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Não existe alguém que acabe de vez com as mentiras sobre a recuperação económica, os excelentes indicadores financeiros e os ainda melhores números respeitantes ao desemprego? O governo de Portugal parece ser a sua própria máquina de propaganda. Não precisa da CNN ou da Reuters. E ainda menos das agências de Ratoing. Mas os números não enganam. Não há nada a fazer. Aqui, ou na Grécia, já que estamos com a mão na massa, a realidade alternativa não é opção. As reformas estruturais iniciadas pelo governo anterior foram sujeitas a medidas de coacção. Não podem sair de casa. Deixaram de ter continuidade. Foram mesmo invertidas. O engrossar do número de funcionários públicos, sob o capote do mito das carreiras, da precariedade e das reformas, irá conduzir Portugal para um descampado de insustentabilidade bem conhecido. Tal como Tsipras, quando a conversa não agrada, a culpa é sempre dos outros. Os gregos dizem não ao FMI, e Centeno diz não à OCDE. Os outros estão sempre enganados. Mas os números não mentem. No longo prazo o cenário é dantesco. Portugal paga o dobro dos juros que pagava em Junho de 2016 no que diz respeito ao intervalo dos 7 anos, ou seja, precisamente o espaço temporal de exercício de poder de uma geringonça a dois mandatos - se o país deixar esse estado de arte acontecer. Por outras palavras, a magistratura financeira deste arranjo de governo já está inquinada no curto e no médio prazo. Dizem que vem aí o dobro ou triplo do número de turistas no verão que se avizinha, e que esses forasteiros irão salvar Portugal. Em suma, não vale a pena fazer a destrinça. Seja o BCE a pagar ou o turista ocidental, as receitas geradas resultam de uma noção excêntrica. E Portugal parece estar sempre arrestado nessa prisão de dependência e vulnerabilidade. Enquanto não houver meia-dúzia de ministros que entenderem isto, mais vale serem enxovalhados numa primeira fila de uma sala de aulas da OCDE.
O impacto negativo decorrente da entrada em funções do governo de António Costa e do processo inacabado do Orçamento de Estado já é quantificável. Os títulos de dívida a 10 anos foram enjeitados pelo mercado, arrastando os juros para valores apenas registados em Março de 2014. António Costa, apontado como salvador da honra nacional, afinal não passa de um operário que trabalha à peça. Primeiro soldou as peças parlamentares para forjar um governo frágil, assente em arranjos e negociações secretas. Depois, apresentou um desenho de Orçamento de Estado que aparentemente foi um notável sucesso junto da Comissão Europeia. E agora, à luz das considerações do Eurogrupo, devemos esperar mais um passe de mágica. Uma carta sacada do baralho ideológico para servir os interesses dos camaradas filiados. A fotografia tirada pelos sindicatos e funcionários públicos parece ter muito mais valor do que o resto. Mas a prepotência de António Costa far-se-á pagar caro. Pode ser que consiga vender as suas promessas a metade do país, mas será a outra metade a pagar a conta. Mário Centeno irá ter oportunidades de sobra para atacar o ministro das finanças alemão Wolfgang Schäuble quando este subir de tom nas próximas semanas. Portugal não vai estar preparado para medidas adicionais de Austeridade. É feio mentir ao eleitorado nacional.
A crise de 2008 foi uma brincadeira de crianças....
