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Uns quantos treinadores de bancada descobrem uma verdade lapalissiana de 4 em 4 anos: Portugal não tem uma estratégia de investimento no desporto. Durante duas semanas, teorizam incessantemente sobre o assunto. Uns dias depois de terminarem os Jogos Olímpicos, o mesmo é relegado para as calendas gregas. Moral da história: estamos sempre à espera que o Estado desenvolva estratégias nacionais, em vez de ser a sociedade a mexer-se. Enfim, em 2016 há mais - Jogos Olímpicos e treinadores de bancada refastelados no sofá.
Na abertura dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.
Foi um dos momentos épicos do desporto português: a vitória de Carlos Lopes na maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, que deu a primeira medalha de ouro olímpica a Portugal. É considerada por alguns como a melhor e mais disputada prova de maratona corrida até hoje, não só pelo gabarito dos atletas presentes (de que se destacava o então recordista mundial, o australiano Robert de Castella) mas também devido ao muito calor que se fez sentir e que levou a que boa parte dos concorrentes ficassem pelo caminho. Carlos Lopes, então com 37 anos, tinha treinado para essas condições habituando-se a correr com duas sweat-shirts vestidas.
Fui um dos muitos que ficaram a assistir à transmissão em directo, madrugada fora (a prova começou à uma da manhã, hora do continente). Uma transmissão televisiva bastante irritante, que deu sempre o protagonismo aos atletas anglosaxónicos mesmo que não fossem à frente. Mas emocionante até ao fim e especialmente quando, a poucos quilómetros da meta, ficou claro quem iria ganhar. Foi uma visão extraordinária a entrada de Carlos Lopes no Los Angeles Memorial Coliseum, com quase meio quilómetro de avanço e uma passada formidável, sob os aplausos de um público que se pôs de pé. Portugal demorou até conseguir ouro olímpico, mas quando o fez foi pela porta grande, na prova-raínha dos Jogos e com direito a novo record olímpico.
Outros videos mais longos com as transmissões britânica e mexicana.
A propósito do link aqui deixado pelo Samuel no post anterior, os portugueses deviam manifestar alguma revolta por assistirem à subida da "verde-tinto" ao mastro olímpico. Para que tal imagem fosse limpidamente legítima, seria necessário o esquema vigente merecer a ostentação, pois a verdade que há a dizer, consiste na clara denúncia da situação de total abandono a que as múltiplas modalidades desportivas têm sido votadas neste país e isto logo desde os primeiros anos da escola pública. Ao contrário daquilo que se passa nos EUA, Rússia ou China - para ficarmos por apenas três evidentíssimos exemplos -, os portugueses estão muito longe de serem profissionais do desporto e competem por sua própria conta, treinando em quase-barracões, numa daquelas agendas part-time em que inevitavelmente entram dinheiros próprios ou sacrifícios familiares. O Estado olimpicamente ignora as suas porfiadamente tentadas façanhas e apenas surge na hora do triunfo que não lhe pertence, seja através de um comunicadozito rabiscado por um assessor de terceira categoria e refastelado numa cada vez mais terceiro-categorizada Belém, ou por um dichote governamental bolsado à hora do noticiário do almoço ou do jantar.
Onde estão os outrora habituais campeões do atletismo? Temos um Obikwelu que treinava em Madrid e um Évora bastante insistente, mas nem por isso deixam de ser as excepções que confirmam a fatalidade. Que memórias restam do hóquei em patins, do tiro, esgrima, da equitação? Surge agora a canoagem como jangada salvadora e o banzé já se adivinha durante alguns momentos, querendo alguns contabilizar um feito para o qual não contribuíram minimamente.
Ficou-se o regime da 3ª República pelo futebol e nem por isso se lobrigou um único título até à data, sendo contudo esmagador, o quase astral palmarés de dislates betoneiros e de contas-crime arranjadas à mesa do orçamento do contribuinte. Em boa justiça há que sublinhar os sucessos, mesmo que secundários, do bolês nacional. Num país com uma população diminuta, sem qualquer tipo de sérios incentivos à prática desportiva - o imprestável regime ainda não percebeu que se trata de uma questão de saúde pública e de poupanças futuras no SNS! -, uns tantos cabeçudos insistem em ombrear com os melhores, os mais subsidiados e sobretudo, com gente oriunda de países onde para cada português existem nove, dez, vinte ou cem rivais em potência.
Apesar dos milhões que a Alemanha despeja nas suas diversas equipas olímpicas, estes dois rapazes ficaram a milímetros do ouro e isso é o que mais conta. É que aquela medalha de prata é deles e apenas deles.
E campeão rima com leão. A "leoa" Clarisse Cruz, de 34 anos, caíu, levantou-se e apurou-se muito justamente. Com este gesto explicou à sua colega de missão, Carolina Borges, o que é estar-se embuída de um espírito de sacrifício. Medalha de ouro para ela!
O que a malta do 5 Dias precisava era de conhecer pessoas que passaram pelos horrores da URSS. Se não perdessem a parvoíce a bem, perdiam-na com o par de estalos que de bom grado muita gente do centro e leste da Europa que conheço lhes daria.
Tema oficial das Olimpíadas de Atlanta.
Parabéns e obrigado Vanessa!
Muitos têm preferido culpar o tempo ou o azar depois de se considerarem como grandes esperanças para alcançar uma medalha. Já Obikwelu toma apenas para si próprio a responsabilidade de não ter conseguido fazer melhor e ainda pede desculpa aos portugueses. Já não se usa nem é comum ver-se tamanha expressão de humildade. Fica para a posteridade: