Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
" ( ... ) Esta deficiência é mais para lamentar, quando bem se conhece o amor da gente portuguesa às flores, de que estão patentes as provas nos telhados, saguões, varandas, janelas e muros dos velhos bairros da cidade, abrindo sorrisos nas faces tristes de Alfama e Mouraria. Por lá vicejam em testeiros, caixotes e panelas, os mangericos, os craveiros, as blandinas, as zínias e as sécias de preciosa lembrança.
É o delicado gosto, a comoção rural do nosso povo, a protestar suavemente contra panoramas de altos prédios, contra os emparedamentos humanos que furtam as graças e deleites da Natureza aos olhos que delas sempre ficaram saudosos; "
Hipólito Raposo, « Modos de Ver »
Quando, em 1979, fui viver para Carnide, sentia-se ainda um cheirinho dessa Lisboa. Os olhos deliciavam-se ainda com o pouco que de tal pintura campestre permanecera. Vida de bairro prazerosa, onde as compras eram feitas na pequena mercearia, depois de uma incursão na tradicional padaria, onde os mais idosos tinham encontro marcado para a conversa diária que os distraía do vazio que a aposentação sempre traz.
Nunca a tarde seria a mesma sem um passeio no belo jardim do coreto. Em havendo tempo, ali estava o banco de madeira à espera que nele me sentasse com um livro nas mãos. Não senti, pois, o choque de quem sai da aldeia para a cidade grande, demasiado grande, onde seria muito fácil perder-me no meio da multidão indiferente. Mas bastava dela me afastar para reconhecer já sinais de mudança: esse remanso não iria durar muito, convenci-me.
Anos depois tive a prova de que assim era, quando, de passagem, atravessei a outrora pacata estrada das Laranjeiras. Muito outra, e não gostei do que vi. Desisti logo de revisitar aquele que durante algum tempo tinha sido o meu bairro. Medo do que iria encontrar.
" Chocados " disseram-se os que vieram dar o litro na tentativa de nos salvar de nós mesmos, um povo " estranho que não se governa nem se deixa governar ", quando souberam desta aberrante tolerância de ponto. Acho que deveriam ter feito melhor o trabalho de casa, para saberem que corja teriam de defrontar; uma que não se agasta mesmo nada ao puxar ainda mais para baixo o saldo devedor se nisso vir um ganhozinho eleitoraleiro.
Olhando este post, firmando-me na data da notícia nele referida, constato, uma vez mais, da miserabilidade do foguetório ocorrido em Matosinhos e corroborado nas consultas que se vão fazendo a um país hipnotizado e incapaz de dizer Basta!.
Saúda-se e aclama-se o comandante, e ajudantes, por terem alcançado o primeiro lugar do triste pódio - o clube dos descamisados -, que vai fazer agora um ano, estava à vista, sim, mas num ainda " distante " 7º lugar. O tempora! o mores!
Conta um amigo da família que, tendo-se deslocado, há tempos, a um outro país europeu, em viagem de negócios, quando alguém lhe perguntou a nacionalidade, e após a resposta, o indivíduo nem tentou disfarçar um sorriso de desprezo, de escárnio; " nunca me senti tão humilhado em toda a minha vida ", diz; e não consigo deixar de lembrar o orgulho paterno, de que já aqui falei, quando a um comerciante holandês, fins dos anos sessenta do século passado, " até os olhos se lhe riram " à vista dos escudos, com que o meu pai lhe propôs completar a conta em florins, que se lhe tinham acabado, já no fim da viagem, também de negócios. " Quando Portugal era respeitado ", era o título do post.
que me lembre, a vez em que portugal atingiu o pódio numa regata, enquanto nação, foi com embarcações assim " resistentes ";
agora o pódio está à vista, usando estas " pequenas cascas de noz ".
Não há partidos impolutos neste país, respondi a um comentarista.
Quando entrou em Portugal este sistema partidário, o meu pai disse que iria votar no " mal menor "; na altura achei que estava a exagerar, e quando chegou a minha vez de votar, votei nesse mesmo partido - o CDS - com convicção.
O tempo encarregou-se de esfriar essa convicção, que passou a ter altos e baixos - queria que o partido se definisse, contra ventos e marés; contra a ideologia dominante.
Há dias disse que me orgulhava de nele ter votado, por ter ido contra este PEC, manifestamente mau, onde se mantém a veia megalómana do engenheiro, à custa de sacrifícios impostos aos contribuintes. Hoje digo que tenho vergonha de ter votado no partido que viabilizou aquela coisa a que o Presidente da A.R. chamou o problema 300 do país. Sabemos que são muitos, mas que tal começar por um deles, seja o 300 ou o 400?
Gosto de repetir a frase de Marguerite Yourcenar «O Tempo Esse Grande Escultor », mas, além disso, ele é um grande desmistificador.
Durante o dia é provável que tenha sorrido algumas vezes ( no tempo que corre é o máximo que se pode fazer, porque motivos para rir, com vontade, nem espreitando pelo canudo do Bom Jesus, donde quase tudo se alcança ), mas há pouco, ao ouvir o novo Vice-Presidente do BCE ( " quo vadis Europa " ), vulgo Victor Constâncio, não contive uma gargalhada ( só podia ser provocada pela indignação!... ): " Desejo que o novo Presidente do Banco de Portugal seja uma pessoa independente ", dizia ele... ; estar-se-ia a penitenciar? Só pode...
o outro é o querer de Deus- di-lo Fernando Pessoa, quando escreve « Deus quer, o Homem sonha, e a Obra nasce ».
