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...uma Monarquia sempre é uma Monarquia. Para variarmos um pouco desta vulgaridade que se chama república portuguesa, uma bonita Senhora numa decente cerimónia. Para que aprendam.
O pretexto? O lançamento do novo porta-helicópteros/aviões Izumo.
Pequim não alijou qualquer tipo de canga maoísta e antes pelo contrário, usa os velhos métodos de sempre, atirando o odioso para os braços de quem pretende intimidar. No caso do confronto com o Japão, o alvo é fácil, dado o passado ainda bastante recente. Estava o Kuomintang no poder, quando nos anos trinta os japoneses submeteram a China a uma longa guerra de conquista. A derrota em 1945 liquidou o expansionismo nipónico e pouco depois o próprio regime do Kuomintang seria confinado à Formosa, país com quem o Japão hoje mantém relações satisfatórias. O mesmo não se passa com Pequim, ébria de vontade imperialista que não se limita ao inundar dos mercados além-fronteiras. As más relações com a Índia, a submissão do Nepal, os conflitos fronteiriços com os vietnamitas, a desestabilização tentada na Tailândia, os contenciosos com a Indonésia, Formosa e Filipinas, complementam a inimizade que a cacofónica propaganda vota ao Japão.
As guincharias herdadas dos tempos de Mao, impedem qualquer tipo de contemporização para com realidades há muito estabelecidas e internacionalmente aceites. A Pequim, apenas falta copiar integralmente o discurso americano dos tempos da guerra mundial. Paulatinamente, a China está a tornar-se numa réplica daquilo que o Japão foi no período de entre as guerras e poderá vir a concitar a unânime indisposição de todos os seus vizinhos, desde a Índia até às Filipinas. Os chineses enveredaram por um bastante ousado e dispendioso programa de modernização militar, nele incluindo uma série de navios que não podem ser considerados como meramente defensivos. São conhecidos os planos para a criação de uma marinha que contará com grandes porta-aviões, não nos esquecendo ainda de um sistema de mísseis que têm na esquadra americana, o adversário a atingir. Apenas os mais distraídos poderão ignorar quem é o alvo preferencial.
Mesmo que o Imperador Aki Hito se apresentasse vestido com um pijama do PCC e rastejasse diante do portão da Cidade Proibida, isso não seria suficiente. Os chineses - e o seu apêndice norte-coreano - exigem nada menos que a humilhação, uma submissão total.
Desde que os bípedes se resolveram a inventar a propriedade, foram também obrigados a congeminar o uso do porrete. Não lhes bastando as cacetadas, logo de seguida subiram a parada e trouxeram a fisga. Desta forma, o mundo transformou-se num local cada vez mais perigoso.
Na Ásia do nordeste, existe um país que nos remete à lembrança do Basam-Dambu de E.P. Jacobs. A virulência do discurso oficial hora a hora berrado por locutores da televisão estatal, jamais cumpre as mais elementares regras da convivência internacional. O inusitado chega ao ponto de ameaçar-se o odiado inimigo de três cabeças - Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul -, com um ataque nuclear preventivo. O território japonês, Seul, Guam e Pearl Harbour são claramente declarados como alvos imediatos. Passando sobre a questão dos aspectos meramente militares que parecem ter substituído a diplomacia, talvez os norte-coreanos não tenham a menor consciência do que ainda hoje significa a menção da base americana no Hawai. Em termos psicológicos, esta evocação é capaz de despertar a generalizada atenção do povo dos Estados Unidos da América que na sua maioria, talvez não fazendo a menor ideia acerca da situação geográfica da Coreia, sabe bem o que Pearl Harbour significa. Má propaganda, desastroso efeito moral que apenas garante um efeito boomerang.
Pela escalada das palavras e concomitantes ameaças, parece que o governo de Pequim está rapidamente a perder o seu conhecido e até agora apreciado controlo sobre Pyongyang.
O "regresso aos mercados" - estamos a falar do regresso à emissão de dívida a médio e longo prazo - é uma boa notícia. Sem aspas nem vírgulas. Ponto. Porém, seria aconselhável não tomar a árvore pela floresta. Por um lado, este regresso foi patrocinado em grande medida pela acção benemérita do BCE liderado por Draghi, por outro, este sucesso relativo, "conditio sine qua non" para o retorno do crescimento económico, não influirá, pelo menos imediatamente, na política fiscal seguida pelo Governo. Mais: a política do BCE tem subjacente a guerra de divisas que o John mencionou numa posta recente - é pena que a menção feita nos media portugueses ao que se vem passando no Japão e nos EUA seja bastante pífia. As coisas vão-se movendo, e enquanto nós nos divertimos a zurzir os apetites eleitorais de Costa e Seguro, o debate económico lá fora vai furando o consenso até aqui dominante. O que importa relevar do dia de hoje, não obstante os senãos mencionados, é o facto de o Governo ter obtido um triunfo que, analisando com rigor, é um passo importante na credibilização creditícia da República.
