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Desde que a crise económica e financeira eclodiu em todo o seu negro esplendor em 2008, um processo de revisão do Socialismo tem vindo a ser efectuado aqui e acolá, aos poucos, mas de um modo seguro, sem querer dar muito nas vistas e sem abalar a alma mater da bandeira. Os homens da rosa sabem que a sua sobrevivência ideológica está em causa. Como forma de se eximirem de responsabilidades morais, os socialistas procuram sacudir a água do capote como se não fossem neo-liberais, como se não tivessem apoiado o funcionamento desregulado dos mercados que conduziu a este estado desgraça, como se não estivessem no poder quando as chatices aconteceram. Como se não tivessem transformado a sociedade em algo corporativo com amigos distribuídos por posições de grande inflluência na vida económica e social do país. Temos assistido à utilização intensa de um código sacado de um mapa ideológico que já não faz parte deste mundo. Estes senhores também borraram o fato de macaco do trabalhador e agora afirmam trabalhar na lavandaria de esquina. Porém, independentemente de levantarem a voz e vestirem outra farda, sabem que algo mais profundo está a abalar o significado do Socialismo, e por essa razão se torna urgente aparecer com a cara lavada, cortando com o Socialismo da antiguidade clássica que tantos males trouxe ao bairro dos compadres. A Internacional Socialista encontra-se na Riviera Portuguesa para discutir crescimento sustentável e emprego mas enganou-se no título da conferência. Acho notável que um agrupamento de falhados não aproveite a oportunidade para analisar as causas do desmoronamento. Há um fio condutor que liga as famílias políticas destes senhores ao que está a acontecer na Europa. A declaração de intenções consubstanciada na frase vamos procurar uma saída para a crise, diz tudo sobre ausência de ética e responsabilidade política, e por isso deveria ser editada, em nome da verdade. Substituída por; queremos encontrar a saída para a crise que ajudamos a fabricar, ao que poderiam também acrescentar; não somos socialistas no sentido inaugural da doutrina, somos iguais aos outros neo ou ultra-liberais. Depois há outra dimensão caricata que desconhecia, que não ajuda a promover a ideia de cantina solidária. Não sabia que a sede do PS também é um restaurante. Alguém me pode dizer, se ali no Rato, há uma cozinha secreta? Ou será catering? Será que os cozinhados são preparados na Casa da Comida e trazem tudo em tupperwares lavados? E porque razão o Bloco de Esquerda não foi convidado? Afinal foram eles que lançaram o mote de uma nova corrente de Socialismo. Se fosse eu, teria cuidado com o que está a passar. Assistimos há já algum tempo a deslocações de sentidos políticos que nos baralham por completo. Por vezes as Esquerdas aparecem na ala Direita, as Extremas ao Centro, os que estão por baixo por cima, e tudo isto em defesa de um princípio subjacente à condição política, o acesso ao poder seja qual for o preço a pagar. Paga o contribuinte. Mas restringindo-me ao Socialismo, não me surpreenderia se uma nova doutrina fosse inaugurada como uma novidade de mercado, um perfume para desinfestar e afastar os maus cheiros provocados pelos próprios. Deo-Socialismo, Neo-Socialismo...