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Os portugueses andam com os nervos à flor da pele - e justificadamente. O país encontra-se numa situação de desastre económico-social e, por essa razão, não devem perder tempo com ninharias, burrices. O artigo publicado na versão internacional do New York Times foi arrastado para a arena do sensacionalismo nacionalista como se fosse um ataque à dignidade, ao orgulho e à honra de um país. Os leitores portugueses não apreciam a ironia e denotam alguma dificuldade em lidar com a língua inglesa, mas acima de tudo, ler por entre as linhas, perceber outras mensagens importantes que passam. O artigo sobre o burro mirandês fez mais por Portugal do que se julga - colocou o país no mapa das emergências. Servindo-se da imagem da "burra nas couves" chamou a atenção para o drama nacional. Poderia ter sido a sardinha ou a cortiça da rolha, mas não, foi mesmo o asno - que fala mais alto que os outros. Não devemos esquecer a importância do burro na política. Os democratas americanos são burros, mas os burros não são um exclusivo do sistema político dos EUA. Encontramo-los um pouco por todo o mundo, nos governos nacionais, nos parlamentos e nas juntas de freguesia. Julgo que devemos apenas olhar para a questão de um modo positivo. Seja qual for o veículo (de cavalo para burro), a verdade é que Portugal ganhou exposição mediática com este artigo de opinião asinino, e isso ajuda a alertar consciências para os problemas nacionais. Ou seja, o burro mirandês tornou-se arma de arremesso político, carrega também o fardo da luta contra a Austeridade. Alguém perguntou ao burro mirandês o que ele pensa sobre o assunto? Acho que tem direito de resposta. Uma coisa é certa - já não anda apenas à nora. Tornou-se uma estrela internacional, a capa de um jornal de grande tiragem. O galo de Barcelos que se cuide que este animal não anda a brincar.
Há um professor que nunca fará greve. Existe um professor que prepara cada uma das suas aulas com afinco. Há um docente em particular versado na arte bibliográfica. Existe um professor que sabe sempre tudo. Há um professor que lecciona sempre acompanhado por uma assistente que muitos julgam ser uma vulgar contínua. Há um professor que responde às perguntas colocadas na maior sala de aulas do país. Há um professor que vai a todas, mas que em última instância, não é a paixão pela educação que o move. Contudo, não será a crise a empurrar este professor para fora da escola em busca de melhores condições de vida. Não será o desgaste excessivo e a indignidade a forçar este professor a buscar tratamento. Não haverá um atestado sequer ou uma baixa médica para tratar do esgotamento. Este professor, depois de acabar com o programa de tele-escola, abandonará todos os ciclos para se submeter ao escrutínio nacional. Este professor estará disposto a ser colocado numa freguesia que não fica assim tão longe. Este professor até nem se importa das horas extraordinárias. Pois é. Não me parece que o prof. Marcelo Rebelo de Sousa faça greve quando as inscrições para candidato presidencial forem abertas. O único problema que vejo tem a ver com a assistente. O que faremos com ela?
Um país que está a afundar e os Portugueses não sabem nadar.
O movimento "Que se lixe a vaca, queremos o nosso leite" admite utilizar a mesma técnica para atrair a Troika para fora de Portugal. Segundo o seu porta-voz, foram escolhidos dois países em dificuldades económicas para atrair o animal daqui para fora.
O Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, afinal teve uma dupla jornada. Primeiro visitou os palhaços da Assembleia da República, e depois no exterior das instalações, comoveu os profissionais circenses. Há qualquer coisa que não bate certo. Há matéria redundante que merece ser esmiuçada. Não é verdade que diariamente os políticos nos fazem chorar, que nos comovem? Se é verdade, então não há nada de excepcional na notícia apresentada. Para além disso, os profissionais da diversão é que supostamente estão encarregues de nos fazer rir, e não o inverso.
Alguns jornalistas da praça são comedidos e irónicos sem o saber. Alguém me pode explicar o significado da simpática expressão "Portugal é moderadamente corrupto"? Ou será que a própria notícia foi corrompida? Vamos chamar os bois pelos nomes. A delapidação das contas públicas não é um fenómeno moderado, nem de longe nem de perto. Os processos que correm em tribunal e se arrastam de recurso em recurso não são uma coisa moderada. E de nada serve ensanduichar o país entre o Butão e o Porto Rico para atenuar a coisa. São países simpáticos. O primeiro sugere Nirvana e o segundo é também uma canção dos Vaya con Dios. No ranking Europeu Portugal é medalha de bronze, terceiro classificado. Não se trata de um menção honrosa - é cortar a meta uns metros a seguir ao vencedor. Acresce no artigo jornalístico outra nuance interessante - "visto de fora". Atenção, visto de fora. Ou seja, passa despercebida nos moderados corredores de Belém e da Assembleia da República.
Winston Churchill
Churchill tinha, entre as suas incontáveis qualidades, um predicado que sobressaía claramente: uma ironia aristocrática única e inimitável. Se há algo que falta nas sociedades atomizadas e pós-moderninhas dos nossos dias é, justamente, uma dose bem carregada de ironia. Uma ironia fina que atinja o âmago das coisas. Uma ironia que questione radicalmente o mundo presente. Uma ironia que destempere e fira a banalidade do quotidiano. Sem ela o debate intelectual torna-se invariavelmente num sucedâneo mísero do célebre adágio hobbesiano do "homo homini lupus". Por outras palavras, a morte do pensamento. O sono goyano da razão. Churchill conhecia bem o carácter do homem democrático, posto que temeu, como poucos, as suas deformidades mais nefastas. Mas, foi, também, um dos poucos políticos que ousou, durante toda a sua vida política, lutar contra os vícios inerentes à democracia, usando sempre a ironia. No dia do seu aniversário, recordar a sua memória é, acima de tudo, retomar uma tradição perdida. Um ideário desaparecido nas brumas da memória. Como diria Churchill o fracasso não é fatal, o que importa é tão-só a coragem para continuar a perseverar. Um bom liberal, sobretudo nos dias lassos que correm, sabe que esta é a única alternativa que resta ao ocaso da razão.
Receber um convite para uma conferência sobre meritocracia proferida por um dos indivíduos que mais atenta contra esta - tendo eu conhecimento de causa em relação a vários casos - é de uma refinadíssima ironia. A mediocridade é mesmo endogâmica e descarada.
...ou a incoerência ou a hipocrisia, escolham uma. Porque o desplante desta gente é tão grande que realmente qualquer coisa lhes serve.
Então não é que através do caríssimo Abel Cavaco fui descobrir que este senhor que estava no Prós e Contras, Miguel Vale de Almeida, ainda há uma semana escrevia isto no Jugular:
Assenta-lhe que nem uma luva o comentário de Helena Velho ao seu post:
Ironias, mas nada melhor do que deixar aqui parte do post de Abel Cavaco: