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Evitar as barracas

por John Wolf, em 18.07.25

 

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"Evitar as barracas" — são algumas das palavras da candidata à Câmara Municipal de Lisboa (CML) Alexandra Leitão. Se não soubéssemos o contexto, diríamos que a língua socialista é muito traiçoeira. Barracas são muitas — o Processo Marquês, o falhanço do camarada Pedro Nuno Santos ou os alegados sintomas de prevaricação de Fernando Medina enquanto presidente da CML. Pois. Sabemos que a candidata necessita de se demarcar dos camaradas como pão para a boca. Carece de uma figura paternal de peso para se inspirar. António Costa está indisponível, a tratar da sua vida em Bruxelas, e o secretário-geral José Luís Carneiro anda perdido num rebanho de fantasias e absurdos políticos. E assim sendo, nada como pedir uma mãozinha ao quase extinto Bloco de Esquerda, à unicórnia do PAN e ao céfalo do LIVRE. Tudo junto, somado, à falta de argumentos próprios, configura uma frente revolucionária para derrotar Carlos Moedas, mas não necessariamente os problemas da cidade. Teremos uma autarquia, se a elegerem, em que todos gritam e ninguém tem latão. Já lá estiveram, em ciclos recentes, socialistas de corpo e alma, e o resultado não foi grande coisa. Transformaram Lisboa num enorme urinol e a Baixa num anexo indistinto. Leitão diz-se fazedora e menos faladora. Mas aponto-lhe outras qualidades. Não tem memória de elefante. Esqueceu-se por completo de que fez parte do governo que gizou as grandes opções estratégicas do país, que naturalmente ajoelharam Lisboa e que colocaram a cidade no estado que se conhece. A candidata quer fazer parte da solução, sê-la. O que joga a seu favor? O que joga a seu favor é a pulsação ideológica que ainda bate na carótida de tantos que dividem os factos e as verdades entre a direita e a esquerda, onde dizem que abril nasceu. Mas convenhamos, já não há remédio ideológico ou partidário para remendar o que está estropiado. Alexandra Leitão, se tivesse juízo, cedia o lugar a alguém com folha limpa. Mas não. Ela insiste em colocar o Rato em Lisboa ou o Rato em Lisboa, não sei bem. Perdido por mil ou perdido por abril, quem se lixa é o concidadão. Alexandra Leitão não soa a futuro. Faz parte do passado. E ainda não percebeu que nada tem para oferecer à capital. Nem que as barracas abanem.

publicado às 19:13

A divisa falida de Moedas

por John Wolf, em 17.07.25

 

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De boas intenções está a autarquia cheia. Carlos Moedas é bom rapaz e educado, mas convenhamos, a cidade de Lisboa não está melhor. Bem (mal) pelo contrário. A capital é suja e ruidosa. Mas muito mais grave — a cidade já não pertence aos alfacinhas. Posso debitar à vontade sobre o assunto, mesmo sendo um eterno refugiado. Estou em Portugal há mais de 40 anos e bato-me pelo país e a capital com maior intensidade do que grande parte dos compadres. Sou um genuíno patriota. Só falta mesmo adotar a nacionalidade, embora não seja necessário para fazer honra à identidade e a cultura deste país. Até já escrevi um livro sobre Portugal a bater e a elogiar, na mesma demão, em cada página, e naquelas por escrever. Custa-me ver os portugueses expulsos do seu habitat. Os sucessivos presidentes da Câmara Municipal de Lisboa, de um modo consistente e ganancioso, estenderam a passadeira às massas turísticas, aos estrangeiros endinheirados, fazendo de seus inimigos bairros tradicionais e costumes locais. A folclorização de Lisboa arrastou consigo os tuk-tuks e as lojas da pseudo-portugalidade. Não sei ao certo como reverter a situação, porque questiono se os políticos o desejem — o regresso a um estado cada vez mais ténue, distante. E aí reside  grande parte do problema — o provincianismo declarado ou dissimulado dos governadores do concelho: A falta de cultura, ensaiada por intelectuais (que palavra suja!) como Eduardo Lourenço, em tomos incontornáveis,  de pouco consolo serve. Esse défice de leitura é a culpada radical, o extremo mental que habita dentro de portas, no gabinete e na tesouraria. A ausência de (auto)percepção, a falta de visão civilizacional dos lideres também é da responsabilidade das gentes. Um povo encantado por promessas de grandeza, estrofes históricas, que se deixou carregar para a subúrbia acrítica, deslavada e inconsequente. O eleitor que também esfregou as mãos estendidas em busca de um módico rápido. A situação é grave. A paisagem, habitada por espécies invasivas, já não pode ser acalentada em estufas frias. As tribos vivem agora em reservas, arriscando a sua própria extinção. A divisa alfacinha já não vale grande coisa.

publicado às 21:01

Pastelaria Nadal compra a Suiça em Lisboa

por John Wolf, em 11.03.18

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Rafael Nadal bateu Roger Federer na sua própria casa e acaba de comprar o quarteirão que integra a Pastelaria Suiça em Lisboa. Bolas de Berlim, Bolas de Nadal...Lisboa e Portugal continuam o seu processo de descaracterização e assalto de dinheiros alheios. Faltam parafusos, mas em breve teremos as Bolas de Ténis ou téni...conforme os gostos.

publicado às 18:08

Prémio Flop do Ano Lisboa 2017

por John Wolf, em 29.12.17

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Se me pedissem para atribuir o prémio flop do ano à Câmara Municipal de Lisboa para o ano de 2017, o mesmo resumir-se-ia a uma palavra: ciclovia. Para quem ainda se lembra do enorme alarido gerado em torno do alegado big bang que as bicicletas produziriam na cidade, chegamos à conclusão que as sete colinas da gestão autárquica pariram um rato. O esplendor da erva das faixas centrais da Av. da República ou da Av. 24 de Julho, aí plantadas em nome do botox e de melhor mobilidade urbana, sem esquecer o alcatroado avermelhado das ciclovias, simplesmente foram investimentos falhados - são escassas as bicicletas que se avistam - as privadas ou aquelas holandesamente inventadas pelo famoso programa de uso partilhado. Como tantas outras cartolas para impressionar, as eco-considerações dos camarários não passam de show-off, ostentação. Fizeram tudo ao contrário da tradição. Não auscultaram a população, não realizaram o estudo de opinião do utente para confirmar se de facto o alfacinha é pouco ou muito dado ao pedal, mas acima de tudo não perceberam que os portugueses, de um modo geral, não são dados a grandes trocas e baldrocas. Os condutores são adeptos da sua viatura em regime de exclusividade e aqueles que se servem da Carris ou do Metro apenas o fazem porque não detêm os meios para comprar um carro. São considerações desta natureza que não foram tidas em conta por Medina e companhia. A infraestrutura não pode preceder a vontade. De nada serve o orgulho no hardware da rede de ciclovias, se o software da pedaleira, pura e simplesmente não existe. Apenas vejo uma forma de Medina salvar a face desta falência - realizar uma campanha dirigida às pessoas com necessidades especiais de locomoção, no sentido daquelas que fazem uso de cadeiras de rodas finalmente poderem sair à rua para aproveitar as ciclovias desertas. Por mais bonitos e floreados que nos queiram vender, a verdade é que esta ideia é  um flop. O flop do ano.

publicado às 18:08

Portugal e a Agência Europeia do Medicamento

por Samuel de Paiva Pires, em 20.11.17

Portugal só teria hipóteses de acolher a Agência Europeia do Medicamento se fosse Lisboa a cidade candidata e mesmo assim seria sempre muito difícil ser o destino escolhido, tendo em consideração as cidades concorrentes. Creio que Rui Moreira e muitos dos defensores da candidatura do Porto tinham plena consciência disto mesmo. Se não tinham, então transmitiram uma imagem de um país de pacóvios sem noção das condições exigidas para a instalação desta agência. Se tinham, então seguiram à risca a terceira lei da estupidez humana de Cipolla: "Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa perdas a outra pessoa ou grupo de pessoas sem retirar para si qualquer ganho e até possivelmente incorrendo em perdas." António Costa, por seu lado, fez um cálculo simples, sacrificando quaisquer hipóteses de o país acolher a agência para marcar uns pontos na região Norte, sempre tão lesta a recorrer à estafada retórica de Porto vs. Lisboa. No fim deste processo, fica patente que, infelizmente, a politiquice sobrepôs-se ao interesse nacional. Estão todos de parabéns.

 

(também publicado aqui.)

publicado às 18:47

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Não existe matéria-prima ou tema que não pertença à política. Da madeira do eucaliptal ao crude, do feijão verde ao comprimido azul para engolir ao pequeno-almoço - tudo isto é fado, tudo isto é política. A Agência Europeia do Medicamento (AEM) inscreve-se na máxima inaugural deste post. Assim que houve declaração de vontade do Porto para se candidatar a sede da agência europeia, o governo de António Costa sentiu-se arreliado e bateu o pé. Em vez de unir, dividiu. Em vez de fazer lobbying positivo, perturbou o processo. Ou seja, a AEM foi instrumentalizada para tentar fragilizar uma cidade que escapa ao controlo ideológico e partidário convencional do país da geringonça. Rui Moreira terá sido o principal visado. Agora que "nem peixe nem carne", António Costa poderá afirmar que afinal tinha razão, que a cidade de Lisboa deveria ter sido a apresentada como a noiva a concurso. Em todo o caso, o que podemos extrair deste processo, prende-se com um défice estrutural - a ausência de lobbying à séria. Se analisarmos a nomeação de António Guterres a secretário-geral da Organização das Nações Unidas, devemos levar em conta certos ventos favoráveis - os socialistas europeus que devem ter emprestado o seu apoio fizeram-no porque se trata de uma causa inofensiva, banal - Guterres vai salvar o mundo? Não, não vai. No que diz respeito à indústria dos medicamentos a estória muda radicalmente de figura. O sector farmacêutico é dos mais poderosos do mundo. Mexe-se com grande destreza nos meandros e corredores políticos, e Portugal, simplesmente, não é um player significativo nos processos de tomada de decisão respeitante a medicamentos. Não é um país que detenha uma "marca" medicamentosa global como a Merck ou a Pfizer. E desse modo nunca poderia ter o músculo necessário para abalroar os cartéis e afins que configuram a indústria farmacêutica que se deita na cama política sem pudor. É fundamentalmente de isso que se trata. No mundo da realpolitik, a linda cor dos olhinhos de uma cidade não basta. É preciso saber alavancar argumentos. A ver vamos, com tanta prosápia à mistura, se Mário Centeno se deixa ficar na fase de grupos, ou avança na liga dos champions do Eurogrupo.

publicado às 16:08

Medina deita fora o PCP

por John Wolf, em 02.11.17

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Fernando Medina fechou acordo com o Bloco de Esquerda (BE), mas nem por isso com o Partido Comunista Português (PCP). Ou seja, o que se passa na autarquia não é uma réplica do todo governativo, mas apenas a reciclagem de uma parte do artefacto, da geringonça. Em abono da maquineta, trata-se de uma "gonça" (como em amigo da gonça). No entanto o facto de Medina ter fechado acordo com o BE, não significa que tenha um compromisso com as efectivas necessidades dos lisboetas (precisa do BE para governar, baixou as calcinhas) e que consiga explicar como vão financiar a brincadeira. Estão apenas no lado do haver, com nenhuma menção do dever, de quem fica a arder. Não vale a pena entrar em detalhes críticos sobre a lista de supermercado de Medina e Martins, porque está lá tudo de um modo relativamente consensual, politicamente simpático para eles. Podemos concordar quase na íntegra com o enxoval dos noivos, mas devemos temer o copo de água. Serão necessárias mais taxas e impostos municipalizados para angariar meios financeiros para o orçamento da Câmara Municipal de Lisboa. A única coisa que parece ter sido omitida no programa de festas do casal camarário é um gabinete para análise e tratamento de assédio político ou de outra natureza. Seria interessante, á laia de sociólogo explorador, estudar o ecosistema camarário. Não me venham com estórias de que palmadinhas nas costas e no rabinho não acontecem todos os dias, à má-fila, à comuna - your ass is mine.

publicado às 14:33

Eles comem tudo, quase tudo

por John Wolf, em 02.10.17

 

