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Inicio este post com um disclaimer (logo dois termos em inglés, que maravilha!): não é este o mundo que eu desejo, MAS, o que aí vem é inevitável se os governos pretenderem exercer uma das suas prerrogativas - garantir a segurança dos seus cidadãos. Embora haja a tentação do discurso integracionista do chá das cinco, que se inspira nos cânticos da multiculturalidade e da semelhança dos próximos, a verdade é que a crueza dos factos determinará outras sortes. Iremos assistir à israelização securitária das metrópoles, à instalação de checkpoints em pontos nevrálgicos das cidades europeias e acessos às mesmas, a acções de varrimento percepcionadas como aleatórias, à proliferação de uma administração policial com mais poderes discricionários e autonomia no que diz respeito à tomada de decisões, à intensificação de processos sumários judiciais legalmente enquadrados, ao desenvolvimento do conceito de vigilantes de bairro, à integração europeia de agências de inteligência e ao desenvolvimento de tecnologias de track and trace de potenciais terroristas que serão monitorizados preventivamente. Bem-vindos ao mundo novo, orwelliano dirão alguns, mas sustentado na noção de lesser evil, e provavelmente justificável. A questão que se coloca diz respeito à sobrevivência civilizacional, a liberdades e garantias, à democracia. Enquanto gira a tômbola do próximo ataque terrorista, decisões incómodas terão de ser tomadas, custe a quem custar, doa a quem doer. Estas noções transcendem ideologias ou posicionamentos partidários. Os ataques terroristas produzirão, com variantes discutíveis, um alinhamento político inédito. A Esquerda e a Direita, o norte e o sul, terão de concordar. O inimigo irá gerar consensos improváveis, mas necessários. Obrigatórios. Será uma escolha entre o chá das cinco e as facas longas.
Via O Insurgente, um excelente artigo de Gary North, de que destaco o seguinte:
Understand what has happened in 2011 in Great Britain. This is not social revolution. There is no list of grievances. There are no spokesmen. This is well-organized banditry. This is the most dangerous of all mobs: one without a leader to negotiate with or arrest.
Why the riots? The Left's party line never changes: not enough jobs, not enough state welfare. You can read it here. The article says the riots may be coming to the United States. I thoroughly agree.
I have a different analysis regarding the causes. First, there is state-funded education, k-12 (or dropping out). Second, there are minimum wage laws, which hit black teenage males most of all. Third, there is a complete breakdown of families, subsidized by state welfare. Fourth, there is envy. Fifth, there is jealousy. Sixth, the cost of organizing violence is falling steadily. The fun and excitement of violence are tempting to young men with no roots and no fathers at home. When you have a falling price for a forbidden fruit, you get riots. Combine it with racial hatred and a life of envy, and you get riots.
The jealous steal. The envious burn. They're already in a city near you.
There will be an incident. There always is.
There may be a riot. If there is, governments will react. Freedoms will be removed. Voters will cheer.
Violence feeds on itself.
(Fotografia do Telegraph)
É curioso assistir ao debate ideológico quanto aos distúrbios em Londres. A maior parte dos analistas não vai além da superfície nem se apercebe que o seu quadro explicativo está pelo menos ultrapassado, se não mesmo errado, distorcendo a realidade para que esta se possa encaixar nas suas lentes redutoras e interpretações guiadas por motivos de carácter pessoal e agendas políticas pouco escondidas, para que se possam justificar as teorias baseadas no mito do bom selvagem e na falácia do nascido livre.
Ler John Gray (“Gray’s Anatomy”, que referi, por exemplo, aqui) e Roger Scruton (“As Vantagens do Pessimismo”) ajuda a perceber o que se está a passar, especialmente este último, que no capítulo intitulado precisamente “A falácia do nascido livre” evidencia a degenerescência do sistema educacional britânico, fruto da sujeição às progressistas teorias do eduquês, onde o professor não é professor, não lhe competindo transmitir conhecimento e muito menos valores éticos, mas simplesmente ser amigo e compreensivo para com as expressões individuais dos alunos, como se estes não tivessem que ser enquadrados pela sociedade, devendo ser esta a curvar-se perante os seus caprichos.
Obviamente que, juntando a isto a guetização social promovida pela social-democracia, esta é a receita perfeita para criar indivíduos que vivem mentalmente à margem da sociedade, não acolhendo os valores desta e desrespeitando-a sem qualquer pudor. Não deixa de ser paradoxal, como Scruton assinala, que os valores liberais fossem responsáveis por um sistema de educação que promovia verdadeiramente a tão propalada igualdade de oportunidades – ele próprio exemplo disso, sendo de origens humildes, tendo frequentado um liceu público e conseguido entrar na Universidade de Cambridge –, ao passo que as modernas teorias progressistas, quando acolhidas no sistema educacional britânico, foram a pedra de toque para a degenerescência deste, que fica bem patente naquele que é o melhor texto que li até ao momento sobre o assunto.
