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Enquanto o Banco Central Europeu (BCE) realiza stress tests a quatro instituições financeiras nacionais, pergunto se alguém fará um teste ao stress dos milhões de cidadãos deste país. Ocupados que estamos com Sócrates e as suas distracções de retórica; Angola e a novela de Machete; manifestações de inter-sindicais com ponte ou sem ponta que se pegue, os temas da centralidade nacional parece que seguiram por uma estrada secundária. A principal mascote da crise - o desempregado -, parece ter sido secundarizada. É impressão minha, ou será que os tempos de antena dos últimos dois meses estão dedicados a outras causas? Não tenho assistido a muitas peças sobre esse flagelo. Há escassas semanas, bastava ligar o televisor e seguíamos para bingo - reportagens e mais reportagens sobre novas inscrições nos centros de emprego espalhados ao comprido em Portugal; peças sobre encerramentos de unidades industriais no Norte e, claro está, umas estórias de emigração à mistura. Mas, concordemos, houve aqui um certo abrandamento no tratamento da questão. Enquanto decorrem uns eventos no estrangeiro que até têm a sua utilidade em termos de captação de investimento directo estrangeiro, o governo de Portugal parece assumir internamente uma alteração fundamental dos factores estruturais da economia. Pela conversa académica que acontece um pouco por todo o mundo, o emprego jamais tornará a ser o que era. O conceito académico de pleno emprego levou uma marrada forte e está em estado crítico, em coma. Embora não o digam abertamente para não gerar ainda mais ondas de choque, a verdade é que o desemprego veio para ficar ou, dito de outro modo, o emprego, quando voltar, não será o mesmo. Se o desemprego conseguir baixar para os 10% será uma sorte. Aqueles que perderam os seus empregos e que se encontram numa espécie de purgatório laboral, não têm muito por onde escolher. Mesmo que consigam arranjar trabalho, a carga contributiva arrasa com a vontade produtiva e, nessa medida, mais vale ficar quieto e não procurar o que quer que seja. As empresas - que efectivamente realizáram uma reforma do seu estado corporativo - ao despedir milhares de trabalhadores (alegadamente em nome da sua sobrevivência), irão ter alguma relutância em adicionar camadas laborais gordurosas. Em nome da tal união bancária e respectiva supervisão, o BCE quer saber se os bancos europeus cumprem os requisítos de solidez financeira, mas uma outra competição está a decorrer. A Europa quer saber se está em condições de disputar lideranças financeiras, de pôr em causa os intentos de gigantes bancários americanos ou asiáticos. Há muita matéria que está em causa no novo ordenamento económico e financeiro do mundo, mas o pequeno trabalhador parece ser um mal menor na nova ordem que agora se configura. A formiga que vive com um stress desgraçado nem sequer consegue uma consulta médica para que lhe façam uns exames ao corpo e à alma.