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Lula, Feijão e Arroz

por John Wolf, em 09.04.18

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Quando jornalismo se traduz em minudências e insignificâncias deixa de ser jornalismo. Passa a ser uma ementa grosseira, uma reles lista de supermercado. Pensava eu que era apenas a TVI a desviar a atenção dos factos, mas estava redondamente enganado. O Jornal Sol descreve em detalhe o décor da novela da prisão de Lula, mas não ficamos a saber no artigo o mais importante de tudo: as acusações de corrupção que pendem sobre o senhor. Sabemos que mastiga o pão e sorve o café. Sabemos que o seu clube Corinthians não deixou de ter o seu apoio. Sabemos que tem uma sanita e um chuveiro para a higiene confinada a uma cela. Sabemos que um repasto de carne assada, arroz com feijão e macarrão serve para encher o bandulho. E sabemos que não se esqueceram do chuchu. Não sei quem dá as ordens na redacção do jornal Sol, se é o Saraiva grande ou o Saraiva júnior, mas esta peça está ao nível da sarjeta. Mas bate tudo certo. Já tivemos o Sócrates a analisar a vida de gangues e malfeitores, já tivemos o Bruno de Carvalho com um torcicolo verbal e espasmos lombares. O que se seguirá? O que vamos ter de levar de frente, de chapão, na fuça?

publicado às 19:39

Os putos andaram a pedí-las

por John Wolf, em 13.07.17

 

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Uma coisa é receber um presente embrulhado sem pedir a quem quer que seja (e devolvê-lo!!!). Outra coisa é ser chulo e andar a angariar borlas. Os três secretários de Estado somados não dão grande coisa, mas são efectivamente sujeitos activos desta corrupçãozeca se, o que tudo parece confirmar, andaram a pedir benesses. Sabemos que a geringonça também fez uma viagem de borla do Parlamento para o Governo, que multiplicou um bilhete por três passageiros, e que a constituição da república portuguesa contempla essa possibilidade. Contudo o que está em causa tem a ver com a escala ética. Se três badamecos não se poupam a esforços para ganhar uns cupões da treta, imaginem o que fariam por um prémio maior? A Ética é uma apenas. E não é republicana nem parlamentar. Tem a ver com o sentido de correcção que faz parte do âmago de alguns indivíduos (e de outros nem por isso). O problema é o processo patológico que conduz à lula que escorrega pela goela abaixo, que nos faz passear de Castelo Branco a Paris com a soberba enfiada na casaca. Porque, de robalo em robalo, de selecção nacional em selecção irracional, os políticos revelam a sua genuína ambição arrivista, de regalia VIP e aparência fatela. O poder, pequeno ou farto, confirma a natureza trauliteira dos candidatos. No fundo, estes três mosquiteiros foram apanhados pela picada da sua pequenez. A etiqueta que os acompanha nem chega a ser um preço, não tem valor. É uma divisa miserável.

 

foto: crédito agência LUSA

publicado às 16:25

Sócrates - belo, Belino...

por John Wolf, em 20.05.17

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José Sócrates foi o principal beneficiário do mundo do espectáculo e das artes. Recuando quase um ano, o campeonato europeu de futebol e a vitória da selecção nacional, foi um biombo perfeito para distrair o povo da sua provação judicial. Depois houve o Web Summit e nunca mais apareceu o insulta-jornalistas João Araújo. Entretanto houve o build-up da visita do Papa, a peregrinação a Fátima e ainda a febre do festival eurovisão da canção. Ou seja, Sócrates teve tantas atenuantes mediáticas, mas nada disse a esse propósito. Não concedeu uma entrevista sequer a reclamar da falta de atenção das televisões. Não assinou mais uma obra literária que esgotasse na aurora da sua publicação. Por outras palavras, com tanto tempo de folga, de baixa mediática, não foi capaz de se defender cabalmente das injúrias e mentiras. A fundação Belino que agora surge em primeiro plano nos escaparates não deveria ter aparecido. Nos bastidores das várias cantigas de distracção que assoláram o país, Sócrates não soube aproveitar os bónus como António Costa o fez. O primeiro-ministro, nesta onda hipnótica de comendas parlamentares, fados e futebol, conseguiu convencer Portugal inteiro que este já estava totalmente curado das maleitas económicas e sociais. O chefe da Geringonça teve a arte de dissimular a tempestade residente da dívida pública, e fingir os números de crescimento económico à pala de flacidez no investimento público - o povo engoliu a dois. Francamente. José Sócrates, que andou na mesma escola, não soube desmontar a cabala da Fundação Belino que segundo as suas visões seria natural que aparecesse. Ainda não tivemos uma conferência de imprensa onde Sócrates pudesse refutar tudo, mas pouco falta. Ainda esta noite, aposto, teremos um porta-voz jurídico a desmontar a ficção da fundação suiça. Não esqueçamos que as fundações são uma invenção dos socialistas. Uma espécie de cooperativa de interesses, com tesourarias e divisas próprias. Belo, Belino -  Lula, Dilma e Temer também não ajudam nada. Resta apenas o Salvador.

publicado às 14:53

Os filhos rebeldes

por João Pinto Bastos, em 20.06.13

 

Muito se tem escrito a propósito dos protestos brasileiros. De facto, no oásis de prosperidade que tem sido o Brasil da última década nada fazia prever a irrupção de um movimento de protesto social desta escala. Porém, se deixarmos de lado as análises meramente perfunctórias das causas deste tumulto, verificaremos, com alguma facilidade, que o milagre brasileiro dispõe de alguns escolhos de difícil resolução. Para começar, o crescimento económico verificado nos últimos anos deveu-se, fundamentalmente, a uma conjunção de factores dificilmente repetível. Por um lado, houve o boom das "commodities", que o Brasil explorou da melhor forma, exportando uma gama infindável de produtos agrícolas para a China e para os outros países emergentes, por outro, houve a prossecução de uma política macroeconómica ortodoxa, que reuniu sob a capa de um amplo consenso político os dois grandes pólos políticos do país: o PT e o PSDB. Já escrevi aqui que o maior feito dos governos Lula foi a moderação da esquerda brasileira, o que passou, em larga medida, pelo "aggiornamento" de um partido, o PT, que baseou grande parte da sua existência política a contestar as forças "demoníacas" do capitalismo. Hoje, ainda que com algumas nuances, o PT já consegue lidar, com alguma desenvoltura, com os mecanismos fundamentais de uma economia de mercado. O maior responsável dessa renovação ideológica foi, sem dúvida alguma, o ex-presidente Lula da Silva. O consenso que animou os últimos anos não nasceu no vácuo, pois teve muitos responsáveis, alguns deles tristemente esquecidos - sim, falo de FHC, um verdadeiro estadista, que foi, como se sabe, o grande obreiro da felicidade lulista, ao ter cimentado as bases da institucionalidade democrática do país -, e teve, sobretudo, a chancela de um político bastante carismático, que ainda hoje é visto por muitos como uma espécie de reserva política da nação. Todavia, houve neste percurso de altos e baixos a concretização, consciente e premeditada, de alguns erros de palmatória, cujas consequências estão, neste momento, à vista de toda a gente. O investimento público desenfreado, refém de um keynesianismo bastardo (vide as obras do Mundial e dos Jogos Olímpicos), o proteccionismo social em excesso ( o programa Bolsa Família e afins), e a consecução de um modelo dirigista na economia, ajudam a perceber o porquê de a economia brasileira ter abrandado subitamente. A inflação voltou a subir, e o crédito, alavancado por uma classe média em crescimento aumentou em demasia. Os resultados estão à vista: a economia estagnou, a rede infraestrutural do país continua a ser deficitária, e o Estado, fremente de impostos e altamente burocratizado, entrava o florescimento da livre iniciativa. O PT, por defeito ideológico, não conseguiu tornear estes problemas. É certo que, como já referi, houve um compromisso expresso do PT com a alta finança internacional, porém, esse acordo não incluiu, nas suas "cláusulas", a desestatização absoluta da economia. É, pois, neste contexto que surgem os gigantescos protestos que tomaram conta das parangonas dos media internacionais. Tudo começou com o preço dos transportes públicos em São Paulo, o verdadeiro leit-motiv inicial do protesto popular. Posteriormente, o movimento de protesto disseminou-se um pouco por todo o país, fruto de um sentimento difuso de insatisfação. Como escreveu Juan Arias no El Pais, o que alenta este mar de gente é o desejo de desfrutar de tudo o que é normal e corrente nas democracias do chamado primeiro mundo. As dores do desenvolvimento chegaram, finalmente, a terras de Vera Cruz. Para as classes médias do Rio ou de São Paulo o acesso ao crédito e aos bens de consumo correntes deixou de ser uma quimera, sendo que o que lhes importa agora é a mudança no modo coronelístico de fazer política e o fim da corrupção. São desejos que, para alguns, são, pura e simplesmente, irrealizáveis. A verdade é que o Brasil, passados 28 anos da redemocratização, enfrenta, decididamente, um desafio de modernidade. A resposta dependerá, em grande medida, da força da cidadania. Com ela, e apenas com ela, é que se cumprirá o futuro que Zweig profetizou.

publicado às 01:15






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