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Imigração qualificada

por Samuel de Paiva Pires, em 09.09.13

 

(foto daqui)

 

No seguimento deste post do John Wolf e deste do Nuno Castelo-Branco, permitam-me dizer que não tenho uma visão tão pessimista como a do John. Não vejo em que é que a criação de uma agência governamental destinada a atrair imigrantes qualificados esbarre com a ideia de self-made man, e muito menos me parece que possa dizer-se que isso andaria perto de práticas de regimes nacional-socialistas. Creio que a visão do John enferma de um igualitarismo extremo de que não partilho. Estando a União Europeia de portas abertas há já vários anos, a existência de programas que atraiam um tipo específico de imigração apenas complementará esta política. Há que ser pragmático e interiorizar aquilo que o Nuno escreve"Há que atrair os investimentos, facilitar procedimentos legais - burocracia, impostos, justiça -, oferecer perspectivas de actividades empresariais e garantias de segurança." 

 

Não é por acaso que Austrália e Canadá têm programas desenhados especificamente para atrair imigrantes qualificados que suprimam as necessidades de trabalho em determinadas áreas, que França e Inglaterra criam condições para investimentos por parte de elites financeiras da Rússia, países árabes e outros, e que um dos grandes segredos da renovação interna e do domínio internacional dos Estados Unidos da América, como muito bem aponta Fareed Zakaria em O Mundo Pós-Americano, é precisamente a atracção de estudantes, cientistas e académicos que ali desenvolvem os seus trabalhos, muitos acabando por se tornar parte integrante da sociedade norte-americana, como é o exemplo do próprio Fareed Zakaria, de origem indiana. 

 

Já não vivemos no tempo da migração da mala de cartão, mas sim num mundo globalizado em que boa parte das relações laborais, empresariais e académicas extravasa fronteiras administrativas e suprime limitações nacionais de outros tempos, tendo o Ocidente que apostar muito mais na qualidade do que na quantidade, sob pena de não conseguir competir com a Ásia. Da mesma forma que muitos jovens e quadros portugueses qualificados, em virtude do ajustamento económico português e, consequentemente, do mercado de trabalho nacional, têm saído do país para rumar a outros destinos onde existe bastante procura pelas suas capacidades e competências, e da mesma forma que o tecido empresarial português tem vindo a reorientar-se, em larga medida, para o estrangeiro, o que tem potenciado o assinalável crescimento das exportações, também Portugal deve adoptar políticas que permitam atrair jovens, quadros e investimentos estrangeiros. Esta é precisamente uma das principais formas de, como o Nuno escreve em relação aos portugueses da África do Sul, "trazer claros benefícios à nossa economia e tão importante como isto, (...) alguma segurança à solvência do Estado Social e ao sempre sibilinamente mencionado défice demográfico."

publicado às 13:26

Os matreiros e os tresloucados

por João Quaresma, em 20.03.13

No início dos anos 20, um aristocrata alemão propôs-se instalar um sanatório na Madeira que, além dos seus atractivos terapêuticos, contava com uma magnífica vista sobre o Funchal. Um projecto que foi muito bem visto pois traria turistas endinheirados à capital madeirense. No entanto, e antes de dar a sua aprovação, o governador do Funchal resolveu sondar a opinião de Lisboa pois desconfiou que os ingleses pudessem não gostar de ver alemães na Madeira. O que de facto era verdade: o embaixador britânico logo disse ao Governo ser absolutamente contra, pois era evidente que o verdadeiro interesse do sanatório era vigiar a presença de navios de guerra britânicos que escalassem a ilha e justificar a presença de cidadãos alemães. Os alemães sabiam muito mas os ingleses também não eram ingénuos. E, como naquele tempo o embaixador de Sua Majestade mandava e o Governo Português não tinha outro remédio que não obedecer, o sanatório não foi autorizado.

Isto a propósito do excelente post do Nuno Castelo-Branco, sobre o qual faço dois comentários.

 

Primeiro, e numa altura em que já se fala na possível implantação de uma base naval russa em Chipre, espero que por fim os crédulos na intrínseca bondade do investimento estrangeiro, qualquer que ele seja, aprendam que o dinheiro tem pátria, que os investimentos não se explicam apenas por interesse empresarial e que são assuntos que envolvem Política Internacional e Geopolitica, e não apenas Economia. E que finalmente percebam qual o verdadeiro interesse da Rússia na compra dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, apesar do estado caótico em que a empresa se encontra. A indústria naval russa não precisa de Viana do Castelo para nada (embora não diga que não ao seu portefólio de projectos e à tecnologia); mas tem sido um objectivo de sempre de Moscovo obter pontos de apoio à Marinha Russa em mares quentes, para obter a liberdade de acção que a geografia russa não permite. Um estaleiro competente na costa atlântica seria sem dúvida um trunfo importante, sobretudo quando a Marinha Russa adquire navios com vocação expedicionária e para manter uma presença naval longe das suas costas.

