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Apenas os cegos e os traidores - para não lhes chamar coisas piores - não vislumbram o que foi dado em troca de um provisório consentimento quanto à pequena mercearia de bairro que é o capítulo da economia e finanças portuguesas.
Costa foi a Berlim prestar a necessária e explicável vassalagem e foi dizendo estar disponível para aliviar a Sra. Merkel dos problemas por ela própria causados e exacerbados até ao paroxismo, ansiosa como estava por obter o Nobel da Paz. Não o conseguindo, abriu a caixinha daquilo que todos, mas todos há muito tempo estávamos certos de que sucederia.
Vêm aí um corpo expedicionário para "trabalhar nos campos" e "ocupar terras abandonadas". Isto sem sequer contarmos com os que virão para "estudar". Ficamos então avisados. O al Andalus não está assim tão longe, até porque, sejamos realistas, o número final poderá ser muito superior até para os mais loucos sonhos daqueles que se desvanecem em súbitos delíquios de amor pelo próximo.
Podem chamar-me tudo o que entenderem, afinal de contas a esse tipo de delicadezas estou habituado desde que aqui sem vontade alguma desembarquei em 31 de Agosto de 1974. Bom proveito!
Alerta geral. Uma colossal frota russa aproximou-se da costa portuguesa em modo stealth e de surpresa desembarcou um reduzido Corpo Expedicionário com o nome C.E. Marechal Pavel Karlovich von Rennenkampf, composto por 6 divisões de infantaria, tropas Spetsnaz, 50 baterias de sistemas de mísseis AA, 10 sistemas nucleares SS-27 Topol, 4 divisões de blindados pesados T-90, 70 sistemas de lançadores de foguetes Katyusha, 1500 peças de artilharia de varios calibres e múltiplas funções e 250 caças VSTOL. Foram acolhidos pelos autarcas CDU de Almada, Barreiro e Setúbal, acompanhados por uma deputação do PNR e pelos embaixadores do Irão, Coreia do Norte, China, Venezuela, Brasil, Bolívia, Cuba, Síria e pelo autoproclamado e exilado governo do IV Reich. As baterias Krupp da Fonte da Telha prontamente entregaram as instalações ao Corpo Expedicionário Marechal Pavel Karlovich von Rennenkampf, recebendo-o os visitantes com todas as honras correspondentes e tiros de salva.
Os pescadores da Costa de Caparica também deram as boas-vindas servindo refeições rápidas de chaputa e sardinha assada com pimentos verdes, copiosamente regadas com carrascão da zona de Palmela. Não há notícia de os russos terem deparado com qualquer turista fazendo ostensivo e ofensivo nudismo em termos pussy riot.
No fim do repasto, foi inaugurada uma grandiosa estátua equestre de Catarina II a Grande na rotunda da vila da Costa de Caparica. Ao contrário da de D. José I no Terreiro do Paço, este bronze é folheado a ouro.
Muito se tem escrito acerca dos acontecimentos daquele já distante Dezembro de 1961. Em Portugal, a discussão gira em torno dos militares revoltados pelo injusto tratamento dispensado pelo então regime vigente. Se por um lado lhes exigiram o obrigatório sacrifício que a escolha daquele serviço impõe, por outro, não lhes foram fornecidos os meios mínimos para uma defesa consistente, mesmo que simbólica.
A situação internacional era para os americanos péssima, dados os recentes acontecimentos em Cuba, a escalada da guerra no Sudeste asiático, a corrida ao armamento nuclear, a sempre presente chaga isarelo-árabe e os tumultos independentistas em África, muitos deles provocados pelos próprios EUA. Kennedy, proveniente de uma família de bastante discutível reputação e alianças que lhe daria o poder na Casa Branca, temia a China maoísta, não olhando a meios para agradar à "maior democracia do mundo", a Índia das castas e da segregação. O velho preconceito anti-colonial pautava toda a política externa americana, mesmo que a assunção dessa posição prejudicasse os próprios aliados dos EUA e a posição do Ocidente nos territórios extra-europeus, essenciais à segurança das rotas comerciais e à defesa militar. Quando nos anos 20 e 30 os EUA ainda possuíam as Filipinas como pouca disfarçada colónia arrebatada à Espanha, as administrações - nomeadamente a de Roosevelt - dedicavam-se a encontrar em África e na Ásia, possíveis líderes locais que fizessem passar os territórios coloniais para a esfera de interesses norte-americanos e disso mesmo o próprio Churchill se aperceberia durante as conversações tripartidas que durante a II Guerra Mundial, manteria com o presidente americano e o ditador Estaline.
Os americanos sabiam que a Índia preparava o ataque ao Estado Português da Índia e apoiaram-no sem sofismas. Constava que Salazar e Mao negociavam secretamente, no sentido de tornar impossível esse avanço sobre as possessões portuguesas, aproveitando Lisboa a conhecida realpolitik política chinesa da presença sem o directo exercício da soberania, aliás manifesta em Macau. A ser verdade este persistente rumor, a instalação dos chineses em Goa teria repercussões muito vastas, especialmente nos territórios portugueses de África, onde mais tarde, a China tornar-se-ia conhecida por exercer um grande esforço no fornecimento de armas aos inimigos de Portugal. Como teria tal política ter sido possível no caso de um acordo "entre cavalheiros" de Lisboa com Pequim? A hipótese dessas negociações carecem da confirmação que só os arquivos diplomáticos poderão um dia relevar, mas a posição norte-americana foi sempre hostil a Portugal e disso não existe a mais pequena dúvida, até porque logo no início de 1961 e em Angola, a UPA iniciara a guerra com um devastador ataque às populações negras e brancas da Província Ultramarina, UPA esta criada, municiada e financiada por entidades apertadamente ligadas ao governo de Washington.
A Salazar restavam-lhe várias opções:
1. Desistir e imitando os franceses, entregar o Estado da Índia a Nova Deli, atitude impensável dada a vontade da população local e mais importante para o regime, a própria posição integracionista que o governo fazia escutar na ONU.
2. Promover um referendo em todo o Estado da Índia, solução aliás sugerida por um importante sector dos círculos mais influentes de Goa. Talvez fosse a opção mais curial e mais temida por Nehru, mas criaria um precedente que poderia ser reivindicado como solução primeira para o alienar do património ultramarino. Isso o regime jamais aceitaria, pois Portugal nem sequer possuía as necessárias instituições - após a morte de Carmona, uma hipótese ignominiosamente sabotada por Marcelo Caetano - que no caso britânico, conduziriam ao fortalecimento da Commonwealth.
A opção militar era a mais previsível, dado o Direito Internacional e a doutrina oficial da II República. Neste caso, os militares deveriam ter sido dotados de equipamento e de unidades capazes para uma defesa, mesmo que o termo "simbólica" significasse uns tantos dias de resistência, capazes de inflingir graves perdas aos atacantes e criar um terrível problema político a uma teoricamente "pacífica" Índia, que além de cultivar um estado latente de guerra com o Paquistão - tácitamente aliado dos portugueses - poucas semanas depois, era completamente derrotada pelos chineses no breve conflito nos altos dos Himalaias.
A posição de Lisboa foi precisamente oposta, exaurindo os arsenais e os quartéis de equipamento e homens capazes para tal missão de um sacrifício quase suicida. Munições caducas, nem um único tanque, poucas bocas de fogo, nenhum material anti-aéreo e anti-carro, péssimas transmissões, quase nenhumas armas automáticas - a Mauser era a regra na infantaria local - e nem uma única unidade naval moderna. O glorioso Afonso de Albuquerque estava só, tinha um quarto de século e jamais havia sido modernizado para um combate contra unidades modernas. A Armada possuía alguns meios muito mais eficientes e que inutilmente fundeavam na Metrópole ou em Moçambique. Nada se fez para essa almejada resistência "à Estalinegrado" e surgiria mais tarde, o escusado argumento da certeza do ataque indiscriminado dos indianos ás zonas civis, bombardeando e massacrando a população. Mas não era isso mesmo que Lisboa deveria esperar, provocando uma rápida reacção política por parte da opinião pública mundial? Não contou Portugal - mercê dos incansáveis esforços de Franco Nogueira e do MNE - com o voto favorável na ONU, condenado Nehru e a Índia?
O tratamento que mais tarde seria dado aos militares repatriados, careceu de qualquer tipo de tino político, pois em vez de o regime os fazer desfilar com todas as honras Avenida da Liberdade abaixo - culminando as honrarias com aquela que se tornaria na sacramental cerimónia no Terreiro do Paço -, tratou-os de uma forma tal, que despoletaria os profundos ressentimentos que chegam até aos nossos dias. Consistiu esta atitude num erro crasso, até porque o terrorismo em Angola e a política assumida da defesa do Ultramar, exigia, pelo contrário, a máxima atenção às Forças Armadas, especialmente naquilo a que para elas é mais relevante: a manutenção da honra e o seu reconhecimento como o essencial braço armado da nação.
O ataque a Goa, Damão e Diu, poderá ser visto como um esquecido episódio da Guerra Fria, não hesitando os EUA em sacrificar um aliado incómodo e com o qual mantinham acrimoniosas relações, dados os interesses de certos sectores lobistas financeiros, económicos e políticos norte-americanos. A política de Washington era definitivamente a mesma que Roosevelt prosseguira nos anos trinta, procurando substituir as antigas potências coloniais e criando os seus próprios potentados locais, sendo o caso Mobutu, apenas o exemplo mais flagrante. Embora numa realidade completamente diferente, factos idênticos ocorreriam quando da invasão indonésia a Timor Oriental - com o beneplácito da administração Ford-Kissinger - num momento em que as Forças Armadas Portuguesas eram pasto de convulsões intestinas que as desprestigiaram por várias gerações e cuja infausta canga, sobre elas ainda pesa de forma esmagadora.
De facto, a II República teve graves responsabilidades quanto ao desfecho do infeliz episódio. A culpa não se deve á política em si, mas à forma em que por vezes esta se reveste e que como é confirmada no vetusto mas bem realista dizer dos círculos diplomáticos, fazê-la através da opção do empunhar de armas. No caso da Índia Portuguesa, os militares tiveram chouriços em vez de granadas e paus de vassouras como sucedâneos de metralhadoras.
Erro de Salazar.
Saído das pranchas de planeamento dos técnicos fornecedores da Royal Navy e com aquelas inconfundíveis linhas de navio anterior à II Guerra Mundial, conquistou o prestígio que os coleccionadores ambicionam. Como gostaria de ter o prazer de um dia poder comprar um kit do Aviso Afonso de Albuquerque, cuidadosamente montá-lo e pintá-lo com rigor. Era uma bela unidade da Marinha Portugesa e foi construída a pensar numa certa ideia de Portugal. Cumpriu a sua missão. Numa Armada há muito habituada a servir para mostrar bandeira, que a acção do Afonso de Albuquerque lhe sirva de exemplo.
Neste tempo de plúmbea humilhação, as fragatas nem sequer precisarão de enfrentar qualquer adversário sério. Apenas lhes bastará picar amarras e fundearem diante de Belém. Uns tiros de pólvora seca, provocarão a tal debandada. Quanto às bandeiras a hastear, sabem onde encontrá-las, ali para os lados do Chiado, na Praça de Camões.
50 anos passam amanhã relativamente a um acontecimento histórico, um dos mais dramáticos que a história de Portugal enquanto Nação regista: a invasão de Diu (Estado Português da Índia), território com apenas 37 Km2 mas recheado de simbolismo, por parte da União Indiana e a heróica resistência das tropas nacionais, com particular destaque para as da Marinha de Guerra Portuguesa. A invasão iniciou-se a 17 mas concretizou-se a 18 de Dezembro de 1961.
O sítio da Marinha, muito justamente, dá esse destaque à efeméride. Vale a pena lê-lo aqui:
"A 18 de Dezembro de 1961 o exército indiano, apoiado pela aviação, invadiu em força o Estado Português da Índia. Para colaborar na invasão, a Armada Indiana lançou mão de todos os navios operacionais de que naquela altura dispunha. Ao cruzador Mysore e à fragata Trishul, com as respectivas forças de desembarque, foi atribuída a missão de ocupar a ilha de Angediva; as fragatas Betwa, Beas e Cauvery foram encarregadas de colaborar no ataque a Goa; ao cruzador Delhi coube colaborar na tomada de Diu; ao grupo constituído pelo porta-aviões Vikrant, acompanhado pelas fragatas Khutar, Kirpan e Khukri e pelo destróier Rajput foi dada a missão de fazer frente a qualquer situação inesperada que pudesse surgir; o grupo constituído por quatro caça-minas e um navio de apoio logístico foi encarregado de dragar as minas que os portugueses eventualmente tivessem lançado à entrada do porto de Mormugão e assegurar o funcionamento deste após a ocupação. Era o mesmo que usar um martelo para partir um ovo, uma vez que os Portugueses, na Índia, dispunham apenas de um antigo aviso de 1ª classe e de três lanchas de fiscalização. É certo que no início do diferendo com a União Indiana tinham começado a ser preparados dois submarinos, dois destróiers e um navio apoio para serem enviados para o Índico. Mas tal ideia foi abandonada para não acirrar os ânimos. A verdade é que o Governo Português nunca acreditou que a União Indiana, o arauto da política de não violência, recorresse alguma vez à força para fazer valer o que entendia serem os seus direitos.
