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A crise de crédito iniciada nos EUA em 2008 e que foi exportada para a Europa, expôs de um modo flagrante as fragilidades da União Europeia (UE) e do Euro. A Reserva Federal não foi tímida nem lenta na implementação de medidas correctivas - George W. Bush foi dos primeiros a avançar com um pacote de ajuda na ordem dos 800 biliões de dólares. Subsequentemente o Quantitative Easing (QE) foi aplicado na ferida aberta dos Mortgage-Backed Securites (MBS) e Asset-Backed Securities (ABS), a título de exemplo. O Banco Central Europeu (BCE) inscrito na matriz histórica de uma Europa conhecedora de hiperinflação, da República de Weimar e regimes fascistas que floresceram no contexto de determinadas condições socio-económicas, foi mais ponderada na definição de um curso de acção. Sete anos após 2008, o BCE decide avançar com o seu próprio programa de QE e desde Segunda-feira dia 9 de Março de 2015 tem vindo a colocar meios financeiros junto dos bancos centrais de Estados-membro da Zona Euro no sentido da aquisição de títulos de tesouro no mercado secundário. Em traços largos a abertura da torneira da liquidez por esta via tem vindo (passe a redundância) a diluir o valor intrínseco da divisa Euro. O "excesso" de oferta de moeda produz exactamente esse efeito - a sua desvalorização. Muitos poderão argumentar que sem dúvida alguma existe intencionalidade "adicional" nesta medida de alívio/ajuda das economias em apuros. Ao tornar o Euro "barato", as dívidas expressas nessa divisa também sofrem um "desconto", e as exportações da Zona Euro também beneficiam com esta desvalorização cambial, mas a vantagem pode vir a tornar-se um problema. Basta pensarmos numa subida abrupta da cotação do crude, que implica a disponibilidade de dólares para a sua compra. Existe ainda outra dimensão de análise respeitante a este "spread" entre o Euro e outras divisas. Para já, restringemo-nos ao EUR/USD e levemos em conta a previsível subida da taxa de juro nos EUA (há quem diga em Junho deste ano) que alargará ainda mais o fosso entre as duas divisas transatlânticas. A paridade entre as duas moedas não deve servir de marcador especial. O USD transporá essa fasquia com grande facilidade. Quem não se recorda do Escudo? A 26 de Outubro de 2000 um USD valia 242,95 Escudos. Ou seja, o equivalente a €1.20 (um euro e vinte cêntimos, sensivelmente). Nos últimos dias temos assistido à valorização galopante do dólar americano o que coloca algumas questões existenciais sobre a mesa do Euro. Os políticos da União Europeia e os mecânicos do BCE podem fazer tudo para salvar a sua face, e a da moeda que viram nascer com tanto entusiasmo, mas em última instância o que está em causa é a credibilidade da divisa e a confiança que os seus "utilizadores" depositam na mesma. O Euro pode ser que não morra de doença súbita, mas nos próximos tempos andará por aí como um zombie.
Vítor Bento enuncia a questão fundamental que se coloca ao nosso futuro colectivo:
«Este modelo - gastar por conta do futuro - está pura e simplesmente esgotado e é inviável dentro do euro. Só o regresso a um regime inflacionário (com moeda própria), que possa voltar a espoliar os credores nacionais e os detentores de moeda, permitirá ao Estado continuar a gastar mais do que tem.
Para permanecer no euro, teremos, pois, que nos habituar a viver os próximos 25 anos, pelo menos, com excedentes primários. E a questão é esta: conseguirá o sistema político ajustar-se a esta necessidade (ou seja, conseguirão, políticos e eleitores, adaptar o seu "quadro mental" a esta nova realidade); ou acabar-se-á por optar pela saída do euro para poder tornar às "ilusionisses" da inflação?»
Atenção: vem aí algo maior que Portugal e cujos efeitos far-se-ão sentir em território económico nacional. Por mais louvável que sejam os consensos locais, os alegados entendimentos do governo com as centrais sindicais, os mais que mediatizados indicadores de retoma e crescimento, as próximas decisões da Reserva Federal dos EUA determinarão comportamentos financeiros pelo mundo fora. Não é apenas Bernanke que pode decidir abrandar o estímulo à economia americana (que é o mesmo que dizer a economia do mundo), porque o Bank of England pode ir pelo mesmo caminho face às evidências de crescimento económico naquele país. A última coisa que a Europa necessita é que as ajudas "externas" sejam retiradas. As taxas de juro irão ser afectadas no âmbito dessa orientação e, sem grande surpresa, as mesmas retomarão lentamente a sua via ascendente quer nos EUA quer no Reino Unido. Na Zona Euro será apenas uma questão de tempo até o BCE imitar as congéneres. Ao encarecer o dinheiro afasta-se o medo prospectivo de inflação de preços (atenção; o ambiente dos últimos anos tem sido de inflação que é em termos académicos o aumento da base monetária). Numa primeira fase pode até haver uma valorização do dólar americano face ao euro, mas rapidamente essas benesses de trader dissipar-se-ão. Os SWAPS caídos em desuso pela má fama decorrente da sua péssima utilização, tornam-se novamente uma peça central neste jogo, que acerta ou não, na taxa de juro expectável. Em vez de escorraçar a ferramenta de trabalho, os SWAPS devem ser encarados de um modo totalmente transparente e utilitário. O que julgam que irá acontecer à taxa de juro dos empréstimos para aquisição de casa? E às tarifas a pagar pelos diferentes intervalos de emissão de dívida nacional? Pode parecer que as coisas estão a entrar nos eixos em termos governativos, mas há vida para além da Troika e Bruxelas (e do pouco que resta de um governo soberano). Portugal, assim como os restantes países do mundo, a bem ou a mal, sofrerá as consequências de decisões tomadas em Washington e arredores. Por isso, nos tempos que correm, é sempre prematuro bradar aos céus que estamos salvos, em terra firme. Vivemos tempos perigosos, perniciosos. Há muito com que podemos contar. E não são favas contadas.
