Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Uma das equações de Portugal dos tempos modernos = nomeação de filha para presidência na EGEAC = corrupção no SEF = prémio Leya para trineto de Eça de Queiroz = Operação Furacão = Face Oculta = Freeport = Financiamento ilegal de partidos políticos = Rio Forte = fraude do BPN = BES = Fortuna de Sócrates = a equação propriamente dita, dita mesmo...explicada.
António Costa bateu por meia-hora o rival António José Seguro - chegou trinta minutos mais cedo para formalizar a sua candidatura às eleições primárias no Partido Socialista (PS). Mas Seguro, certamente melindrado pelo facto, não foi de meias-medidas e apresentou uma resposta à altura da situação: o orçamento para sua campanha é maior que o de António Costa - 165 mil euros contra 163 mil. Parece-me que somos confrontados com um empate técnico. Contudo, existe uma questão de fundo, menos jocosa e mais pertinente, que deve ser endereçada sem demoras, neste caso ou noutros de índole semelhante: a proveniência dos dinheiros de campanha. Este é o momento mais que indicado para avançar com medidas tendentes à normalização e transparência dos processos eleitorais. O cidadão português, recenseado ou não, tem o direito de saber de onde vêm os valores que ajudam a sentar políticos nas cadeiras do poder. As questões financeiras relacionadas com campanhas são sempre apresentadas de um modo convenientemente vago. São frases como; "estimam gastar 328 mil euros" ou "está tudo em aberto", que minam a confiança dos eleitores e dão margem para trafulhices. À americana, sem rodeos ou rodeios, que seja publicada a lista oficial de fundos e donativos concedidos à campanha deste ou daquele (podem inserir o apelido Wolf no motor de busca). O Dr. Solgado passou um cheque de 10 mil euros? Não, não consta na lista. Muito bem. Adiante. O Eng. Santos dos Soares teve uma atenção para com o outro? Sim, senhor - está aqui na terceira página do balancete. Estão a perceber? É simples. Pagou - passa-se recibo (dedutível no IRS logo se vê) e publica-se a folha de pagamentos no diário da república. Bananas. Obrigado. Passe bem. Passa para cá o meu.
Os três eleitos, Vitor Gaspar, José Luís Arnaut e Álvaro Santos Pereira, não tarda nada serão queimados na fogueira da inveja e maldizer. Não é o sonho de qualquer cidadão nacional chegar longe, o mais longe possível de Portugal? Pois bem, aqui temos exemplos de relevo, a prova de que o país tem massa crítica muito apreciada para além de Badajoz. Faça-se o exercício, difícil convenhamos, de demarcar estes profissionais da sua procedência partidária ou governativa, porque não foi isso que esteve em causa nas suas candidaturas ou nomeações. A mesquinhice política doméstica não tem importância em Wall Street, Paris ou Washington. Quem manda naquelas casas quer lá saber de Oliveira do Bairro ou São Bento. O que está em causa, é que há alguns anos, muitos se queixavam que Portugal não tinha influência alguma no tabuleiro internacional, que a pobre nação ibérica não estava predestinada a ter representantes em organismos de importância acrescida. Mas isso tem vindo a mudar, para bem ou para mal, com os casos de Freitas de Amaral na presidência da Assembleia-Geral das Nações Unidas em anos recentes, com Guterres na UNHCR e (sei que ainda me vão bater por isto!) Durão Barroso na Comissão Europeia. Eu sei que estes senhores também se inscrevem na lista de criticáveis, mas, em abono da verdade, foi o pavilhão de Portugal que foi hasteado, e não o de Espanha (por exemplo). Dito de um modo distinto, este é um país onde ainda reina a expressão canina: preso por ter cão, preso por não ter. Quando não havia vivalma lusa lá fora, era um queixume constante, uma humilhação, e agora, quando em simultâneo vários delegados são colocados, soa logo o alarme de protesto de um coro de invejosos, de gente