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Inaugurou ontem a exposição de fotografia de Isabel Santiago Henriques. A não perder.
Abraça-me Chiado!
Poderemos afirmar, sem grandes reservas, que o Chiado é um dos filhos primogénitos da cidade de Lisboa. A capital, embora repartida por bairros distintos, nutre um carinho especial pela atmosfera pessoana deste enclave traquina. É aqui que o lado jocoso cruza a ambição lírica. É aqui que um certo abandono demonstra a fugacidade da vida. E porventura será neste domínio que deambulam os melhores enquadramentos cénicos, as melhores propostas de enredo natural. E Isabel Santiago Henriques pressente esse código, e assume a missão de voyeur, discreta mas incisiva, e célere na captação do que foi ou do que poderia ter sido. Ao longo deste diaporama de histórias inacabadas, somos alimentados com indícios suficientes para imaginar o resto, aquilo que extravasa a fotografia e invade outras artes de representação, pose e desilusão. As imagens coladas numa dispersão intencional não devem ser lidas como uma proposta linear, encadeada pela razão que procura uma coerência amestrada. Santiago Henriques opera na clandestinidade da imagem estática, sem martirizar por completo o conceito de beleza que domina o espírito contemporâneo. Vivemos uma época de feixes rápidos, alternâncias de vidas, suplentes dispostos a trocar a camisola pela identidade alheia. Aqui, neste ensaio, registamos a contradição dessa limpeza estética. Os actores que se apresentam tecem movimentos e esboçam emoções avulso. A sua captura, e a sua elevação à pequena eternidade da impressão fotográfica, confirmam a escala humana de Santiago Henriques. Não houve ampliações desmedidas nem altercações de estilos. Os quadros que se apresentam são idóneos. Respeitam-se nesse quotidiano que se nos passa à frente todos os dias, e à noitinha quando elas também acontecem em sonhos ou devaneios de loucura, elucubração. Como o motociclista amadurecido distraído pela derme da pequena que esbarra nesse táxi malparado que não vimos também. Como o trio de haterónimos que desconhece as dores de articulações de Pessoa. Como o gingão que trabalha a altas horas da noite para apaziguar o bronze. Tudo isto e muito menos – a panóplia de frames descartados pela selecção, a sucessão de imagens que se alternam. Abraça-me Chiado é envolvente, promissora - a dama que insinua e diz que chega sempre a horas.
Bio
Isabel Santiago Henriques nasceu em Aveiro em 1960. Cresceu rodeada de máquinas fotográficas e de filmar do seu pai, envolta por dezenas de álbuns e bobines de filmes que a mãe meticulosamente organizava, um hobby que mais tarde viria a levar a sério. Estudou no Liceu de Aveiro, mais tarde numa Escola privada e na Universidade de Lausanne. Trabalhou nas empresas comerciais fundadas pelo seu pai durante mais de 20 anos. Em 2010, já a residir em Lisboa, inscreveu-se num curso de fotografia e fotojornalismo dirigido por Luiz Carvalho que levou a cabo entusiasticamente durante 3 anos. Nunca mais largou a fotografia, e ficou a trabalhar com Luiz Carvalho como assistente de realização no programa Fotografia Total da TVI24 ao longo de 4 anos. Assume Luiz de Carvalho como o seu Mestre, a inspiração, a fonte inesgotável de conhecimento e aprendizagem – e um grande amigo. Isabel Santiago Henriques vai mais longe: devo-lhe tudo o que sei sobre fotografia. Apaixonada por política, fotografa os mais diversos eventos do CDS. Tem 3 filhos, o Diogo o André e o Tiago.
„A fotografia que mais me absorve é a street photography"