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A ficção da Razão

por Nuno Resende, em 21.12.20

 

«Creio que o rigor de Descartes é aparente ou fictício. E isso nota-se no facto de que ele parte de um pensamento rigoroso e, no final, chega a algo tão extraordinário como a fé católica. Parte do rigor e chega ...ao Vaticano».

Jorge Luís Borges

 

No início da pandemia foi-nos dito que deveríamos ficar em casa para aplanar a curva. Este aplanar a curva era tão só impedir que o SNS – Serviço Nacional de Saúde não colapsasse com a afluência de doentes. Já se conhecia o vírus e as mortes que ele provocava, mas o aviso era que as pessoas não se contagiassem nem contagiassem o outro e assim não terem que ser assistidas nos Hospitais.
Desde o início que a Ciência não soube comunicar e, se o soube, permitiu-se ser substituída pelos Políticos e pela Comunicação Social. Desautorizando-se, perdeu credibilidade. Pior: deixou que se relativizasse a vida em detrimento de mortes estatísticas todos os dias contabilizadas pelos media como «recordes» (termo odioso quando aplicado ao número de seres humanos falecidos), e tudo alimentando um crescendo de temor que levou a extremismos e a extremistas. Por um lado, os frágeis e amedrontados, para quem a vida é uma questão de sobrevivência, por outros os autodestrutivos e incautos, facilmente manipuláveis por teorias conspiracionistas. Este perigoso diálogo entre gente ignorante ou convencida da sua razão tem sido prejudicial ao controle da pandemia. Não podemos acreditar que, nem os mais hipocondríacos tomem todas as medidas para protegerem os outros, nem os incautos se preocupem, sequer, com eles próprios.
Eventualmente pagaremos este descontrolo, o desnorte na comunicação da Ciência e o cansaço que meses de uma intensiva campanha de medo difundiram. Provavelmente já o estaremos a pagar. Alguns cientistas, ao demonizarem quem os não compreende ou se lhes opõe, enveredaram por um caminho semelhante ao da Religião que, alguns séculos atrás, com base numa figura maior, invisível e omnisciente, anametizavam quem se lhes opusesse. Naquele tempo eram os seus, hoje a Saúde Pública.
Estranhamente as religiões foram as primeiras a venerar este novo deus da Razão. A Igreja Católica apressou-se a cancelar celebrações e actos litúrgicos, a afastar os seus sacerdotes da população e até, pasme-se, a eliminar o uso de água benta nas pias das igrejas ou em casos mais extravagantes a desinfectá-la. Um Igreja fundada na ideia de sacrifício, espiritual e corporal, abandonar-se assim à assepsia e à higienização do indivíduo, aceitando e promovendo a sua despersonalização e «segregação», parece agora, finalmente, destituída de qualquer fundamento
Por outro lado, o carácter necrófago da comunicação social aproveitou-se como pode da oportunidade para explorar a dor, o sofrimento e a morte. Tem-no feito e continuará a fazê-lo, segundo alguns, para satisfazer a curiosidade humana. Mas pode haver outra explicação: em constante desagregação pela transformação da notícia jornalística em boato digital, os media cavalgaram como puderam este rastilho, aproveitando a sua mudança para o mundo cibernético e potenciando os cliques nas suas páginas de publicidade. Uma comunicação social cada vez mais constituída por, ou precários, ou mercenários, só podia resultar nesta lógica de ataque em matilha.
Estranha-se, porém, que os media cedessem à elaboração de uma campanha sentimental, como nunca vista anteriormente, desenvolvendo o slogan: «vai ficar tudo bem». Tal ausência de imparcialidade, integridade ética marcada por umm desbragado moralismo, só pode compreender-se no que se seguiu: uma paulatina reflexão permitiu-nos constatar que tudo não ficou nem vai ficar bem. E nesse sentido, depois de uma eufórica campanha de falsa esperança a Comunicação Social atirou-se aos ossos, como uma hiena esfomeada.
Mau será se os interlocutores da Ciência, os Homens da Igreja e os arautos da Informação não saiam profundamente feridos desta pandemia, quando e como ela acabar. Contribuíram para, partindo da Razão, criar uma aparente ficção.
Talvez estejamos perante uma oportunidade da História, como as que o Homem conheceu pelos séculos XIV e XVIII e que alteraram substancialmente os paradigmas anteriores, provocando Revoluções quanto ao modo de sentir, pensar e agir no resto do presente século XXI.

 

publicado às 15:02

Racismo, meritocracia e desigualdades

por Samuel de Paiva Pires, em 27.09.20

O caso de ontem nas redes sociais foi o novo pivô da SIC Notícias, Cláudio Bento França. Permitam-me recapitular e tecer breves comentários aos três previsíveis “argumentos” que logo começaram a ser derramados por aí contra aqueles que se regozijaram com o acontecimento:

1 - “Não é o primeiro pivô negro em Portugal”. Claro que não, mas foram e são tão poucos, devido ao que se segue nos próximos pontos, que não pode deixar de ser notícia.