Antes que a Maria Luís Albuquerque e o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho cantem vitória em relação ao sucesso da emissão de dívida a 5 anos com juros perto dos 4,6%, convém olhar para ambos os pratos da balança, e não apenas para os aspectos favoráveis que têm grande utilidade política. Sem dúvida que é uma boa notícia conseguir realizar um bom negócio a um preço mais baixo do que o esperado, mas mesmo que as necessidades de tesouraria estejam cobertas neste período de maturidade, não deixa de ser dívida. Para além deste facto isolado, respeitante ao comportamento do mercado internacional em relação a Portugal e a percepção optimista que tem para com este país, somos invariavelmente obrigados a realizar a leitura do quadro económico, financeiro e social num contexto mais alargado. O dinheiro, como se sabe, obedece parcialmente à lei de Lavoisier. Embora possa ser criado através da impressão por bancos centrais mundo fora, este não se perde, mas fica sujeito a processos de transformação, que em maior rigor deveriam ser chamados de mecanismos de transferência. E é precisamente esse movimento de dinheiros e percepções que está a acontecer. A periferia que se encontrava no fundo da classificação, com o pior comportamento económico possível, apenas tem uma direcção a percorrer - o caminho da melhoria gradual. Contudo, essa expressão não acontece sem que hajam vítimas noutras paragens económicas e monetárias. Neste sentido, o que começa a acontecer em França e na Alemanha deve ser acompanhado com atenção, uma vez que os juros de dívida desses dois países correm em sentido contrário aos ponteiros de Portugal ou da Irlanda. Neste dia em particular, um ligeiro efeito de anulação fez-se sentir, se atendermos ao agravamento dos juros naqueles países. Não devemos esquecer, por um instante sequer, que a União Europeia, funciona de acordo com esse princípio de lastro financeiro, de transferências de uma paragem para a seguinte. Parece-me que à medida que a periferia melhora do seu estado clínico, o núcleo da União Europeia começa a sentir os efeitos secundários desse esforço. O mercado é uma dama caprichosa, que muito embora a queiram domesticar, acaba por revelar a sua verdadeira intenção. Existe até uma expressão que capta, de um modo imperfeito, a volatilidade que resulta das percepções, da procura e oferta do mercado, da reflexologia a que estamos todos sujeitos, mas não sei se se adequa aos tempos de incerteza que vivemos, por isso não a irei alvitrar. Só começarei a acreditar na recuperação firme quando vir o crescimento do emprego a entrar no esplendor das equações, dos resultados. Enquanto isso não acontece, parece-me um prémio menor o sucesso da emissão de dívida. Prefiro ser realista do que enbandeirar no arco da promessa do fim dos tempos difíceis. Deixo isso aos outros. Aos profissionais. Àqueles que precisam de ser eleitos ou reeleitos. Aos que seguem para candidaturas e recandidaturas.
O cidadão português tem motivos de sobra para andar baralhado. Os próprios analistas económicos e de mercados já não sabem a quantas andam. Se por um lado o governo apregoa o sermão do milagre económico e o fim da recessão, os estrangeiros que passam os cheques afirmam que o caminho de regresso aos mercados é estreito (não confundir com straight). A glória técnica que se traduz num crescimento de 0.2% da economia, embora seja um minúsculo sinal positivo, não se irá traduzir no dia a dia do trabalhador, empregado ou não - estes estão longe de tirar dividendos desta notícia. Na longa lista daqueles com a mão estendida, os indivíduos serão os últimos da fila a receber. O regresso aos mercados em condições normais, não é mais do que o princípio de um longo fim. Existe um conceito económico que se chama "velocidade do dinheiro" e que tem a ver com a forma fluente ou não, com que o dinheiro, ao abrigo instrumentos variados de substituição da dinâmica económica, chega aos destinatários da economia - as empresas, por um lado, e os consumidores, por outro. Quando se procura ficcionar a saúde económica do país, normalmente dá asneira. E regressar aos mercados em péssimas condições é quase a mesma coisa que ter a Troika à perna. O mercado consegue ser ainda mais implacável do que a mão pesada de uma entidade externa. Por isso, quando nos vêm falar em facilidades e da luz ao fundo do túnel, aconselho alguma prudência. Um programa cautelar ou um segundo resgate pode ser, em algumas circunstâncias, menos dramático do que o comportamento aberto de um mercado pertença de ninguém. Mas há ainda outros factores; o abrandamento da economia alemã poderá vir a ser uma preocupação séria para o resto da Europa, assim como para o sistema económico e financeiro global. O governo, que está de certo modo obcecado com a alegada "libertação" aquando do regresso aos mercados, trata a "mão invisível" dos mercados como um aliado inquestionável. O mercado, mesmo sem ser uma entidade soberana, decide desumanamente e sem a necessidade de um governo eleito. O mercado determina as condições de sobrevivência dos países, e chuta para canto questões ideológicas de fundo. O ideal seria o país pensar a sua grande estratégia como se não existisse mercado, como se não houvesse Troika. E é aí que reside o problema. Existe a tomada de consciência nefasta que a austeridade veio para ficar. O caminho de regresso aos mercados de que falam é de facto muito estreito. É uma linha ténue e perigosa. Quanto aos mercados - esses são eternos.
