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Uma pessoa pensa que já viu tudo na política portuguesa e, de repente, é surpreendida com um esquerdista amuado, qual criança mimada, a queixar-se da boa imprensa de Santana Lopes - e logo nas páginas do Público, cuja redacção anda com o Bloco de Esquerda ao colo desde que este nasceu, dando-lhe uma presença mediática que não corresponde à sua representatividade eleitoral. Isto, claro, sem falar no colinho que a esquerda em geral tem na comunicação social portuguesa, até em órgãos detidos pelo grande capital. O pluralismo democrático, em certas cabecinhas, é apenas terem palco os nossos, um vício de quem nunca se conseguirá livrar intelectualmente do autoritarismo e do totalitarismo que fazem escola por aquelas bandas, por mais loas que teçam à liberdade. Infelizmente, continuamos a comprovar que Alçada Baptista estava cheio de razão: "Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas”.
Hoje, no Jornal Económico, podem encontrar um excelente trabalho do Gustavo Sampaio para o qual contribuí com alguns comentários.
Anda meio mundo legitimamente indignado com as afirmações de Miguel Sousa Tavares. Por muito que se antipatize com a presidencial figura e com a instituição que ACS encarna, há limites que não podem ser ultrapassados. Esta sensação de impunidade tem antecedentes bem conhecidos, precisamente os factos que conduziram à subversão do regime da Monarquia Constitucional. A subversão não se limitou às reuniões conspirativas em casa deste ou daquele abastado gingão das lojas lisboetas e teve outras facetas muito mais perceptíveis pela massa da população indiferente.
Durante anos a fio, o Rei D. Carlos I foi livremente insultado pela pasquinagem afecta aos sediciosos. Canalha, Sardanapalo, ladrão, devasso, cevado ou bandido, eram apodos corriqueiros que não tiveram a devida resposta por parte dos defensores do Estado de Direito que Portugal era. As sanções limitavam-se a tímidas admoestações, logo seguidas por uma amnistia que Sua Majestade despreocupadamente assinava. Sabemos que estas ignomínias - os insultos e a ausência de forte penalização dos mesmos - significaram.
Apesar de aparentar ser politicamente parvo, Miguel Sousa Tavares está muito à vontade. Não passará por qualquer incómodo que lhe tire uma hora de sono. Este menino-bem é parte do mainstream pseudo-progresseiro que dita as normas e em conformidade faz e diz o que bem lhe dá na gana. Gostaríamos todos de saber como é que o comodamente instalado Miguel reagiiria, se um dia destes, desfolhando um jornal não balsemista, deparasse com aquelas palavras com que a generalidade da população gostosa e persistentemente apoda os dois antecessores de Cavaco Silva.
Soares e Lello abertamente insinuam ou acicatam o perpetrar de um crime. Agora, Sousa Tavares faz-nos regressar a 1907, ciente de que nada de penoso terá de enfrentar. Aliás, já é um arrependido, algo que neste contexto, não passará de uma figura de estilo. Preventivamente agiu, lixiviando a nódoa.
Não há qualquer dúvida, a república acabou, nem os seus por ela nutrem um ténue simulacro de respeito. Quem é que enterra a coisa?
Muitos dos blogs existentes em Portugal são mais lidos diariamente dos que alguns dos jornais que por cá se publicam. De acordo com a Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação, em dados referentes a Janeiro-Fevereiro de 2013, a leitura de jornais está em queda acentuada em Portugal. Uma situação triste e confrangedora.
Entre parêntesis encontra a tiragem de cada título, referente ao número de exemplares vendidos.
Diários:
«Correio da Manhã» (112.919 exemplares diários)
«Jornal de Notícias» (56.561)
«Público» (17.305)
«Diário de Notícias» (13.186)
«Jornal de Negócios» (11.467)
«i» (3.712)
«Diário Económico» (3.617)
Semanários:
«Expresso» (80.914)
«Sábado» (37.615)
«Visão» (29.824)
«Sol» (13.032)
E, como tal, os contribuintes têm que pagar uma televisão pública cujo principal canal é uma anedota, desta forma subsidiando indirectamente as receitas do Grupo Impresa e afins? Bela noção de democracia a deste Conselheiro de Estado. O problema revela-se ainda mais grave quando o governo é conivente com esta visão. Há que agradecer a Pinto Balsemão a honestidade e o contributo para evidenciar mais uma vez que em Portugal o que temos é uma economia privada sem uma economia de mercado e que muitos empresários gostam da concorrência desde que não seja no seu sector.