2 - “A cor da pele não é relevante, o que importa é que as pessoas desempenhem cargos para os quais têm competência e que alcançaram por mérito próprio”. Assim seria num mundo ideal, que não é o nosso. Estamos perante a perniciosa ideia de meritocracia, um pilar do capitalismo contemporâneo que permite justificar e normalizar estruturas e relações de poder que contribuem para a perpetuação de desigualdades e discriminações. Nos últimos anos, vários autores têm evidenciado efeitos negativos da crença na meritocracia, sendo esta, aliás, o tema do mais recente livro de Michael Sandel (The Tyranny of Merit). Mas podem continuar a acreditar que não partimos todos de situações desiguais resultantes de diferentes condições económicas das famílias em que nascemos (que os sistemas de educação, saúde e segurança social não conseguem atenuar como seria desejável), que em sociedades capitalistas onde os brancos constituem a maioria étnica e a burguesia é a classe social dominante basta ser trabalhador e competente para se conseguir ascender socialmente sem que a classe social, a cor da pele, o sexo, a orientação sexual ou a aparência (atente-se nos comentários sobre as rastas de Cláudio Bento França) sejam barreiras ao sucesso, e, por último, podem também continuar a adoptar o pensamento mágico de que todas as pessoas em posições profissionais e políticas destacadas estão lá por mérito e devido à sua competência – as últimas duas décadas demonstraram à saciedade a imensa competência de tantos políticos, CEO’s e banqueiros portugueses. Ou seja, podem continuar a viver no vosso domínio ontológico privado e a achar que o mundo é o vosso umbigo, mas não esperem que a realidade social se conforme aos vossos simplismos intelectuais.

3 - “Lá está a esquerda a abanar a bandeira do racismo outra vez quando Portugal não é um país racista, o que se comprova, entre outras coisas, por este caso, como por outros congéneres e até por termos um Primeiro-Ministro de ascendência goesa”. Em primeiro lugar, se aceitarmos este argumento, em que a selecção de um reduzido número de casos individuais (cherry picking, falácia de atenção selectiva) aparentemente valida uma tese (“Portugal não é um país racista”), então, a contrario, teremos de aceitar igualmente a selecção de outros casos, como Marega em Guimarães ou os assassinatos de Alcindo Monteiro e Bruno Candé, para confirmar a tese contrária (“Portugal é um país racista”). Como é óbvio, ambas as teses não podem estar certas, o que indicia a presença de vícios de raciocínio impeditivos de uma discussão racional. Ora, para começarmos a vislumbrar alguma racionalidade nesta discussão, importa desde logo questionar o que se entende por “Portugal”, se é o Estado-aparelho de poder, se é o Estado-comunidade. Com efeito, o Estado-aparelho de poder não prossegue políticas públicas racistas - pelo contrário. Já o Estado-comunidade - a sociedade portuguesa - é composto por indivíduos (e estes, por sua vez, compõem e moldam instituições e estruturas sociais formais e não-formais) com os mais diversos preconceitos racistas e outros que não têm quaisquer preconceitos. Portanto, o Estado-aparelho de poder não é racista, mas na sociedade portuguesa encontramos tanto indivíduos racistas como não-racistas. A discussão tem sido feita em termos maniqueístas e absolutos, i.e., de forma errada, porque a esmagadora maioria das pessoas não compreende que a realidade social é muito mais complexa que a sua mundividência e porque os actores políticos de ambos os lados têm interesse em alimentá-la naqueles termos para poderem dela retirar ganhos políticos.

Por último, permitam-me ainda sublinhar que se a direita persistir em deixar a esquerda reclamar como suas causas que deveriam ser transversais, ou seja, se deixar o combate às desigualdades económicas e sociais para a esquerda e continuar mais preocupada com certos espantalhos e os interesses de classes sociais privilegiadas, estará a condenar-se a uma ainda mais prolongada irrelevância política - leia-se, a não governar.

publicado às 14:13

Temos o que merecemos

por Samuel de Paiva Pires, em 21.01.19

No dia em que se tornam públicas as consequências da gestão ruinosa da CGD, o assunto quase passa despercebido nos telejornais, as televisões noticiosas mantêm a sua programação habitual com os ignóbeis programas de comentário futebolístico, num dos quais até está André Ventura, pelo que é bom ver que um político à beira de formar um partido tem as prioridades bem definidas, e apenas a RTP3 dedica um programa à situação na banca, pasme-se, com Faria de Oliveira, Presidente da Associação Portuguesa de Bancos, em clara operação de contenção de danos. Já dizia Rodrigo da Fonseca que "nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste”.

publicado às 23:18

Quantidade sobre a qualidade

por Samuel de Paiva Pires, em 13.03.18

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Rutger Bregman, Utopia para Realistas:

O optimismo e o pessimismo tornaram-se sinónimos de confiança do consumidor, ou de falta dela. As ideias radicais de um mundo diferente tornaram-se quase literalmente impensáveis. As expectativas do que nós, como sociedade, podemos alcançar sofreram uma erosão drástica, deixando-nos com a verdade nua e crua: sem utopia, só resta a tecnocracia. A política diluiu-se na gestão de problemas. Os eleitores oscilam para um lado e para o outro não porque os partidos sejam muito diferentes entre si, mas porque mal se conseguem distinguir; o que separa hoje a esquerda da direita é um ou dois pontos percentuais no imposto sobre o rendimento.

