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Pode parecer um choque politicamente incorrecto, mas de um ponto de vista conceptual e pragmático, a nomeação do CEO da Exxon Rex Tillerson para Secretário de Estado do próximo governo dos EUA, deve ser assumida como uma interpretação de Realpolitik particularmente brilhante. Quase todos os conflitos dos tempos modernos, ocorridos no Médio Oriente, ficaram a dever-se a interesses energéticos digladiantes. Embora tivesse havido sempre o adorno ideológico de um mundo bipolarmente repartido, em primeira e última instância, o petróleo foi o combustível de alianças políticas e dissabores bélicos. Trump realiza um salto indutivo surpreendente. Não é necessário tomar ou largar partidos para constatar este facto. A dimensão inédita da nomeação "atípica" para esta pasta significa diversas coisas. Em primeiro lugar; Trump assume que o petróleo é o tema maior da política externa dos EUA e dos seus principais interlocutores. Em segundo lugar; embora a América tenha atingido a tão desejada independência energética, sendo há uma boa meia-dúzia de anos exportadora líquida de diversas soluções carburantes, a verdade é que tal condição não é passível de ser repartida com rivais - a dependência dos outros é condição basilar para a vantagem geopolítica americana. São ângulos de análise desta natureza que convém resgatar para realizar uma leitura desapaixonada das particularidades em causa desta nomeação. Rex Tillerson terá competências que não são detidas por Henry Kissinger e muito menos por Hillary Clinton. Se a Síria possa parecer um tema desconexo do quadro energético da região, talvez seja boa ideia repensar os vectores que estão em jogo. Lentamente, embora polvilhada de riscos, uma doutrina Trump começa a emergir. O intervencionismo americano, tantas vezes sancionado por diversos detractores de quadrantes ideológicos distantes, parece agora assumir contornos híbridos. Quando Obama se desligou das causas do Médio Oriente, nem mesmo a Esquerda o quis aplaudir, porquanto os resultados práticos da "saída americana" foram, para dizer o mínimo, catastróficas. Vejamos o que o resto do mundo reserva para Trump e a inauguração de uma nova modalidade de política externa menos académica e mais endémica. Ninguém sabe ao certo se Rex será cru ou se é apenas crude.
No mesmo dia em que circula no Facebook este texto certeiro sobre a política norte-americana para o Médio Oriente, ficou-se a saber que, nos últimos dias, a organização "Estado Islâmico" tem estado a usar armas químicas nos combates na cidade de Tikrit. São bombas de cloro, rudimentares mas ainda assim eficazes ao serem capazes de contaminar áreas e de causar baixas entre as forças governamentais e a população civil. E, para todos os efeitos, são armas de destruição em massa.
Afinal, as armas químicas fizeram a sua aparição no Iraque, doze anos depois da invasão que mergulhou o país no caos, e nas mãos de uma entidade ainda mais ameaçadora à segurança internacional que o regime de Saddam Hussein.
E agora, o que fazer para lidar com esta situação?
O Sr. Cameron veio publicamente dizer aquilo que qualquer estratega de café doutamente sentencia há semanas: é necessária uma operação de limpeza na área do pretenso e marginal "califado do Levante". No entanto, surgem desde logo algumas questões que não poderão deixar de comprometer a limpidez de uma acção que sendo antes de tudo humanitária, é também de segurança geral.
Não valerá a pena os nossos aliados insistirem na sua não-responsabilidade pela situação de emergência que hoje o Ocidente vive naquelas paragens. Os EUA e o Reino Unido - infelizmente, pois este país deveria ser alheio às habituais suspeitas que recaem sobre o arrivismo além-atlântico - têm sido zelosos agentes da subversão na Síria e escandalosamente silenciam todas as atrocidades perpetradas pelos insurrectos - ou melhor, pelo corpo expedicionário jihadista - subvencionados pelo Qatar, Arábia Saudita e outros países formalmente próximos dos interesses norte-americanos. Tudo aquilo que temos visto quanto a massacres de cristãos e yazidis do Iraque, não passa de mera continuidade dos extensivos assassínios na Síria.
É flagrante a expansão das actividades guerrilheiras em direcção a sul, dados os reveses sofridos frente ao exército de Assad. Assim sendo, a entrada da massa de terroristas no Iraque e a tomada de locais economicamente estratégicos, já indicia uma perda do controlo por parte dos aliados tácticos, paradoxalmente aqueles que mais deveriam temer o alastrar da instabilidade e violência no Médio Oriente. Bastará verificarmos o tipo de armas empunhadas pelos califais facínoras e logo concluiremos acerca do que está em causa.