O Partido Socialista (PS), nas últimas legislativas, teve de se contentar com uma geringonça, mas se pudesse, congratular-se-ia com uma maioria absoluta para não ter de ficar refém dos comunistas ou bloquistas. Não foi isso que aconteceu nas legislativas e o PS tornou-se num partido dependente das doses radicais dos partidos mais à sua esquerda. A geringonça aproveitou os alibis internos e as exigências da sua ala mais "extrema" para fazer avançar uma agenda que, caso fosse necessário, poderia invocar como não sendo a sua. António Costa, que se alegra com o mal dos outros, nomeia o PSD como o grande perdedor da noite. Não está totalmente enganado, contudo a vista panorâmica tem de ser mais ampla e honesta. Os sócios comunistas da CDU perderam substancialmente em toda a linha - lá se vai a tese da leitura nacional que um bom resultado poderia servir para reforçar a legitimidade da geringonça. Uma das partes da geringonça sai ferida com gravidade deste embate. Fernando Medina, vendido como regente absoluto da cidade, e campeão das obras e do turismo, tem de agradecer o presente de António Costa (que largou a CML), mas sobretudo a um notável político que preparou o terreno para o incremento do Turismo em Lisboa. Adolfo Mesquita Nunes foi quem teve a visão, foi quem pensou Lisboa enquanto importante vector, enquanto região e capital económicas por excelência. Se tivessem nível, os ganhadores de secretaria e das autárquicas em Lisboa, ligavam os pontos para ampliar ainda mais a democraticidade abrangente da geringonça incluindo "inimigos". Mas não. Vivem de sobranceria ideológica - os socialistas são sempre melhores. Pelos visto Medina fez tudo de livre e espontânea vontade, e inventou a roda. No entanto, o facto de não ter conseguido a maioria absoluta em Lisboa significa que a pedra no sapato com que tem de marchar pelas ciclovias funcionará com um mecanismo de checks and balances: o posso, quero e mando já não será assim tão simples. E há mais. Não foi a Direita que saiu derrotada. Assunção Cristas encarna um perfil que transcende a bitola ideológica. Defendeu em campanha, e protege na oposição, causas definitivamente conotadas com justiça social e económica, mas que não são nem podem ser um exclusivo da Esquerda. E o prémio da noite, na minha opinião, vai para Rui Moreira. O independente foi capaz de travar as manobras e esquemas de um PS oleado há décadas para a manipulação nos bastidores e nos media.  De nada serviu, como Moreira bem frisou no discurso da noite, que Pizarro tivesse recrutado o governo de sua geringonça para descarrilar os seus intentos. Pizarro não teve fair-play, mas foi ajudado nesse tango manhoso. O PS que julga que não existem limites, levou uma castanhada no Porto. Quanto ao BE, não sei exactamente o que pensar. Estão ali em águas de blocalhau e podem ser vítimas dessa estagnação. Sabemos, face aos resultados da noite eleitoral de ontem, que o PSD vai ter de se reinventar, apanhar os cacos e fazer um reset. Mas não pode apanhar uns cacos quaisquer. A Manuela Ferreira Leite também pode apanhar a camioneta com Pedro Passos Coelho. Já não fazem falta ao partido ou ao país. Os comunistas, imutáveis perante as evidências, continuarão a musicar aquele pífaro de luta pelo trabalhador oprimido e a denunciar os opressores capitalistas. Estão, desse modo, no seu território preferencial, a jogar o papel que bem conhecem - o de vítimas. O PS irá espremer as autárquicas para canonizar a geringonça, mas em última instância será vítima do seu sucesso desmesurado. Isaltino, o cão-pisteiro, abriu o caminho para tantos outros, uns de Felgueiras, e outro da cela de Évora. Mas esse resultado espelha o povo, eticamente vergado e que se deixa enganar. Ouvi dizer que o maior derrotado da noite foi a abstenção, mas não é verdade. Foi uma metade que votou. Portanto apenas pode haver meio deleite.