Entre a violência inerente ao Homem em que os pessimistas antropológicos crêem, o hobbesiano estado de natureza onde a violência e o desrespeito pela propriedade privada e alheia são a regra, e a teorização de Le Bon e Freud sobre as multidões, talvez a explicação para o que se passa em Londres seja mais simples do que crêem as esquerdistas teorias sociológicas de literatura de justificação, que nem chegam a ser de explicação mas apenas de desculpabilização – as mesmas que são responsáveis pela já referida degenerescência do sistema educacional, pelo relativismo moral, fragmentação ética e desrespeito pela autoridade.
Recordo as aulas do meu primeiro ano de licenciatura, quando aprendi que Le Bon e Freud explicaram que nas multidões acontece uma perda de discernimento e da vontade própria individual, dissolvendo-se os indivíduos numa massa, acabando estes por regredir até um estado mental primitivo onde predomina o inconsciente, que permite aceitar sem entraves as ideias que passam dos líderes para a massa. Freud explica este processo pela regressão da libido, em que cada indivíduo acaba por estar relacionado com os outros através de laços libidinais. A massa adquire desta forma um sentimento de invencibilidade, precisamente pela regressão mental que ocorre, sendo extremamente sugestionável, pelo que tão facilmente pode ser heróica quanto criminosa.
As teorias esquerdistas que pretendem explicar fenómenos como os de Londres centram-se em generalizações assentes no descontentamento social gerado pela exploração do indivíduo pela sociedade capitalista, como se cada indivíduo pudesse ser reduzido a um perfil assente em meia dúzia de traços de carácter e introduzido num grupo composto por outros indivíduos com experiências pessoais idênticas, perfis similares e, derivado disto, propósitos comuns e bem definidos, ou seja, uma ordem de organização. Mas aquilo a que assistimos é a uma ordem espontânea de violência e pilhagem, onde há perfis individuais muito diversos e onde não há uma causa, um propósito comum bem definido para o qual todos os elementos da ordem trabalham, mas apenas um objectivo abstracto que pode nem se encontrar articulado e explícito na mente de muitos dos indivíduos que compõem a massa: desafiar a autoridade do Estado. O que se observa são indivíduos que se consideram na liberdade de fazer tudo (a falácia do nascido livre), destruindo e pilhando propriedade alheia, acabando esta ordem espontânea por reconciliar os propósitos isolados de cada um deles. Uns roubam produtos electrónicos, outros roubam cosméticos, outros obrigam quem se lhes atravesse no caminho a despir-se e roubam as roupas. Outros há que preferem descarregar a sua fúria nos agentes policiais, nos carros que encontram e nas montras, partindo tudo. No meio disto, a desculpa de que a violência foi gerada pela morte de um criminoso às mãos da polícia, apresenta-se como muito fraca e mesmo inválida se pensarmos que Londres é uma cidade com um elevado grau de criminalidade, onde diariamente ocorrem homicídios.
Por outro lado, muitos, em especial à direita, preferem apontar o multiculturalismo como estando na origem deste fenómeno, proclamando o seu fim. Na minha modesta opinião, parece-me precisamente o contrário e que, aliás, estamos perante um triunfo do multiculturalismo. É curioso que observemos jovens brancos e pretos juntos nestes distúrbios a destruírem indiferenciadamente as montras que lhes aparecem pela frente, de onde não escapam, por exemplo, as lojas de indianos. Por outro lado, vemos também indivíduos das mais diversas etnias juntos em operações de limpeza da cidade. Julgo, por isso, que o multiculturalismo não é tido nem achado neste fenómeno, a não ser para evidenciar o seu triunfo. Neste caso, o multiculturalismo não explica as clivagens e a violência, que também apenas em parte podem ser explicadas em virtude das condições sociais e falta de perspectivas de emprego. Se é certo que alguns destes jovens terão razões para tal, também é certo que adolescentes de 13 ou 14 anos não têm qualquer consciência sobre isto, assim como muitos dos participantes que já foram detidos são estudantes universitários ou até já têm emprego.
Resumindo e finalizando, talvez as teorias explicativas clássicas, à esquerda à direita, com as suas generalizações não aplicáveis neste caso, estejam desactualizadas e não nos permitam explicar e compreender de forma significativa o fenómeno dos tumultos em Inglaterra. Trata-se apenas de uma amálgama de jovens que se sentem invencíveis e cheios de adrenalina ao desafiar a autoridade do Estado e violar e pilhar a propriedade privada e pública, o que é um sub-produto do relativismo moral que se apoderou do sistema educacional, da demissão dos pais do processo de inculcamento dos valores da sociedade nos filhos e da guetização. David Cameron tem uma excelente oportunidade para mostrar do que é feito e enviar uma forte mensagem a todo o Ocidente. Aguardemos para ver as cenas dos próximos capítulos.
Definitivamente perderam todo o "receio" de aparecer às claras. Falo dos OVNIs que, agora, se dão a conhecer em plena Londres à luz do dia! Cuidado, eles "andem" aí!
Era o meu primeiro aniversário que ele passava longe; e ele era o meu irmão mais velho, que, no início desse ano, tinha ido estudar para Lisboa. Nesse dia recebi das mãos do senhor Hernani, o carteiro, um envelope amarelo, que ainda hoje guardo, e, dentro dele um postal com umas bailarinas vestidas de azul, retratadas num momento de descanso. No verso da imagem um nome, de que nunca ouvira falar: Degas. Fora ele que mo enviara.
Anos mais tarde, numa ida a Londres, na fila para entrar na National Gallery, vi que, além da exposição permanente, tinha, a troco de umas poucas libras, a possibilidade de visitar uma mostra da obra toda do pintor - claro que não desperdicei a oportunidade, pelo que, dessa vez, muito do tempo passado no museu foi a admirar as suas pinturas, mas também as esculturas que, li no catálogo que acompanhava o bilhete, vinham de vários outros museus, para, no que seria talvez um momento raro, reunir todo o trabalho de uma vida.
No fim, depois de ver a exposição a ele dedicada, pouco tempo sobejou para ver alguma coisa da exposição residente, pelo que pensei ter encontrado um bom pretexto para voltar a Londres.
Andava no Liceu quando um amigo me ofereceu um livro de Virginia Woolf - «Orlando. Uma Biografia ». Como nunca ouvira falar de tal escritora, interroguei-o Quem era ela ?; que pertencera a um marcante grupo literário inglês: o grupo de Bloomsbury. Lembro-me de que na altura procurei saber um pouco mais, e ficou a promessa de que, se algum dia fosse a Londres tentaria encontrar essa parte da capital inglesa, que me pareceu digna de visita, e esqueci o assunto.
Na primeira vez que lá fui, as prioridades foram outras, pelo que o encontro ficava adiado, mas quando lá voltei não podia protelá-lo mais, até porque, entretanto, soubera que aí se encontrava o Museu Britânico, que toda a gente me dizia ser imperdível.
Do hotel dirigi-me directamente ao museu, pensando deixar para a parte de tarde a visita à praça, que sabia já, por fotografias, ser bonita, e arredores.
Mas as contas saíram-me furadas, pois que só saí do edifício pouco antes de encerrar: tudo me fascinava...
Comecei por visitar uma exposição especial dedicada à Pedra Roseta, onde logo encontrei uma senhora portuguesa com os quatro filhos, todos pequenos. Encantou-me a curiosidade deles e a acutilância das suas perguntas - via-se que se tratava de crianças habituadas a visitar museus. Seguiu-se a Sala Egípcia, as Gregas ( com os maravilhosos mármores de Elgin ) e tantas mais. Cansada, mas satisfeita.
No dia seguinte, depois de uma noite de descanso dos pés maltratados, dirigi-me então ao bairro cheio de praças ajardinadas, sem falhar uma visita aos vários Departamentos Universitários ali ao lado...
Pego no belo e nostálgico post do Nuno sobre os coretos de Lisboa - em Carnide, onde vivi uns anos, havia um, mas nunca lá vi uma banda a tocar ( e por cá passa-se a mesma coisa: lembro-me de, em criança, todos os Domingos ir ouvir a banda, muito boa aliás, e que agora, todos os anos, só oiço quando vem cá a casa tocar as Janeiras ) -, para fazer mais uma incursão pelo que de bonito retive da capital inglesa: era Domingo, e depois de passear pelas ruas de Londres fui sentar-me frente ao lago, no Hyde Park, apreciar os movimentos elegantes dos cisnes, quando ouvi, ao longe, o som de metais. Fui ver de onde provinha, e deparei com muita gente sentada em frente ao coreto, onde uma banda tocava « Pompa e Circunstância », de Elgar. Não era a primeira música que tocava, mas sentei-me na relva a ouvir o resto do concerto, que lembro ter acabado com « God Save The Queen », com toda a gente, respeitosamente, de pé.
( Hardy cottage - Dorchester,Dorset )
a livraria de Charing Cross Road, que, a propósito de saudades de Londres , veio a talho de foice na caixa de comentários, fui reler o livro que de Thomas Hardy lá adquiri, « Winter Words », um livro de poesia em que Dorset, a sua região natal está sempre presente.
Li aí que o escritor - autor mais conhecido, talvez, pelo romance « Tess d'Urbervilles », que esteve na origem do filme, com o mesmo nome, protagonizado por Nastassja Kinski, nasceu no dia 2 de Junho de 1840, ele que mais do que novelista se considerava Poeta...
Estava, pois, muito claro na minha cabeça: Londres seria o destino primeiro de uma provável futura viagem - sabia-o, ou antes, desejava-o - desde pequena.
E quando tal se propiciou, lá fui à agência de viagens, cheia de expectativas, mas também de receios: era a primeira vez que ia ao Estrangeiro sozinha!, razão porque tratei que alguém da agência inglesa me fosse buscar ao aeroporto.
Chegada a Gatwick, logo encontrei o meu " salvador "...
À medida que íamos atravessando a cidade, ia-me apontando : este é o Hyde Park, o Serpentine, ali o Marble Arch...e eu a dizer-lhe, mais uma vez, que estava a realizar um sonho de criança...; simpático, ria-se deste meu deslumbramento.
Como era cedo ainda, e o Hotel, vi no mapa, não ficava longe de Charing Cross Road, fui procurar a para mim já mítica Marks & Co., onde vira Anthony Hopkins vender livros raros. Já lá não estava, mas depressa vi que , se quisesse, facilmente me podia perder entre livros, não raros, certamente, mas ainda assim muitos livros...
Apreciadora de biografias, não me foi muito difícil optar por uma de Jane Austen, que comecei a ler naquele mesmo dia, continuei a ler sentada na relva dos parques londrinos, e viria acabar já em Portugal. A Jane Austen que, dois anos depois, esteve na origem desta viagem...
Talvez porque uma irmã vai amanhã para Londres, e morro de inveja dela, tento revisitá-la com a ajuda da memória, reconstituir aquela que foi a minha primeira visita à cidade do Big Ben.
E porque já estamos no dia em que se comemora O Dia da Vitória, tão intimamente ligado ao homem de génio que foi o Primeiro Ministro britânico da altura, passo directamente ao segundo da minha estadia.
Munida de mapa e de guia dirigi-me ao edifício onde então funcionava o War Cabinet, ao lado do qual se encontrava agora o Churchill Museum. Lembro ter sentido essa visita de uma forma quase eufórica: estava a ver " in loco " um sítio que sempre me fascinara, desde que comecei a interesssar-me pela II Guerra Mundial, e isso fora muito tempo antes, quando na Normandia visitei o Museu do Desembarque, em Arromanches.
E foi com emoção que lembrei as palavras então por ele ditas: « Nada tenho a oferecer a não ser sangue, esforço, suor e lágrimas ».
está cansado da vida », terá dito Samuel Johnson.
E eu penso que tinha razão em assim falar, Daniel.
Desde que comecei a ler coisas sobre Londres, sobre a Grã-Bretanha, da sua história, com momentos sanguinolentos, como todas, mas com momentos de grande glória, também, que comecei a ver filmes lá rodados, as inigualáveis séries da BBC, a ver as fotografias tiradas por quem já lá tinha ido, ficou bem assente na minha cabeça que seria essa a minha primeira viagem ao estrangeiro, quando adulta. E desde então já lá voltei, e a partir da cidade visitei outras regiões, sempre com o maior dos proveitos.
Agora costumo dizer que só espero o fim da crise para a ela voltar. Por isso compreendo muito bem o seu comentário " Também quero ir a Londres..."
ao pós - 2ª guerra mundial -, esperança de encontrar alguma coisa da livraria onde Anthony Hopkins manuseava aqueles livros raros, os quais tinham sido a origem da amizade, que nunca passara além de uma correspondência epistolar, mantida durante vinte anos, com uma escritora do outro lado do Atlântico.
Por isso, quando cheguei a Londres, e logo me dirigi a Charing Cross Road, a decepção foi inevitável: livrarias, muitas, mas nenhuma como a dos meus encantos.
Apenas uma placa a confirmar que a Marks & Co. existira mesmo...