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Enquanto a minha mulher arranjava o cabelo (actividade quinzenal demorada), aproveitei a lindíssima tarde de hoje para ir até à margem norte do Tejo entre a ponte Vasco da Gama e a foz do Trancão e maravilhei-me com a dúzia de flamingos e um punhado de pequenos pássaros (garças?) ali a talvez não mais que 50 metros de mim. A luz, para mais, era esplendorosa e eu tinha duas horas. Gastei-as a ler o ensaio de José Manuel Fernandes, distribuído hoje com o Público, intitulado "Liberdade e Informação" que aproveito para recomendar especialmente àqueles, como eu, que não conhecem a história do jornalismo.

 

Nas páginas 52 e 53, José Manuel Fernandes evoca um episódio (pelos vistos clássico, ainda que só agora o tenha descoberto) na relação entre o jornalismo e o Poder. Resume-se na sucessão de títulos que o jornal realista Le Moniteur vai exibindo à medida que Napoleão Bonaparte, desembarcando no sul de França vindo do exílio na ilha de Elba, se aproxima de Paris: «O antropófago saiu do seu covil»; «O ogre da Córsega acaba de desembarcar no golfo Juan»; «O monstro dormiu em Grenoble»; «O tirano atravessou Lyon»; «O usurpador foi visto a 60 léguas da capital»; «Bonaparte avança a grandes passos, mas nunca entrará em Paris»; «Napoleão chegará amanhã às nossas muralhas»; «O Imperador chegou a Fontainebleau»; «Sua Majestade Imperial fez a sua entrada no Palácio das Tulherias, por entre os seus fiéis súbditos».

 

Parece-me bem espelhado nesta história, verdadeira, o temor quanto ao exercício do poder das sociedades estatistas, iliberais. Daí a horrível importância da não privatização da RTP (à excepção de um canal generalista) e do que já está a suceder nas empresas de comunicação social privadas, enfraquecendo-as(*), tornando-as mais dependentes do Estado (José Pacheco Pereira, hoje no Público).

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(*) - Não me refiro à decisão de privatização de um canal de televisão daí decorrendo uma concorrência acrescida por um bolo publicitário que não se afigura que cresça nos próximos tempos (bem pelo contrário). Se aparecer algum concorrente à privatização - e é evidente que tal irá ocorrer - a concorrência irá aumentar e os preços da publicidade irão provavelmente baixar. Mas não é este o fundamento básico de funcionamento de um mercado?

 

Refiro-me, isso sim, à possibilidade de também a televisão do estado - a futura RTP Informação - querer continuar a comer parte do bolo publicitário (amanhã ou num futuro não muito longínquo...), ao mesmo tempo que se respalda nos consumidores ("contribuição" audiovisual) e contribuintes (imdemnizações compensatórias) não fazendo mais nem melhor do que os privados já o fazem pelo que não passa de uma mera e caríssima inutilidade.

publicado às 18:45






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