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Pedro Nuno Santos foi afastado da Champions League nas derradeiras legislativas. Depois dessa derrota estrondosa, aposta tudo na Liga Europa — o campeonato onde caem os coxos e os mancos. O Partido Socialista (PS) lança a extremo Marta Temido, como a grande surpresa da convocatória para encabeçar a lista partidária às eleições europeias. Ana Catarina Mendes, Fernando Medina, Francisco Assis, que não têm onde cair mortos, também devem seguir no mesmo tacho sem fundo. António Vitorino parece que não quer molhar o bico da sua estatura de alto-comissário no pântano da União Europeia, ou seja, nem se vislumbra sequer no banco de putativos titulares. Mas regressemos à Temido que, convém lembrar, também foi aliciada para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Esta réplica de candidatura, a repetição do mesmo prato, espelha algo sintomático: não há sangue novo que valha no PS. Mas o PS está de peito inchado e orgulho ferido — quer à força toda e com raiva revanchista ganhar as eleições europeias. Por outras palavras, para os socialistas, estas eleições são as mais importantes do mundo até deixarem de ser. Ou seja, até sofrerem outro percalço. E tomem nota, os partidos do bloco centrão, desconsideram outros players — o Chega ou a Iniciativa Liberal: mais uma gaffe. A nossa sorte é que essa viagem para a Europa é de ida apenas. Deixaremos de escutar as suas indagações aqui no burgo, para ter a garantia que as suas ideias têm poucas pernas para andar lá no Parlamento Europeu. Quanto a Costa, nem uma palavra. Parece um tabu. Mas não é. O homem está na pós-graduação até abrir o mercado de transferências dos comissários europeus. Acabo abruptamente este post como uma pergunta para um milhão de dólares — qual o escalão de IRS em que se inscrevem os parlamentares que forem eleitos nas europeias?
Miguel Morgado é um caso raro de honestidade intelectual. Dotado de uma capacidade analítica excepcional — é a nossa botija de oxigénio nestes tempos sombrios de distorção de narrativas residentes — de chavões defensivos, intensamente ideológicos e negacionistas das evidências. Tomem nota de que não referi uma vez sequer a esquerda ou a direita, este ou aquele partido, para, num espírito de reserva mental, respeitar o que Miguel Morgado tenta fazer por entre a bruma do fogo-cruzado de arrelias e teimas que não passam de razões sem fundamento. Morgado discorre sobre os factos e as palavras que não correspondem aos mesmos, ou, o seu contrário, as ações que não promovem a construção do interesse nacional. As lamentações de Morgado dizem respeito a quebras de princípios, à corrupção de promessas governativas, às intenções e às decepções — as expectativas geradas com leviandade e defraudadas com peso assinalável, para desfalque de Portugal, do desígnio colectivo que ainda não conseguimos vislumbrar volvidos cinquenta anos de masturbação política-partidária. Morgado é uma ilha no comentariado nacional — a tasca brejeira e reles onde tantos se dispõem à injúria e a jogadas baixas: onde nunca há vencedores e apenas o país sai a perder. Sentimos a genuína independência de Miguel Morgado e não vislumbramos uma sua agenda pessoal com a vista posta em ganhos, aqueles extraídos à custa de outrém. (Ele) já o disse várias vezes — não tem vocação para a política. E como o entendo. Se passasse para o lado de lá, celeremente cairia na lama onde chafurdam tantos em quintais de reputação questionável. Ainda bem que assim é. Tomo Miguel Morgado como um genuíno estadista, furos acima do patamar onde se digladiam os eticamente fracos, que apenas se socorrem da força bruta das frases feitas para tentar arrasar a elevação intelectual de quem têm pela frente. Nesses momentos de desespero como interlocutor, enquanto escuta os uivos e o chiar desvairado, Morgado nada pode fazer. A sua fácies diz tudo. Pensa alto, pensa sozinho. Presta um enorme serviço a Portugal e àquilo que ainda resta da sua sanidade política.
créditos fotográficos: OBSERVADOR
Mariana Mortágua está a instigar a insurreição e a violação de princípios constitucionais. A direita, que tanto odeia, ainda acabará por se coligar. Ou seja, poderá ser tida como a lider de um gangue responsável por um governo de direita, e não como a salvadora da pátria. A esquerda não tem maioria para governar. Seria bom que se lembrassem desse pequeno detalhe. O que a esquerda está a fazer assemelha-se a uma conspiração com vista a um golpe de Estado — uma espécie de marcha ao Capitólio à portuguesa. Organiza uma falange de esquerdas para orquestrar a traição da democracia e dos legítimos resultados eleitorais. Mortágua está assim a ser a catalisadora da solução governativa que menos deseja — a coligação entre a Aliança Democrática (AD) e o Chega. Quando chegarem os votos da emigração nada mudará. A haver um embate entre a AD e o Partido Socialista, quando chegar a hora de escolher entre o descalabro da continuidade e a mudança incerta, Montenegro terá de pensar muito bem o que Portugal merece. Um cerco sanitário ao Chega é uma péssima prática e uma ideia ainda pior. Em nome de abril, deve haver diálogo, moderação, tolerância, respeito e a procura pela tal estabilidade de que tanto falam como um chavão de levar pelo bolso. Não honrar a vontade de mais de um milhão de votos é desonrar a ética democrática, o valor da possibilidade das ideias que assistem a qualquer um. É não acreditar na moderação possível promovida pela AD para que o Chega saiba ceder em relação às suas propostas menos consensuais. Prevejo uma salganhada sem saídas limpas. Marcelo Rebelo de Sousa é uma das incógnitas comportamentais, mas decerto que o populismo vingará. O seu populismo, que pouco serve ao país. A temperatura do rancor ideológico em Portugal ainda vai subir bastante nos próximos tempos. Não vai ser bonito. Não existem vacinas para isto. Apenas o cancelamento de uma ideia de progresso para Portugal. Boa sorte.
