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(Gerard Ter Borch, A Ratificação da Paz de Münster)
Jorge Borges de Macedo, História Diplomática Portuguesa:
«Pela primeira vez na história da Europa cristã, e depois da perda da unidade papal que resultou dos movimentos de reforma religiosa, se vislumbrou a paz para uma ampla área do mundo europeu, apelando para o princípio das Nações como forma coordenadora dos espaços políticos. E não é por acaso que a sua aplicação se verificou na Europa Central. É uma das glórias da civilização europeia do tempo o tipo de Estado constituído pela dinastia dos Habsburgos a que se chamou Áustria, face às estruturas estaduais da Rússia, já dos Romanov, e da Turquia. As pequenas civilizações da Europa Central tinham-se mantido dentro do Império com toda a pujança da sua língua e da sua arte, com toda a vitalidade das suas virtudes militares e políticas. Para isso, decerto contribuiu a ameaça de inimigo externo, o Turco. Mas não há dúvida que, nessa ampla área europeia, o princípio da responsabilidade nas Nações, como tais, nunca perdeu audiência, nem eficácia.
Característica que não é secundária. Numa altura em que a vida na Europa Central se encontrava depauperada e difícil, retoma força ou audiência voltando a aplicar o critério essencial seguido na Europa, desde os Carolíngios, nas relações internacionais: as grandes potências são necessárias quando há uma ameaça extra-europeia que as justifique. O vigor da Europa, porém, resulta dos Estados constituídos por Nações ou pela união voluntária de regiões comprometidas na segurança do conjunto. Na Europa, a regra para a força do todo, na unidade possível, é a Nação ou a união voluntária de Nações. Tolhe ou precariza esta regra a constituição de grandes impérios, quaisquer que sejam. Só em função dela é que se pode organizar um equilíbrio defensor da Europa, mesmo que conduza também à impossibilidade de hegemonia exclusiva de um qualquer grande Estado europeu, porque este nunca consegue retirar ao Estado rival a capacidade de negociar as resistências necessárias para se manter como alternativa possível.»