Atenção: vem aí algo maior que Portugal e cujos efeitos far-se-ão sentir em território económico nacional. Por mais louvável que sejam os consensos locais, os alegados entendimentos do governo com as centrais sindicais, os mais que mediatizados indicadores de retoma e crescimento, as próximas decisões da Reserva Federal dos EUA determinarão comportamentos financeiros pelo mundo fora. Não é apenas Bernanke que pode decidir abrandar o estímulo à economia americana (que é o mesmo que dizer a economia do mundo), porque o Bank of England pode ir pelo mesmo caminho face às evidências de crescimento económico naquele país. A última coisa que a Europa necessita é que as ajudas "externas" sejam retiradas. As taxas de juro irão ser afectadas no âmbito dessa orientação e, sem grande surpresa, as mesmas retomarão lentamente a sua via ascendente quer nos EUA quer no Reino Unido. Na Zona Euro será apenas uma questão de tempo até o BCE imitar as congéneres. Ao encarecer o dinheiro afasta-se o medo prospectivo de inflação de preços (atenção; o ambiente dos últimos anos tem sido de inflação que é em termos académicos o aumento da base monetária). Numa primeira fase pode até haver uma valorização do dólar americano face ao euro, mas rapidamente essas benesses de trader dissipar-se-ão. Os SWAPS caídos em desuso pela má fama decorrente da sua péssima utilização, tornam-se novamente uma peça central neste jogo, que acerta ou não, na taxa de juro expectável. Em vez de escorraçar a ferramenta de trabalho, os SWAPS devem ser encarados de um modo totalmente transparente e utilitário. O que julgam que irá acontecer à taxa de juro dos empréstimos para aquisição de casa? E às tarifas a pagar pelos diferentes intervalos de emissão de dívida nacional? Pode parecer que as coisas estão a entrar nos eixos em termos governativos, mas há vida para além da Troika e Bruxelas (e do pouco que resta de um governo soberano). Portugal, assim como os restantes países do mundo, a bem ou a mal, sofrerá as consequências de decisões tomadas em Washington e arredores. Por isso, nos tempos que correm, é sempre prematuro bradar aos céus que estamos salvos, em terra firme. Vivemos tempos perigosos, perniciosos. Há muito com que podemos contar. E não são favas contadas.
1) A trajectória de subida das obrigações do Tesouro português voltou à carga. A responsabilidade deve ser repartida, mas há nestes dados periclitantes um sinal claro, por parte dos investidores internacionais, de que o clima de bonança propagado pela bazooka do BCE está a terminar. Os desentendimentos no seio da troika, a relutância alemã em aprofundar a união bancária, e a derrapagem económica dos países de "programa" ajudarão, também, à consecução definitiva do desastre anunciado.
2) Dilma e Passos reafirmam o aborto acordográfico para 2015. E a sociedade civil portuguesa? Ficará impávida e serena a assistir à destruição da língua a golpes decretistas de gente que não sabe ler nem escrever? Sim, o problema é mesmo esse. Este aborto político só avança porque 1) somos governados por pechisbeques iletrados, 2) a cidadania (?) é um amontoado de indivíduos anestesiados pelo próximo episódio do Big Brother Vip. Como é bom de ver a problemática da língua é um assunto alienígena para esta gente. É penoso observar o soçobrar lento e inexorável do país.
3) O 10 de Junho, na sua imensa profusão de inanidades, é o retrato fiel do ocaso desta III República. Uma data que, no fundo, concita o que de pior há no palavrório regimental. Muita empáfia e pouca lisura. Longe vão os tempos em que uma data deste calibre recebia discursos de um Jorge de Sena. Outros tempos, de facto. É, pois, difícil augurar o que quer que seja de um país governado por gente deste jaez. Nunca como hoje foi tão verdadeira a asserção de Rodrigo da Fonseca de que viver entre brutos é muito triste. Portugal é assim.