Os comentadores da praxe podem dar a volta que quiserem à lábia. Estão em choque após a noite eleitoral de ontem. Estão a apanhar os cacos da sua arrogância e das suas certezas absolutas. O Chega é filho de uma família disfuncional. E chegou à idade adulta. Tem como pai o Partido Socialista que passou os últimos oito anos a ignorar as queixas existenciais dos Portugueses. Tem como madrinha os media que tentaram castigar o menino, trancando-o num quarto escuro, sem que tivesse direito a recreio. E ainda insistem em ostracizar aquele que apenas espelhou o estado de alma de um milhão de cidadãos. Ventura realizou o milagre da sua multiplicação, de 1 para 12, e agora para 48 deputados. Não é pouca coisa e já não pode ser encostado a um canto do Parlamento. Gostem ou não, cause-lhes comichão democrática ou não, os outros partidos, incluindo o vencedor númerico da noite de ontem, estão obrigados ao diálogo, à argumentação e à negociação. Se insistirem no cordão sanitário arriscam-se a ver um partido com uma maioria de facto nas próximas eleições, que alguns como o Pedro Nuno Santos anseiam para que sucedam (as eleições!), ainda antes do Natal, para abater de uma vez por todas (pensa ele...) o peru da direita. A Aliança Democrática (AD) atirou tinta ao Chega. Recusa ajuizar com uma força política que nunca antes governou. Mas faz mal. O Chega é um partido teórico, sem cadastro, a partir do qual não se podem extrair certezas sobre o que fará, se ainda não há nada que tenha feito digno desse nome. Se é um governo minoritário que Montenegro deseja validar, deve aproveitar essa vontade para demonstrar que o processo governativo deve estabelecer pontes com aqueles que são considerados infecciosos, anti-democráticos. Se é o Orçamento que Pedro Nuno Santos aguarda para que o governo da AD caia, não passa de uma jogada oportunista, igual a tantas outras a que nos habituaram os socialistas. Não é esse o caminho. Não há volta a dar. O Chega passou de canário na mina a elefante na sala. Agora resta ver se Portugal chegou à idade adulta democrática após 50 anos de crescimento. E com isto tudo esqueci-me de falar do padrinho do Chega — Marcelo Rebelo de Sousa. Mas teremos o aniversário da prima para discorrer sobre o presidente de república democrática portuguesa.
De maneiras que é assim, de acordo com Pedro Nunca Santos: vota como eu digo que vou fazer e não como não fiz enquanto lá estive. Basicamente, é este o mantra do candidato-socialista. O secretário-geral-ex-ministro-demitido é também juiz desembargador do supremo tribunal da memória ténue dos eleitores hipnotozados. Fez delete do seu cadastro enquanto governante de pastas e afins. Serve-se do mata-borradas para eliminar gralhas de ingestão política. E agora quer renascer, mas não se diz ressuscitado. Faz fé cega na carreira que saiu da plataforma da geringonça e que descarrilou no apeadeiro da maioria absoluta. O homem não consegue lipoaspirar-se, mas diz que já fez a dieta necessária. Identificou as verrugas que sobraram da cirurgia plástica para embelezar os últimos oito anos e afirma ter no bolso uma lima para desbastar as agruras. Este post é dirigido aos militantes-camaradas socialistas. Mas não é dirigido por mim. É take-away ou Uber político cuja plataforma de distribuição assenta arraial no Largo do Rato, onde uma poderosa máquina de comunicação há 50 anos tem vindo a aperfeiçoar o desempenho dos bytes de propaganda. Deveriamos estar a lamentar meio século de usurpação da coisa pública pelo Partido Socialista. A subtração que fizeram ao povo Português. Porque tiraram mais do que deram, embora afirmem o contrário. Não foram oito anos de governação. Foram muitos mais. Mas para contas certas é melhor pedir ao secretário-geral. Ao outro. O da ONU.