Vemo-lo no jornalismo, que retrata a política como um jogo em que se apostam não ideais mas carreiras. Vemo-lo na academia, onde andam todos demasiado ocupados a escrever para ler, demasiado ocupados a publicar em vez de debater. De facto, a universidade do século XXI, assim como os hospitais, as escolas e as estações televisivas, assemelha-se antes de mais a uma fábrica. O que conta é cumprir objectivos. Seja o crescimento da economia, as audiências, as publicações: lenta mas inexoravelmente, a quantidade está a substituir a qualidade.

 

(também publicado aqui.)

publicado às 17:16

A geringonça e as barrigas privadas

por John Wolf, em 08.08.17

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Tudo se compra, tudo se vende. Sim, tudo se transforma. Não sei qual a tabela praticada, mas as peças saem por encomenda. Eu aprecio estas reportagens de jornal que sabem inclinar o campo de jogo, que contam metade da história e que se esqueçem de alguns detalhes. A geringonça está por detrás disto, como está em cima dos acontecimentos. O aumento recorde, Guinness dirão alguns, do número de contratos públicos e respectivos valores é realmente uma coisa formidável. Gostava apenas de saber se é com o dinheiro das cativações, com o aumento de receitas fiscais ou com o aumento da dívida pública que fazem a festa? A quem ficam a dever? Simples. A resposta é simples. Serão os portugueses que pagarão a dívida a si mesmos. Costa bem pode agradecer o agachamento de juros e o beneplácito do Banco Central Europeu que continua a molhar a sua mão visível no alguidar de poncha financeira. Sou fã ferveroso dos ajustes directos. Essa modalidade prescinde de tangas, de aquecimento, de preliminares. É sexo duro, contra a parede, com pés de barro que fazem estremecer, vibrar. O ajuste directo é uma espécie de assédio glandular de grande angular. É a expressão mamária em todo o seu esplendor. É dar a chupar àqueles que mamam, mas que quando passarem a fase do desleite, ingressarão logo na falange de apoiantes do regime, à espera de mais. O grande problema de toda esta excitação tem a ver com um pequeno apêndice. Esta fartura de contratos públicos tem um efeito limitado na dinamização da economia. Por outras palavras, embora os queiram alugar como indicadores de vigor económico, a verdade é que os contratos públicos revelam mais sobre a disfunção da economia do que a plenitude da sua virilidade. Mas nada disto tem importância. O dinheiro não é deles. É dos portugueses. A geringonça fornece apenas a barriga.

publicado às 14:05

Ando Exaurido

por João Almeida Amaral, em 11.04.17

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 Ando exaurido.

Desde há quase ano e meio que a vontade de opinar ou mesmo desabafar, se tem entornado na mesa desta grande farra em que vivemos.

Nesta botelha em que nos inebriamos desde que tomou posse a geringonça a que simpaticamente chamamos Governo da Républica Portuguesa. 

Fui chamado a atenção por andar desaparecido , mas a verdade é que este banquete em que vamos vivendo , me trouxe algum enfartamento ou azia. 

Passo a explicar; como diz o nosso Dr. Jerónimo , o Passos e o Cavaco que foram os únicos que desde a abrilada fizeram alguma coisa, são crucificados com regularidade, enquanto "o idiota das medalhas de Belém" o " cretino e o encaracoladinho" são postos em altares pelo jornalismo honesto cá do burgo. 

Não há duvida isto esta tudo de pernas para o ar e agora são as bóias que cagam nas gaivotas . 