Antes de embarcar em vendas precipitadas a estrangeiros, é preciso que quem decide trate de se informar devidamente sobre a situação, nomeadamente junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Defesa, para compreender todas as implicações que um investimento estrangeiro envolve, de forma a não meter o país em grandes problemas. Já basta terem entregue a electricidade portuguesa ao Partido Comunista Chinês.

 

Segundo, não houve dúvida por parte dos comentadores em geral em qualificar a proposta de confiscar parte dos depósitos nos bancos cipriotas como qualquer coisa de tresloucado. E com razão, porque de facto era algo de irresponsável e tresloucado. Mas que dizer, no actual quadro estratégico (no Mediterrâneo e Norte de África em particular), da intenção do Governo de cortar em um terço as capacidades das Forças Armadas, já de si bastante abaixo das necessidades de um país como Portugal? Também temos direito às nossas medidas tresloucadas, não é?

publicado às 01:36

A aquicultura em Portugal

por João Quaresma, em 13.03.13

A reportagem que a SIC transmitiu ontem no seu jornal das oito sobre a aquicultura em Portugal foi esclarecedora das dificuldades colocadas pelo Estado aos empresários portugueses. Espanha produz 250 mil toneladas de peixe em regime de aquicultura, sobretudo na Galiza, e o Estado facilita e incentiva a actividade não só por razões económicas mas também para contribuir para a independência alimentar do país. Por cá, passa-se exactamente o contrário: o Estado levanta mil e um obstáculos que demoram anos (foi relatado o caso de um projecto que, após seis anos, continua sem poder avançar) até serem ultrapassados, provocando a desistência e mesmo a falência de empresas investidoras. E a independência alimentar, então, é algo que não preocupa minimamente as autoridades portuguesas. O resultado é que, apesar das enormes potencialidades (basta pensar na Ria de Aveiro, nos estuários do Tejo, Sado e nas muitas barragens) e da importância para o abastecimento do país (já que a Política Comum de Pescas é o que se sabe) Portugal só produz 10 mil toneladas anuais.

Pescanova Mira

"Quinta" da Pescanova na Praia de Mira (imagem Google Earth)

 

É claro que, com empresas estrangeiras já o caso muda de figura. Sobretudo quando a empresa é espanhola e o governo é socialista. Quando a Pescanova quis construir um gigantesco complexo na Praia de Mira (os tanques ocupam uma área de um quilómetro de comprimento por duzentos e setenta e cinco metros de largura), em plena zona protegida da Rede Natura, o governo de José Sócrates não só permitiu como ainda deu 40 milhões de euros para o projecto, que em menos de dois anos começou a funcionar.

Para os portugueses - isto é, os que seguirem os trâmites estabelecidos - , só dificuldades. Para o investimento estrangeiro, tratamento VIP.

 

Parabéns à SIC pela excelente e esclarecedora reportagem.

publicado às 00:50

Diz-me que empresas tens, dir-te-ei quem és.

por João Quaresma, em 02.02.13

Pouco tempo depois de se tornar Primeiro Ministro, Mariano Rajoy convocou - e o termo é mesmo esse - as empresas espanholas com maior projecção internacional (Repsol, Telefónica, Zara, Indra, BBVA, Santander, Pescanova) para usarem a sua visibilidade para passar uma imagem positiva de Espanha, de forma a contrariar os danos provocados pela crise económica na credibilidade do país.

Neste espírito, está a fazer furor no país vizinho um video feito pela filial espanhola da consultora Grant Thornton que pretende justamente fazer passar a mensagem que, apesar das más notícias, Espanha merece confiança e optimismo. E que, mesmo com estatísticas pouco animadoras, a economia espanhola conta com empresas bem sucedidas e prestigiadas internacionalmente.

O curioso é que o video está a ser elogiado pela originalidade, quando de facto parece ser uma imitação do video feito há dois anos em Portugal, destinado a esclarecer os finlandeses. É claro que há grandes diferenças. O video espanhol, além de ser francamente mais inteligente, tem a enorme vantagem de poder mostrar grandes empresas espanholas que são exemplos de como o saber-fazer espanhol merece a confiança de clientes em todo o Mundo.

É claro que cá, sendo um desporto nacional vender as boas empresas a estrangeiros, já não podemos fazer o mesmo: apesar de haver algumas empresas de capitais portugueses com dimensão internacional (Jerónimo Martins, Galp, Sonae, Amorim, Soares da Costa, Efacec), são de facto muito poucas as que têm visibilidade a nível internacional que possa ser capitalizada em favor do país: além da TAP e do Mateus Rosé (as mesmas de há quarenta anos) e agora da Galp (em Espanha) pouco mais temos com notoriedade junto do grande público como sendo uma marca portuguesa. E é óbvio que, por muito importantes que sejam os investimentos que têm cá, não podemos contar com a Volkswagen, a IKEA ou a Continental-Mabor para promover a imagem externa de Portugal.

 

publicado às 03:20






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