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José Sócrates é o lider supremo da igreja universal dos factos irrefutáveis. No seu vídeo promocional, com direito a desconto para os primeiros subscritores, só falta aparecer em rodapé o número de telefone para que os espectadores possam reclamar a sua torradeira. Este vendedor de banha da cobra é uma lástima. Nunca o contrataria para trabalhar numa empresa minha. Não esboça um sorriso e a sua linguagem corporal revela grande angústia existencial. Não percebemos muito bem o que anda a vender. Refere factos, mas não menciona os termos da garantia em caso de avaria da sua máquina da verdade. O livro, deitado na estante, The Lesser Evil de Michael Ignatieff, é uma jogada esperta, mas não me engana. Não existe nada de menoridade no desenhador de Castelo-Branco. Não sei quem foi o produtor do filme nem o realizador, ou se foi o Galamba a avisar que o cerco está a apertar. Gravata assim sem blazer já não se usa. É muito Gordon Gekko e pouco Brioni. Amanhã o grupo ético e mediático de Sócrates inaugurará uma conta no Instagrão e outra no Snapchatos. E há mais. Aquela prateleira lá ao fundo parece estar a ceder. A pressão é muita e qualquer dia estala o verniz e a madeira. Eu tratava do assunto em vez de fazer figura de urso à frente de miúdos e graúdos.
O putativo governo do Partido Socialista e seus associados ainda não foi empossado e já paira no ar uma neblina de censura tácita. Não se pode sujeitar as propostas de governação da Esquerda ao escrutínio normalmente expectável em Democracias. O governo de coligação, ainda em funções, foi submetido de forma intensa e continuada ao juízo da oposição durante os últimos quatro anos. Ou seja, esse desnível crítico era considerado normal, salutar. O invés nem por isso. Mas não tem muita importância. Basta ir ao barbeiro popular, à praça, ao consultório do dentista, para, sem grande provocação de conversa fiada, perceber que o cidadão português não encaixou com grande facilidade o que António Costa fez enquanto epílogo dos resultados eleitorais. Na sua vida quotidiana os portugueses não são complacentes com práticas desta natureza - não se dão bem com vira-casacas, mesmo que o sobretudo tenha sido vendido como dissuasor de intempéries. Adiante. Ainda não temos governo novo à novo banco, mas já temos diversas comissões de lesados a protestar. Ele é a Confederação dos Agricultores - não quer a reforma agreste. Ele é a Petição para não dar posse ao governo - por causa das manias de poder de Costa. Ele é a TAP que está perto do colapso - os comunistas não têm noção de distâncias. Ele é a Confederação da Indústria Portuguesa - não quer três patrões em simultâneo. Enfim, ainda nada está feito e o caldo já se entornou. O Ministro do Medo João Galamba veio mesmo a público insurgir-se contra um dos pecados mortais e alertar para os perigos da contaminação da descrença, da perda de confiança. E acho muito bem que o faça. Estes ensaios gerais servem exactamente para isto. Para confirmarmos o que está mal - para que não haja estreia. O filme ainda nem sequer começou, mas o trailer é miserável.
Apareceram logo umas damas ofendidas com esta ideia do Partido Social Democrata (PSD): o Partido Socialista (PS) deve submeter à Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) o seu "programa operativo" no sentido deste ser auditado. Não vejo mal algum. Se o PS quer ser governo, então o seu "esboço de programa de governo" deve ser fiscalizado preventivamente. Portugal não tem grande margem de manobra para se meter em aventuras. Os portugueses não estão em condições de passar cheques em branco. Esses tempos findaram. Em política, mas sobretudo em Democracias, todas as propostas devem ser consideradas. Mesmo que não haja enquadramento jurídico para o efeito, o princípio subjacente é válido. A partir do momento que qualquer força partidária apresenta ao público um documento com essa mesma finalidade de disseminação, então o mesmo pode e deve ser analisado de um modo exaustivo. Aliás, a ser a UTAO a apreciar as equações dos socialistas, e assumindo esse organismo enquanto instituto idóneo e imparcial, reforça-se o argumento que seja o mesmo a efectuá-la. Ou será que a UTAO também está minada, corrompida por forças ocultas? Em alternativa, e à falta de abertura de espírito, no mercado aberto, o PSD sempre pode enviar o paper do PS para uma empresa de consultoria do sector privado - sai caro. Mas o que podemos verdadeiramente lamentar no meio destas considerações, é que representantes da ala jovem e fresca do PS como João Galamba revelem uma mentalidade antiquada, conservadora, porventura oriunda de um outro regime mental, político.
http://www.publico.pt/politica/noticia/os-12-alquimistas-de-costa-1689973
De destacar o estilo gradiloquente e sebastianesco do texto de Nuno Sá Lourenço.