publicado às 11:19

Trump, Pilger and Meet the Press

por John Wolf, em 23.01.17

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As CNN e New York Times deste mundo já não ocupam o palco central das conferências de imprensa organizadas pela presidência Trump. Os últimos da fila com a senha na mão passaram a liderar o processo jornalístico. A Fox News e  o The New York Post são agora as estrelas da companhia. Os lugares cativos de certos opinion makers estão a ser redistribuídos. Hoje o Expresso e o Diário de Notícias, amanhã as Linhas da Beira ou as Notícias da Terra. Temos assitido ao pasmo e ao queixo caído de muito jornalista internacional, ou desta aldeia, que ainda não perceberam a revolução sistémica em curso. O excêntrico Donald, há poucas semanas não fazia parte do clube, mas agora ele é o country club - tem os tacos na mão. Os comentadores, aqui e acolá, ainda acreditam no regresso à convenção, à normalidade. Mas estão enganados. As regras do jogo são outras. No entanto, e em abono do karma jornalístico, foram décadas de preferências e versões coloridas que nos conduziram a este estado de arte, a esta vendetta. Foram muito poucos aqueles que ousaram partir a loiça. Retenho alguns na memória e poucos no presente. Penso no jornalista e investigador John Pilger, e na reedição da sua obra  - The New Rulers of the World -, que pensava eu, por ter Chomsky na badana, ser um hino às virtudes de um campo ideológico em detrimento de outro, mas estava enganado. O homem distribui chapada a torto e a direito, à esquerda, em cima e em baixo. São relatores deste calibre os únicos com argumentos para confrontar Trump, ou seja quem for, em nome do processo democrático. Em vez disso, vemos microfones vendidos a simular entrevistas a presidentes da república, colunistas ao melhor preço de mercado, e a verdade dos factos a escoar por um cano de minudências e chatices. Ainda não entenderam que a tendência da política é hardcore, XXX? Enquanto os jornalistas andam aos papéis para ver se saem bem na fotografia e eternizam os favores, os danos são prolongados. E muito por sua culpa. Trump está a fazer tremer mais do que mera gelatina de cobertura mediática. O epicentro pode ter sido lá, do outro lado do Atlântico, mas aqui, seja qual for a jornada parlamentar, cheira mal e há tempo demais. As conivências políticas e os encostos de ombro de determinados jornalistas são flagrantes - as primeiras páginas parecem ser agora as derradeiras. Vai rolar muita tinta e algo mais.

publicado às 20:19

Passagens de presidentes e de anos

por John Wolf, em 30.12.16

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Não é apenas o bode expiatório Correio da Manhã a partilhar essa possibilidade. O jornal Sol também interpreta o protocolo de Estado - a morte de um ex-Presidente da República pode significar o cancelamento de festejos de passagem de ano se for decretado o luto nacional. Este género de especulação mórbida não deve ser considerado jornalismo. Este estilo de reportagem, que não se restringe ao sol e à manhã é, no mínimo, despudorado. Não confundamos as preferências ideológicas, políticas ou partidárias de cada um, com o que está em causa. Entramos no domínio dos totolotos, das apostas múltiplas e do mau gosto por antecipação - o nível é baixo. Já basta o Dr. Barata aparecer à porta da Cruz Vermelha para tornar os portugueses reféns de instabilidade emocional e portadores de confusão mental, para agora sermos testemunhas de elaborações bizarras promovidas pelos meios de comunicação social. Estranho que a família próxima e afectiva de Mário Soares não tenha rogado ao país privacidade e decoro, mas de certa forma esse é o preço que parece estar disposta a pagar. A transformação da "hospitalidade" em espectáculo nacional, a cobertura e a sucessão de entrevistas de actores de todo o espectro político também demonstra uma certa miséria moral. Pensava que o homem privado ao menos o pudesse ser na sua hora. Dispensava este post mártir.

publicado às 18:19

António Costa e 40% de jornalismo

por John Wolf, em 29.03.15

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Talvez alguém me possa responder: o Diário de Notícias (DN) pertence ao grupo de comunicação do Partido Socialista (PS)? Pelos vistos deve pertencer. Porque este artigo não consubstancia os princípios que devem orientar o jornalismo. Ou seja, a isenção. A objectividade de uma narrativa que corrobore os factos apresentados. A história publicada responde apenas a metade do inquérito, se quiserem, e inscreve-se na categoria de imprensa de campanha pré-eleitoral. O relatório apresentado pelo colaborador do PS, perdão, jornalista do DN, não explica como a dívida da Câmara Municipal de Lisboa foi reduzida na ordem dos 40%. Perguntemos então quantos bens imobiliários foram vendidos em hasta pública (muitos dos mesmos ao desbarato); perguntemos quais as taxas e impostos municipais que mais contribuíram para reduzir o défice autárquico (ou seja, que medidas de austeridade municipal foram implementadas); perguntemos quantos dos montantes em causa foram renegociados por forma a transitarem para a contabilidade de anos vindouros. Minhas senhoras e meus senhores, a Lisboa de António Costa não é o espelho do país. Reflecte mais. Vejamos a coisa por outro prisma. Se Lisboa é o menino bem comportado de Portugal, certamente que o governo deve ter  tido alguma coisa a ver com isso. Por outras palavras, o governo não concedeu tratamento discriminatório a Costa e companhia só porque este se recusou a apresentar as contas, se é que estão bem lembrados. Acho bem que Costa queira ser transparente, mas convinha que também fosse da cintura para baixo, que fosse um exibicionista como deve ser. Para confirmarmos se há merda ou não.

publicado às 15:23

Jornalismo e lavagens automáticas

por John Wolf, em 17.03.15

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Nuno Roby Amorim tem toda a razão, e passo a citá-lo:

"Não estou a perceber uma coisa. O advogado do ex-Primeiro-ministro José Sócrates, João Araújo, virou-se esta manhã para uma jornalista à porta do Supremo Tribunal de Justiça em Lisboa e disse-lhe: “A senhora devia tomar banho. Cheira mal!”. Mais à frente ripostou “Desampare-me a loja!”. À hora dos jornais televisivos, ao fazer zapping, tirando o Correio da Manhã onde a jornalista trabalha, não vi nenhum discurso de indignação nem nenhuma reacção critica por parte das direcções de informação, colegas, Sindicato de Jornalistas, ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social ou mesmo da Ordem dos Advogados. Na minha modesta opinião, este não é um tema para se fazer apenas uma noticia, mas uma altura para mostrar indignação e sobretudo pedir desculpas públicas. Todos os que se calam agora amanhã não venham fazer criticas ao jornalismo porque aceitar com normalidade a javardice e a selvajaria é meio caminho andado para a instauração de uma sociedade mais bruta, estúpida e irresponsável. A justiça não pode ser transformada na Casa dos Segredos..." (...)

 

Não tenho nada a acrescentar. Não nos deixemos distrair com isto.

publicado às 08:54

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Assim que Charlie Hebdo foi alvo do ataque terrorista, o chavão "liberdade de expressão" foi aclamado como salmo sagrado por um sem número de vozes que grita pelos direitos inalienáveis da prática jornalística. Desde esse momento, tenho vindo a pensar sobre o assunto e cheguei às seguintes conclusões; os meios de comunicação social e os jornalistas não são sacerdotes da independência de pensamento, e muito menos são donos da verdade. Os jornais, as revistas (mesmo as satíricas), as televisões, as rádios, assim como as editoras, pertencem todos a grupos económicos que por sua vez são controlados por governos. Deixemo-nos destas tretas, deste bullshit humanista com laivos de Esquerda esclarecida ou Direita carente, para enfrentarmos de frente os desafios que se nos apresentam. Não nos encontramos num mundo rasgado por linhas de precisão ideológica. Não. Vivemos num mundo de percepções fabricadas, alibis alimentados por agendas políticas, fundamentos resgatados de manuais com forte poder de doutrinação. A rápida ascensão de slogans, com intenso valor de mobilização, são a prova de que as nossas sociedades vivem sob os auspícios da vulnerabilidade da sua própria ignorância. Parece-me, que no contexto de falta de juízo individual, é mais fácil saltar para um comboio em andamento. O terrorismo, condenável sem resquícios de dúvida, está a servir para acomodar passageiros numa toada visceral, regrada pelas emoções e pela ausência de pensamento mais profundo. Temo que já tenhamos ido para além da estação de destino. Não me falem de liberdade de expressão assim sem mais nem menos. Falem de autorizações concedidas por conselhos de administração para publicar aquilo que convém a uns e menos a outros.

publicado às 12:27

 

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Se fosse no Reino Unido ou nos EUA nenhuma pedra ficaria por revirar. E haveria condenações. Aqui têm uma pequena lista de condenações de políticos na terra do Uncle Sam. O aparato de jornalistas seria 10 vezes mais sensacionalista e muito, mas muito mais implacável. Queriam uma Democracia? Então, aqui a têm. Tudo o resto é pose de pseudo-intelectuais com mania de que vivem num país civilizado, superior no trato - ofendidos pelos jornalistas e os directos a partir de aeroportos e garagens. Falamos de corrupção. Falamos de danos causados à nação. Falamos de malandros que concebem esquemas para fintar a justiça e continuar a bailar. Mas também não podemos esquecer aqueles que invocam a presunção de inocência - os espectadores-cidadãos. E eu pergunto: porque o fazem? Invocam essa premissa porque pode dar jeito. Porque pode ser que consigam fintar os outros. Pode ser que ainda consigam ser mais chico do que os outros que são espertos. Estou a ser duro? Não me parece. Perguntem a Sócrates que teve a sorte de aterrar na Portela.