Para quem ainda nutra algumas hesitações acerca da quase cópia pequinesa ao milímetro, do conhecido programa de agressivas actividades epansionistas japonesas nos anos trinta, aquilo que as autoridades de Pequim abertamente declaram através dos seus órgãos de comunicação, elucidam-nos cabalmente acerca das suas intenções:
"China should be confident about strategically overwhelming Japan. The People's Liberation Army's Navy and Air Force, as well as its Second Artillery Corps, are advised to increase their preparation and intensify their deterrence against Japan's Self-Defense Forces.
China will not shy away if Japan chooses to resort to its military. As friction escalates, it is more likely for Japan to retreat in the face of unreliable US security assurances and China's strengthened strategic combat capabilities.
The standoff broke out at a time when neither side appeared ready. The result of the spat will deeply influence the way the two countries engage with each other in the future.
For China, triumphing will cement cohesion and public confidence in the country. We cannot back off and we must win. "
Por outras palavras, nada mudou desde os tempos da época hippie euro-americana, quando as maoístas multidões vestidas de pijama se passevam pelas ruas das cidades chinesas, descobrindo "tigres de papel", guinchando ódios dirigidos além-fronteiras e em tudo e todos encontrando "inimigos" do Império do Meio. O texto acima distribuído pelo Global Times, consiste num perfeito exemplar da perigosa histeria do discurso governamental chinês. Numa época de crise que também já se relecte nos negócios da China, as ilhotas Senkaku são hoje o móbil de todas as iras e frustrações acumuladas. Amanhã será o Vietname, a fronteira com a Índia, a Tailândia, Singapura, a Indonésia, as Filipinas, a Sibéria e o Pacífico Central. O Nepal consistiu num sério aviso, não duvidem. Em suma, num ímpeto de imperialismo puro e duro, Pequim vocifera pelo revisionismo das fronteiras. Talvez tenha chegado o momento de voltarmos todos à carga com o Tibete.
..antes de uma vez mais tentar vender-nos a sua lucrativa - no que lhe toca, claro - banha da cobra, atente à situação no Japão.
O Sr. Patrick Monteiro de Barros tem agora uma excelente oportunidade para demonstrar a sua benemerência.
Na véspera, aquilo que era essencial à boa condução de uma guerra no Pacífico, levantara âncoras e fizera-se ao mar. Os porta-aviões Enterprise e Lexington, misteriosamente já não se encontravam na base que seria alvo do ataque da Marinha Imperial do Japão. Oficialmente, tinham saído para "entregar aviões" à base de Midway. De facto, os serviços de inteligência norte-americanos, há muito que liam sobre os ombros dos almirantes nipónicos, decifrado como estava o Código Púrpura, a cifra naval japonesa. Muitos observadores e historiadores militares crêem firmemente no perfeito conhecimento que o Sr. Roosevelt e a sua administração tinham dos preparativos para o ataque que conduziria os EUA à almejada guerra contra as potências do Eixo. Se no Atlântico a situação já era praticamente a de conflito não declarado - o caso do Lend-Lease/Cash & Carry e das das escoltas americanas aos comboios que navegavam para as Ilhas Britânicas -, no Pacífico, o avolumar das tensões indicava claramente a eclosão da guerra.
O almirantado fizera os porta-aviões "auspiciosamente" saírem do porto, salvando-se da infalível destruição e permitindo a resposta que não tardaria. Acostadas, permaneceram as unidades que serviram de isco. Em suma, a Casa Branca sabia da contagem final, aliás comprovada pela leitura antecipada da declaração formal que o Embaixador Nomura leria horas mais tarde. Todo o articulado - faltando o derradeiro ponto -, assim o dizia de forma insofismável.
Roosevelt teve a sua guerra. O "dia da infâmia", serviu de modelo aos próprios EUA. A partir daquele 7 de Dezembro, todos as guerras iniciadas pelos nossos aliados, jamais foram precedidas de qualquer Declaration of War, fazendo-se tábua rasa de séculos dos convencionados procedimentos diplomáticos. Bem vistas as coisas, o ataque a Espanha - "Remember the Maine!" -, tinha sido o precursor.
O patético e errático texto do Expresso, conta a estória de uma história diferente. Tudo uma questão de escola.
A montanha russa com a maior queda livre do mundo. De acordo com o Diário de Notícias de hoje, a gerência do parque de diversões japonês Fuji-Q Highland mostrou esta sexta-feira a Takabisha, uma montanha russa que tem uma queda livre num ângulo de 121 graus. Esta nova diversão, que promete ter grande sucesso, tem uma altura de 43 metros e uma extensão de um quilómetro. A inaguração é já no dia 16 e a expectativa é muita. Prevê-se que como primeiros passageiros embarquem os responsáveis máximos das três maiores agências de rating do planeta, numa viagem paga pelo Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.
Antes
6 dias depois
No Império do Sol Nascente, o Chefe do Estado não comenta brincadeiras ou assuntos relacionados com escutas imaginárias "à 007", nem mordisca moedas em público com o fim de autenticar ou não, a valia das mesmas. Apenas fala quando deve, daí o respeito geral pela sua pessoa e instituição que encarna.
Pela primeira vez desde o discurso da sua acessão ao trono, Sua Majestade o Imperador Akihito dirigiu-se hoje ao povo japonês, mostrando a sua preocupação pelos trágicos acontecimentos que devastam o país. Esta alocução faz-nos recordar uma outra proferida pelo seu pai e antecessor, quando após o bombardeamento atómico de Hiroxima e Nagasáqui, o monarca falou da "necessidade de suportar o insuportável".
Conhecendo-se a circunspecção japonesa, este discurso indicia algo de muito mais grave que aquilo que possamos imaginar estar a acontecer.
Sigam os passos do nosso colega e amigo Último Nan Ban Jin e o seu relato acerca da reacção do admirável povo japonês. Um exemplo.
Ali não se brinca mesmo em serviço.
É este, o cartaz propagandeado pelos trotsquistas, zelosos defensores dos camaradas maoístas
Há uns meses, cobrimos dia após dia, a aparentemente estranha ocupação da capital tailandesa, tomada refém por uma heteróclita mas bem organizada coligação, liderada por gente sobejamente conotada com a aparentemente extinta guerrilha patrocinada por Pequim. A Tailândia ainda não caiu, pois conta com uma poderosa Monarquia. Ficará para uma próxima oportunidade, talvez quando da sucessão ao trono.
Na louca correria em direcção aos mares quentes do sul e ansiosa por cercar a Índia de rivais perigosos, Pequim apostou forte nos Himalaias, liquidando o reino nepalês. Na zona de segurança do Japão, as provocações tiveram início logo no início da 2010, quase em simultâneo com o ataque a Bangkok e distraiu as atenções das chancelarias ocidentais. Agora, a tensão vai crescendo e a oligárquica família Kim faz suas, as palavras de um desdenhoso Ribbentrop que nas vésperas do 1º de Setembro de 1939, dizia ao contemporizador Ciano: "wir wollen Krieg!"
Começou a campanha de intoxicação da opinião pública ocidental, atribuindo as provocações às rotineiras manobras conjuntas das forças dos EUA e da Coreia do Sul. Desta forma, o odioso da agressão seria mitigado com um fait-divers, perfeita cópia do incidente de Gleiwitz. Um dos aspectos mais evidentes, consiste na perfeita sintonia de todas as "linhas ou tendências" do comunismo, desde os trotsquistas aos estalinistas, maoístas ou brezhnevianos,desde o PCP ao BE e "partidos irmãos". O jogo de ilusionismo, a bem conhecida farsa, desmascara-se quando consultamos os sites de partidos ou "organizações internacionalistas" de todo o mundo. Esquecidos da oportuna retórica "anti-neocapitalismo chinês", afinam todos pelo diapasão da ópera da Cidade Proibida. Sem quebras ou hesitações.
E porque pretenderá o sr. Kim uma guerra a todo o custo? A resposta parece difícil, mas deve ter como única premissa, o prosaico aspecto de poder contar com um aliado precioso que não o deixará cair. Mais longe, em Moscovo, o outro amigo pouco secreto, o regime pessoal do sr. Putin, justificará toda a actividade diplomática que tem exercido em todos os pontos sensíveis do globo. Muito nos admiraremos se dentro de alguns meses, não surgirem generosas "ofertas de assistência com novo equipamento militar" ao governo brasileiro. Esperemos, mas estejamos desde já de sobreaviso, até porque a situação é muito má.
"Da longa noite de 14.08.1945, os protagonistas — da esquerda para a direita: General Shizuichi Tanaka (田中静壱), Comandante da Região Militar Leste; Major Kenji Hatanaka(畑中健二), da Guarda Imperial, líder dos insurrectos; GeneralKorechika Anami (阿南惟幾), Ministro da Guerra; e o 'herói' da madrugada, Yoshihiro Tokugawa (徳川義寛), Camareiro-Mor do Tennō, responsável pela salvaguarda dos discos contendo o 'Gyokuon-Hōsō' (玉音放送)."
Vivemos num mundo a abarrotar de gente manienta. Decidi encerrar o assunto de um post que resvalou para a esperada polémica digna de mesa de tasca, com estas considerações finais. E mais lá não voltarei. Não vale a pena.
"Relevando dichotes acerca da sanidade mental daqueles com quem tem esgrimido argumentos, deixo-lhes umas breves e derradeiras notas, encerrando este triste aniversário atómico, que pelo que parece, é susceptível de relativização. O senhor faz exactamente aquilo que o Kremlin fez em 1985, quando escondeu do mundo e do seu próprio povo, o colossal desastre de Chernobyl. O senhor faz precisamente aquilo que o Kremlin fez, quando exterminou milhões de ucranianos pela fome e pelos pelotões de fuzilamento, pretendendo que tudo se passou devido aos “condicionalismos de guerra”. O senhor passa assim uma carta em branco, à dinamitação das provas que um pouco por todo o Ocidente – Reich incluído -, eliminavam os resíduos de actos criminosos perpetrados contra uma massa imensa de gente que dentro do bolso, tinha a identificação que correspondia ao que designamos por Europa: alemães, polacos, russos, franceses, espanhóis, italianos, húngaros, holandeses, ingleses, checos, etc, etc.
Tudo relativo, não será assim?
O senhor Licas, do alto do seu pedestal ad-hoc, considera a infâmia, como “guerra é guerra”. Durante anos e na própria Alemanha, houve quem metesse uma bala na cabeça por tudo aquilo que via. Não eram “comunas”, judeus ou “criaturas anti-sociais”, mas sim, antigos oficiais do Kaiser, medalhados várias vezes com a Cruz de Ferro, membros de grupos que há gerações consistiam na elite da Prússia e do império, e que conheciam os campos de batalha desde os tempos de Frederico o Grande. Eram eles, a velha Alemanha dos grandes nomes militares, da cultura, dos prémios internacionais.
Se o senhor quiser transplantar esse relativismo para o solo da nossa pátria – hoje em dia, palavra quase proibida -, digo-lhe desde já que não aceito a relativização do crime que é deixado impune, devido aos “acasos” da história, sempre mal contada. Rejeito a “inevitabilidade” do Regicídio, que nos privou de um homem sábio, bom e patriota, ao mesmo tempo que liquidou as possibilidades de um século de tranquilidade e de normal progresso constitucional. Rejeito a inevitabilidade de um 5 de Outubro que fez cair por terra 80 anos de um parlamentarismo conturbado, mas que nos garantiu as grandes reformas da modernidade. Rejeito a inevitabilidade de 16 anos de caos, miséria, ditadura da rua, prepotência e crime desordeiro. Rejeito a inevitabilidade de meio século de autoritarismo que fez desabrochar entre nós, aqueles instintos básicos de sobrevivência e que hoje, quase duas gerações decorridas, oferecem a Portugal uma classe dirigente miserável, tacanha e própria de salteadores de estrada da baixa Idade Média. É este relativismo que oblitera o básico sentido da decência – mesmo para com os mais feros inimigos – e que torna impossível o diálogo com quem não quer ver e se ensimesma na desculpa da maldade bestial.
No Expresso do passado fim de semana e no meio dos trastes do costume, o prático saquinho de plástico reservava-nos uma extensa e interessante separata, focando as já seculares relações luso-japonesas que dentro de três décadas comemoração o V Centenário. Este será um século de celebrações luso-asiáticas - a desconfiada Índias, as receptivas Tailândia, Indonésia, Ceilão, Malásia, Birmânia, e China - e se existisse a mínima intenção em se aproveitar esta oportunidade única, muitos proventos Portugal retiraria de um património que de tão esquecido ou negligenciado, pertence apenas aos poucos que por ele se interessam. Em poucas palavras, a um punhado de académicos, alguns dos quais persistem em manter esta memória e inestimável contributo para aquilo que o Ocidente ainda é.