Acrescenta Raúl Brandão que « o homem é tanto melhor quanto maior quinhão de sonho lhe coube em sorte »; a partir de que momento é que os portugueses deixaram de sonhar, a ponto da Obra não nascer?
diz o Ricardo, e com razão, porque, por mais que protestemos o nosso não pessimismo - afinal já houve na nossa História crises bem graves e sempre os nossos deram a volta por cima...- , que digamos " acredito em Portugal ", nunca como hoje estiveram os portugueses manietados, encurralados, sem saída; desde o momento em que ficamos reféns dos " porreiro pá! "...
( O Monstro do Pãntano )
e o monstro cresça, depois fogem. Foi o que pensei quando li que Sócrates ameaçara demitir-se se a " despesista "( podem rir ) Lei das Finanças Regionais fosse aprovada. Esse despesismo é intolerável, verdade ( e aqui é notória a incoerência do PSD ), mas invocado por quem teima no elefante branco que é o TGV, torna-se risível.
Ocorreu-me que o Primeiro estava a agarrar o pretexto, tipo tábua de salvação, para fugir, como fizera o seu antecessor Guterres. E agora leio no Público que Paulo Portas terá ido no mesmo sentido, quando disse em Guimarães: " Se alguém quer uma crise política tenha a coragem de dizer que não quer governar o país na situação em que o deixou. Voltou o pântano e voltaram aqueles que querem abandonar o país no momento mais difícil”, afirmou Paulo Portas, numa alusão à demissão do ex-primeiro-ministro socialista António Guterres.'
* E nem sequer faltam as rosas da cor certa na mão do monstro, embora não fosse descabido trazer também algumas laranjas.
**aditamento- é claro que, atendendo à situação calamitosa em que se encontra o País, sou contra TODAS as medidas que impliquem mais despesa, e, portanto, contra mais transferências para uma Região onde a média da qualidade de vida é superior à maior parte do Continente. Só acho demagógica esta duplicidade de critérios deSócrates.
Parece em Portugal se vive melhor do que no Reino Unido, no Mónaco, no Japão ou ... na Suécia!
Uma coisa é certa: quem fez esse estudo não tratou de ouvir, entre outros, quem vive numa aldeia que há duas décadas era um pedaço daquele jardim à beira mar plantado, com muito do pitoresco que tanto acrescentava à qualidade de vida de quem lá mora; isto antes da invasão dos corruptos que a " democracia " tem vindo a alimentar.
de tristes artes circenses lá naquele hemiciclo para as bandas de S. Bento. Se tivessem a decência das avestruzes, esconderiam a cara: mas, cúmulo da sem- vergonha, ainda mostram grande prosápia.
Em conversa com pessoa da mesma geração, disse-lhe o quanto tinha ficado chocada com a escolha do dia em que se comemorava a Restauração para a assinatura do Tratado de Lisboa. Fiquei boquiaberta, chocada, quando a minha interlocutora me disse, em tom de quem quer significar " e é normal que assim seja ", que hoje já quase ninguém liga a " isso "; isto dias depois de pessoa mais nova ter dito que o conceito de nação está ultrapassado.
quando um incêndio no Castelo de Windsor tornou mais negro ainda um ano cheio de percalços para uma rainha nada afeita a escândalos, como os que lhe coube assistir então. E nós, há quanto tempo cada ano é um " anno horribilis ", em que os " incêndios " se sucedem numa sequência vertiginosa? Ou já estamos tão habituados ao fumo que sempre indica haver fogo, que é como se " no pasasse nada "?
O meu pai conta muitas vezes uma história que demonstra, um pouco, o país que fomos, não há muito tempo. Um tempo em que éramos respeitados, e não desprezados como um paízeco terceiro mundista: nos anos sessenta foi numa viagem de negócios à Holanda.
No último dia, entrou numa loja para trazer pequenas lembranças, gastando as moedas que lhe restavam, mas cedo concluiu que não chegavam para nada. Tirou da carteira uma nota portuguesa, não lembro qual, mas de pouco valor, certamente, e conta que ao lojista " até os olhos se lhe riram " ao ler na nota Portugal. Claro que foi antes deste descalabro aonde nos levaram os politiqueiros. Ainda hoje temos o " tesouro " conseguido com essa nota.
o mínimo de credibilidade moral», escreveu o insuspeitíssimo Professor António José Saraiva.
Há 33 anos, no dia correspondente ao de hoje, alguns homens devolveram-nos a esperança, ao livrarem-nos da maior e mais negra das ameaças, e como tal o festejamos, mas bem depressa o alento então insuflado se desvaneceria, até chegarmos ao estado amoral em que nos encontramos.
25 de Novembro de 2008
**Enganei-me: este post já tinha sido editado. Estava a reeditá-lo no meu arquivo.E como só o administrador o pode apagar...
Bem a propósito deste vídeo, e da denúncia que ele faz, a conversa que ontem, ao almoço, em Valença do Minho, se fez à volta deste tema: contavam os nossos anfitriões do abandono a que têm sido deixados muitos edifícios antigos em redor, nomeadamente conventos, a contrastar, de maneira chocante, com o que se passa na vizinha Galiza; isto tudo se passava tendo à nossa frente o bem cuidado casco de Tui, com a catedral, nossa velha conhecida, porque era lá que íamos muitas vezes aos Domingos, sempre que por essas bandas passávamos férias ou fins-de-semana, a sobressair num conjunto cuidado.