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Emmanuel Macron declara que para ser livre neste mundo é obrigatório ser temido, ser poderoso. Onde já escutámos isto? Soa intensamente familiar. Não nos esqueçamos de que a Bastilha, uma fortaleza medieval, serviu de prisão política — um Alcatraz francês, se quisermos. O fosso de água em torno da Bastilha não estaria infestado de jacarés como nos Everglades da Flórida, mas existem paralelos que podem ser extrapolados: um símbolo de repressão empregue pela monarquia para castigar os seus detractores — no king! A tomada de força expressa pelo presidente francês coloca em primeiro lugar os interesses da França, e depois aqueles da Europa. É curioso que não refere a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN) uma vez sequer. Ou seja, o que afirma constitui uma clara demarcação em relação aos E.U.A. — a vocalização tácita da sua independência em relação à superpotência e à aliança. O aumento da despesa em defesa promove o presidente a Marechal, a Marechal Macron, se quisermos. Existem ainda outras nuances que devem ser escrutinadas. Estabelece enquanto axioma de valor acrescido a liberdade, mas não refere a democracia como alavanca fundamental para a sua preservação. Perguntemos então se, in extremis, face a eventuais agressões e ataques à soberania, devemos aceitar a ideia de democracias mitigadas e o reforço da autoridade, o autoritarismo? Talvez uma parte da resposta esteja a ser dada pela via orçamental. Servindo-se da justificação securitária acrescida, fica demonstrado que paulatinamente pode ser lançado um regime de excepção que cancela valores mais altos, e eventualmente direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. O que enfrentamos societariamente é algo corrosivo, como vem expresso no enunciado de Macron. O que devemos depreender é a noção de que a erosão de democracias tem início no seu seio, no seu âmago. Não resulta necessariamente de ventos que assolam outras latitudes. Enfim, talvez não seja uma verdade de La Palisse ou de Lacoste, mas a dentada política far-se-á sentir mais cedo ou mais tarde.