Na manhã de 18 de Dezembro, encontrando-se fundeado no porto de Mormugão, o aviso Afonso de Albuquerque, de que era comandante o capitão-de-mar-e-guerra Cunha Aragão, foi atacado pelas três fragatas indianas travando com elas um vigoroso duelo de artilharia em que foi repetidamente atingido, acabando por ser encalhado e abandonado. Nesta acção foi morto um grumete; o bravo comandante Aragão ficou gravemente ferido; cerca de meia centena de elementos da guarnição, entre oficiais, sargentos e praças, ficaram ligeiramente feridos, tendo apenas dez tido necessidade de receber tratamento hospitalar. Um autêntico milagre!
A lancha de fiscalização Sirius, que dispunha apenas de uma peça de 20 mm, foi abandonada. A Antares conservou-se ao largo de Damão sem que tivesse avistado qualquer navio indiano nem sido atacada pela aviação. Quando se apercebeu de que a cidade tinha sido ocupada pelas tropas indianas, o seu comandante, segundo-tenente Brito e Abreu, seguiu para Karachi.
Em Diu encontrava-se uma lancha semelhante, a Vega, de que era comandante o segundo-tenente Oliveira e Carmo. Nada podendo fazer contra o cruzador Delhi que se encontrava ao largo, mas não lhe sofrendo ânimo ficar de braços cruzados, Oliveira e Carmo decidiu manter-se a navegar nas proximidades da fortaleza ajudando com a sua peça de 20 mm a defendê-la contra os repetidos ataques de que estava sendo alvo por parte da aviação indiana.
Na execução da missão suicida que Oliveira e Carmo impôs a si próprio, com o único fim de honrar a Pátria e a Armada, a Vega foi atacada sucessivamente, por oito ou mais vezes, por parelhas de dois aviões de jacto indianos. Navegando em zig-zag, Oliveira e Carmo conseguiu evitar por diversas vezes que o seu navio fosse atingido. Por fim sucedeu o inevitável. Uma rajada de projécteis incendiários e explosivos atingiu em cheio a lancha, ferindo-o gravemente, matando o marinheiro Ferreira e incendiando as munições que estavam no convés. Pouco depois uma segunda rajada, disparada contra o navio imobilizado, acabou-lhe com a vida e feriu gravemente mais três marinheiros. Com a lancha a arder e as munições a explodirem, os seis marinheiros que restavam, três deles gravemente feridos, atiraram-se à água. O marinheiro Cardoso da Silva, que era bom nadador, conseguiu alcançar a balsa e trazê-la para junto dos companheiros, enquanto a Vega era engolida pelas águas. Depois de ter ajudado a subir para ela dois dos feridos graves, o Jardino e o Bagoim, bem como o Freitas que era fraco nadador, amarrou as fitas do seu colete de salvação à balsa e, com o corpo e os olhos cobertos de óleo, começou a rebocá-la, nadando na direcção de terra, que conseguiu chegar ao fim de sete horas! Durante o trajecto o Jardino morreu. O marinheiro Nobre, pensando que era o último sobrevivente nadou em direcção à costa da União Indiana que conseguiu alcançar. O grumete Ramos, gravemente ferido nas pernas, conseguiu chegar a terra junto da fortaleza que, naquele momento, estava a ser intensamente bombardeada pelo cruzador Delhi.
A forma como se comportaram o Comandante e os marinheiros da Vega, no combate sem esperança que travaram com os aviões indianos à vista da velha fortaleza de Diu, constitui uma das páginas mais brilhantes da História da Marinha de Guerra Portuguesa."