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O desrespeito pelas liberdades em Portugal não é uma coisa de antanho. Esta III República tem provado à saciedade que há orgãos no Governo que servem, também, para violar os direitos individuais. Como o Samuel exemplificou, há quem veja no controleirismo uma arma indispensável no combate político, mesmo que isso signifique o desrespeito pelo Estado de Direito. A monitorização da blogosfera por uma entidade desconhecida, e já agora financiada com que dinheiros?, sob a alçada governamental é algo que qualquer espírito livre deve condenar radicalmente. Sem contemplações. Entendamo-nos, o erário público não pode nem deve servir para financiar os delírios liberticidas de meia dúzia de garotos ignaros.
A respeito desta medida do levantamento do sigilo bancário, concordando com o António de Almeida (aqui e ali), e com o Luís Rocha, recupero apenas algo que escrevi em Outubro de 2008:
Numa altura em que se assiste a um recuperar de forças e instrumentos por parte dos governos em detrimento do sector privado e se se vier a ter como provado o que tenho escrito sobre o reajustamento de todo o sistema internacional como reflexo desta crise, parece-me que a legitimidade moral das chamadas democracias liberais deixará de ser tão genericamente aceite e reflectida no sistema internacional, visto que China e Rússia passarão a desempenhar um papel cada vez mais activo, e sem esquecer os diversos emergentes que, podendo ser democracias eleitorais, dificilmente se poderão considerar como consolidadas democracias liberais.
Além do mais, mesmo nas chamadas democracias liberais, a tendência será para restringir liberdades, pois tendo mais instrumentos ao seu dispôr os Estados não hesitarão em utilizá-los. É elementar que quanto mais poder se tem mais se é tentado a utilizá-lo, numa analogia às palavras de Lord Acton de que o "poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente."
A combinação destas duas percepções, obviamente pessoais e não necessariamente correctas, causa-me a ligeira sensação de que daqui a uns tempos a sempre eterna discussão sobre o liberalismo vai voltar a centrar-se muito mais no campo das liberdades políticas e individuais do que no campo da economia. Devo dizer que sendo daqueles que acredita na acepção grega clássica do primado da política sobre as demais áreas ou saberes da governação, tal até não me parece mal de todo, pelo menos para mim é intelectualmente mais estimulante.