Desemprego a 15%
Inflação a 3,6%
Nunca Portugal esteve tão mal como agora. Nem no tempo de Sócrates, co-responsável, aliás, por esta crise e pelo número sem fim de disparates acumulados e que este Governo, tão diligentemente, prolonga no tempo. O desemprego no nível mais alto de sempre. A inflacão que regressa em força. A abdicação voluntária e anti-patriótica de todos os valores simbólicos nacionais. Eis o resumo de um mandato de escassos meses. Há quem não tenha sequer mais paciência e não hesite:
(Sobre Pedro Passos Coelho) "Como não sabe, pretende ser um bom aluno dos mandantes da Europa, esperando deles, compreensão e consideração. Genuína ingenuidade! Com tudo isto, passou de bom aluno, para lacaio da senhora Merkel e do senhor Sarkhozy, quando precisávamos, não de um bom aluno, mas de um Mestre, de um Líder, com uma Ideia e um Projecto para Portugal. O Senhor, ao desistir da Economia, desistiu de Portugal! Foi o coveiro da nossa independência. Hoje, é, apenas, o Gauleiter de Berlim.
Demita-se, senhor primeiro-ministro, antes que seja o Povo a demiti-lo."
DEMITA-SE, SENHOR PRIMEIRO-MINISTRO - Terça-feira, 6-03-2012 (Coluna de opinião do Semanário Expresso) Nicolau Santos
Ambrose Evans-Pritchard alinha com os defensores da produção de dinheiro e estímulo à economia via quantitative easing para acabar com a crise do euro: "The crisis can undoubtedly be halted immediately by the ECB. The bank can reflate Club Med off the reefs. It chooses not to act for political reasons because this mean higher inflation for Germany. That is the dirty secret. Everybody must be crucified to keep German internal inflation under 2pc." Pena que o autor que chama a atenção para o esquecimento de muitos em relação às lições da história económica, não se recorde ele de certas lições da história política. Ainda que a Alemanha seja o país mais beneficiado pela moeda única, como Sebastian Mallaby assinalou no Financial Times há dias, a inflação é um confisco de propriedade privada cujas consequências políticas os alemães conhecem bem. Ademais, o que se retira do parágrafo acima é a consequência lógica de que o melhor é acabar com o euro nos moldes actuais, em vez de adiar o inevitável, retirando os países mediterrâneos do colete de forças onde se encontram. Mas como em vez de pensar e preparar essa receita, as elites europeias preferem fazer vídeos a celebrar o sucesso do euro (?!), cá vamos continuando no mais do mesmo da austeridade sem verdadeiras reformas estruturais do estado, onde o défice e a dívida pública dificilmente diminuem, esmagando-se a classe média para pagar os desmandos dos governos das últimas décadas. É o que se chama navegar à vista. 15 minutos antes do jogo terminar ainda estamos todos vivos.
Facepalm, foi a minha reacção ao ler esta passagem de "A Tragédia do Euro" de Philipp Bagus quanto ao PM Grego não-eleito, que é um dos arquitectos do estado a que a UE chegou (p. 79 da edição portuguesa): "O legado do Bundesbank foi ainda mais reduzido em 2006 quando a direcção do departamento de investigação do BCE passou de Otmar Issing, um conservador alemão, para Loukas Papademous, um socialista grego que acha que a inflação dos preços não é um fenómeno monetário, mas sim algo causado pelo baixo desemprego."
Público: "Soares, que foi também deputado europeu, considerou que ninguém pode ter certezas sobre o futuro da Europa, mas sugeriu que alguns dos problemas ficariam resolvidos se o BCE passasse a emitir moeda. “O dinheiro circulava e não havia problema nenhum”, reforçou."
Cavaco: "BCE tem de ser um emprestador de último recurso".
Ou, repristinando uma expressão conhecida, "Deixem-nos trabalhar!"
«Já se sabe que para o socialista comum, conceitos como valor do dinheiro é algo que escapa facilmente. Por isso mesmo é sempre importante relembrar a esta gente que dinheiro significa riqueza criada. Fabricar dinheiro sem que haja aumento de riqueza é, historicamente, a forma que os governos encontram para continuar a poder endividarem o país, a gastarem sem critério e a ignorar que é contra natura gastar mais do que existe.
Se a inflação, para estes senhores, é algo muito simples e um pequeno dano colateral justificável, para o comum dos contribuintes a inflação significa que, de um ano para outro, tendo trabalhado a mesma coisa e tendo ganho o mesmo, já não se consegue comprar as mesmas coisas. É isto justo?
Enquanto estes senhores acharem que as moedas são para andar a brincar, mais se assemelham com aqueles “especuladores” contra quem tanto vociferam. Ou o que é gastar dinheiro que não se tem para depois fabricar mais, assim por magia, a partir do nada? Não é especular?
É. E com o dinheiro dos outros.»