Murdoch pode muito bem ser considerado como um bandido global. Vigarista e prazenteiro linchador, despejou baldes de lixo em todas as tentativas de desestabilização das instituições em países da Commonwealth, colocando a sua imprensa ao nível de uma cloaca maxima. Enquanto açulou o lumpen contra as chamadas "classes privilegiadas" - Monarquia, políticos, intelectuais, alguns sectores empresariais -, tudo lhe correu pelo melhor, "futebolizando" sociedades inteiras. Desde sempre procurou manipular eleições, condicionando a liberdade de expressão dos agentes políticos, nada nem ninguém respeitando. Foi por excelência o cultor do reles que dia a dia fez parangonas, destruiu reputações, inventou "casos" e cobriu de lama a reputação do jornalismo independente.
Os ventos bonaçosos mudaram subitamente de direcção, quando o seu abjecto espiolhar se dirigiu para aqueles que falam um inglês dificilmente compreensível para os próprios. De facto, estamos perante uma excelente oportunidade para agrilhoar o Sr. Murdoch e pensa-se que apenas o seu dinheiro e o tráfico de influências, poderão impedir uma punição exemplar. Se tem muitos amigos copiosamente comprados ou ajoelhados pelo temor do exercício da chantagem, também conseguiu a notável proeza de concitar ódios duradouros ou pior ainda, o visceral desprezo.
Uma súbita e humilhante prisão sob os flashs e luzes das câmeras, um procurador público que com todo o aparato o retira do hotel e fa-lo entrar num carro celular "à americana" e finalmente, o provisório - e sem direito a caução - atirar do asqueroso traste para uma choça onde se digladiam facínoras de delito comum, seria pouco. Pouco, mas que belo exemplo para outros murdochzinhos que pululam por aí, inclusivamente no extremo ocidental da Europa. Mesmo que por apenas umas parcas 24 horas, que sinal se daria ao mundo!
Murdoch está em Londres, que bela oportunidade a não desperdiçar. Não, não se trata de mesquinho revanchismo. Trata-se de uma justiça reparadora das enormidades cometidas pelos sequazes da cabeça-mestra do News of the World. Não merece nada menos, tudo teria de ser "em grande", para memória futura.
Em suma, trata-se de uma repulsiva criatura.
Hoje, na página 32 do Público, um interessante artigo intitulado "Propaganda e Provocação".
«Não se está a afirmar que todos os trabalhadores e colaboradores da RTP sejam cúmplices activos das regulares manobras de manipulação que nela se concretizam – e que, em alguns momentos, quase colocam a televisão oficial portuguesa na mesma (falta de) “categoria” das suas congéneres chinesa e norte-coreana. No entanto, sem dúvida que aparecem como espectadores (ou será “espetadores”?) passivos da crescente degradação da empresa, onde a aplicação do “acordo ortográfico” constitui disso o sinal mais recente.»
Com um ligeiro atraso, em nome pessoal e do grupo que representa o Estado Sentido, agradeço o destaque dado pelo semanário "O Diabo" na sua última edição, citando este post, na coluna dedicada à blogosfera.
Sendo eu leitor assíduo, quer online quer em suporte de papel, d' "O Diabo", muito me honra o destaque concedido, denotando que há uma sontonização de ideias e de temática escolhida. Que assim continuemos e que mais leitores se sintonizem com o que vamos escrevendo, tendo como fim a luta por Portugal.
Durante as últimas décadas de vigência do regime da Monarquia Constitucional, a liberdade de expressão consagrada pela Lei, acostumou os agentes políticos - nos quais se inclui a imprensa - a uma total irresponsabilização daquilo que era dito ou escrito. A censura apenas existia a posteriori e as consequências eram praticamente nulas. Esta situação de perigosa lacuna quanto à defesa do bom nome - a honra, qualidade que se confundia com a credibilidade de qualquer homem público - desencadeou um sem número de episódios que minaram mortalmente o regime. A difamação e o arrastar pelo lodaçal da infâmia de um ou outro político, conduziu ao constante aumento da parada, num jogo onde as instituições acabaram por soçobrar às mãos de uma ínfima minoria que fez da violência e ousada ilegalidade, uma arma contra a qual o articulado legal pouco ou nada podia. A Coroa acabou fatalmente por se transformar no alvo mais apetecido, porque a sua situação de total exposição que a Carta consagrava, fazia o pleno nas manobras estratégicas enveredadas pelos partidos rotativos que se digladiavam pelo poder. Se a Monarquia parlamentar praticamente foi liquidada pelo Regícídio de 1908, o processo que desembocou no crime foi longo, feroz, sem tréguas. Não existiam regras claras, nem limites e o prp de tudo se serviu para destruir o regime que em derradeira instância era garantido pela Coroa, obviamente consubstanciada na figura do monarca.