Se os EUA e o Reino Unido decidirem uma intervenção que vise o rápido e radical extermínio da ameaça encabeçada por Baghdadi, então deverão ter em conta a realidade imposta pela necessidade da manutenção do status quo na Síria. A ser sincera a vontade de zelar pela segurança geral, aqui está um excelente salvar de face das potências ocidentais. Mais ainda, a intervenção deverá contar com a presença de outros paíises da NATO e com o beneplácito - e porque não expresso convite à cooperação, desanuviando a actual situação? - da Rússia. Outro factor a considerar, será a colaboração com os curdos, desde já antecipando-se a oposição da Turquia. Dada a situação que se vive em alguns países da Europa, há ainda que atender à necessidade de impedir o regresso de jihadistas aos "seus países" de teórica nacionalidade, nomeadamente a Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, etc. A esta gente se devem inúmeros crimes. Há que eliminar qualquer risco, abertamente confrontando as sociedades com factos. A derrota no terreno da terra dita santa, implicará um rápido regresso dos radicais a paragens mais benignas e condescendentes para com todo o tipo de abusos a que temos assistido nas últimas décadas. Em suma, estamos no plano das ilusões, do que deveria e infelizmente não poderá ser.
É desejável uma rápida e maciça intervenção, desde que esta não seja um descarado pretexto para remediar no terreno, o revés que os até agora "aliados" do ocidente sofreram na Síria.
MIssão impossível. Os ocidentais encontram-se desarmados para o enfrentar deste tipo de adversidades, desarmados em todos os sentidos do termo, tanto em efectivos prontos para um combate difícil, como animicamente. Há que colocar um ponto final neste aventureirismo que culminará num desastre de proporções que todos imaginam.
Entretien avec Norbert Multeau à propos de son livre L’islam chez lui chez nous
(propos recueillis par Fabrice Dutilleul)
Ce livre semble répondre à l’actualité, notamment sur la consommation cachée de viande Hallal dans notre pays…
Voyez le programme de tous les candidats à l’élection présidentielle : combien prenne en compte le danger islamiste lié à l’immigration musulmane ? Or cela me paraît être le problème majeur, bien plus grave que la dette, de notre époque et des années à venir. Il n’y a jamais de vrai débat sur le sujet car il est impossible de se livrer à une analyse critique des fondements idéologiques de l’islam sans être accusé « d’islamophobie », de « racisme », de « fascisme »… et cela clôt aussitôt le débat. Quand un massacre de chrétiens se commet quelque part dans le monde, c’est, nous disent les bien-pensants, « stigmatiser » l’islam dans sa globalité que de dénoncer les criminels qui agissent ainsi au nom de la charia et du djihad. Alors voici un livre pour dire les choses comme elles sont et non comme on voudrait qu’elles soient. Un livre qui a été refusé par tous les éditeurs auxquels j’en ai soumis l’idée… à l’exception de Philippe Randa, directeur des éditions de L’Æncre.
Ne faîtes-vous pas un amalgame sommaire entre l’immigration qui est un problème politique et social… et l’islam qui une religion ?
Les deux ne font qu’un. L’immigration arabe en France est un problème crucial parce qu’elle est d’abord un problème religieux. Un habitant de la planète sur quatre est musulman. L’objectif de l’islam, sa vocation historique comme sa mission divine, est de convertir les trois autres. Le monde non-musulman ne semble pas s’apercevoir que l’islam, conscient de sa force, réactive son projet multi-séculaire de domination de l’univers : imposer partout le « règne d’Allah » et la loi coranique. En France, l’immigration à flot continu aboutit, non au « choc des civilisations » – tout se passe sans heurt violent –, mais à l’évincement progressif de l’une (la chrétienne) par l’autre (la musulmane). Et cela dans l’indifférence des élites, quand ce n’est pas avec la complicité des « activistes du métissage » comme les appelle Péroncel-Hugoz qui a préfacé L’islam chez lui chez nous. L’intelligentsia française, en particulier, ne semble pas saisir le sens de l’ampleur de ce qui se passe sous ses yeux. Elle voit ce qu’elle veut croire, mais ne veut pas croire ce qu’elle voit.
Cet essai « colérique » n’est-il pas un peu court pour analyser objectivement un sujet comme celui-ci ?