publicado às 07:26

Da importância do timing em política

por Samuel de Paiva Pires, em 01.10.17

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Uma das melhores qualidades que um político pode ter é saber quando deve retirar-se, evitando a humilhação de ser forçado a sair. Esta qualidade torna-se ainda mais importante em determinadas circunstâncias, como, por exemplo, quando um líder político-partidário fica indelevelmente associado a políticas impopulares, tornando-se um óbice ao regresso do seu partido ao poder. Passos Coelho ainda não percebeu isto. Paulo Portas, dono de um aguçado instinto político, soube precisamente qual o melhor momento para ceder o lugar. O resultado está à vista, especialmente em Lisboa.  

publicado às 22:23

Sobre a rede de transportes de Lisboa

por Samuel de Paiva Pires, em 30.08.17

No debate entre os candidatos à Câmara Municipal de Lisboa, que decorre neste momento na SIC, após a afirmação de Ricardo Robles de que os transportes públicos de Lisboa, que utiliza todos os dias, estão à beira do colapso, Teresa Leal Coelho replicou que não é verdade e, sem se rir, ainda acrescentou que só com o actual governo se degradou a rede de transportes públicos de Lisboa e que o anterior até tinha melhorado a qualidade dos serviços prestados. Permitam-me apenas dizer que certos políticos, já que não têm pudor, talvez devessem, nem que fosse por um só dia, dar folga ao motorista e ao carro do Estado em que se passeiam habitualmente e experimentar a sensação de sardinha em lata na linha verde do Metro (ainda pior que nas outras linhas), no eléctrico 15 entre a Praça da Figueira e Algés ou nos comboios urbanos da CP (especialmente os da linha de Cascais durante a época balnear), o tempo de espera médio de 10 a 20 minutos em hora de ponta na linha amarela do Metro ou os autocarros da Carris que falham recorrentemente os horários indicados, em determinadas horas são suprimidos sem qualquer aviso prévio aos utentes e, num tempo em que a tecnologia de geolocalização se encontra tão aperfeiçoada, frequentemente não estão em consonância com a previsão nos painéis luminosos instalados nas paragens (os próprios painéis encontram-se, o mais das vezes, avariados). Não sou do Bloco de Esquerda - bem pelo contrário, sou militante do CDS - mas fui utente do Metro, da Carris e da CP de 2004 até há cerca de de um ano e foi precisamente por se terem tornado praticamente insuportáveis que deixei de utilizar os transportes públicos em Lisboa. Que a Câmara Municipal de Lisboa, quer com António Costa, quer com Fernando Medina, tenha a obsessão de dificultar o trânsito automóvel na cidade, só contribui para infernizar ainda mais a vida dos que residem e/ou trabalham na capital.

publicado às 22:08

Síndrome de Padeiro

por John Wolf, em 28.01.17

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Antes que me acusem de sofrer da síndrome de padeiro, fica o aviso. Sou um sociólogo empírico, artesanal. Faço colagens, mas delicio-me com o corte e a costura. Adoro bricolage e fascina-me o betão. Cá vai. O ovo ou a galinha? Qual deles? Vem isto a propósito do efeito de contágio (ou não) das obras de Medina na cabeça dos cidadãos da capital europeia das autárquicas. O enunciado é relativamente simples: será que a malha civilizadora do passeio largo, da via minguada e das ciclo-rotas irá alterar o quadro comportamental do utente? Prevejo, e já assisti a muita inauguração construtora em Portugal, que teremos a insistência crónica do estacionamento sobre a calçada farta ou a ciclovia, a extensão da prática de arremesso de dejecto canino e o graffitar de assinaturas de artista delinquente sobre a pedra que tanto bate que até se apura. E há mais. A obrite aguda, embora vá embelezar a urbe alfacinha, representa, no seu âmago, uma patologia política de difícil cura. A obsessão pelo hardware. Quanto ao software do formato mental dos urbano-residentes a história será outra. A alteração da mentalidade que conduz à estima cívica e ao sentido colectivo parece ficar para depois do aumento do PMN - o passeio mínimo nacional. O problema é que a correlação entre a obra e o comportamento cívico não foi pensada em sede alguma. O que domina e extravasa é outro vector. A alma-matéria parece ser o modo de pagar promessas e comprar eleitores. Em plena época de dúvidas existenciais e rumores de populismo, convém acalmar os ânimos daqueles que usam as ferramentas mais básicas. O apelo da intelectualidade primária, ou da filosofia de lancil, parece ser a nota dominante. Quero ver quem tira o peão do caminho do triciclo, ou enxota a marca global que irá decorar aquela praça neo-típica. Quem levantará os autos? Não há dúvida que fica tudo mais bonito e que valeu a pena o pó e o trânsito, mas o resto será mais do mesmo. Quero ver quem entrega o pão como deve ser.

