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Acaba de contar a minha mãe, uma vez mais.
-"Comecei por ler «A Rosa do Adro», ainda era solteira, um presente do vosso pai, quando uma tarde me foi esperar ao rio, e, depois, já casada, e enquanto não tinha filhos, seguiram-se outros. Preferia o Júlio Dinis; lembro-me de ter gostado muito de ler «A Morgadinha dos Canaviais». Depois acabou-se, quando vieram vocês. Nunca mais tive tempo, mas lembro-me de que gostava..."
escrito no Século XIX por uma inglesa, Lady Jackson, conhecedora da nossa língua a ponto de "se deleitar" com a obra de Júlio Dinis, dele retenho, logo no início, a passagem em que sublinha o pouco apreço com que Portugal é visto pelos estrangeiros, nomeadamente os seus conterrâneos, e é precisamente ao escritor portuense que vai buscar as razões deste menosprezo: "A causa disto é sermos nós uma nação pequena e pouco à moda, acanhada e bizonha nesta grande e luzidia sociedade europeia, onde por obséquio somos admitidos, dando-nos já por muito lisonjeados, quando os estrangeiros se deixam benevolamente admirar por nós".
Este excerto de «Uma Família Inglesa» faz-me interromper a leitura de «A Formosa Lusitânia» por dois motivos: primeiro, para notar que, mesmo descontando a ironia do português, este reparo mantém toda a actualidade, depois, para constatar, mais uma vez, a veracidade do mandamento segundo o qual um livro só pode ser assimilado depois de duas, por vezes várias, leituras; deste passo não retivera a mais pequena das memórias, podendo, no entanto, alegar em minha defesa o tê-lo lido em idade bem moça.