Jamais ousando enfrentar a proverbial coragem física de D. Carlos, os republicanos optaram pelo dedicado e imaginativo serviço de sapa a cargo dos chamados "publicistas", fazendo circular milhares de folhetos e literatura de cordel com claras alusões a membros da Casa de Bragança, num laborioso processo que mais tarde seria imitado por Lenine. Num outro nível, o dos geralmente estrangeirados intelectuais dos círculos literários lisboetas, as afrontas somavam-se em textos mais cuidados, sem que por isso se perdesse o sentido de uma violência inaudita, que provindo de certa gente ganhava auras de maior respeitabilidade e perigo. Nada de estranho nesta nossa sociedade da "informação a todo o custo".
Sabemos o que uma inextricável situação de abuso de imprensa, impunidade pelo apelo à subversão da Lei pela violência verbal e física, fez desabar sobre a sociedade portuguesa: um sangrento golpe de Estado que liquidou o regime e conduziu a um infindo rol de brutalidades, volatilização de liberdades pessoais e colectivas, ruína económica e esmorecimento de um espírito cívico que lentamente se consolidava ao longo de décadas de normalização de um regime constitucional perfeitamente adequado à Europa daquela época. A final reacção ao estado de coisas - à chamada Demagogia que transformara Portugal num lugarejo idêntico à Albânia dos nossos dias -, mais tarde impôs um regime que se prolongou pela maior parte do século XX e cujo percurso e consequências todos conhecemos.
Está a tornar-se normal o recurso ao enxovalho público da gente do poder. Seja em qualquer inauguração num espaço aberto ou nos jornais, os epítetos dirigidos aos homens do regime vai subindo de tom e a falta de formal respeito parece volatilizar-se no éter de todos os descontentamentos. O que se torna incompreensível, é este afã na promoção de um espírito de esterqueira geral em que a situação se transformou, exactamente pelo constante acicate dos agentes políticos de serviço e dos seus óbvios satélites e assalariados da comunicação social. Há uns poucos anos, assistimos ao deprimente espectáculo do "Chefe do Estado dos republicanos" insultar publicamente um elemento da sua própria segurança, desfaçatez logo imitada pelo seu sofrível sucessor no cargo. O mau exemplo perfeitamente explícito por aqueles que deviam guardar ciosamente aquela certa distância que sacraliza as instituições, conduz a situações que de tão repetidas, são já encaradas com uma certa normalidade. Da rua ou do cortejo de carros do Estado, passou-se facilmente ao Parlamento, onde as sessões demonstram a um público atónito, a baixíssima categoria dos actuais poderosos, que pedra a pedra vão capciosamente demolindo demolindo o regime. E este facto torna-se tão mais estranho, porque é da total responsabilidade daqueles que dele têm vivido e à sua sombra prosperado. O ..."afinal eles não valem nada!", torna-se cada vez mais numa frase que soa a perfeito figurino de futuro epitáfio.
Perdeu-se a vergonha e hoje vale tudo. Sabemos o que se segue e confiando na lição que uma breve leitura num qualquer sucinto manual de História aconselha, ainda irão a tempo de corrigir o desastroso caminho que conscientemente desbravaram. É que todos temos a consciência que o regime da 3ª república - que parece chegar a um inglório fim -, é aquele que mais similitudes tem com aquele outro da Monarquia Constitucional, trucidado à mão de um punhado de sanguinolentos aventureiros.
(in Combustões)
Todos os povos têm as suas características expressões culturais e rictus facialis que imediatamente os identificam diante de outros que não pertencem à mesma comunidade. Se os portugueses sofrem de crónicas variações no tom de voz e os franceses entremeiam as frases com longos Ââââ...., os americanos, esses, são mais exuberantes e tão mais notórios se tornam, quando se encontram hegemonicamente a partilhar as nossas horas caseiras. Estão em todos os canais de televisão, escutamos desenfreadamente a sua música e até as nossas pernas já se ajustaram para sempre à conveniência dos jeans. Todos os povos estão até certo ponto infestados de americanismo e no fundo, reconheçamos, já todos partilhamos um pouco dessa condição de longínquos cidadãos da Super-América em que se tornou o planeta Terra.
Não segui com atenção a campanha para a eleição presidencial norte-americana. Não me interessou a pré-selecção dos candidatos e apenas manifestei parvamente alguma predilecção - sem saber verdadeiramente porquê - pela Clinton. Os últimos dias consistiram num autêntico festival de comentários, programas biográficos, pivots destacados para cobrir o acontecimento in loco, numa tremenda banalização daquilo que é na verdade, banal. Trata-se apenas de um normal render da guarda, sem consequências de maior. Os senhores McCain e Obama, interessam-me tanto como os senhores Aníbal, Jerónimo, Manuel ou Francisco: nada.
