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Há 8 anos tive o privilégio de assistir a uma conferência de Sir Roger Scruton, em Lisboa, dedicada essencialmente à temática do Estado-nação como resposta às crises que vamos vivendo e em que o filósofo britânico não deixou de tecer críticas ao processo de integração europeia, um tema recorrente nas suas reflexões e a que dedicou parte de um dos livros que mais o deu a conhecer em Portugal, As Vantagens do Pessimismo. Diria até que se Nigel Farage, Boris Johnson e Dominic Cummings foram os principais artífices do Brexit na praxis política, Scruton terá sido quem mais fez por esta causa no plano das ideias, especialmente atendendo à sua apaixonada defesa de uma certa ideia de Inglaterra que tantas vezes lhe causou dissabores ao longo da sua tumultuosa carreira académica. Da conferência em Lisboa, guardo a memória não só do seu brilhantismo intelectual, mas da sua simpatia e genuíno gosto pelo debate de ideias, numa tarde em que se dispôs a partilhar as suas reflexões com uma dúzia de académicos portugueses, alguns dos quais, aliás, se têm dedicado a estudar o seu pensamento - como é, de resto, o meu caso, figurando Scruton como um dos autores conservadores cujas ideias sobre os conceitos de tradição, razão e mudança analisei na minha tese de doutoramento.
Tratando-se de um herdeiro de Burke e de Hegel, de um crítico do liberalismo mas que coincide parcialmente com autores como Hayek (outro herdeiro de Burke) no que à teoria social concerne, Scruton é um dos pensadores contemporâneos responsáveis por desconstruir o mito de que ser conservador é igual a ser-se imobilista. Só um incauto poderia ser surpreendido pela sua afirmação tipicamente burkeana, em How to be a Conservative, de que o “desejo de conservar é compatível com toda a forma de mudança, desde que a mudança também seja continuidade”. Dificilmente se pode concordar com tudo no seu pensamento - é, também, o meu caso -, ainda para mais tratando-se de um autor tão prolífico, mas é impossível lermos Scruton e não nos sentirmos desafiados e estimulados a reflectir sobre os mais diversos temas. A minha evolução intelectual é parcialmente devedora do seu trabalho, que me permitiu compreender melhor as falhas do liberalismo e as potencialidades do conservadorismo, quer na teoria quer na acção política. A sua morte, hoje, aos 75 anos, é uma notícia triste e representa uma perda inestimável para a reflexão política dos conservadores - bem como dos seus adversários, alguns dos quais analisados em Fools, Frauds and Firebrands, uma das suas obras mais polémicas e cuja primeira edição, em 1985, com o título Thinkers of the New Left, lhe valeu o repúdio de boa parte da academia britânica. Afinal, numa época de ortodoxias e dogmatismos vários, à esquerda e à direita, a sua moderação foi quase sempre vista como herética. Partiu prematuramente, mas o seu trabalho e as suas ideias continuarão a florescer e a resistir ao teste do tempo.
Nesta hora, e para terminar, permitam-me relembrar o que creio ser uma das passagens mais emblemáticas de How to be a Conservative e que resume a sua posição moderada a respeito do papel do Estado. Para Scruton, e em tradução livre da minha lavra, este
é, ou deve ser, tanto menos do que os socialistas requerem, e mais do que os liberais clássicos permitem. O Estado tem um objectivo, que é proteger a sociedade civil dos seus inimigos externos e das suas desordens internas. Não pode ser meramente o Estado ‘night watchman’ defendido por Robert Nozick, visto que a sociedade civil depende de relações que devem ser renovadas e, nas circunstâncias modernas, estas relações não podem ser renovadas sem a provisão colectiva do bem-estar. Por outro lado, o Estado não pode ser o fornecedor e regulador universal proposto pelos igualitários, visto que o valor e o compromisso emergem das associações autónomas, que florescem apenas se puderem crescer de baixo. Ademais, o Estado só pode redistribuir riqueza se a riqueza for criada e a riqueza é criada por aqueles que esperam ter uma parte dela.”
Descanse em paz, Sir Roger Scruton.
Morreu um homem bom, um cavalheiro, um servidor da causa pública e um dos poucos cultores do diálogo civilizado que passaram pela política portuguesa nas últimas décadas. Que descanse em paz.
O fim-de-semana que se findou fica marcado pela triste notícia da morte de Bernardino Gomes. Como relembraram os vários jornais, foi uma figura incontornável da história do PS, de que foi fundador, e do vector atlântico da política externa portuguesa na III República, ao qual acabou por dedicar boa parte da sua vida após o 25 de Abril de 1974, sendo de destacar o desempenho de funções enquanto chefe de gabinete de Mário Soares em São Bento, director do Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros, administrador da FLAD e Presidente da Comissão Portuguesa do Atlântico.
Foi, aliás, no âmbito desta última que tive oportunidade de o conhecer e de com ele colaborar na promoção do seu braço para a juventude, a Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico, junto das associações internacionais de que fazem parte, a Atlantic Treaty Association e a Youth Atlantic Treaty Association, organizações ligadas à Divisão de Diplomacia Pública da NATO.
Bernardino Gomes foi uma das pessoas mais cordiais e agradáveis que conheci até hoje, ficando facilmente na memória de todos quantos o conheceram o seu sentido de humor, a sua inteligência, o tacto diplomático com que tratava todos os assuntos e o sentido de Estado que imprimia em todas as suas intervenções ou iniciativas públicas. Que descanse em paz.
Um dos posts mais difíceis de escrever na minha vida. José, desculpa-me, mas hoje trato-te por tu, coisa que nunca fiz antes. José, fiquei sem palavras quando hoje soube, por via de um amável jornalista que me pediu umas palavras sobre ti, que nos deixaste fisicamente. Ainda não há duas semanas me disseste que voltaríamos a falar quando regressasses dos Estados Unidos. A nossa conversa foi adiada. Felizmente que durante quase cinco anos pudemos conversar. Fica essa consolação. Esta foto, que acho que não conheces, José, numa bancada quase vazia, mas onde nós nunca deixámos de nos sentar como livres pensadores que somos, diz bem o que foi e é a nossa amizade. Nunca te consegui visitar em Versailles e tu nunca conseguiste voltar a Portugal. Estou convencido que não partiste de Portugal feliz (desculpe-me Patrícia mas é isto mesmo que penso) apesar de teres contigo a tua família. Tinhas muito para dar a todos nós. Mais do que já tinhas dado, e não era pouco. Agradeço-te a tua ajuda preciosa na minha tese de doutoramento. E desculpa-me estas palavras saírem soltas, mal redigidas, quase sem nexo. Até breve José. E, por favor, não abuses do tabaco.
Engenheiro agrónomo, nascido em 1926, ficou conhecido de todos os portugueses ao apresentar o programa TV Rural, durante três décadas, na RTP, entre 6 de dezembro de 1960 e 15 de setembro de 1990. O seu estilo, o seu timbre de voz e a sua figura televisiva especial transformaram um programa dedicado a agricultores num fenómeno da televisão nacional. Marcou a infância de muitos de nós. Deixou-nos hoje. Com a amizade com que sempre se despedia.Portugal está mais pobre.
Lutador incansável pela Causa Monárquica, David Garcia deixou-nos hoje. Um jovem a quem a vida foi madrasta descansa agora em paz.
O velorio terá lugar amanhã, dia 22 de Outubro, às 16h00 na Igreja de São Miguel, em Sintra. Será celebrada missa de corpo presente entre 12.30 e as 14h00. O funeral sairá da Igreja às 14h00 de quinta-feira, dia 23 de Outubro.
À sua Família, que sempre esteve com ele, as minhas mais sinceras condolências.
Um abraço David e até sempre.
Soube agora mesmo da partida de um velho "compagnon de route": o Prof. José Delgado Domingos, uma autoridade indiscutível em matérias de energia e de ambiente e um colega de lides partidárias durante anos. Senhor de um Curriculum Vitae indiscutível, Delgado Domingos era uma verdadeira autoridade nas várias matérias do saber científico que dominava como ninguém. Que descanse em paz.
Uma das personalidades públicas que mais se distinguiram contra o Acordo Ortográfico. Poeta, ensaísta, romancista, dramaturgo, cronista e tradutor de clássicos, Vasco Graça Moura nasceu no Porto, na Foz do Douro, em 1942, licenciou-se em Direito, pela Universidade de Lisboa, e exerceu durante alguns anos advocacia antes de se dedicar por completo à literatura. A sua morte, hoje anunciada, era, infelizmente, esperada.
Em 1999 viria a repetir uma anterior experiência na vida política com a efémera passagem que fez por um governo provisório. Desta feita protagonizou uma candidatura com sucesso ao Parlamento Europeu, tendo sido deputado até 2009, como independente pelo PSD.
A obra de Vasco Graça Moura é, porém, vasta e inclui poesia, ensaio, romance e tradução de clássicos como Racine, Molière, de Corneille, mas, também, Seamus Heaney, Hans Magnus Enzensberger e Gottfried Benn. Dele retenho a frase: "A poesia é a minha forma verbal de estar no mundo". Portugal fica mais pobre.
Vi-o pela última vez na missa da minha Avó no final de 2013. Ou melhor, foi ele quem me chamou de entre uma imensa mole humana. Já visivelmente afectado pela doença que o consumia não deixou de comparecer. Ontem juntou-se-lhe na eternidade. Falo de Fernando Augusto de Almeida Ribeiro e Castro. Um homem bom. Por quem era, pelo que fazia, pelas causas que abraçava.
Um grande Marido, um inesquecível Irmão, um enorme Pai, um Avô sempre presente. Uma daquelas pessoas que faz a diferença, que fisicamente nos deixa, mas cuja memória perdurará no tempo, ano após ano, para todo o sempre. Na Marinha que serviu, nas Famílias Numerosas que fundou, nas causas pelas quais deu a cara e o tempo. No convívio com os Amigos e com os seus 13 filhos e 26 netos por quem era um eterno apaixonado.
