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Desde a sua imposição através de canhoneio, a República Portuguesa sempre foi a imunda toca do mais descarado ratazanismo. Se passarmos sobre as rápidas conversões do formiguismo branco ao caceteirismo da PIDE, teremos bem á vista casos bem próximos e tão chocantes como roubos, falsificações ou simples abuso de poder. Se alguns ainda se lembram do esbulho dos bens depositados pelos refugiados - os tais pretensos "retornados" - nas representações diplomáticas nacionais nos novos países saídos do antigo Ultramar e o longo processo de expropriações e depredação de propriedades alheias, temos um velho caso, quiçá o primeiro e potencial modelo para todos os desvarios subsequentes. A 2º República deixou escola e consequente praxis claramente consuetudinária, apenas mudando a verborreia.
A "Fundação" da Casa de Bragança é um exemplar da prepotência da República Portuguesa, um assalto legalizado por ditatorial decisão. O roubo salazarista do património do Ducado de Bragança permaneceu impune e mais ainda terá servido para emprego de quem tem sucessivamente encabeçado uma "organização" que mais não é, senão uma aparente coutada para o conhecido princípio da distribuição de potenciais manjedouras. Será interessante a imprensa investigar a situação que por lá grassa há gerações e talvez, quem sabe?, descobrindo aquelas usuais "coincidências" que há muito ditam a norma neste país. É alegadamente um daqueles redutos tão do agrado do actual redil, sapiente como este foi e é em reciclar todo o lixo proveniente da 2ª República, aliás numa primorosa cópia daquilo que esta mesma fez em relação à sua precedente. Assim sendo, da 1ª até à 3ª, o desfiar do rosário de arteirices, saques, prepotências e outras poucas vergonhas, consiste numa ininterrupta cadeia.
A maioria dos nossos leitores ainda não saberão do dislate, mas há que informá-los do completo escândalo que se passa em pleno Panteão da Casa de Bragança, onde os caixões do Duque D. Duarte Nuno e de outros familiares da Casa Real e Ducal, estão ignominiosa e intencionalmente votados ao abandono, aguardando há décadas pelo seu lugar de direito. Encontram-se a um canto e cobertos por plásticos, dada a ausência de decisão - é este o subterfúgio que os cobardes usam para a recusa - em sepultá-los devidamente, tal como dita o direito e a tradição. A não ser este o caso, como justifica então a Direcção da "Fundação" este desplante?
O último episódio desta escabrosa saga de fascistíssimos desmandos, mentiras e conluios com o poder - um dos mais corruptos de que há memória na nossa História -, diz respeito ao recente falecimento de S.A.S. a Infanta D. Maria Adelaide. Os desconhecidos pigmeus que encabeçam a secundo-republicana "Fundação" da Casa de Bragança, recusaram o depósito do ataúde de S.A.R. no Panteão Ducal. Uns tantos intérpretes de gente sem aquele mínimo de estatura que sequer pudesse chegar às unhas dos pés de D. Maria Adelaide, arrogantemente negaram o óbvio. Pouco lhes importa a dimensão moral da falecida e aquele tímido reconhecimento do Estado em que a própria República, sobre evidente pressão da opinião pública, tardiamente colocaria a Senhora naquele patamar inatingível por não importa qual nababo da plutocrática cleptocracia vigente.
Diz-se que a inefável criatura decisora da recusa da entrada da Infanta no Panteão, nem sequer sobreviveu quarenta e oito horas à prepotência. Hoje não estamos para floreados e recorrendo aos velhos e bem apropriados ditos populares, "cá se fazem, cá se pagam". Enterre-se e esqueça-se.
Ainda há poucas semanas, na comemoração do Centenário, o nosso amigo José Thomaz Mello Breyner insistiu para que me fizessem uma foto, segurando a caixa onde se encontrava a condecoração com que a Infanta fora agraciada. Eis que hoje surge a notícia da sua partida, como se tivesse pacientemente esperado aquele acto de obrigatória homenagem e reconhecimento.
Teve uma vida rica de trabalhos e jamais preencheu de fátuo glamour os seus dias, inteiramente dedicados ao serviço dos outros, principalmente daqueles que não tinham voz. A Infanta D. Maria Adelaide honrou bem a Casa de Bragança que durante séculos foi o mais firme sustentáculo da independência nacional.
A sua vida poderá resumir-se ao serviço dos mais humildes, precisamente aquele povo que jamais renegou a pátria nem se ocultou atrás das custosas roupagens estrangeiradas.