O que se tornou extraordinário, foi o voraz apetite com que certas franjas do incipiente espectro político nacional, se atirou à costumeira adesivagem ao "seu candidato". Se alguma coisa ia sabendo acerca das desditas da campanha tardio-adolescente de Palin e da sua paixão pelo escorchar de animais, isso deveu-se à ocasional leitura de um ou outro blog. A direita, submergida pelo maremoto mediático anti-Bush, timidamente quase sussurrava o nome do émulo yankee, o senhor McCain, ainda por cima dotado de discutível presença em palco, posições "liberais" pouco agradáveis aos militantes do partido do elefante e pior que tudo, herói de guerra. A direita portuguesa treme de pavor perante um qualquer condecorado por feitos bélicos, não aguenta o embate do preconceito inculcado na sua transcendente timidez. Assim, remeteu-se à defensiva ou ao puro e simples silêncio, quando pelo contrário, Obama era um candidato tão ou mais do seu agrado, como Cavaco Silva o fora há uns dois anos.
O que se tornou evidente, foi a descarada colagem de uma certa esquerda do sector politicamente correcto - a esquerda é em Portugal a epítome daquilo que é aceitável em situacionismo ideológico -, ao candidato Obama. O simples facto do nome Partido Democrático, se para alguns políticos portugueses, remete para uma época de certa hegemonia caceteira, onde o monopólio do poder e a obrigatoriedade da militância eram quase o verdadeiro móbil do regime, para outros é suficiente para uma rotulagem de contornos ineditamente abusivos. Quem escute uma meia dúzia de jangadeiros do PC, BE e principalmente do PS, julgaria o senhor Barack como um lídimo defensor dos já há muito esquecidos princípios da Internacional Socialista. A histeria varreu uma parte da blogoesfera e o facto do candidato do PD ser "de cor", mais entusiasmou à imediata sintonia com os príncípios (quais?) da sua campanha. O homem é bonito, fala e veste-se bem, é profunda e assumidamente burguês high-class, mas é "negro", ou melhor, mulato (1). Num país que possuiu um enorme império colonial durante quase cinco séculos e que não conta com um único deputado ou ministro "de cor", estranho o desvanecimento que raia a mais rasteira patetice, das comentadoras e correspondentes adereços masculinos que têm pontificado à hora dos telejornais. O paternalismo, durante décadas um insulto arremessado à memória dos hábitos existenciais do Estado Novo, ressurgiu num resplendor que faz inveja a qualquer colosso talhado no mais exuberante estilo barroco. O chamado pretismo é apenas aplicado a quem, mesmo que remotamente, se possa identificar com "os pobres". Como se o Partido Democrático USA fosse um partido de pobres! Não há a mínima hipótese de brincar ao paternalismo, se em questão estiverem personalidades renegadas como a senhora Condoleezza Rice ou o general Colin Powell que aliás, são bem mais escuros que Obama. Negros republicanos? Que vergonhosa incongruência...., embora tenham sido os republicanos que dominantes no norte industrial, desencadearam a guerra contra dos Estados da Secessão, fervorosos defensores - com o Partido Democrático à frente - do status quo da ignomínia esclavagista.
A esquerda europeia, muito segura das suas imorredoras e infalíveis certezas, jamais compreendeu a complexa realidade do próprio sistema político e eleitoral norte-americano. O Partido Democrático de que se sente parente próxima, é um conglomerado de gentes que por vezes se situam nos antípodas entre si e até uma superficial análise do seu eleitorado, denota uma clivagem profundamente racista, onde certos Estados "tradicionalmente democratas", votaram McCain para presidente - o branco, o protestante, o WASP ariano e republicano - e, pasme-se, enviaram o correspondente senador do PD para o Capitólio. É uma esquerda americana que oscila entre o Ku Klux Klan, as trade unions e o capital financeiro mais avassalador que controla a Wall Street, a grande indústria da informação e do cinema. Em Portugal, o próprio CDS sentir-se-ia coagido perante o forte pendor conservador, radicalmente capitalista e anti-intervencionista na economia que o Partido Democrático manifesta. Alguns eflúvios remanescentes do baladismo de Joan Baez ou as nostálgicas glórias do Easy Rider ou The Deer Hunter, não são suficientes para o ocultar de uma verdade tão cristalina como a inscrição In God We Trust impressa nas notas de dólar. Na América continuarão a mandar os mesmos, aquela administração permanente que fica no conforto dos seus escritórios e que é composta por lóbis, funcionários não sujeitos a escrutínios eleitorais e que acaba por submeter as Novas Fronteiras e os New Deals à conveniência muito lata do interesse político, económico e militar dos EUA. Como é possível imaginar que o futuro presidente dos EUA poderá um dia sentar-se à cabeceira de Fidel, segurando-lhe a algália enquanto lhe segreda os seus projectos de concórdia com gente do calibre de Ahmadinedjad, Morales, Mugabe ou Bin Laden?
