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Há algumas constantes na política portuguesa, sobretudo neste regime diligentemente saído das torvas ideias de meia dúzia de jacobinos peralvilhos unidos a uma caterva de oficiais desoficializados, que irritam até um cego, surdo e mudo. Veja-se, por exemplo, o marketing rasteiro que ciranda em torno da figura acima retratada. Repare-se que o sobretido "engenheiro" esteve uma boa carrada de anos no poder, arruinando porfiadamente os portugueses, e, no fim, como prenda de tamanhos serviços, tem ao seu dispor a máquina mediática e parasitária dos grupelhos que vivem agachados à espera de um salvador que distribua mais alguns torrõezinhos de açúcar, parafraseando uma triste "notabilidade" do século XIX. É assim que se faz política na terra da República que produziu em 100 anos uma miríade de falências corrigidas a golpes de caixa forâneos. Sócrates, no fundo, não tem culpa. Como alguns antes dele, não passa de um sibarita ambicioso que não vê mais nada à frente a não ser o poder de aparecer e dizer "eu faço". Não faz nada, como é evidente, a não ser que fazer seja, nos dias que correm, sinónimo de desfazer e destruir. Com tanta novilíngua por aí, não seria, pois, de surpreender que esta troca semântica fosse, de feito, uma realidade tangível. Mas deixando isso de lado, retornemos à desconstrução analítica da semana em que Sócrates foi alcandorado a uma espécie de astro de Hollywood, sem desprimor para os Pitts e Clooneys desta vida. As entrevistas concedidas na última semana, num derradeiro esforço de autopromoção, denotam, em última instância, que Sócrates vive imerso numa bolha indestrutível. Por mais que a realidade diga o contrário, o bastardo parisiense não entende nem conseguirá entender o juízo declinado pelos portugueses no já longínquo ano de 2011. O mais grave é que, nesta senda de ilusionismo mequetrefe, Sócrates tem tido o auxílio prestimoso das Ferreiras Alves do comentário e da "Lesboa" dos poderzinhos, que, em boa verdade, jamais seriam alguma coisa se não tivessem este género de prebostes a dar a cara. Há uns tempos atrás, não sem alguma razão, dei por mim a pensar que Sócrates é um émulo coevo da estultícia de Costa Cabral. Creio, cada vez mais, que tinha razão. Há, de facto, algo em Sócrates que traz à colação a figura de Costa Cabral. Com duas nuances: Cabral era infinitamente mais inteligente e arguto (não gosto do personagem, note-se), e não tinha, descontando alguns casos paradigmáticos, a imprensa a seus pés. Um mundo de diferenças, portanto. Sócrates vai trilhando dia a dia o seu caminho de azares com uma elite ensoberbecida que não aprende com a desgraça alheia. Que faça o seu proveito, é o que lhe desejo. Só espero, contudo, que não obtenha o aval do povo português para mais uma aventura de decretinices declamadas numa televisão perto de nós. O mundo mudou, e Sócrates terá, forçosamente, de aceitar a dureza dos factos tangíveis. É a lei da vida.