Je sais bien qu’on me reprochera d’être simpliste et manichéen, parce que l’islam « c’est plus compliqué que ça »… Je ne fais pas œuvre d’historien ni de philosophe. Je vais à l’essentiel. Je prends les choses au point où elles en sont. Ici, maintenant. Voici ce qu’est l’islam : une force croyante, conquérante, féconde. Voici ce qu’est l’Occident : une civilisation honteuse d’être ce qu’elle est, qui n’affirme plus rien, qui ne se défend plus…
Pensez-vous la situation irréversible ?
Il faut en finir avec l’illusion d’un islam modéré avec lequel nous pourrions cohabiter sans y perdre notre âme. Il faut prendre conscience de l’islamisation rampante des esprits, des mœurs, et même des lois de la République. Il faut dénoncer le piège d’une idéologie, par nature contestable, mais qui est en même temps une religion par nature intouchable… Sinon, dans cinquante ans, la France connaîtra un « printemps arabe » à l’envers. La « fille aînée de l’Église » sera devenue « la fille cadette de l’islam. »
Naquela minúscula, quase insignificante faixa de terra que de imediato nos faz recordar uma região homónima que nos encheu páginas de livros de história com os nomes de Mouzinho de Albuquerque e da sua Némesis, o Gungunhana, volta a ouvir-se o silvo dos mísseis e o metralhar das armas automáticas. Se a situação no Médio Oriente já se encontrava num crescendo de belicosidade, a incursão israelita em Gaza, insere-se num padrão de escalada que apenas poderá ter como alvo o Irão e os seus aliados regionais.
Este episódio teve início já há alguns dias, sabendo perfeitamente os dirigentes do Hamas que o lançamento de mísseis contra alvos israelitas teria uma rápida resposta. A estratégia não poderá deixar de a todos parecer intencional e assim estamos perante o possível alastrar do conflito sírio a um âmbito mais vasto e muito mais perigoso, no qual os contendores principais serão os israelitas e os persas. Talvez o governo de Netanyhau esteja a contar com a profunda desconfiança e espectável neutralidade dos países árabes, temerosos de um Irão armado de armas nucleares e apoios na Síria, Iraque e Líbano. A chuva de 500 mísseis que caíram em Israel, não poderá deixar de ser encarada como uma intencional provocação e os dirigentes iranianos poderão ter tido alguma influência no despoletar de mais esta crise.
A verdade é que esta guerra parece ser conveniente a ambas as partes e a incursão na Faixa de Gaza poderá ser o prelúdio de uma operação mais vasta, esperando os israelitas uma retaliação do Hamas e ser assim responsabilizado o tutor iraniano. Há quem avente a certeza de uma guerra cirúrgica visando as instalações nucleares que o regime dos aiatolás fez espalhar pelo seu território, mas não existe qualquer certeza acerca do verdadeiro potencial bélico com que Teerão conta, além de serem possíveis ataques directos directos ao território de Israel, dada a situação dos aliados do Irão no Líbano e na Síria. Neste último país, este distrair das atenções para outras áreas do Médio Oriente, poderá servir os interesses do regime de Assad, levando-o a um supremo esforço que liquide a oposição interna e os seus apoiantes brigadistas, armados e financiados por alguns países pró-ocidentais. Resta-nos então aguardar a evolução dos acontecimentos e verificadas as díspares posições dos países muçulmanos, a capacidade ou vontade da administração norte-americana do exercício da sua influência sobre israelitas e outros aliados .
Noite em Beersheba, Israel.
Rockets disparados pelo Hamas caem dos céus, invisíveis. As pequenas luzes que sobem lentamente pelo céu são mísseis israelitas, disparados automáticamente e guiados por radar, para interceptar os atacantes. As explosões são os rockets que são atingidos. As sirenes da Protecção Civil avisam a população para correr aos abrigos. Cá em baixo assiste-se à guerra robotizada que, na noite, mais parece fogo de artifício.
«That may be all I need
In darkness, she is all I see
Come and rest your bones with me
Driving slow on Sunday morning
And I never want to leave»
Numa Europa cobarde, além de profunda e estupidamente ingrata - nem valerá a pena tecermos considerações acerca dos cada vez mais ignominiosos EUA -, pouco importará o esgrimir de conveniências políticas, geralmente o mais incorrectas que possamos imaginar.
Morreu um grande amigo do Ocidente. O falecimento ocorre em boa hora, pois apesar das agruras da prisão, Hosni Mubarak partiu de forma aparentemente natural. Um contratempo para a imunda e barbada chusma de trogloditas que pretendia dar-lhe o mesmo fim reservado aos genocidas Saddam Hussein e Kadhafy.
disse em 1957 uma Golda Meir conhecedora do que estava - e está - em causa numa guerra de que nem se vislumbram sinais do fim, apesar dos apelos que, em cadeia, se multiplicam por esse mundo todo, como aquele que ontem mesmo o Papa enviou aos políticos do Oriente Médio, ciente de que ali naquele pedaço de terra se ateou uma fogueira que a todos pode queimar.