O pedido de extensão dos prazos de pagamento dos juros concedidos pelo FEEF formulado pelo Governo português tem um ponto, designadamente na sua justificação, bastante obscuro, pelo menos para um iniciado como eu na feitiçaria económica gasparista. Afinal de contas, o pedido é referente à ampliação das maturidades dos empréstimos concedidos pelo FEEF, que, como bem diz o Jorge Costa aqui, vencem, note-se, a partir do ano de 2016. Ou seja, os anos mencionados, 2013, 2014 e 2015, serão anos em que a dívida a vencer será, sobretudo, dívida a privados, vulgo obrigações do tesouro. Em que é que ficamos? Das duas, uma: ou a justificação dada pelo ministro das finanças é uma valente trapalhada, daquelas em que Gaspar é um exímio mestre, ou então há qualquer coisa aqui que me escapa. Mais: se os pagamentos em causa relevarão somente a partir de 2016, com destaque para o ano de 2021, o pedido em causa versará necessariamente sobre algo bem diferente. Há por aí muita gente que toma os portugueses por um bando de tolos que engolem tudo o que lhes dizem.
A descida dos juros tem, em simultâneo, um ponto que deve ser analisado com algum cuidado: nada indica que daqui a uns meses a tendência de descida não seja revertida. Mais: o regresso aos mercados poderá ser marcado pela subida do custo a que se financia a República. Coisas comezinhas para os Lellos, já se sabe, mas que devidamente sopesadas importam e muito aos indígenas. Ademais, e como eu gosto sempre de ler quem sabe, o Jorge Costa refere, no Facebook, um estudo do Banco de Portugal que indica que "a partir do final de 2013,o regresso gradual a financiamento de mercado por parte do Estado português, deverá implicar uma subida no custo de financiamento em 2014". Em resumo, a demagogia dos juros baixotes é uma valente treta impingida aos autóctones pouco estudiosos. Se quisermos, e eu não quero nem desejo tal coisa, manter o "modus vivendi" que mantivémos até aqui teremos forçosamente de contrair mais dívida, com juros mais elevados, até que, num belíssimo dia, a realidade bata estrondosamente nas nossas caras assombradas.
Ao passo que o Governo cerceia o acesso dos media aos corredores da antiga sede da veneranda instituição fundada pelo meu mui estimado António Ferro - a desorientação tem destas coisas -, os juros da República descem. Na Irlanda, os autóctones já pagam menos aos mercados do que aquilo que lhes exige a troika. Todavia, há quem insista em dizer, talvez açoitado pela matilha "Lello", que o nosso problema deve-se aos juros usurários cobrados. A aritmética é lixada, mas o que importa enfatizar é que o risco creditício do país tem diminuído. É certo que essa diminuição tem tido como contraponto a histeria política das elites e a falta de reformismo costumeira. Pouco ou nada mudou e, a bom rigor, esta descida deriva das garantias dadas pelo BCE, contudo, é sempre de bom tom recordar aos mais incautos que nem tudo o que luz é negro.
Na teoria do jogo todos os cenários devem ser tidos em conta. É natural, que de um modo tempestivo, o governo de Passos Coelho bata o pé e exija a suavização das condições impostas pelo resgate financeiro à semelhança do concedido à Grécia. A população Portuguesa não esperaria outra coisa. O primeiro ministro também tem de ser a primeira dama ofendida pela traição onerosa. Contudo, a escala de pagamentos não se estabelece a toque de caixa, como se um árbitro pudesse conceder a lei da vantagem num campo inclinado, virado ao avesso. Acresce que a esta situação, onde se movimentam mais actores do desmoronamento Europeu, encontramos outros termos de comparação. Se Camões pode ser comparado a Zorba, nada exclui que também possa vir a ser comparado com Paco de Lucia ou Ilona Staller (para os amigos, Ciciollina) e aí a coisa pode tornar-se feia. A política económica e financeira das comparações não parece ser uma boa forma de avançar, porque existe o risco do superlativo; de se ser incomparavelmente melhor ou irredutivelmente pior. Portugal deve comparar-se a si. Olhar-se ao espelho e tentar perceber como vai inverter a situação e transformar a adversidade em oportunidade. Por outras palavras colocar a ênfase no crescimento económico e na geração de emprego. E esse exercício de redescoberta é uma faena a solo, uma operação de quarto escuro que revela a genialidade local, a ingenuidade nativa, o brilhantismo cravado na idiossincrasia de um país longínquo. Portugal não deve perder-se na floresta de vultos e figuras, no marasmo de desejar e odiar o outro que não é. Que nunca desejará ser.
Veja a análise de Carlos Santos, no FMI em Portugal Já.