publicado às 14:32

As razões de vida de Marques Mendes

por John Wolf, em 17.11.14

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Se houvesse alguma coerência e sentido de ética, a SIC já deveria ter prescindido de uma série de comentadores. Em vez disso, concede-lhes direito de antena - direito de resposta. Maria João Ruela, ou qualquer outro dos seus colegas dessa estação de televisão (ou de outra que queiram elencar), pode brincar às adivinhas, às perguntas e respostas, e fingir exercer jornalismo, mas não tem culpa no cartório. A repórter é um(a) pau-mandado e faz o que o patrão lhe manda fazer. O ex-ministro Miguel Macedo fez o que outros já fizeram (o barão do PS Jorge Coelho demitiu-se após a queda da ponte de Entre-os-Rios) e salvaguarda o princípio de responsabilidade política por mais remota que seja a sua ligação a forças desviantes, a erros de governação e ilegalidades. E essa regra transcende as interpretações decorrentes das minhas preferências ideológicas. Marques Mendes, embora inócuo e inconsequente, e de utilidade duvidosa, serve para ilustrar as várias nuances do absurdo que assola Portugal nos tempos que correm. O senhor explica " ter entrado nesta empresa com mais três pessoas depois de ter deixado a vida política ativa", mas sublinhou que nunca exerceu "qualquer cargo" e "por razões da vida" acabou "por não prestar qualquer atividade profissional a esta sociedade". Com o caneco; eu entro em minha casa todos os dias, sirvo-me da casa de banho, uso a cozinha e deito-me na minha cama, mas não digo que tenho casa há dez anos e que nunca me servi dela por razões de vida. Então por que carga de água Marques Mendes fez parte da empresa? Para servir de porteiro? Para decorar a fachada? Mas o homem não fica por aí. Aproveita a cadeira do estúdio para picar o ponto com: "Eu pauto-me por princípios e na vida tem de haver princípios, cada um responde pelos seus atos e em democracia, no Estado de Direito, ninguém está acima da lei, sejam amigos, sejam conhecidos, sejam parentes, sejam familiares, seja quem for, a lei é igual para todos e se alguém comete um ilícito tem de haver mão pesada da parte da Justiça", defendeu. Contudo, o mais grave destas cenas picarescas, é que para a semana que vem, bancadas repletas de cidadãos portugueses continuarão a sintonizar o tal canal para escutar com atenção mais balelas, ruelas - também sei encostar o queixo à mão.

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fotografia JW por Kenton Thatcher www.kentonthatcher.com

 

 

publicado às 08:35

Correio de manhosos

por John Wolf, em 21.08.14

Não é necessário chegarmos à situação que se vive em Ferguson nos EUA, mas o Correio da Manhã faz a sua parte para que se caminhe nessa direcção. Não se pode admitir que nesta bela peça de jornalismo a seguinte frase tenha sido publicada a propósito dos desacatos ocorridos no centro comercial Vasco da Gama: "A PSP impediu a entrada de jovens de raça africana no estabelecimento comercial." (...). Raça africana? Se existe uma comissão de ética  dos meios de comunicação social, esta já deveria ter notificado o pasquim da manhã e sancionado o seu desvio à deontologia que se exige no exercício da profissão. Não podemos aceitar alguma forma de insinuação ou distorção racial de qualquer meio de comunicação social e em relação a qualquer grupo étnico ou racial. Neste artigo sucede de um modo flagrante e intensamente condenável. Mais grave se torna a "gaffe" se tivermos em conta o passado colonial de Portugal. Neste mundo de guerras avulso, Palestina, Gaza, Israel, Muçulmanos, Católicos e Judeus, ao menos que haja correcção nos nomes que se chamam. A não ser que se tenham outras intenções.


publicado às 10:05

Same same, but different.

por Ana Rodrigues Bidarra, em 21.05.14

Atenção, qualquer semelhança entre a reportagem de Sónia Simões no novíssimo Observador e este texto de 2011 (não) é mera coincidência. 

 

É pena. 

publicado às 23:40

Sobre o Observador

por Samuel de Paiva Pires, em 21.05.14

Já li as mais diversas apreciações sobre o novo jornal, bem como interpretações e reacções, à esquerda e à direita, à entrevista a Mário Machado. Registo que uns acusam o Observador de tentativa de branqueamento. Em resposta ao celeuma que se gerou, José Manuel Fernandes escreveu umas breves linhas em que afirma que procuraram apenas contar uma história de forma crua e objectiva.

 

Acontece que um jornal que pretende romper com a hipocrisia da suposta isenção jornalística em Portugal, assumindo um posicionamento político, não pode estranhar quando é criticado pela ideologia que subjaza às suas peças, procurando então escudar-se numa alegada objectividade e numa angelical ingenuidade de quem diz que só quer contar uma história. É que há ideologia aparente, latente e por omissão. Um jornal que pretende ter um determinado posicionamento político-ideológico na realidade portuguesa não é um jornal no sentido clássico que o termo toma entre nós, é uma organização política. Faz jornalismo, mas também faz política. Logo, por definição, tem de tomar opções. Os jornais ditos isentos também o fazem, mas num jornal que se diz ideologicamente comprometido estas opções devem ser ponderadas com muito maior cuidado - especialmente aquando da sua génese, que marcará o espírito do jornal e o que a sociedade pensará sobre ele.

 

Os editores do Observador tomaram opções, conscientes ou não das suas consequências. Em dois dias de existência fizeram duas peças sobre Mário Machado, sendo uma delas uma reportagem extensa que, independentemente do espírito que presidiu à sua elaboração, é lida por muita gente como sendo uma reportagem que o procura reabilitar.

 

Não tomando posição na contenda que tem vindo a opor os que criticam o jornal e os que o defendem, lembro apenas uma célebre afirmação de Salazar: "Em política, o que parece é." Se a ideia era alcançar muitas visitas e visibilidade, conseguiram-no. Agora, não se admirem se não se conseguirem livrar da fama. Ainda para mais quando até o nome pode levar-nos facilmente a outro Observador, o Völkischer Beobachter, jornal oficial do partido de Hitler.

