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Num ano em que se celebram os 40 anos da Revolução dos Cravos, quando, de acordo com o estabelecido com a troika, se finalizará a 3.ª intervenção financeira externa da III República e quando se aproximam as eleições europeias, um grupo de jovens decidiu promover e desenvolver um espaço de pensamento, reflexão e formação política norteado pelos valores do conservadorismo, democracia cristã e liberalismo. Este terá o nome de Instituto Libera Ratio (ILR) e realizará a sua apresentação pública no dia 22 de Abril, pelas 18h, no auditório do piso 1 do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.
Após a sessão de apresentação pública seguir-se-á uma conferência subordinada à temática "Os 40 anos do 25 de Abril e os desafios que Portugal enfrenta", que terá como oradores convidados o Professor Doutor José Adelino Maltez, o Professor Doutor João César das Neves e o Dr. José Manuel Fernandes.
São estas contradições que me lixam o juízo: Interjovem/CGTP-IN marcha em direcção à Assembleia da República sob o mote "Queremos Abril e Maio de novo" com o objectivo de assinalar o Dia Nacional da Juventude e para demonstrar o seu descontentamento com as políticas do governo. Logo a seguir, e na mesma peça de jornal, segue o depoimento de um jovem de 60 anos de idade: "Tenho 60 anos e nunca vi o País assim. Tenho vergonha do que se está a fazer a esta juventude", conta José Costa. Aproveito a propaganda que saiu do armário do Arménio Carlos para perguntar qual a definição de jovem? Que idade pode ter um jovem? 23, 50 ou 69 anos? E já agora qual o âmbito ideológico do Dia Nacional da Juventude? Por acaso pertence à CGTP? Podemos ler, preto no branco, a resposta em relação a essa e outras perguntas. O grupo, composto por jovens ligados ao sindicato liderado por Arménio Carlos, considera que é “crucial tomar nas mãos o destino do País” e, por isso, vêm de todo o país exigir uma mudança de rumo nas políticas do governo. Lutam pelo fim do desemprego, da precariedade, da “imigração forçada” e do encerramento de serviços públicos". Mas vamos lá por partes. Eu não discordo com a luta. Discordo, e muito, com a apropriação de um conceito muito mais alargado, como o Dia Nacional da Juventude, para fins políticos. A quem pertence o Dia Nacional da Juventude? São este tipo de nuance de doutrinação que devem merecer a nossa atenção independentemente do campo ideológico em que nos encontramos. Pelos vistos a CGTP não olha a meios para atingir os fins. A sociedade portuguesa começa a perceber que a solução para a catástrofe nacional já não passa pelos partidos políticos e sindicatos no seu sentido clássico, comprovadamente falidos pelas evidências que sobejam. A Ana Avó(ila) bem que pode aparecer para dar apoio psicológico aos jovens, mas em última instância, há duas notas a reter. Primeiro, os jovens deste país parecem não ser capazes de se organizar sem a ajudinha de uns padrinhos ideológicos e, em segundo lugar, os "velhos" sindicalistas ainda não perceberam que têm de se reinventar para acompanhar os tempos que correm, os códigos e a nova linguagem que declaradamente não entendem.
«Se queremos dar um futuro aos nossos jovens, se queremos dar futuro aos nossos filhos, se queremos que o sector da saúde tenha um futuro cada vez mais promissor, é fundamental conseguirmos fazer com que os nossos filhos fiquem em Portugal, que os nossos jovens altamente qualificados fiquem em Portugal»
Álvaro Santos Pereira, citado pela Lusa
Notícia no Jornal de Notícias. Um especial agradecimento aos regimentais que nos desgovernam há várias décadas e continuam a esbulhar-nos para pagar os seus vícios e desmandos, expropriando-nos dos frutos do nosso trabalho e cortando nas funções sociais do Estado enquanto vamos alegremente pagando BPNs e PPPs como se não houvesse amanhã - e parece não haver mesmo, já que a partir de 2014 e durante 40 ou 50 anos vamos pagar estas brincadeiras, como fica patente pelo que evidencia o Juiz Carlos Moreno no seu livro Como o Estado Gasta o Nosso Dinheiro. Já dizia Keynes que no longo prazo estamos todos mortos, portanto não se preocupem, rapaziada da minha geração, basta fazermos como manda o subnutrido mental Fernando Ulrich, o tal que, citando o Rui A., «gere um banco tecnicamente falido, que só restitui os depósitos que lhe foram incautamente confiados à custa dos impostos dos cidadãos portugueses e europeus», e aguentarmos, aguentarmos... Até um dia.
A Intercultura - AFS é uma Associação que promove Intercâmbios entre jovens de todo o mundo e famílias, neste caso Portuguesas, de modo a promover a compreensão entre povos e culturas. Todos os anos vários jovens são recebidos em Portugal. Neste momento há dois estudantes que precisam de uma família que os acolha. Um já se encontra em Portugal desde Setembro, tem estado numa família de acolhimento que já não se encontra mais em condições de o continuar a acolher - Zhizhou, da China. O segundo estudante chega este domingo, 13 Janeiro, mas ainda não tem uma família para o acolher - Gabriel, da Venezuela. Se estiver na disponibilidade de acolher algum destes jovens, pode contactar a associação.
Via O Insurgente, um excelente artigo de Gary North, de que destaco o seguinte:
Understand what has happened in 2011 in Great Britain. This is not social revolution. There is no list of grievances. There are no spokesmen. This is well-organized banditry. This is the most dangerous of all mobs: one without a leader to negotiate with or arrest.
Why the riots? The Left's party line never changes: not enough jobs, not enough state welfare. You can read it here. The article says the riots may be coming to the United States. I thoroughly agree.
I have a different analysis regarding the causes. First, there is state-funded education, k-12 (or dropping out). Second, there are minimum wage laws, which hit black teenage males most of all. Third, there is a complete breakdown of families, subsidized by state welfare. Fourth, there is envy. Fifth, there is jealousy. Sixth, the cost of organizing violence is falling steadily. The fun and excitement of violence are tempting to young men with no roots and no fathers at home. When you have a falling price for a forbidden fruit, you get riots. Combine it with racial hatred and a life of envy, and you get riots.
The jealous steal. The envious burn. They're already in a city near you.
There will be an incident. There always is.
There may be a riot. If there is, governments will react. Freedoms will be removed. Voters will cheer.
Violence feeds on itself.
(Fotografia do Telegraph)
É curioso assistir ao debate ideológico quanto aos distúrbios em Londres. A maior parte dos analistas não vai além da superfície nem se apercebe que o seu quadro explicativo está pelo menos ultrapassado, se não mesmo errado, distorcendo a realidade para que esta se possa encaixar nas suas lentes redutoras e interpretações guiadas por motivos de carácter pessoal e agendas políticas pouco escondidas, para que se possam justificar as teorias baseadas no mito do bom selvagem e na falácia do nascido livre.
Ler John Gray (“Gray’s Anatomy”, que referi, por exemplo, aqui) e Roger Scruton (“As Vantagens do Pessimismo”) ajuda a perceber o que se está a passar, especialmente este último, que no capítulo intitulado precisamente “A falácia do nascido livre” evidencia a degenerescência do sistema educacional britânico, fruto da sujeição às progressistas teorias do eduquês, onde o professor não é professor, não lhe competindo transmitir conhecimento e muito menos valores éticos, mas simplesmente ser amigo e compreensivo para com as expressões individuais dos alunos, como se estes não tivessem que ser enquadrados pela sociedade, devendo ser esta a curvar-se perante os seus caprichos.
Obviamente que, juntando a isto a guetização social promovida pela social-democracia, esta é a receita perfeita para criar indivíduos que vivem mentalmente à margem da sociedade, não acolhendo os valores desta e desrespeitando-a sem qualquer pudor. Não deixa de ser paradoxal, como Scruton assinala, que os valores liberais fossem responsáveis por um sistema de educação que promovia verdadeiramente a tão propalada igualdade de oportunidades – ele próprio exemplo disso, sendo de origens humildes, tendo frequentado um liceu público e conseguido entrar na Universidade de Cambridge –, ao passo que as modernas teorias progressistas, quando acolhidas no sistema educacional britânico, foram a pedra de toque para a degenerescência deste, que fica bem patente naquele que é o melhor texto que li até ao momento sobre o assunto.