publicado às 12:00

Medina Led

por John Wolf, em 18.11.16

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Fernando Medina vai duplicar o orçamento da iluminação de Natal da Câmara Municipal de Lisboa. Afinal estamos quase a ir a eleições. E a crise acabou. Os Led são uma espécie de Web Summit das velas. Acendem-se e depois apagam-se, mas não deixam rasto que se veja. Dizem os electricistas que a luz ficará em níveis pré-crise, ou seja, depois virá um clarão. Apagão.

publicado às 10:24

E tudo o Web Summit levou...

por John Wolf, em 03.11.16

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Portugal regozija-se por ser a capital mundial de start-ups durante uns dias de Novembro. Mas não passará disso. Alguém que me responda à seguinte pergunta que poderia ser colocada por um sovina-capitalista-empreendedor-americano": digam-me os nomes de empreendedores estrangeiros e respectivas empresas que existam ou tenham vingado em Portugal? Não conheço. Em plena época de graves dúvidas trumpianas, os Estados Unidos da América continua a ser o porto seguro para uma arraia alargada de inventores, génios e empreendedores norte-americanos, mas nascidos "lá fora". Portugal é a antitese dessa realidade. E porquê? Porque a dimensão anónima não existe. Voltámos à mesma questão. É preciso conhecer gente dentro do aparelho. É preciso fazer parte da estrutura de poder. É preciso alavancar o esforço com prémios, estímulos e fotocópias. Faço-me entender? Como descendente de imigrantes alemães que chegaram aos States em 1848, sei do que falo quando refiro o elemento dinâmico da criação e do empreendedorismo. Não houve facilidades, mas também não houve dificuldades acrescidas resultantes da não pertença à textura "nativa". A influência faz-se pelo mérito das ideias, da força dos projectos. Enquanto Portugal não entender esse movimento pendular, de nada serve receber 50.000 empreendedores. Isso não será suficiente para realizar a ignição ou mudar a mentalidade local que não está muito receptiva a incursões excêntricas. A não ser que sejam mercearias de indianos que sempre dão muito jeito quando faltam bananas lá em casa. Não sei se me faço entender. Os mais bem sucedidos de Portugal até poderiam ter nascido em Madagascar ao lado de uma colónia de macacos. Web Summit? Muito bonito. Para inglês ver.

 

(O link inserido no post é 1000 vezes mais importante do que o meu texto. A ler...)

publicado às 12:36

Governo encurralado num antro de taxistas

por John Wolf, em 08.10.16

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O Governo da República Portuguesa está cada vez mais encurralado. São vários agentes que mantêm refêm o executivo. O Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP) encostaram às cordas António Costa e as suas hostes. Não existe decisão governativa que não esteja condicionada pelo diktat de Catarina Martins ou pela bula de Jerónimo de Sousa. Mas a ameaça de "porrada" da Antral para a próxima Segunda-feira lisboeta levanta algumas questões fundamentais. A declaração do chefe dos taxistas deve ser entendida enquanto ameaça velada. O uso de força é, inequivocamente, uma prerrogativa jurídica do Estado, aliás consagrada constitucionalmente. Em nome da manutenção da ordem pública, um governo pode ter de fazer uso de instrumentos de coacção. Quando um grupo de cidadãos se organiza em torno da mensagem de violência, está efectivamente a assaltar a reserva de paz pública de uma nação - mas no meu entender, vai mais longe do que o tolerável: comete o crime de premeditação. Veremos se o Ministério da Administração Interna faz a leitura adequada desta situação e instrui as forças de segurança em conformidade. A Antral assemelha-se a outros grupos reivindicativos, com a nuance temporal de estar a anunciar um "atentado" antes do mesmo ocorrer. Nem menciono o impacto económico da perturbação que 6000 taxistas causam na vida de tantas empresas e trabalhadores portugueses. Este sector profissional não pode forçar a sua entrada na Assembleia da República. Esta classe laboral não pode ameaçar a integridade física e moral de um secretário de Estado, ou para todos os efeitos de qualquer cidadão. Não sei qual a filiação ideológica dos representantes dos "profissionais" dos táxis, mas cada vez mais se assemelha a falanges de inspiração extremista, que prosseguem os seus objectivos por via da intimidação e do músculo. O Governo da República Portuguesa está obrigado a defender a bela Democracia que tanto apregoa a torto e a direito. Mas António Costa encontra-se na China a vender falências a prospectores mercantis. A Uber que se deixe ficar quieta. São os outros que caírão - sozinhos.