Ontem lá cedi à curiosidade do momento e pensando porque razão sou capaz de esperar longos momentos por uma soap opera como as Donas de Casa Desesperadas, não seria agora paciente para partilhar de uma certa mundialização do acontecimento que transbordou fronteiras e obcecou as mentes? O zapping tem destas coisas, como o de permitir a breve análise do andamento das situações e assim, decidi-me por aquilo que pensava ser uma análise abrangente por quem deveria ter a obrigação de comentar com perfeito conhecimento da situação. O trio Pacheco Pereira, Lobo Xavier e António Costa, é um velho conhecido da caixinha intrusa e foi sem espanto que deparei com uma autêntica canção do bandido, que ditava a inconsciente extrapolação daquilo que se passava na América, com os pouco evidentes paralelismos relativos ao que se passa no espectro partidário nacional. Costa estava satisfeito, pois era tacitamente reconhecido como "o vencedor" da coisa. No entanto, a conversa aflautada e quase farinellesca de Pacheco Pereira, teve o condão de me irritar de sobremaneira, pois subrepticiamente fazia voar os seus punhais, minimizando ou menosprezando o previsivelmente eleito Obama. Pouco digno de consideração é, quem não seja capaz do logicamente necessário distanciamento da paixão ou obediência partidista, acabando por troçar do espectador que se digna a prestar-lhe a atenção. O botãozinho do controle remoto opera maravilhas e passei a outros canais, onde doutourais conhecedores dos meandros da política USA, lá iam fazendo as suas previsões, sacando de blocos de notas com referências a eleições passadas e às possibilidades que este ou aquele Estado ofereciam de vitória garantida. Como se tal trabalho valesse a pena, pois bastava-lhes aguardar a informação das cadeias televisivas americanas!
Foi também bastente curioso ir observando as notas escritas que iam passando em rodapé, informando constantemente acerca das imprescindíveis opiniões de gente tão insigne e relevante como os senhores Fidel Castro, Hugo Chávez e mullahs xiitas, reconhecidos inimigos dos Estados Unidos e outras insignificâncias mais. Se para Castro, Obama "é uma luz que surge no horizonte", para outros já se reveste com imaculados cafetãs de um verdadeiro Messias que fará cair dos céus o maná do pão, leite, mel e sobretudo, liquidará a condição de superpotência do pais que o elegeu presidente. Os políticos portugueses manifestaram o seu regozijo e até o "presidente" já manifesta o desejo de um ainda maior estreitamento de relações com o vizinho trans-Atlântico, como se Portugal hoje dependesse fortemente dos investimentos ou ajudas materiais provenientes do centro de decisão de Washington. Para os nossos senhores, um bom presidente americano deve ser suficientemente fraco como Wilson, mentalmente depauperado como o Roosevelt de 1943-45, mafioso-chic como Kennedy, ou pelo menos, um risonho imbecil como Carter.
Nunca fui republicano, não o sou e espero descer ao túmulo sem jamais o ter sido. Todo este jogo presidencial-eleiçoeiro de sombras chinesas para divertimento de plateias roedoras de pipocas e salgadinhos, não consegue esconder a realidade omnipresente. Terminada a stand up comedy, tudo voltará a ser como era: os agiotas alegremente manipularão nas Bolsas, o petróleo continuará a infernizar os nossos dias de penúria e claro está, dentro de uns poucos meses Barack Obama mandará abrir os alçapões dos bojudos B-52, fazendo chover toda uma nova geração de bombas. Desta vez são bombas Democratas, pela paz, liberdade e como sempre, instauradoras dos direitos humanos em remotas paragens. Tal como Clinton o fez muitas vezes e com total impunidade mediática.
Calcula-se o que a blogosfera, a televisão e a imprensa euro-portuguesa dirá: nada.
(1). É verdade, fui surpreendido. Antes de ver a sua foto e já tendo escutado o nome, pensava tratar-se de mais um descendente de irlandeses, talvez um O' Bahma, na esteira dos O' Reilly e O' Connor.