Entre a violência inerente ao Homem em que os pessimistas antropológicos crêem, o hobbesiano estado de natureza onde a violência e o desrespeito pela propriedade privada e alheia são a regra, e a teorização de Le Bon e Freud sobre as multidões, talvez a explicação para o que se passa em Londres seja mais simples do que crêem as esquerdistas teorias sociológicas de literatura de justificação, que nem chegam a ser de explicação mas apenas de desculpabilização – as mesmas que são responsáveis pela já referida degenerescência do sistema educacional, pelo relativismo moral, fragmentação ética e desrespeito pela autoridade.
Recordo as aulas do meu primeiro ano de licenciatura, quando aprendi que Le Bon e Freud explicaram que nas multidões acontece uma perda de discernimento e da vontade própria individual, dissolvendo-se os indivíduos numa massa, acabando estes por regredir até um estado mental primitivo onde predomina o inconsciente, que permite aceitar sem entraves as ideias que passam dos líderes para a massa. Freud explica este processo pela regressão da libido, em que cada indivíduo acaba por estar relacionado com os outros através de laços libidinais. A massa adquire desta forma um sentimento de invencibilidade, precisamente pela regressão mental que ocorre, sendo extremamente sugestionável, pelo que tão facilmente pode ser heróica quanto criminosa.
As teorias esquerdistas que pretendem explicar fenómenos como os de Londres centram-se em generalizações assentes no descontentamento social gerado pela exploração do indivíduo pela sociedade capitalista, como se cada indivíduo pudesse ser reduzido a um perfil assente em meia dúzia de traços de carácter e introduzido num grupo composto por outros indivíduos com experiências pessoais idênticas, perfis similares e, derivado disto, propósitos comuns e bem definidos, ou seja, uma ordem de organização. Mas aquilo a que assistimos é a uma ordem espontânea de violência e pilhagem, onde há perfis individuais muito diversos e onde não há uma causa, um propósito comum bem definido para o qual todos os elementos da ordem trabalham, mas apenas um objectivo abstracto que pode nem se encontrar articulado e explícito na mente de muitos dos indivíduos que compõem a massa: desafiar a autoridade do Estado. O que se observa são indivíduos que se consideram na liberdade de fazer tudo (a falácia do nascido livre), destruindo e pilhando propriedade alheia, acabando esta ordem espontânea por reconciliar os propósitos isolados de cada um deles. Uns roubam produtos electrónicos, outros roubam cosméticos, outros obrigam quem se lhes atravesse no caminho a despir-se e roubam as roupas. Outros há que preferem descarregar a sua fúria nos agentes policiais, nos carros que encontram e nas montras, partindo tudo. No meio disto, a desculpa de que a violência foi gerada pela morte de um criminoso às mãos da polícia, apresenta-se como muito fraca e mesmo inválida se pensarmos que Londres é uma cidade com um elevado grau de criminalidade, onde diariamente ocorrem homicídios.
Por outro lado, muitos, em especial à direita, preferem apontar o multiculturalismo como estando na origem deste fenómeno, proclamando o seu fim. Na minha modesta opinião, parece-me precisamente o contrário e que, aliás, estamos perante um triunfo do multiculturalismo. É curioso que observemos jovens brancos e pretos juntos nestes distúrbios a destruírem indiferenciadamente as montras que lhes aparecem pela frente, de onde não escapam, por exemplo, as lojas de indianos. Por outro lado, vemos também indivíduos das mais diversas etnias juntos em operações de limpeza da cidade. Julgo, por isso, que o multiculturalismo não é tido nem achado neste fenómeno, a não ser para evidenciar o seu triunfo. Neste caso, o multiculturalismo não explica as clivagens e a violência, que também apenas em parte podem ser explicadas em virtude das condições sociais e falta de perspectivas de emprego. Se é certo que alguns destes jovens terão razões para tal, também é certo que adolescentes de 13 ou 14 anos não têm qualquer consciência sobre isto, assim como muitos dos participantes que já foram detidos são estudantes universitários ou até já têm emprego.
Resumindo e finalizando, talvez as teorias explicativas clássicas, à esquerda à direita, com as suas generalizações não aplicáveis neste caso, estejam desactualizadas e não nos permitam explicar e compreender de forma significativa o fenómeno dos tumultos em Inglaterra. Trata-se apenas de uma amálgama de jovens que se sentem invencíveis e cheios de adrenalina ao desafiar a autoridade do Estado e violar e pilhar a propriedade privada e pública, o que é um sub-produto do relativismo moral que se apoderou do sistema educacional, da demissão dos pais do processo de inculcamento dos valores da sociedade nos filhos e da guetização. David Cameron tem uma excelente oportunidade para mostrar do que é feito e enviar uma forte mensagem a todo o Ocidente. Aguardemos para ver as cenas dos próximos capítulos.
Comentário de Zephyrus, a este post:
«Claro que urge fazer alguma coisa. Mas a discussão está enviesada. Não vejo estes jovens a reclamar por não termos um mercado de arrendamento; pela inexistência de um mercado fundiário, o que impede investimentos na área agrícola a quem não tem terrenos; contra o quadro fiscal e a burocracia que asfixiam muitos projectos empresariais; pela injustiça que constituem os apoios e regalias de certos projectos privados de grandes grupos económicos, como os PIN ou o Autódromo do Algarve, enquanto as PME que exportam lutam diariamente pela sua sobrevivência; etc, etc, etc. Se o Estado abrisse amanhã as portas da função pública, veríamos o fim das reclamações. Muitos do nossos empresários construíram casas onde empregam dezenas de almas, partindo de uma pequena garagem, um pequeno armazém, tendo apenas o quarto ano de escolaridade, começando a trabalhar aos 11, 12, 13 anos, sem nunca terem férias ou mesmo fins-de-semana livres. E mesmo contra todas as adversidades, chegaram aos 40, aos 50 ou aos 60 anos com a sua pequena fortuna, merecida, depois de uma juventude perdida a trabalhar sem direito a idas ao ginásio, noitadas ou bilhetes para o Rock in Rio. Também sou jovem, tenho menos de 30 anos e faço parte da dita «geração parva», mas lamentavelmente, estou em crer que a minha geração errou nos objectivos pelos quais deve lutar. Não defendo o regresso às condições de vida de há 30 ou 40 anos, mas a actual pasmaceira (e diletância) de parte da minha geração é vergonhosa.»
Depois de, numa esquizofrénica discussão no Facebook, um dos promotores desta manifestação ter dito que não pretendem propôr nada, deixo aqui o comentário de J. Cardoso ao post anterior:
«Os sintomas que este manifesto (e respectivos apoiantes) apresenta são bem representativos de um dos grandes problemas do país. A saber, a falta de iniciativa individual e o constante esperar que os problemas sejam resolvidos por outros (nomeadamente por essa entidade mitológica que é o Estado).
A leitura do manifesto e uma breve conversa com alguns dos seus apoiantes evidencia a falta de vontade de agir e arriscar por conta própria, o medo de agarrar o seu destino com as suas mãos, o pavor de tomar decisões e aceitar as suas consequências, tão bem descrito por Ayn Rand no seu Atlas Shrugged.
Tive a oportunidade de conversar pessoalmente com alguns apoiantes e à mera sugestão de intervir de forma cívica, designadamente pedindo explicações ou exigindo responsabilidades dos seus representantes eleitos ou, pior ainda, tomando acções consequentes como formação de um partido e apresentando o seu programa a eleições (já que têm tanto a reclamar e manifestar e tendo em consideração o que dizem sobre a classe política, por certo teriam sucesso e poderiam efectuar a renovação por que tanto clamam) escondem-se atrás de uma frase reveladora: "Mas não me cabe a mim formar um partido ou o que seja... temos é que forçar os políticos a mudar a situação, a actuar (...)" de acordo com as suas exigências.