 

No meio disto tudo, o mais preocupante é que um jornal dito liberal, ideologia que os editores alegadamente professam e que em Portugal a ignorância de tanta gente tende a associar ao fascismo, vê-se, assim, associado ao neo-nazismo. Escudarem-se na ingenuidade angelical não adianta de nada. Talvez valesse a pena relerem as considerações de Karl Popper a respeito do paradoxo da tolerância:

  

"Unlimited tolerance must lead to the disappearance of tolerance. If we extend unlimited tolerance even to those who are intolerant, if we are not prepared to defend a tolerant society against the onslaught of the intolerant, then the tolerant will be destroyed, and tolerance with them. — In this formulation, I do not imply, for instance, that we should always suppress the utterance of intolerant philosophies; as long as we can counter them by rational argument and keep them in check by public opinion, suppression would certainly be unwise. But we should claim the right to suppress them if necessary even by force; for it may easily turn out that they are not prepared to meet us on the level of rational argument, but begin by denouncing all argument; they may forbid their followers to listen to rational argument, because it is deceptive, and teach them to answer arguments by the use of their fists or pistols. We should therefore claim, in the name of tolerance, the right not to tolerate the intolerant. We should claim that any movement preaching intolerance places itself outside the law, and we should consider incitement to intolerance and persecution as criminal, in the same way as we should consider incitement to murder, or to kidnapping, or to the revival of the slave trade, as criminal."

publicado às 21:08

O rendimento do peixe e os Gatos Fedorentos

por John Wolf, em 15.12.13

Existe uma expressão portuguesa que encaixa que nem uma luva nas garras felinas: fazer render o peixe. Os Gatos Fedorentos, sendo gatos, apreciam o peixe. Contudo, desta vez demonstraram que existem limites ao se associarem a um anti-corpo sério, residente nos antípodas da paródia, mas disposto a prescindir da farda de trabalho em nome de não sei o quê - Rodrigo Guedes de Carvalho marcou o serão pela negativa - não estávamos à espera dessa. O combinado misto, jornalismo alegadamente sério - humor até cair para o lado, não funciona, e demonstra apenas que não existem escrúpulos ou deontologia no jornalismo quando o que está em causa são negócios, ou audiências, conforme lhes quisermos chamar. Os Gatos Fedorentos estão a chupar até ao tutano a sua faceta de cacheteiros, de mercadores dispostos a explorar todos os produtos de merchandising, como se o seu fim estivesse à vista e houvesse urgência em extrair dividendos de tudo e mais alguma coisa. Não sei se este oportunismo agressivo partiu das cúpulas da SIC, do Guedes ou de um dos Gatos, mas, quando associamos a parafernália do MEO e outras marcas, percebemos facilmente que os Gatos Farturentos querem lucrar o máximo possível em tantas e tão dísparas frentes. Rodrigo Guedes de Carvalho, tido como bom rapaz e responsável, que também aprecia a ficção na forma escrita, acaba de rasgar do seu uniforme alguns falos da alta patente de jornal das oito. Sem o desejar, e embora de um modo próprio, apimbalhou-se e aproximou-se do relax que define a Judite de Sousa ao seu melhor estilo domingueiro. Quanto ao piscadelas de olhos José Rodrigues dos Santos, irei poupá-lo porque ainda não li nenhuma das suas bíblias, nem lerei. Contudo, brincadeiras à parte, o lado mais cínico desta novela consubstancia-se na leviandade com que se trata a questão que realmente interessa ao país - a solução para a crise. Mas como demonstram os cinco amigos, qualquer pretexto serve para ganhar quota de mercado em horário prime - a crise pode ser embalada, distribuída e vendida ao desbarato como uma reles série de televisão.

publicado às 20:17

São os pequenos com a coragem que os maiores não têm

por José Maria Barcia, em 26.09.13

Parabéns ao jornal i por esta nota de redacção. A impunidade dos grandes grupos económicos não deve ser alimentada pela cobardia de algum jornalismo.

 

Um exemplo do ''pequeno'' i aos outros. O jornalismo devia aplaudir de pé esta posição.

 

 

NOTA DE DIRECÇÂO DO JORNAL I

 

O BES não pode esperar que os jornalistas deixem de exercer a sua profissão.

A administração do Banco Espírito Santo (BES) teve ontem uma reacção desproporcional, violenta e inaudita face ao trabalho de investigação jornalística que o jornal i tem vindo a fazer sobre o envolvimento de administradores e altos quadros do Grupo Espírito Santo em diversos processos judiciais.

O jornal i solicitou um comentário do BES durante o dia de terça-feira ao facto de o dr. Ricardo Salgado ter sido chamado ao Banco de Portugal, mas não recebeu qualquer resposta – como tem sido habitual nos últimos contactos feitos pelos nossos jornalistas.