publicado às 17:59

Abraça-me Chiado!

por John Wolf, em 26.05.16

   Inaugurou ontem a exposição de fotografia de Isabel Santiago Henriques. A não perder.

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Abraça-me Chiado!

Poderemos afirmar, sem grandes reservas, que o Chiado é um dos filhos primogénitos da cidade de Lisboa. A capital, embora repartida por bairros distintos, nutre um carinho especial pela atmosfera pessoana deste enclave traquina. É aqui que o lado jocoso cruza a ambição lírica. É aqui que um certo abandono demonstra a fugacidade da vida. E porventura será neste domínio que deambulam os melhores enquadramentos cénicos, as melhores propostas de enredo natural. E Isabel Santiago Henriques pressente esse código, e assume a missão de voyeur, discreta mas incisiva, e célere na captação do que foi ou do que poderia ter sido. Ao longo deste diaporama de histórias inacabadas, somos alimentados com indícios suficientes para imaginar o resto, aquilo que extravasa a fotografia e invade outras artes de representação, pose e desilusão. As imagens coladas numa dispersão intencional não devem ser lidas como uma proposta linear, encadeada pela razão que procura uma coerência amestrada. Santiago Henriques opera na clandestinidade da imagem estática, sem martirizar por completo o conceito de beleza que domina o espírito contemporâneo. Vivemos uma época de feixes rápidos, alternâncias de vidas, suplentes dispostos a trocar a camisola pela identidade alheia. Aqui, neste ensaio, registamos a contradição dessa limpeza estética. Os actores que se apresentam tecem movimentos e esboçam emoções avulso. A sua captura, e a sua elevação à pequena eternidade da impressão fotográfica, confirmam a escala humana de Santiago Henriques. Não houve ampliações desmedidas nem altercações de estilos. Os quadros que se apresentam são idóneos. Respeitam-se nesse quotidiano que se nos passa à frente todos os dias, e à noitinha quando elas também acontecem em sonhos ou devaneios de loucura, elucubração. Como o motociclista amadurecido distraído pela derme da pequena que esbarra nesse táxi malparado que não vimos também. Como o trio de haterónimos que desconhece as dores de articulações de Pessoa. Como o gingão que trabalha a altas horas da noite para apaziguar o bronze. Tudo isto e muito menos – a panóplia de frames descartados pela selecção, a sucessão de imagens que se alternam. Abraça-me Chiado é envolvente, promissora - a dama que insinua e diz que chega sempre a horas.

 

Bio

 

Isabel Santiago Henriques nasceu em Aveiro em 1960. Cresceu rodeada de máquinas fotográficas e de filmar do seu pai, envolta por dezenas de álbuns e bobines de filmes que a mãe meticulosamente organizava, um hobby que mais tarde viria a levar a sério. Estudou no Liceu de Aveiro, mais tarde numa Escola privada e na Universidade de Lausanne. Trabalhou nas empresas comerciais fundadas pelo seu pai durante mais de 20 anos. Em 2010, já a residir em Lisboa, inscreveu-se num curso de fotografia e fotojornalismo dirigido por Luiz Carvalho que levou a cabo entusiasticamente durante 3 anos. Nunca mais largou a fotografia, e ficou a trabalhar com Luiz Carvalho como assistente de realização no programa Fotografia Total da TVI24 ao longo de 4 anos. Assume Luiz de Carvalho como o seu Mestre, a inspiração, a fonte inesgotável de conhecimento e aprendizagem – e um grande amigo. Isabel Santiago Henriques vai mais longe: devo-lhe tudo o que sei sobre fotografia. Apaixonada por política, fotografa os mais diversos eventos do CDS. Tem 3 filhos, o Diogo o André e o Tiago.