Uma vez mais é tão mais fácil reclamar do que agir , a vontade de mudança não parece ser assim tanta, parece apenas a necessidade de garantir os mesmos privilégios (ou direitos, na sua versão de Newspeak) que outros antes tiveram.
Porquê tomar os problemas como seus e actuar tentando resolver estes como qualquer sociedade civilizada faria, se é tão mais simples fácil sair à rua e reclamar que outros actuem e resolvam?
Os problemas que o país enfrenta são sérios, mas não é saindo à rua que os resolveremos. Enquanto todos não se capacitarem que são parte activa no problema e que por eles, pelas suas acções (e não por meras reclamações) passa também a solução não iremos longe.
Mas de arregaçar as mangas, agir e assumir as responsabilidades das suas acções isso é que não... infelizmente os Deolinda esqueceram-se de uma frase na sua musica: Que parva que sou que fico à espera que alguém me resolva os problemas...»
Este manifesto, aproveitando a onda gerada pela música dos Deolinda, além de não propôr nada, serve também o propósito de convocar a geração enrascada para um daqueles ajuntamentos inconsequentes de algumas horas, que nem comichão fazem ao establishment. De resto, segue na esteira do que já aqui assinalei.
Se, de facto, somos a geração mais qualificada de sempre (uma bela presunção, como se o ter uma licenciatura, mestrado ou doutoramento fosse, per se, indicador de competência), será que ninguém consegue ir para lá dos preconceitos ideológicos de esquerda e realizar acções consequentes, como organizar um movimento ou partido com um programa/plano para reformar o Estado e assegurar um desenvolvimento sustentável do país?
Eu não o faço, pura e simplesmente porque sou um desses "perigosos fássistas neo-liberais". À partida já estou condenado à derrota. Infelizmente, os quadros mentais esquerdistas, construtivistas e utópicos continuam a fazer escola.
A respeito da canção dos Deolinda que vai fazendo furor, por mim aqui publicada, é interessante notar, a título meramente sociológico, as reacções que a mesma desperta, plasmadas em blogs e pelo Facebook. De um lado, uns quantos pretendem transformar a música num hino de sublevação da minha geração, clamando apenas pelo fim da precariedade (vulgo, recibos verdes) e por direitos semelhantes aos das gerações anteriores, tendo até já iniciado grupos para um movimento do género - não contem comigo para isto. De outro lado, principalmente os das gerações anteriores, criticam a canção, ou porque é básica e os jovens é que estão a ver mal as coisas e se queixam sem razão, ou porque é estetica e artisticamente pobre (num país onde Quim Barreiros, Tony Carreira ou Emanuel são referências musicais, escuso-me a comentar a abjecta pretensa superioridade do alegado "bom gosto" pseudo-erudito de quem se concentra na forma para evitar enfrentar a substância do que potencialmente ameaça o seu amado status quo).
Da esquerda à direita, estão todos muito bem uns para os outros. O futuro do país é que nem por isso. Uns, querem os chamados "direitos adquiridos" das gerações anteriores. Outros, criticam a simplicidade descritiva da letra, tentando agarrar numa canção cujas generalizações, enquanto descrições assentes em percepções tendenciais alcançadas através de uma metodologia indutiva, parecem genericamente acertadas. De certeza que não era intenção dos Deolinda elaborar uma tese de doutoramento sobre os jovens portugueses. E facto é que a generalização foi certeira, ou o seu denominador comum não teria causado tanto furor e provocado reacções semelhantes em jovens tão diferentes que nela se reconhecem.
A oposição referida, em traços largos, parece também reflectir-se numa divisão entre os das gerações das décadas de 40, 50, 60 e os da minha geração (70 e 80, quiçá também 90). Dito de outra forma: uns querem "mamar" o que ainda não "mamaram"; outros querem continuar a "mamar" à conta dos que ainda não "mamaram". No fundo, todos profundamente afectados pelos males da mentalidade socialista. Elemento central que subjaz à discussão: o Estado.