O embaixador imperial concedeu uma importante entrevista, na qual focou os tradicionais pontos de contacto entre os dois países e sobretudo, a grande influência cultural que teima em vingar num Japão nostálgico de um passado sempre evocado.
As glórias da modernidade conquistada por uma administração competente e sob a orientação de um soberano de excepção, fizeram do Império do Sol Nascente, uma grande potência que sacudiu o torpor de séculos de isolacionismo que poderiam ter transformado o país, em mais uma colónia do avassalador imperialismo europeu que em oitocentos alastrava por todo o Extremo Oriente. O império consolidou a sua independência, abriu-se ao mundo, contratou técnicos e deu uma especial atenção à formação de quadros, libertando-se de preconceitos locais que viam o estrangeiro como uma ameaça à segurança de uma velha comunidade de enraizadas convicções e princípios. Seis décadas decorridas após a revolução Meiji, os couraçados japoneses já haviam vencido a frota russa em Tsushima, tinham perseguido os navios do Kaiser pelo Pacífico fora e substituído a Alemanha como presença em valiosos territórios na China, nas concessões internacionais que mais não eram, senão arremedos de possíveis futuros Hong-Kongs. Culminou esta ascensão, com a simbólica presença da frota japonesa nos portos da Indochina Francesa, onde risonhos vietnamitas respondiam às imprecações escandalizadas dos seus gálicos senhores coloniais, dizendo que ..."os japoneses são duros ocupantes, mas aqueles porta-aviões e couraçados foram construídos na Ásia e pertencem a gente igual a nós".
A parte substancial do discurso do diplomata, deverá ser entendida nas evidentes sugestões enviadas às eternamente distraídas, euro-obcecadas ou ignorantes autoridades portuguesas. O senhor embaixador diz aquilo que há muito tempo os monárquicos têm defendido, mas sem qualquer tipo de sucesso junto do poder instituído. Os governos portugueses olham demasiadamente para a Europa Central, um espaço que nos é estranho e pouco favorável. Portugal é um país europeu, mas as suas verdadeiras oportunidades de crescimento, encontram-se precisamente naquele património adquirido ao longo de séculos de persistente labuta daqueles que tendo governado o país, deixaram à iniciativa dos mais ousados, o estabelecimento de entrepostos comerciais que conseguiram irradiar uma cultura que decisivamente contribuiria para o progresso em paragens tão distantes e díspares como a África dos dois oceanos, a América do Sul e a Ásia.
Quase podemos sentir o desdém contido, em certeiros comentários que sugerem a hipótese que persiste em perder-se, de um Portugal que nas devidas proporções ..."poderia ser o Japão da Europa". A extraordinária posição geográfica no centro do grande comércio mundial que liga o Atlântico a todos os outros oceanos do planeta, uma língua que tende a expandir-se a par do inglês e do espanhol, uma situação climatérica privilegiada e uma população nada avessa à curiosidade e ao conhecimento do outro. O embaixador diz aquilo que no seu país é interiorizado como uma quase absoluta verdade histórica: Portugal não é a "mesma coisa". Os japoneses respeitosamente reverenciam os contactos estabelecidos com holandeses, espanhóis e ingleses, mas no caso de Portugal, esse respeito vai muito além da sua proverbial cortesia. Entra-lhes pela casa adentro, permanece nas páginas dos seus livros de história, come-se à mesa, continua em palavras do quotidiano e por mais paradoxal isso nos possa parecer, significa o progresso de um momento inesquecível. É isso mesmo que hoje os faz desfilar pelas ruas de uma Lisboa calcinada pelo sol de verão, procurando nas nossas fachadas, os elos nunca perdidos com aquele velho reino que tanto lhes deu e que decerto gostariam ver reerguer-se e figurar entre os maiores.
De uma forma cortês, o embaixador imperial desferiu um tremendo ataque a uma política ruinosa, estúpida e incompetente, que tem privado Portugal do seu verdadeiro lugar no mundo.
Em retribuição pelos missionários, militares e comerciantes que há quinhentos anos chegaram ao Japão, não poderá o único Tenno discretamente enviar-nos uma completa e multidisciplinar missão composta por Nakamuras, Konoyes, Suzukis, Oshimas ou Umezus, que contribuam decisivamente para o quebrar das grilhetas que nos prendem a este pelourinho e deixa Portugal à mercê de todas as intempéries?