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Goya, Saturno devorando a su hijo, 1819-1823
A minha parca experiência tem-me feito ver que Kissinger estava parcialmente correcto quanto à natureza do Poder. Mais do que um afrodisíaco, o Poder é a arte da perversão, o vício que corrompe todos aqueles que nele se acoitam. Há quem recuse os prazeres voluptuosos da sensação de mando, alguns, bem poucos, fazem-no, mas a grande maioria sucumbe às delícias da possibilidade de mandar, triturando, amiúde, os próprios companheiros. Goya, para dar um pequenino exemplo, descreveu, com uma precisão inaudita, numa das suas Pinturas Negras ("Saturno devorando su hijo"), a cupidez do Poder, que devora, infalivelmente, os seus mais fiéis servidores. Mas foi Napoleão quem, de certo modo, resumiu bem a coisa ao dizer que "ser grande é ser limitado". O Homem não tem noção da sua pequenez, assim como da cupidez que anima os seus gestos, pelo que encara, comummente, o Poder como o campo por excelência do absolutismo das vontades. Perde ele e perdem todos. Com o Homem, o poder deve ser limitado porque a natureza humana é, naturalmente, cúpida e ambiciosa. O corso, para não variar, tinha razão.