Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A malta que está entre o espanto e a indignação por Jaime Gama ter sido convidado por uma empresa de produção de cannabis para o seu Conselho Consultivo só pode andar a dormir. Não deram por o filho, João Taborda da Gama, advogado bastante conhecido na nossa praça, andar há anos a fazer a apologia da utilização da cannabis para fins terapêuticos? Ainda não perceberam o país em que vivemos?
Desengane-se quem pense o contrário. O Partido Socialista é a formação mais democrática de Portugal. O seu espectro é verdadeiramente alargado. Representa os cidadãos deste país de um modo irredutível. Tem membros em todos os cantos da casa. Nas direcções-gerais, nas fundações, nas associações, nas grandes empresas, na academia e nas prisões regionais. O dilema do candidato presidencial socialista demonstra essa pluralidade. Quem disse que os meninos do coro devem concordar em relação ao aspirante em melhores condições para ganhar Belém? No entanto, o problema não tem a ver com os aspectos formais da discussão. Tem essencialmente a ver com uma dimensão substantiva, conceptual. Os nomes socialistas que têm andado suspensos no éter do mistério da revelação presidencial não satisfazem por completo os do Largo do Rato, e muito menos os cidadãos de Portugal. As estaladas entre os pares socialistas já começam a ser distribuídas. Umas porque adoram Sampaio da Nóvoa, outras porque imaginam Jaime Gama como o homem certo. Fica demonstrado que, seja qual for a escolha socialista, continuam acorrentados a noções corporativas e a velhos rancores. Henrique Neto talvez não seja o candidato completo, mas poderia servir de exemplo de genuína intenção de mudança. Mas a prática integrativa de anticorpos não faz parte da matriz política de Portugal. Nos partidos os saneamentos e as exclusões são a norma quando alguém se torna incómodo ou fala verdades. Mas mesmo assim me contradigo. José Sócrates ainda não foi expulso do grémio. Ou seja, os socialistas não cortam efectivamente com o seu passado. Diria mais. Pensam mesmo que na história encontrarão a fórmula do futuro. E não me restrinjo às presidenciais. A campanha para as legislativas, em curso na ordem socialista, tem mais a ver com uma retrospectiva partidária, ideologicamente falida - uma especie de antologia de discos riscados. Enquanto Portugal dobra a esquina económica e social, corre agora o sério risco de deitar tudo a perder com decisões vendidas como cura para todos os males. Como escreveu um amigo há escassos minutos no Facebook. Nem todos somados totalizam um presidente. Quanto às legislativas, o problema é o excesso. O superávit de confiança de alguns.