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Parece que a FCT decidiu alterar a classificação final dos candidatos na área de Sociologia a Bolsas de Doutoramento e Pós-doutoramento sem que os membros do júri soubessem. Nada de particularmente novo no que concerne ao comportamento da FCT. Felizmente, e apesar desta actuar a coberto de interesses que estão e sempre estiveram protegidos pelos governos, quer PS quer PSD, e que inclusivamente têm cobertura a nível das instituições europeias, temos vindo a assistir nos últimos dias a uma implosão para a qual, no seu devido tempo, tenho o orgulho de ter contribuído.
Cumpre-me salientar, no entanto, que sou favorável ao financiamento público da investigação, mas a FCT não pode pura e simplesmente continuar a ser a instituição clientelar e kafkiana que tem sido. Se for para isso, então a luta que muitos encetam agora não é, de todo, a minha. Quando, sozinho, só com o apoio de amigos e família, expus publicamente uma pequenina parte da realidade da FCT, apenas parte da blogosfera, das redes sociais e alguns deputados do PS, PSD e CDS se importaram com o assunto, e nem estes últimos conseguiram obter respostas satisfatórias por parte da tutela. Na altura, até recebi relatos vindos de vários investigadores, de diversas áreas e universidades, sobre o funcionamento obscuro da FCT. E, ao que sei, alguns dos senhores que se têm mobilizado nos últimos dias ficaram muito desagradados com a minha atitude. Da própria ABIC, nem uma palavra. Agora que o dinheiro se acabou, lembraram-se que é preciso, como diria Lampedusa, mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma. Para esse peditório não contribuo. Aquilo que me parece verdadeiramente necessário é repensar totalmente o modelo de financiamento público da investigação em Portugal.
Mas o mais irónico no meio disto é ver aqueles que outrora estava no centro do sistema e deste usufruíram e abusaram, a queixarem-se e a reclamarem, quais virgens ofendidas e impolutas, como se nada tivessem a ver com o tão conhecido clientelismo no seio da FCT.
Relembremos o que escrevi e expus na Assembleia da República a respeito de certos nomes que se repetiram anos a fio nos júris da área de Ciência Política:
Outra questão que salta à vista prende-se com os membros do júri. Da informação disponibilizada no site da FCT, em que apenas constam os júris desde 2007, conclui-se que Marina Costa Lobo é membro do júri desde 2007, Nuno Severiano Teixeira desde 2010, Conceição Pequito Teixeira desde 2009, Maria José Stock e António Costa Pinto integraram o júri de 2007 a 2010, Silvério Rocha e Cunha de 2008 a 2010. Quem nomeia e quem fiscaliza os membros do júri? Sabendo-se, de acordo com Montesquieu, que todo o homem investido de poder é tentado a abusar dele e vai até onde encontra freios ao mesmo, porquê tanta repetição, ainda para mais numa Fundação cujo modus operandi no que diz respeito ao processo de atribuição das Bolsas de Doutoramento é a todos os níveis opaco, pouco transparente e demasiado moroso e prepotente? Numa democracia saudável e quando está em causa a utilização de fundos públicos, quer nacionais, quer comunitários, estes processos devem ser fiscalizados e tornados mais transparentes, sob pena de as suspeitas que recaem sobre a FCT, em última análise, permitirem concluir que grande parte do que passa por investigação científica em Portugal corre o risco de não ter validade científica, por estar enviesado ideologicamente, politicamente ou em virtude de relações pessoais desconhecidas do público entre os membros do júri e os candidatos, já que muitos destes membros do júri são também orientadores de candidatos nas respectivas universidades, ou amigos de orientadores.
E leia-se agora a carta que António Costa Pinto assinou há dias, ou o que Marina Costa Lobo tem escrito (aqui e aqui), que agora transcrevo:
17/01/2014
Bom texto do Daniel Oliveira.
Sou investigadora e beneficiei muito das politicas do Mariano Gago e até antes - fui bolseira da JNICT, nome que antes se deu à FCT. Concordo em larga medida com o que diz o Daniel Oliveira. de facto a FCT está em deterioração: antes distinguia-se pela meritocracia e pela eficiência. Agora sobressai sobretudo por más razões: politização, menos transparencia e menos meritocracia. Mas falta dizer que Gago no seu auge - e no auge do dinheiro fácil- não fez o mais dificil que era reformar as Universidades. Conseguiu financiar um conjunto muito alargado de doutorados e bolseiros, mas não abriu ou reformou as Universidades para dar espaço às novas gerações. Portanto, este crescimento não era sustentável.
22/01/2014
Ao que parece, o juri de Sociologia decidiu de uma forma e a FCT alterou a ordem dos candidatos a bolsa de Doc. Estou a tentar saber se o mesmo se passou no painel de ciencia política. Inqualificável e completamente inaceitável por parte da FCT.
Se a falta de vergonha pagasse imposto, os cofres do estado estariam um pouco melhor. Perante isto, nada melhor que subscrever Camus, citado, espantem-se, por Marina Costa Lobo:
Leitura complementar: Denúncia Pública – Dinheiros públicos, favorecimentos e discriminação: a Fundação para a Ciência e Tecnologia; Associação Portuguesa de Sociologia perplexa com a Fundação para a Ciência e Tecnologia; Entrevista a Samuel de Paiva Pires (não editada); "O presente roubado por um futuro prometido"; Denúncia Pública sobre a Fundação para a Ciência e Tecnologia será relatada na Assembleia da República; É já esta Terça-feira; À procura de justiça; Exposição proferida hoje na Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República; PSD e CDS questionam a Secretária de Estado da Ciência sobre o funcionamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia; Da série "Um país de coincidências"; Registo áudio da audiência parlamentar sobre a denúncia quanto ao funcionamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia; Ainda a kafkiana e corrupta Fundação para a Ciência e Tecnologia; E mesmo assim, a FCT continua a existir e nenhum governo a consegue controlar; Ironias.