que parece não apreciar os feitos dos seus concidadãos. Na minha opinião, Portugal deve rapidamente esclarecer o que pretende quando aplica uma compressa destrutiva a conquistas importantes. Enquanto o resto do mundo observa a competência técnica dos portugueses, os compatriotas que permanecem em terra, lançam logo o rumor do tráfico de influências, do jogo de bastidores e prevaricação. Eu preferia olhar para a situação de um modo distinto. Quantos mais portugueses altamente qualificados se colocarem a milhas e em cargos de relevo, melhor, porque estarão em posição de alterar percepções e juízos. E é precisamente isso que o país (sob um programa de assistência) necessita. Precisa que agentes destacados para o efeito promovam a ideia de que Portugal vai dar a volta. A retoma ou a saída da crise pode não ocorrer no mesmo fôlego, na mesma circunstância, mas, para todos os efeitos, estes emigrantes podem dar um contributo importante, tendo em conta as instituições onde irão trabalhar; instituições que moldam uma boa parte dos destinos económicos e financeiros do mundo. O que mais poderia Portugal desejar neste momento particularmente difícil da sua história? Não nos esqueçamos que o FMI é um dos sócios da Troika e que a Goldman Sachs tem culpas no cartório da crise. Por essa razão, será positivo ter lá malta infiltrada para perceber como as coisas se fazem, para de seguida as fazerem como deve ser. Em defesa dos interesses de Portugal.
Deve ter sido Cavaco Silva, co-adjuvado por um servente, que teve a magnífica ideia de baptizar o certame de "Conselho da Diáspora Portuguesa". Será que não sabe a origem do termo? A Diáspora é uma daquelas expressões reservada para a singularidade negativa da história. A Diáspora tem a ver com a fuga perpetrada por indíviduos que nunca chegaram a ser bem-vindos nas comunidades em que se encontravam. Os judeus que escaparam ao churrasco da Inquisição, que foram expulsos ou que fugiram a sete pés de Portugal, corporizam a própria definição de Diáspora. É de um extremo mau gosto semântico e cultural, associar este encontro de campeões portugueses ao conceito de Diáspora. Os 30 eleitos para promover Portugal no mundo, que eu saiba, não foram perseguidos por motivos religiosos ou étnicos. Saíram de Portugal de um modo confortável para ocupar lugares de destaque, por mérito próprio, ou, quem sabe, por terem conhecimentos na rede de influência internacional da área dos negócios, da academia ou dos media. Estes embaixadores já têm a cama feita, e não percebo, que a toque de caixa, agora repitam o chavão de John Fitzgerald Kennedy -"ask not what my country can do for me but what I can do for my country'" (não perguntes o que o país pode fazer por ti, mas o que podes fazer pelo país). Os trinta magníficos apresentam-se como perfeitos entendedores da angústia da mala de cartão, mas aos olhos dos portugueses a caminho do banlieu, são privilegiados com laivos de misericórdia, com a necessidade de ficarem bem na fotografia para o caso de alguém perguntar: onde estavas quando Portugal ruiu? Eu? Então não sabes? Sou um dos eleitos - um dos conselheiros da Diáspora. Minhas senhoras e meus senhores, a Diáspora não é algo com que se brinque de ânimo leve. Está intimamente ligada ao conceito de genocídio, limpeza étnica, perseguição e exclusão discriminatória numa sociedade. Seria tão bom que antes de brincarem aos "justos e bons", percebessem que mexem com consciências e fantasmas históricos que não podem ser evocados desta forma boçal. Estes embaixadores nunca seriam os escolhidos para representar a memória da verdadeira diáspora, quanto mais para representar os milhares de portugueses que estão de partida da Portela em busca de melhores dias. Um pouco de bom-senso e cultura seriam mais que bem-vindos nesta ocasião, mas isso seria esperar muito de uma pequena casa situada em Belém.