Uns acham que por terem uma Licenciatura, Mestrado e/ou até Doutoramento, que o mercado de trabalho é obrigado a absorvê-los e, mais, a remunerá-los de acordo com as suas qualificações (de acordo com que critério é que fazem equivaler um grau académico a um nível remuneratório é, para mim, um mistério) - que não se confundem com aquilo que o mercado de trabalho valoriza e que a Universidade não necessariamente confere: competências. Meus amigos, conhecidos e desconhecidos da minha geração: os "bons" ou "melhores" (conceitos sempre subjectivos e difíceis de definir, pelo que prefiro alinhar por um intuitivo bom senso), já perceberam que as coisas não são como no conto de fadas em que nos embalaram nas últimas décadas (aliás, não por acaso as elites são mais expeditas a aperceberem-se das mudanças e a adaptarem-se a estas), pelo que "fazem-se à vida": estudam o mais que podem, vão para fora do país, conseguem furar o mercado de trabalho e/ou têm génio, iniciativa e liderança suficiente para se aventurarem em negócios próprios. Se acham que ficar à espera que as vossas situações sejam resolvidas através de medidas tomadas pelo Estado ou pelos que nos trouxeram ao actual estado de coisas é o melhor que têm a fazer, não posso senão ter pena por vocês serem uns bananas desprovidos de personalidade e capacidade de iniciativa. Infelizmente, tenho a noção que vocês compõem a esmagadora maioria da minha geração.
Outros, do alto das suas poltronas dos direitos adquiridos e de condições de vida confortáveis, olham para os jovens com um paternalismo bacoco, procurando reinventar um "Geração Rasca" que, infelizmente, se traduz mais num "Geração à Rasca". Desde que continuem a ter reformas, está tudo bem, e quem vier atrás que continue a sustentar os vícios de uma sociedade onde os conceitos de "bem" e de "justiça" estão mais que pervertidos. De facto, a solidariedade inter-geracional não mora aqui.
Reitero novamente que o ponto central latente nesta discussão é, nada mais nada menos que o Estado. Toda a situação que se vai vivendo é, pura e simplesmente, derivada do enorme peso do Estado na sociedade, quer em termos político-partidários, quer em termos económicos. Quanto mais Estado, mais estática se torna a sociedade, a todos os níveis. Portugal apenas tem acelerado o seu Caminho para a Servidão, que se vê na iminência de ser agravado por clivagens como a que aqui constato. A este respeito, e porque, como disse, estão todos muito bem uns para os outros, não pretendendo quaisquer uns mudar verdadeiramente seja o que for, só parece que vamos acelerar ainda mais, dando razão aos Deolinda quando cantam que "isto está mal e vai continuar".
(imagem tirada daqui)
Jovens longe das juventudes partidárias, uma peça do Público. E continuem a falar com os líderes das juventudes partidárias sobre tal, é mesmo isso. Será que não percebem que são precisamente os jovens que militam nessas congregações de medíocres os principais responsáveis pelo afastamento dos jovens das juventudes partidárias?
Será preciso relembrar isto que se passou comigo? Ou talvez este texto que escrevi para o Corta-fitas?
Caros jornalistas e afins maravilhados com este tema que recorrentemente aparece na comunicação social, não é necessário ser um génio para perceber a razão deste fenómeno. Vejamos apenas em relação ao que se passou comigo que a minha ficha de filiação na JSD foi retida pela presidente de uma secção - vá-se lá saber porquê. Por outro lado, tendo sido um dos finalistas de um suposto "concurso público" para os estágios de produção política promovidos pela Comissão Política Nacional da JSD, fui excluído por ter alegadamente envergonhado um destacado membro desta Comissão numa Conferência promovida no ISCSP sobre as juventudes partidárias. Na realidade não me dirigi a este mas a todos os que estavam na mesa - representantes dos 5 maiores partidos. Recorde-se, de passagem, que na altura fiz com que um dos mencionados na peça do Público, Duarte Cordeiro, se irritasse. Para além desta breve incursão na JSD, tenho algum conhecimento sobre como se passam as coisas na JS, e para além da JSD fui convidado a ingressar na Juventude Popular, por uma dirigente nacional desta, após ter assistido a uma das minhas polémicas - para alguns desastrosas - intervenções, o que não se veio a concretizar.