 

A fotografia que mais me absorve é a street photography"

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publicado às 18:45

Será apenas estúpido ou gosta de bicicletas ?

por João Almeida Amaral, em 03.05.16

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Será apenas estúpido ou é apenas um amante do ciclismo.

Acabar com o estacionamento numa das faixas da Av. da República e eliminar o transito automóvel em duas faixas de rodagem do eixo central da cidade de Lisboa é no mínimo surpreendente , será que o presidente não eleito de Lisboa se julga em Amsterdão?

Quantas vezes ira ele levar os filhos a escola de bicicleta? 

Tenham dó , está na altura de correr com este imbecil. 

 

 

publicado às 21:32

Comunistas fora da NATO, do EURO e do COSTA

por John Wolf, em 25.10.15

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Jerónimo de Sousa é bom homem, educado e coerente. Enquanto discute com o corretor de apostas António Costa e modera o seu discurso para consumo interno, avança em Bruxelas com o apoio à iniciativa para financiar países de saída do Euro. A ironia do destino dessa proposta é implicar a traição do Tratado da União Europeia da parte daqueles que o sustentam. Seria como pedir a Sócrates para se acusar e decidir a sentença mais pesada. A Juventude Comunista, presente em massa no protesto contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) de ontem em Lisboa, porventura também terá enviado um delegado de informação ideológica à sede da NATO para propor uma forma de desembarque daquela organização. Aposto que as centenas de participantes na marcha nem sequer sabem quais são os seus princípios fundadores e a sua missão principal. Contudo, há questões mais prementes. Com que estojo de facas e garfos se lida com Putin? Talvez seja boa ideia perguntar ao comité-central do Partido Comunista Português. Afinal os estalinistas têm grande experiência na arte da dizimação de povos inteiros e no envio de detractores para a Sibéria.

publicado às 07:14

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publicado às 12:01

Mr. Clean Costa

por John Wolf, em 01.04.15

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O mais recente ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) é a última pessoa do mundo que deve declarar que deixa a casa arrumada ao abandonar a autarquia. Eu, por exemplo, tenho opinião diversa. Onde eu moro não deixou uma das ruas arrumadas. Nem sequer deixou rua. Falta à mesma um passeio. Os caminhantes servem-se há 8 anos de um estrado de madeira com uma extensão de mais de 100 metros! António Costa pode meter o quadro financeiro sustentável onde bem entender. O homem esqueceu-se que os residentes deveriam ser os principais destinatários da sua missão. Em todo o caso, o senhor não leva a chave da CML. Agora teremos a oportunidade de vasculhar e descobrir se o trabalho foi limpinho ou não. E com tanto festejo e glorificação, passamos de Meca a Medina sem termos sido consultados. Acabei de pagar o IMI, mas não existem atenuantes.

publicado às 14:49

Fim do travão do IMI

por John Wolf, em 09.03.15

 

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Antes que comecem com coisas e me acusem de apontar o dedo à pessoa errada; António Costa não tem nada a ver com esta decisão. O senhor nem sequer é presidente da Câmara Municipal de Lisboa. O fim do travão do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) deve ser para compensar a circulação de trânsito em Lisboa. Ou seja, existe uma relação entre móveis e imóveis, estão a ver? Esperam-se aumentos de tributação sobre as casas que podem atingir os 500%. Pelos vistos a Austeridade socialista nem sequer precisa de São Bento. Daquele posto taxativo já se começam a fazer sentir os efeitos da contradição entre a demagogia conveniente e a falta de dinheiro em caixa. A síndrome que aflige Tsipras não é contagiosa, existe uma variante nativa, uma estirpe autóctone. Quando a realidade dura das provisões toca à porta, a bela conversa escorre pelo cano como se nada fosse.

publicado às 09:54






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