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Talvez alguém me possa responder: o Diário de Notícias (DN) pertence ao grupo de comunicação do Partido Socialista (PS)? Pelos vistos deve pertencer. Porque este artigo não consubstancia os princípios que devem orientar o jornalismo. Ou seja, a isenção. A objectividade de uma narrativa que corrobore os factos apresentados. A história publicada responde apenas a metade do inquérito, se quiserem, e inscreve-se na categoria de imprensa de campanha pré-eleitoral. O relatório apresentado pelo colaborador do PS, perdão, jornalista do DN, não explica como a dívida da Câmara Municipal de Lisboa foi reduzida na ordem dos 40%. Perguntemos então quantos bens imobiliários foram vendidos em hasta pública (muitos dos mesmos ao desbarato); perguntemos quais as taxas e impostos municipais que mais contribuíram para reduzir o défice autárquico (ou seja, que medidas de austeridade municipal foram implementadas); perguntemos quantos dos montantes em causa foram renegociados por forma a transitarem para a contabilidade de anos vindouros. Minhas senhoras e meus senhores, a Lisboa de António Costa não é o espelho do país. Reflecte mais. Vejamos a coisa por outro prisma. Se Lisboa é o menino bem comportado de Portugal, certamente que o governo deve ter tido alguma coisa a ver com isso. Por outras palavras, o governo não concedeu tratamento discriminatório a Costa e companhia só porque este se recusou a apresentar as contas, se é que estão bem lembrados. Acho bem que Costa queira ser transparente, mas convinha que também fosse da cintura para baixo, que fosse um exibicionista como deve ser. Para confirmarmos se há merda ou não.
Se há coisa que abunda em Portugal, são as sedes locais dos partidos políticos. Edifícios com arquitectura de traça antiga, em ruína ou não, ou escritórios que ocupam um piso de um prédio recente onde abunda alumínio acastanhado. Não sei qual o volume do património predial dos partidos, mas não deve ser coisa pequena. Nem vou mencionar as sedes temporárias de candidaturas ao poder, às eleições, sejam autárquicas ou de outra natureza. Não vou por esse caminho de saber se a cedência de espaços foi feita por amor à camisola pelo patrão imobiliário da terra ou se o mês do inquilino irá ser pago de outra maneira, com calma quando chegares ao posto. Não vale a pena esgravatar nessa agência que decerto haverá belas histórias para contar sobre aluguéis pagos em género ou espécie, no dia em que os compadres chegam ao poder. Quanto ao IMI, é mais que acertado que os partidos políticos paguem esse imposto. Não vejo razão para que as residências ideológicas sejam dispensadas desse ónus. Não sei nem me interessa que nos Ratos, nos Caetanos, nos Caldas ou nas Liberdades os ocupantes não se sirvam dos espaços para fins residenciais (embora muitas vezes utilizem a sede para dormir politicamente). A inclinação política ou a paixão ideológica não pode servir de pretexto para eximir algumas personalidades jurídicas das suas responsabilidades contributivas. Dirão alguns que o facilitismo tributário é para estimular o gosto pela causa pública, pela discussão cívica em prol da sociedade, para garantir a participação política. Causa pública uma ova - vejam-se os resultados das últimas três décadas de invocação do superior interesse e do bem colectivo. Qualquer terriola de Portugal tem sempre uma Rua 25 de Abril, e, ao virar da esquina, ou na própria rua revolucionária, lá estão as cores e o emblema do partido tatuados na fachada de cal branca. A haver uma bandeira, geralmente essa já perdeu a cor original e às vezes vê-se que foi traçada pelo bicho do vento que não perdoa, que não aprecia a basófia gratuíta que sai das janelas do grémio ideológico, das bocas desses lideres. Qualquer dia, já que existe essa lacuna na lei, o T3 de uma família desempregada se transforma em secção partidária para chupar essa vantagem do tutano fiscal - para aproveitar o perdão do IMI, com cozinha e casa de banho, para os militantes em regime de estadia de longa duração. Não sabe o governo onde ir buscar o graveto que a Troika exige? Façam-se à estrada com uma roulotte das finanças, montem o acampamento e efectuem o levantamento das sedes e secções dos partidos que se encontram em cascos de rolha e além-mar. E façam as contas, mas façam as contas como deve ser. Apliquem a coima retroactivamente (com juros acrescidos, naturalmente) e ponham os partidos a pagar a conta também.
Alberto Gonçalves, É proibido permitir:
«Após festejar um golo do Benfica durante um programa de comentário desportivo em que participava regularmente há anos, João Gobern foi despedido da RTP. Argumentando que "a liberdade de cada um de nós termina quando conflitua com a de alguém" e que "houve quebra na confiança com o espectador", o responsável pela informação da estação, Nuno Santos, decidiu, nas suas palavras, "cortar a direito". Embora eu guarde de João Gobern boas recordações (do tempo em que foi meu director nos primórdios da revista Sábado), acho que, perante a extrema gravidade do gesto, nem Nuno Santos tinha alternativa nem Nuno Santos tem prestado a devida atenção aos restantes conflitos de liberdade e quebras na confiança com o espectador recorrentes na televisão pública.
Dado que Nuno Santos aparentemente desconhece, aproveito para informá-lo de que os canais que dirige estão repletos de parlatório futebolístico no qual, mais do que a comemoração de golos, os intervenientes contratados afirmam-se sem pudor adeptos de um clube e defendem esse clube acima de toda a racionalidade. Também denuncio a Nuno Santos os relatadores, comentadores e repórteres que exibem às claras a preferência por equipas portuguesas (mesmo sem portugueses) em detrimento de equipas estrangeiras (mesmo com portugueses), os péssimos profissionais que falam no Real Madrid "de" José Mourinho e os falsos profissionais que em directo "torcem" pela selecção nacional contra selecções de países que podem merecer a simpatia de qualquer cidadão.
E não é só na bola que se conflituam liberdades e quebram confianças. Nuno Santos obviamente nunca viu, mas a sua empresa transmite com frequência debates sobre a actualidade política que opõem militantes ou dirigentes partidários sem vestígio de isenção. Ou "telejornais" que dão por adquirida a veracidade de mitos da estirpe do "aquecimento global" e da bondade da "rua árabe". Ou noticiários regionais que se limitam a reproduzir propaganda autárquica. Etc.
Acima de tudo, se Nuno Santos não sabia, fica a saber que, entre a qualidade e o lixo, a RTP opta, com raras excepções, pelo segundo, o que compromete fatalmente a desejada neutralidade. Aliás, a própria existência da RTP, por contraposição ao seu fecho sumário, representa uma tomada de posição que, além de estilhaçar a confiança dos espectadores sem liberdade de escolha, abalroa-lhes as finanças. O que, se Nuno Santos me permite a opinião (em podendo, não permite e faz muito bem), ainda é pior.»