crédito imagem: Horácio Villalobos/Cerbis via Getty Images
Já que estamos numa de comentadores a tempo inteiro nas TVs, com paleio previsível e tantos a recibos-rosa, penso que seria extremamente agradável ampliar o âmbito da questão. Onde está o cigano-comentador? Onde pára o bangladeshi a caminho da cidadania portuguesa? E o cabo-verdiano que já cá está há meio século? Não me lembro de ter visto um debate com indivíduos que são destinatários do (des)contrato social. Rousseau refere a participação dos destinatários da solução contratual na sua formulação — o que designa de volonté générale. Seria deveras educativo e interessante escutar aqueles contemplados por soluções governativas em relação às quais não têm direito de produção ou de voto. Certamente que terão opinião. Sim, este post é uma provocação para acicatar os ânimos e as razões daqueles que se dizem paladinos das garantias daqueles que vivem na república. Se a imigração e a perda da identidade nacional são temas quentes, seria muito elucidativo escutar os excêntricos para podermos tirar as medidas das ilusões, dos enganos e, de um modo mais importante, dos factos. O comentariado em Portugal é cinzentão e pouco ousado. Ainda remanescem uns dias para angariar matéria relevante que possa ser colocada a discussão para gerar controvérsia construtiva. Mas pelo andar da CP, as forças que fazem pouca-guerra ideológica parecem ser as mesmas que dominam a paisagem discursiva desde a fundação democrática de Portugal. É melhor ficarmos quietos. É preferível que não se mexam. Daqui não saio, daqui ninguém me irra. Quanto aos candidatos — muito gostam eles de ir ao bairro étnico ou visitar comunidades portuguesas no estrangeiro para demonstrar solidariedades diversas.
Rui Tavares, dentro da tradição falida dos marxistas, avança com uma proposta que equivale a um assalto à mão armada. A "herança social" — designação livre do deserdado político Tavares, é uma afronta à ideia de geração de riqueza e a sua transferência geracional. Os portugueses devem sentir esta ameaça como credível. Quando o estado socialista falha, a solução passa por subtrair a quem árdua e eticamente acumulou um pé de meia. As grandes fortunas que Tavares fantasia não caíram de paraquedas. Foram fruto de vidas intensas, de planos que implicaram sacrifícios, mas sobretudo de uma visão estratégica — algo de que carece Tavares. A medida punitiva proposta traduz-se no confisco alheio, na desconsideração pela inevitabilidade capitalista dos seus camaradas. A loucura do seu plano de roubo tem implicações comportamentais graves. O cidadão, instigado pelo medo da perda, terá mais propensão a gastar tudo no imediato: chapa ganha chapa gasta. Estará mais inclinado a desconsiderar a descendência, a abandoná-la à porta da escola pública ou do centro de saúde que existe num reino de utopia de dinheiros arrestados. Se o Tavares tivesse juízo teria congeminado algo exequível como um plano de promoção para a razoabilidade dos investimentos do Estado. Porque, em última instância, este tipo de pensamento de carteirista é fruto de uma tripla falência: a falência do Estado, a falência do governo e a falência cognitiva de extremistas, de esquerdistas radicais. Tudo isto sugere algo acontecido sob os auspícios de um regime do século passado — o roubo odioso e o saque vil de cidadãos abastados.
Sabemos desde sempre que a política e a encenação teatral andam de mãos dadas. Francamente esperava mais criatividade do grupo incompleto de artistas que se apresentou sob a batuta do falso maestro Daniel Oliveira nas escadarias da Assembleia da República. A papoila a sugerir o cravo e a certeza dos artistas que dizem ter as ferramentas para desencravar a besta do poder. Quantos mais melhor? - é o que diz Daniel Oliveira. Duvido. Bem pelo contrário. Poucos mas bons. Raros mas selectos. Salientar a “diversidade profissional, regional, etária e a paridade de género” (?). Porquê? Isso seria expectável e normal numa democracia representativa. Ao ver e escutar os depoimentos de "figuras de destaque" (palavras do jornalista da SIC) fico com a impressão de que estes artistas não têm onde cair mortos. Género: "bué da fixe, até gostava de ser deputado", "não sei se sou competente, mas logo se vê". O problema desta malta é sinceramente pensar que é melhor que a populaça que não bebeu, por exemplo, nas doutrinas de intervenção, à Otto Muehl, o enfant-terrible da cena vienense, caído em desgraça por práticas menos consensuais. Ao escutar e ver o coro que ontem se apresentou aos portugueses em espectáculo-inédito-graçola-de-10-de-Junho-dia-de-Portugal, senti a presença de Brecht ou Grotowski, e pensei que talvez não estivesse a ser justo. Aquele aglomerado de gente poderia muito bem servir para fundar uma nova companhia teatral. O tempo das representações e religiões políticas já não serve as nossas causas (aconselho a leitura de Voegelin). Generalizações sobre paz e justiça são fáceis de deitar boca fora. Difícil mesmo é apresentar soluções concretas. Não gostei da peça. Foi francamente de baixo nível. O guião inexistente e os actores com sintomas de grande desmotivação. Não, não estamos livres. Nem é tempo para dançar com coisas sérias.