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O governo de Portugal está tão desorientado que já se guia pela boa ou má exposição solar. Faz sentido que apresentem esta novidade em plena época balnear. A maior parte dos portugueses está a banhos com o cu virado para a lua. Resta saber qual o factor UV do IMI. Deve haver aqui uma coordenação com o ministério da saúde. Ou seja, um T3 com varanda e sol a irradiar pela sala, é mais propenso a cancros da pele do que uma vivenda insalubre - isso deve ser levado em conta. E as caves húmidas não contam para atenuar a carga do novo IMI? E se a salinha de estar aquecer no Inverno, porque está exposta a Marte, não merece um desagravo? A conta do aquecimento de certeza que será mais baixa. E as roulottes de campismo viradas a sul? E olhar para o sol com um par de binóculos? António Costa e seus muchachos devem ter apanhado uma insolação das boas. Está tudo louco. Estão doidos. A neo-austeridade ainda nos vai surpreender muito mais.
O Governo de Portugal está a demonstrar alguma inteligência e a obrigar os socialistas a passarem das palavras a actos de gestão política efectiva. A possibilidade de redução do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) vai obrigar muito autarca anti-Austeridade a entrar em contradição. A Câmara Municipal de Lisboa, que até poderia ajudar as famílias da freguesia como uma redução desse encargo, já disse que não. Não sei quantas autarquias socialistas já aprovaram a redução dessa importante fonte de receitas ou será que o dinheiro fala mais alto? Fim da Austeridade? Não me parece. Nem com um governo rosa.
Antes que comecem com coisas e me acusem de apontar o dedo à pessoa errada; António Costa não tem nada a ver com esta decisão. O senhor nem sequer é presidente da Câmara Municipal de Lisboa. O fim do travão do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) deve ser para compensar a circulação de trânsito em Lisboa. Ou seja, existe uma relação entre móveis e imóveis, estão a ver? Esperam-se aumentos de tributação sobre as casas que podem atingir os 500%. Pelos vistos a Austeridade socialista nem sequer precisa de São Bento. Daquele posto taxativo já se começam a fazer sentir os efeitos da contradição entre a demagogia conveniente e a falta de dinheiro em caixa. A síndrome que aflige Tsipras não é contagiosa, existe uma variante nativa, uma estirpe autóctone. Quando a realidade dura das provisões toca à porta, a bela conversa escorre pelo cano como se nada fosse.
"Partidos arriscam vir a ter de pagar o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI)." Arriscam? Porquê? Os partidos políticos não têm personalidade jurídica? Não são entidades geradoras de receitas? As sedes e filiais não servem para gerar dinâmicas de negócio? Então porque raio devem beneficiar de tratamento privilegiado? Voltamos à mesma questão de sempre - a reforma do Estado nas suas distintas variantes partidárias e contributivas. Reformar o Estado significa retirar bengalas e benesses às estruturas que acabam por corporizá-lo, porque os partidos precedem a sua própria construção. Essa é uma das análises passível de ser aceite. Eu percebo que no Paleolítico da democracia em Portugal, na aurora do existencialismo político, os partidos merecessem algumas facilidades para ganhar raízes e florescer. Mas essa época de cultivo e colheita partidária há muito que acabou. O estado de graça terminou - a vaca já foi mugida vezes sem conta. Os partidos ou têm pernas para andar ou não têm. A decisão de "impostar" os partidos não tem nada de impostor. Se os partidos pretendem ser a extensão da sociedade civil, os representantes dos cidadãos nas suas atribulações societárias, então seria expectável que se portassem como cidadãos de pleno direito. Eu percebo que a questão tenha sido engavetada vezes sem conta. Deve haver partidos com uma caderneta predial muito extensa. Deve haver grémios à Esquerda e à Direita com edifícios a torto e a direito. Se custa ao mais mortal dos cidadãos receber a notificação de pagamento do IMI, não vejo razão para poupar os senhorios partidários. Mas existe uma outra dimensão, uma outra consideração acessória, porventura paradoxal. Que eu saiba, as sedes e filiais partidárias assumem a vocação imobiliária de escritórios, então como se explica a quantidade de residentes que literalmente não arreda pé desses estabelecimentos, que vive nessas casas há mais de quarenta anos? São inquilinos políticos de longa data, mal habituados e convencidos de que devem merecer respeito e consideração. Mas deram muito pouco em troca. E não devem ser isentos. Não estão isentos de responsabilidade pelo descalabro nacional.