice, tragic conflict and neurosis. A liberal is a person who thinks that there is a straight road to health and happiness. The claim of The Liberal Imagination is that literature teaches that life is not so simple – for unfairness, snobbery, resentment, prejudice, tragic conflict and neurosis are literature’s particular subject matter. This is why literature has something to say about politics.» 

publicado às 12:22

Quo vadis Portugal?

por Samuel de Paiva Pires, em 12.04.11

 

(fotografia minha)

 

A semana que passou estive em Washington DC, onde tirei a fotografia acima. Durante uma semana, nesta que foi a primeira vez que estive nos EUA, fui a várias reuniões com diversos think-tanks (daqueles a sério, não como as brincadeiras que temos por cá), e pude ainda aperceber-me um pouco da mentalidade americana de que Tocqueville falava. Num país que respira liberdade (e cuja capital é um hino a esta), o empreendedorismo e a capacidade de iniciativa e de associação são características de uma vibrante sociedade civil que se constitui como uma primordial ferramenta de fiscalização das actividades do governo, por um lado, e como motor da economia, por outro. Mais, numa altura em que tanta gente exalta as virtudes dos BRIC e aponta o galopante declínio norte-americano, talvez fosse bom ler O Mundo Pós-Americano, de Fareed Zakaria, para perceber que a capacidade de reivenção da sociedade norte-americana é a chave para compreender porque os EUA foram e são capazes de enfrentar desafios que a muitos parecem inultrapassáveis.

 

Nesta mesma semana, ocorreu em Washington algo que provavelmente nem foi noticiado por cá, o Government Shutdown 2011. Em traços largos, quando Democratas e Republicanos não conseguem chegar a um acordo para aprovação do orçamento, o governo deixa de providenciar todos os serviços que não sejam considerados essenciais. Raramente acontece - a última vez foi em 1995 - e desta feita conseguiram chegar a acordo nas últimas horas antes de se dar início ao shutdown

 

A capacidade de iniciativa e a liberdade individual naturalmente acentuam a criatividade, que se reflecte na condução da actividade governativa ou de qualquer actividade empresarial. No caso norte-americano, aquilo de que falo está patente na sua história, aliando-se a uma consciencialização quanto às situações enfrentadas.

 

Ora, indo ao caso português, é de realçar que a falta de liberdade individual em face do Estado - o peso deste na economia e nas nossas vidas é mais do que evidente -, bem como a ausência de uma verdadeira fiscalização da actividade governativa pela sociedade civil, são dois sintomas que ajudam a perceber como foi possível chegar à situação em que nos encontramos. Pior, perdemos a capacidade imaginativa e criativa que nos caracterizou enquanto povo ao longo de séculos, assim como perdemos a capacidade de gerar verdadeiros estadistas. 

 

Tudo isto para dizer que é uma autêntica vergonha o que se tem passado na política portuguesa nos últimos tempos, em particular quando a troika que vai negociar o nosso futuro já está em Portugal. As birras infantis dos políticos com voz mais activa deixam qualquer um envergonhado. Ser José Sócrates a negociar com o FMI é verdadeiramente um atentado ao futuro do país - o Primeiro-Ministro demissionário vai continuar a tentar defender os interesses do PS, dificultando o mais que puder a redução do disforme e excessivo aparelho estatal.  O jogo do empurra entre governo e oposição quanto a quem deve negociar com quem, de forma infeliz remetendo a questão para os parceiros europeus, só demonstra como temos autênticas crianças a desgovernar-nos. Cavaco Silva, ao estar absolutamente remetido ao silêncio, escudando-se na Constituição da decadente república para não ter uma voz mais activa, afronta todos os portugueses. Conforme Mário Soares e Adriano Moreira já salientaram, o Presidente da República tem que tomar as rédeas da situação.

 

Depois de ter aceite a demissão de José Sócrates, tinha que ter sido Cavaco Silva a solicitar a ajuda externa; tinha que ser ele a liderar as negociações (afinal, um doutoramento em economia pela Universidade de York deve dar mais jeito nesta situação que uma licenciatura domingueira em pseudo-engenharia pela Independente) ou a nomear uma equipa de negociadores com políticos e/ou diplomatas treinados e reputados nessa arte e técnicos que possam dar a imagem mais aproximada da realidade do país, desprendidos de quaisquer interesses partidários directos, i.e., a reeleição de José Sócrates. Ter o homem que nos trouxe para o abismo, que até há bem pouco tempo gritava histericamente que Portugal não precisava do FMI, a negociar com este, é demasiado mau. 

 

Não está na Constituição nem em lado algum que Cavaco o pudesse fazer? Azar. Mas é suposto a Constituição tornar o país seu refém? Valores mais altos se levantam, nomeadamente, a viabilidade de Portugal enquanto Estado soberano. Haja alguém que tenha o minímo de sentido de estado e assuma uma postura de seriedade. Será que ainda não perceberam o que está em causa?

publicado às 22:30






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