Através de uma carta enviada às redacções durante o dia de ontem (que não chegou ao i), a administração do BES acusa o nosso jornal, num tom inusitado para uma instituição financeira quase centenária, de “atacar de forma ostensiva e sistemática o BES e o seu presidente executivo”, ligando as notícias que temos vindo a publicar com a saída do dr. Álvaro Sobrinho da administração do Banco Espírito Santo de Angola. Tais acusações levaram mesmo o “Jornal de Negócios” a afirmar que a administração do BES “assume estar em guerra com o angolano Álvaro Sobrinho”.


A direcção do jornal i rege o seu trabalho por critérios exclusivamente jornalísticos, avaliando a credibilidade e a veracidade da informação recolhida pelos seus jornalistas de forma independente de qualquer poder político ou económico. Tal como assume, de boa-fé, os erros quando os mesmos se verificam.

O jornal i não está portanto em guerra com ninguém.


Desde o início da investigação jornalística que a administração do BES tem recusado esclarecer de forma clara as dúvidas dos nossos jornalistas, optando, ao invés, por tentar descredibilizar o trabalho do i. Essa política de comunicação do BES visa igualmente condicionar o trabalho dos nossos jornalistas.

O BES tem tentado pressionar igualmente a direcção e os jornalistas do i que têm feito o seu trabalho.


A direcção do jornal i não se deixa intimidar com o poder económico e publicitário do BES e continuará a garantir o direito de informar e a acompanhar toda a informação que os seus jornalistas recolham com profissionalismo, isenção e respeito pelo nosso código deontológico.


Compreendemos, obviamente, que a administração do BES não goste de ver escrito que dois dos seus principais administradores foram constituídos arguidos por suspeitas do crime de inside trading, percebemos que o BES não queira que se saiba que o dr. Ricardo Salgado, presidente executivo, e o dr. Morais Pires, administrador executivo, fizeram rectificações dos respectivos IRS de 2011 num valor que supera os 9,6 milhões de euros na sequência do processo Monte Branco, entendemos que a liderança do BES prefira que não sejam conhecidas declarações de três administradores da Escom que, após serem informados da sua condição de arguidos por corrupção activa, branqueamento de capitais e tráfico de influências, afirmaram que actuaram sempre com “o total conhecimento e concordância dos seus então accionistas”, isto é, o Grupo Espírito Santo.


Compreendemos igualmente que a administração do BES prefira não fazer comentários ao facto de o dr. Ricardo Salgado ter sido remunerado em 8,5 milhões de euros através de uma offshore por uma consultoria externa realizada a um cliente do banco.


Compreendemos, enfim, que estes factos sejam incómodos para a liderança do BES. Mas uma coisa o BES não pode esperar: que os jornalistas tenham medo do seu poder financeiro e deixem de exercer a sua profissão.


O jornal i, com toda a certeza, continuará a fazer o seu trabalho respeitando todos os poderes da sociedade portuguesa, mas sem ceder um milímetro na missão jornalística da busca de informação verdadeira, factual e com relevância pública.



A direcção do i

publicado às 19:35

A Civilização do Espectáculo*

por Samuel de Paiva Pires, em 20.08.13

Por motivos vários, tenho andado um pouco alheado da espuma dos dias mediática e do que ultimamente tem preocupado as redes sociais. Contudo, não consigo resistir a tecer um breve comentário, sob a forma de interrogação, acerca do episódio Lorenzo-Judite, não de qualquer teor moralista ou político, até em larga medida superficial, mas que efectivamente a minha mente me força a exteriorizar alicerçando-se naquela ideia de Wilde de que "só as pessoas superficiais não julgam pelas aparências": quando uma jornalista que, a avaliar pelos comentários cada vez mais despropositados nas entrevistas a Marcelo Rebelo de Sousa e a Medina Carreira, parece cada vez mais tonta e considera interessante entrevistar num telejornal um exemplo perfeito e acabado de um douchebag só porque este tem dinheiro, o que é que isso quer dizer sobre um certo jornalismo luso e sobre os espectadores que gostam de consumir isto? Ou dito de outra forma, quando os telejornais parecem paulatinamente transformar-se parcialmente em versões das revistas cor-de-rosa e as redes sociais se entretêm com o que daí emana, o que é que isso diz sobre o país? Alguns dir-me-ão que há mercado para isto. Felizmente que já há algum tempo percebi que o mercado não é critério exclusivo - e frequentemente não é sequer critério - para aferir a qualidade. 


*Título roubado a este livro de Mario Vargas Llosa.

publicado às 15:52

Pelos males que impede

por José Maria Barcia, em 17.06.13

É vergonhoso o modo como os jornalistas são tratados nos protestos por todo o mundo.

 

 

Reportagem da Folha de S.Paulo:

 

 

 

A liberdade da imprensa não faz sentir o seu poder apenas sobre as opiniões políticas, mas também sobre todas as opiniões dos homens. Não modifica somente as leis, mas os costumes (...) Amo-a pela consideração dos males que impede, mais ainda do que pelos bens que produz.


Alexis de Tocqueville, na obra "Da Democracia na América", 1835





publicado às 15:19






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