Creio bem que a Infanta decerto concordaria com este momento em que urge dizer, Depois de Vós, Nós.
De Mário Soares, temos a conhecida opinião:
"Não foi por acaso que as recentes comemorações do centenário da República - que marcaram a consciência republicana da maioria dos portugueses - começaram nesse dia 31 de Janeiro de 2010, no Porto. Aliás, mesmo durante a ditadura, provadamente antirrepublicana, a data sempre foi festejada, embora mais ou menos clandestinamente. Refiro-o em breves linhas para marcar este dia, que não é feriado, mas está no coração dos republicanos."
Uma derrota no coração dos republicanos. Uma derrota que significou o sucesso da legalidade constitucional e mais uns vinte anos de funcionamento das instituições do liberalismo que com todos os seus defeitos e sobressaltos, garantiam a liberdade de expressão que é tão cara ao Dr. Mário Soares e a nós próprios. A teimosia em querer manter o 5 de Outubro que significou precisamente o fim daquela normalidade a que o país já se habituara, parece querer justificar a ditadura que consolidou a república condenada e sucedânea do regime tão saudosamente lamentado por "republicanos de cepa, ou melhor, uns bem-falantes privilegiados, nobremente dourados por sete costados.
Estamos perante o país num estado de caquexia geral, em que uns tantos deploram o fracasso da prepotência e da subversão do Estado de Direito. Uma excentricidade em forma de boomerang, ou por outras palavras, "eles andam a ver se arranjam um rico 31".
Pois comemorem a derrota à vontade, porque deste lado temos o 31 da vitória mencionada por Mário Soares e o Centenário da Infanta, essa sim, um autêntico símbolo de liberdade e de uma coragem nada artificial ou padecente de oportuna construção à espreita de ouro alheio.
Para ler aqui.
Para ser lido, aqui.
Hoje, o Sr. Arnaut exortava o Chefe do Estado a vetar o diploma que atirará o feriado do 5 de Outubro para o lugar que merece. A resposta parece que é outra. O Sr. Arnaut merece a consolação vinda dos monárquicos que também facilmente lhe reconhecerão o mérito de obra feita no S.N.S., mas daí a exigir a permanência de uma desastrosa comemoração de um lamentável acontecimento, vai uma grande distância.
Os jornais noticiam o reconhecimento do exemplo de vida, a obra e a estatura moral da Infanta D. Maria Adelaide de Bragança, digna afilhada dessa outra benemérita que foi Rainha de Portugal, D. Amélia de Orleães.
O equilíbrio é mesmo este, imposto pela justiça que finalmente chegou, para desespero dos prestidigitadores que há tantas décadas deturpam a verdadeira História. Amanhã à noite, no jantar comemorativo do centésimo aniversário da Infanta, chegará de Belém o reconhecimento do povo português. É isso mesmo, o reconhecimento do humilhado, abusado e há tanto tempo desprezado povo português. Cavaco Silva fez o que há muito devia ter sido feito.
Isso basta, nada mais há a acrescentar.
Via Facebook, chega-nos a notícia de o Presidente da República ter acabado de assinar o despacho que confere a Ordem de Mérito a S.A.R. a Infanta D. Maria Adelaide.
Nascida naquela auspiciosa e histórica data de 31 de Janeiro, comemorativa da vitória da legalidade constitucional sob a prepotência e sedição desordeira, a Infanta não é propriamente uma "amiga e companheira" daquelas que faz o pleno e exclusivo das novas lendas e narrativas do nosso tempo. Naquela Senhora nada se supõe, não existem mitos, fotografias retocadas ou biografias maquinadas e capazes de granjear chorudas recompensas. Não, a Infanta é mesmo aquela que os testemunhos apontam, é autêntica.
Aníbal Cavaco Silva fez o que obrigatoriamente devia e não há que agradecer-lhe por isso, mas tão só notar que quebrou mais um tabu ciosamente cultivado durante décadas pelos antecessores sátrapas das II e II Repúblicas, sempre vendados a tudo aquilo que lhes pudesse embaciar o espelho onde obsessivamente teimam em viver.
"A Infanta Dona Adelaide, cujo aniversário centenário se celebra no próximo dia 31 é merecedora da nossa humilde e insignificante gratidão. Será, talvez, a mais importante portuguesa viva."
Ordem de Mérito, aceita-se. Aníbal Cavaco Silva cumpriu a sua missão e Portugal por esta vez deve reconhecê-lo. Antes assim.