Meus caros, passe a imodéstia, o meu CV e o meu percurso falam por mim. E conheço dezenas de casos de jovens brilhantes, dos melhores estudantes nos respectivos cursos e áreas, que das juventudes partidárias só querem distância. Quando as próprias juventudes partidárias promovem a mediocridade e afastam aqueles que se poderiam/poderão constituir como fulcrais para o futuro do país porque, como já ouvi da boca de muitos, querem apenas garantir um emprego ou chegar a um cargo de poder e estão dispostos a tudo para isso, estão à espera do quê? E depois ainda se admiram que muitos dos mais brilhantes jovens portugueses emigrem?
Continuo a crer que nesta matéria o Bloco de Esquerda sabe bem o que faz ao não ter uma estrutura formal de jovens dentro do partido. No dia em que se acabar com as juventudes partidárias, parece-me que talvez os jovens voltem a aproximar-se mais dos partidos - onde as coisas também não são muito melhores, já que todos sabemos que os processos intra-partidários são pouco ou nada democráticos e transparentes. Até lá, dada a degenerescência em espiral acentuada, a entropia só permitirá agravar a situação, pelo que continuarão a ser essencialmente escolas de mediocridade e centros de emprego para quem pouco ou nada sabe fazer.
"A geração que foi tramada", por Henrique Raposo:
Portugal tem as leis laborais mais rígidas da Europa. Portugal deve ser o único país da Europa onde é (quase) impossível arrendar uma casa. Eis as duas razões que fazem de Portugal um inferno para um jovem.
A irracionalidade (sindicalista) do código laboral e a esclerose (salazarista) da lei das rendas estão a dinamitar o futuro da minha geração. Não por acaso, já existe um novo tipo de emigração: jovens licenciados estão a sair de Portugal. A narrativa dos “direitos adquiridos”, que só protege os mais velhos, tramou a malta que nasceu nos anos 70 e 80.
O código laboral português – mesmo depois da ténue maquilhagem de Vieira da Silva – é o mais rígido da Europa. Todos os países europeus (repito: todos) têm leis laborais mais flexíveis do que as nossas. Todos os países europeus procuraram adaptar os seus regimes laborais à globalização e ao mercado comum europeu. Nada disso aconteceu em Portugal. Portugal é a Antárctica sindicalista da política europeia: ficámos congelados em 1976. Ao longo das últimas décadas, criou-se uma gelada inércia que impossibilita a adaptação do país à quente realidade de 2009. A causa desta inércia é a narrativa dos “direitos adquiridos”. Na prática, essa narrativa representa o quê? Bom, representa a “ilegalização” do despedimento individual. Os funcionários do “quadro” tornaram-se intocáveis. Em consequência, esta rigidez laboral tem dificultado a contratação de gente nova. Para o lugar dos barões dos “direitos adquiridos”, os empresários (ou os directores de organismos públicos) poderiam contratar jovens. Poderiam. Poderiam, se as leis laborais fossem justas. Mas sucede que o código laboral é um factor de injustiça social entre gerações. Na terra dos sagrados “direitos adquiridos”, os mais jovens ficam com as migalhas dos recibos verdes. A condição de “falso recibo verde” é o preço que um jovem da minha geração tem de pagar para cobrir os “direitos adquiridos” dos mais velhos. Quando é que alguém tem coragem para relacionar o facto de Portugal possuir as leis laborais mais rígidas da Europa com o facto de Portugal estar a caminhar para a condição de país mais pobre da Europa?
Para proteger os milhares de privilegiados que pagam rendas pornograficamente baixas, os governos da democracia foram incapazes de descongelar as rendas que Salazar congelou. Este congelamento salazarista destruiu, por completo, o mercado de arrendamento em Portugal. Para a minha geração, isto teve uma consequência dramática: “sair de casa dos pais” tornou-se sinónimo exclusivo de “comprar casa através de empréstimo bancário”. Ao serem incapazes de mexer nas rendas pornográficas das brigadas do reumático, os governos enforcaram a minha geração na Euribor. Obrigado, meus senhores.