Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Em Portugal quase nunca há explicação, apuramento de responsabilidades e respectivas sanções. O jornal Expresso rende-se à evidência, imprime a redundância. Enquanto isso, vidas são sacrificadas, pessoas são atiradas para a pobreza, crimes e mais crimes são praticados - "se calhar nunca se vai saber qual a causa deste surto". O mesmo se passa com o BES e uma série de outros casos hediondo-trágicos da novela lusa. Quase sempre fica tudo demolhado, em mágoas de bacalhau, na antecâmara da dúvida crónica. O surto de Legionella não nasce por obra e graça de Nosso Senhor. As tais colunas de refrigeração, de que falam em código tecnológico georgiano, pertencem a alguém, fazem parte, segundo consta, de uma alegada unidade industrial. Se é esse o caso, e dada a incidência geográfica do flagelo, uma equipa de investigadores forense, da Divisão de Investigação e Acção Penal, já deveria estar trajada à CSI, a vasculhar os silos fabris, a abrir ficheiros alusivos a águas paradas. As mortes têm assinatura. As mortes, muy provavelmente, resultam de incúria humana, de desleixo, incompetência, quiçá, absentismo de alguidar. Agora não me venham com essa história usada vezes sem conta em epidemias a montante e a jusante - casa pia, caso isto, caso aquilo. Que muitos querem calar. Pio calado.
Ultimamente tenho tido alguma dificuldade em escrever sobre os diversos temas que decoram a realidade. Estava a preparar-me para continuar a evocar as contradições de António Costa, mas nem preciso de o fazer. O candidato a primeiro-ministro está a demonstrar incongruências sem a ajuda de quem quer que seja. Ainda não há orçamento para a Câmara Municipal de Lisboa? Quem precisa desse pedaço de papel? É apenas um esboço genérico das decisões já tomadas. O melhor é navegar à vista. O público não tem de saber como se cozinha em política. A democracia já deveria ter entendido que a transparência é uma coisa muito bonita, mas tem limites. Depois, já estava todo virado para a Ebola e de repente Portugal surpreende-nos com a Legionella. E acho que devemos aproveitar essa deixa enquanto exemplo do que acontece em todos os quadrantes. Sinto que quem manda no país não é o governo. Quem efectivamente determina as coisas é parente próximo da deriva, primo da feição sórdida, do pequeno caos suportável, incurável. A bomba atómica pelo que o povo anseia, para mandar tudo pelos ares e começar de novo, não existe. Foi substituída pela miudeza de um queixume de enérgumenos. Como é que vai? Vai-se andando. Assim assim. Mais ou menos. Mandaram o homem embora. Trouxeram outro, mal amanhado, semelhante a outro resgatado de outro promontório. Falta pouco para o Natal - esse estado de morna que entorpece ainda mais as virtudes. Deixe-se ir abaixo, siga à Baixa para ver as luzinhas do gordo barbudo, suado debaixo desse falso treino de simpatia, guizo de renas - run. Run for your life.