Apesar de não militar políticamente, há uns anos telefonou-me para me transmitir que tinha decidido apoiar a candidatura que iriamos apresentar ao Parlamento Europeu. Uma causa. Mais uma. Agora a da cidadania e da participação política. Assim aconteceu com o seu empenho de sempre.
Fernando Ribeiro e Castro partiu seguramente em paz. À sua Família e, em especial, ao seu irmão José, fica aqui um público abraço. Ele faz mesmo falta. "Em muitos sentidos e planos". Até sempre!
Augusto de Athayde Soares d' Albergaria deixou-nos hoje. Nasceu em São Miguel, Ponta Delgada, em 4.04.1941. Os Açores, o Brasil e Lisboa marcam a vida de Augusto Athayde que teve no Direito, na história e na literatura as suas grandes paixões. Nascido no seio de uma “típica família tradicional”, uma das suas obras, o "Percurso Solitário", "fala-nos de uma Lisboa também remota, que atravessa no caminho das “agruras da vida real”. A educação de há meio século num grande colégio é evocada com um olhar de carinho. As lembranças da vida universitária dão lugar a uma descrição de confrontos ideológicos e políticos que agitaram a juventude daqueles tempos, mergulhada, designadamente, nas crispações das guerras de África. Figuras e acontecimentos dos primeiros anos de maturidade – que decorrem num cenário de fim de época – vão passando sob a observação do autor, que encerra a obra com a lembrança dos tempos em que fez parte de um Governo que, frustrando muitas esperanças, acabou por criar condições em que a revolução se tornou inevitável.".
Ex-candidato à Presidência da República "escolhido" por Sá Carneiro, em 1980, o general Soares Carneiro morreu esta terça-feira aos 86 anos.
Soares Carneiro foi candidato com o apoio da Aliança Democrática, nas eleições que ocorreram no dia 7 de Dezembro, três dias depois do acidente de avião em Camarate que vitimou o então primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro e o seu ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa.
Soares Carneiro foi chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas durante o Governo presidido por Cavaco Silva.
Nascido em Cabinda, António Soares Carneiro fez 86 anos no passado sábado. Sempre foi militar e possuia formação especializada em tropas de comandos. Paz à sua alma.
Homem de grande carácter, profissional de enorme competência e, ao mesmo tempo, de desarmante modéstia, um ecologista assumido, José Roby Amorim deixou-nos físicamente mas não nos esqueceremos dele. Ex-jornalista do Diário Ilustrado, do jornal O Século e da ANOP - Agência Noticiosa Portuguesa, José Roby Amorim nasceu em 1927 e dedicou grande parte da sua vida à sua paixão: o jornalismo.
À sua Mulher Esmeralda, ao seu filho Nuno Roby Amorim e à restante Família fica aqui um sentido abraço.
O "Rei da Estratégia". Partiu aos 101 anos de idade, aquele que era por muitos considerado o estratega-mor ou, como refere Fidel Castro, "o maior guerrilheiro de todos os tempos". Esmagou franceses e humilhou americanos em dois conflitos marcantes da história universal. O seu nome? Vo Nguyen Giap. Quem visitou o Vietname e "viu" o terreno e a "obra" de Giap, ficou com a certeza de que os americanos nunca venceriam aquela guerra. A história imortaliza-o.
Silvino Silvério Marques, general, Comendador da Ordem Militar de Aviz, Grande-Oficial da Ordem do Império e Comendador da Ordem do Mérito Militar do Brasil, antigo Governador de Cabo Verde de 1958 a 1962, Governador de Angola de 1962 a 1966, administrador da Siderurgia Nacional de 1967 a 1970, director interino da Arma de Engenharia, 2° Comandante da Região Militar de Moçambique, vogal do Conselho Superior Ultramarino e, ainda, autor de numerosas publicações, deixou-nos. Portugal fica mais pobre.
Não era um crente mas tinha as suas profundas crenças. Falo de Osvaldo de Castro, meu ex-colega na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República na X Legislatura, a que presidiu, e que hoje nos deixou.
Antigo secretário de Estado do Comércio no primeiro Governo de António Guterres e ex-deputado pelo PCP e pelo PS, Osvaldo de Castro, foi agraciado em 1999 com a Grã Cruz da Ordem da Liberdade, ele que era licenciado em Direito e ex-membro da Comissão Política Nacional do PS.
Osvaldo de Castro, natural do Porto, participou na revolta estudantil em 1969, sendo um dos dirigentes da Associação Académica de Coimbra de então. Foi deputado do PS à Assembleia da República entre 1995 e 2011, tendo também exercido o cargo de vice-presidente da comissão de inquérito sobre o caso PT/TVI. Foi, ainda, e ao longo de vários anos membro da CADA - Comissão de Acesso de Documentos Administrativos. Merece ser recordado nesta ocasião pela sua afabilidade e convicções.