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Tenho alguma dificuldade em ser imparcial e equidistante em relação a alguém com responsabilidade directa em certos estados de arte. Não se pode aparecer altivo e sereno no comentário televisivo sem o mínimo de pudor político. Vem isto a propósito da demolição de barracas no concelho de Loures. Concelho que esteve às ordens de Bernardino Soares durante oito anos. Não se trata apenas de um problema de habitação, de barracas. Tem a ver com o desperdício, o esbanjar da posição política para resolver desafios económicos e sociais. O homem esteve lá oito anos, não oito semanas e meia — tempo suficiente para castrar o problema. O fenómeno é transversal a partidos e ideologias. Neste caso lidamos com a Esquerda cerrada, aquela intransigente e imune a contaminações — o Partido Comunista Português. Não vi, nas televisões, em directo ou em diferido, um ou uma camarada a dar o corpo às balas ao lado dos (ex) moradores. Pois. Não daria muito jeito. E ocorre-me ainda outra falência moral. O atacar da franja mais desfavorecida da sociedade, famílias declaradamente depauperadas, mas que preservam intacto o sonho de possuirem uma casa. As barracas são um esquisso arquitéctonico. Assentam na premissa do tecto sobre a cabeça, e um soalho sobre o qual assentam ladrilhos de desejos. As imagens a que assistimos sugerem uma micropipeta de Gaza. Um emaranhado de latão e pladur. É preciso ter lata para avançar com a remoção coerciva de pessoas sem o mínimo de respeitabilidade, de dignidade. Sabemos que quem agora lidera as hostes daquele concelho são os socialistas, que também são artistas demagógicos, que viram a cara às responsabilidades quando não lhes é oportuno. As perguntas que se impõem com naturalidade — qual a urgência topológica da limpeza dos terrenos? A quem pertencem? E será que está na calha um novo empreendimento imobiliário naquele local? Por onde andam os verdadeiros jornalistas? Não sei. Apenas sei que o Bernardino não vai em conversas de barraca. Prefere ficar refastelado na poltrona como se nada fosse com ele. Mas teve tudo a ver. E ainda tem. Bernardino Soares é um dos problemáticos das barracas de Loures.
Alguém devia dizer aos líderes do PCP que agitar os fantasmas do "fascismo", "extrema-direita" e "Salazar" contra tudo o que se lhes oponha ou os critique já não resulta enquanto estratégia discursiva, pelo que talvez esteja na hora de pensarem em mudar de cassete. De resto, Bernardino e Jerónimo fizeram o que todos fazem, que aparentemente até pode ser legal, mas é eticamente reprovável. O busílis da questão reside, tal como no caso Robles, na hipocrisia de os líderes do PCP recorrerem frequentemente, no debate político, a uma auto-proclamada superioridade moral, que é contrariada pelas práticas próprias em que utilizam o mesmo tipo de expedientes que muitos outros alvos habituais das suas críticas. Diz-me a minha intuição, aliás, que investigações e auditorias a muitas Câmaras Municipais com executivos comunistas provavelmente revelariam infindas situações congéneres.