Entre os 12 alquimistas que irão transmutar metais inferiores em ouro para António Costa - e encher os cofres do estado - temos Vieira da Silva, Elisa Ferreira e João Galamba e outros místicos ligados ao PS e ao mundo académico.
O santo protector dos pequenos partidos, João Galamba, não tem fé na redução do número de deputados parlamentares. Eu compreendo a lógica da batata por detrás do seu raciocínio. Um número avultado de deputados serve para disfarçar a sua falta de qualidade e diluir o sentido de responsabilidade. Um país rico como Portugal deveria ter mais parlamentares para sugar ainda mais recursos ao "errário" público. É gente retrógrada como Galamba que atrasa o caminho do país. É gente desta que deseja eternizar as oligarquias partidárias que tornaram Portugal refém de favores e privilégios. É gente desta que tem medo da racionalidade que deve guiar as reformas que um país exige. É gente desta que ainda tem uma horda de crentes a seguir as pisadas de um caminho de desvio. É gente desta que defende o seu interesse, mas afirma proteger a auto-determinação dos partidos. É gente desta que Portugal coloca nos centros de pensamento e decisão. É gente desta que não aceita opiniões diversas quando a cantiga não lhe é favorável. É gente desta que se serve de uma imagem hippie, mas que acaba por ser reaccionário, conservador.
Anda por aí uma certa euforia com a prestação de Nuno Melo num debate sobre o BPN com João Galamba. Claro que este último merece ver a sua retórica desmascarada em todas as oportunidades possíveis e que o primeiro tem, na substância, toda a razão. Mas isso não oblitera o facto de Nuno Melo vir cultivando uma deselegância que é, a todos os níveis, prejudicial ao debate político, onde a forma é, pelo menos, tão importante quanto a substância. É que às tantas fico na dúvida se estou a ouvir um eurodeputado ou um taberneiro.
Quem é João Galamba? Ou, melhor, o que move e faz andar o ambicioso deputado? Possível resposta acompanhada de uma reinterpretação mui pessoal da célebre definição sobre o demagogo dada por Bertrand Jouvenel: "a arte de conduzir (ina)habilmente as pessoas ao objectivo desejado, utilizando os seus conceitos de bem, (sobretudo)mesmo quando lhes são contrários".
Normal e aceitavelmente ignorante como muitos dos seus pares de labuta, o moderninho sr. Galamba resolveu-se hoje a mais uma gracinha que desta vez envolveu o nome da mais conhecida caluniada da história, a Rainha Maria Antonieta. Desconhecendo totalmente a verdadeira origem da expressão qu'ils mangent de la brioche, o deputado aproveita para mostrar a sua excelsa receptividade à propagandazinha de outros tempos e recauchuta uma falsidade que perfeitamente poderia ter servido para entre outras, promover uma campanha de ódio que faria rolar cabeças.
O problema é que se a moda pega, ainda teremos por aí uns foliões criando ditos como "se não tens emprego vai à cata de sucatas!", ou então, por exemplo, "se não tens casa vai viver para o Freeport!", ou ainda, "se não tens brincos, vai catar diamantes na Jamba!"
Gostaria ele deste tipo de ditos espirituosos?
Para aqueles que diziam que Vítor Gaspar era apenas um tecnocrata, atentem na polidez e no humor refinado com que manda o menino João Galamba dar uma volta ao bilhar grande. Tivessem metade dos nossos políticos um décimo desta classe e a política portuguesa não seria o charco em que os politiqueiros passam a vida a chafurdar.
Jacinto Bettencourt sai em defesa de João Galamba no Facebook do Professor José Adelino Maltez, afirmando que aquele foi o segundo melhor aluno do seu curso. Parece-me que, entre a deselegância de Carlos Costa e o atrevimento de João Galamba, o problema são os nervos à flor da pele de quem já vai tendo pouca paciência para aturar a falta de verticalidade e a infinita capacidade de dobrar a espinha de certos deputados que mais parecem andar a brincar à política e a fazer dos outros parvos. Se, como refere Jacinto Bettencourt, João Galamba foi o segundo melhor aluno do seu curso, nem quero imaginar os outros. Espero que não andem pelo parlamento português.
Nota, em réplica ao Jacinto Bettencourt: quando falo em falta de verticalidade não é minha intenção entrar em questões de honra, longe disso. Apenas que, sendo o João Galamba um economista com credenciais que aparentemente o deveriam qualificar, deverá com certeza saber que muita da sua argumentação se baseia em mitos e falácias, pelo que ao incorrer nestes é intelectualmente desonesto, especialmente atendendo à sua função de deputado que, idealmente (mas eu já deixei de ser ingénuo), deverá ter uma componente de esclarecimento do debate público e dos eleitores. O mesmo acontece com Francisco Louçã, por exemplo.
Ou de como se coloca no lugar um daqueles socráticos "cainesianos" que padece do mal nacional que é a infinita capacidade de dobrar a espinha e o intelecto: