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Restringindo-me ao conceito de grande História de Portugal, pergunto, onde estarão Passos Coelho e António José Seguro por daqui a dez anos? Será que os encontraremos exilados em Paris, a vender a uma multinacional os contactos político-económicos que coleccionaram ao longo das suas carreiras públicas? Ou de um modo utópico, mas em perfeita sintonia com o que agora afirmam fazer (servir o país!), emprestarão os seus "talentos" a Portugal em nome do superior interesse nacional e a título gratuito? A questão também se coloca retroactivamente. Será que antes de escolherem a vocação política, foram cidadãos activos na construção do interesse público? Será que serviram as gentes dos seus bairros e as comunidades onde cresceram? São políticos naturais ou nem por isso? Como podem invocar o princípio de serviço público, se as suas vidas civis não foram pautadas por trabalho comunitário na sua acepção mais pura? A genuína obra que gira em torno de pessoas, de uma escala humanamente mensurável, e que deve obrigatoriamente preceder o sacerdócio político? Porque é disso que se trata. A coerência integral e plena, a indivisibilidade do cidadão e da causa pública que distingue o estadista do oportunista. Se tivéssem realizado obra na sociedade civil, teriam um track-record para mostrar, um currículo que não requer um aval partidário ou ideológico, mas que aufere grandes níveis de credibilidade junto da população. Pergunto novamente, onde estarão estes senhores, por daqui a quinze anos, e onde estará Portugal? A questão deveria implicar um debate profundo, com implicações jurídicas, por forma a estabelecer um período de nojo para o envolvimento de ex-governantes em negócios, onde fazem uso despudorado do manancial de privilégios e segredos de Estado que acompanham posições governativas. A questão que resulta destas considerações também tem a ver com um debate filosófico profundo. O que define o político? E se formos bem sucedidos em estabilizar esse conceito, também poderemos determinar o que contraria essa condição. Quais os comportamentos passíveis de constituirem uma traição aos desígnios nacionais? Será que pegar no telefone a partir de Paris e ligar para o Hugo Chavez e pedir ajuda para vender comprimidos é legítimo? Ou, será que, no intervalo que ocorre entre ser primeiro-ministro e ocupar um cargo na União Europeia, facultar conselhos e sugestões a instituições financeiras deve ser considerado normal? Nem vou responder. Não vale a pena. Não é um assunto de Estado. É uma matéria detestada.