Este caso mostra que o amor a que ela aludia é ainda uma miragem
Um video que mostra bem o acolhimento reservado aos israelitas. Conhecem-se bem os activistas a bordo e o tipo de influência político-religiosa em causa.
Apenas os entusiastas das "grandes causas" poderão negar a evidência: o governo Erdogan optou por uma saída airosa - mas com bastante ruído mediático - da já tradicional aliança entre a Turquia e o Estado de Israel. Hoje ninguém duvida da escalada de um islamismo mais radical que o primeiro-ministro turco tenta ingloriamente colocar em paralelo com a democracia cristã europeia. Nada de mais falso. O assalto ao poder total, a destruição do Estado khemalista, a obliteração do poder das forças armadas, a conquista do palácio presidencial e a aproximação ao Irão, são factos que denotam uma evolução que apenas poderá preocupar os europeus. Praticamente afastado o ingresso na periclitante União Europeia, a Turquia prepara-se para se tornar numa potência regional com influência segura em algumas regiões da Ásia Central e no Médio Oriente, ao mesmo tempo que recupera o papel outrora reservado à Sublime Porta como protectora dos muçulmanos. No entanto, este afastamento acaba por ser uma feliz ocorrência para uma Europa ciclicamente ameaçada pela recessão e declínio demográfico. Serve como um alerta.
Entretanto, os apoios que Erdogan recebe imediatamente, são bastante elucidativos. Pequim já disse presente!
Não está em causa a crítica à abusiva política israelita na região, mas esta incursão à Faixa de Gaza consiste num mero pretexto para o corte de relações e realinhamento político. O planeamento foi cuidadoso e o efeito mediático esclarece quem disso tenha qualquer dúvida. Restará saber qual será a reacção norte-americana e as consequências na OTAN.
Uma questão que poucos colocam, é a presença de mais de 600 "activistas" a bordo de um navio de ajuda humanitária. Conhecendo-se o tipo de "activismo" de certo recorte, imagina-se o tipo de missão a que iriam.
Apesar da solidez da sociedade liberal de Constantinopla, terá início uma escalada nas ruas e coloca-se a questão de uma reacção turca, no caso de uma atitude estrangeira relativamente ao problema curdo. É uma arma que decerto não tardará a ser utilizada em caso de imperiosa necessidade. Junto dos radicais islamitas, a Turquia perfila-se já como o seu próximo campeão, infinitamente mais credível, poderoso e ameaçador do que qualquer arrivista iraquiano, sírio ou líbio. Sem comparação possível.
Apenas uma nota: como reagiriam de forma politicamente correcta, aqueles que em Portugal teriam de comentar um acto semelhante diante dos Jerónimos, por exemplo?
A falta de notícias sensacionais, tem como consequência, a frenética procura de um sucedâneo capaz de interessar os vigilantes da informação. Oportunamente, o Cardeal-Patriarca alertou quanto às possíveis dificuldades que as mulheres cristãs terão de enfrentar, no caso de um casamento com um muçulmano. Nada de novo, nada de estranho, pois é uma verdade de La Pallice, uma trivialidade. E assim, já existe tema para os grasnadores do costume. Temos caso!
De imediato, deu-se início ao empilhar de munições e os artilheiros de serviço enfiaram os escorvões de limpeza pelos canos adentro, preparando-se para uma cíclica barragem sobre os alvos do costume: a intolerância e o fanatismo religioso.
Imaginemos um caso típico por essa Europa da qual somos parte interessada. Uma menina da zona das Telheiras sai um destes sábados à noite e após umas kaipiroskas no Bairro Alto, decide acabar a festarola no Kremlin, onde a horas avançadas, conhece um "agente comercial estrangeiro", de passagem por Lisboa. O tipo tinha boa pinta e dinheiro a rodos, não a deixando seca um segundo sequer. Bebida atrás de bebida, lá lhe foi bichanando aos ouvidos, as maravilhas do paraíso terreno que é o cosmopolita Dubai, terra de todas as promessas.
O contacto prossegue por e-mail ao longo de meses e lá para o fim do ano, o tal ricaço volta a Lisboa, carregado de presentes caros, declarando querer passar umas boas férias neste país que ..."tanto tem em comum com a sua gente e cultura"... Inebriada de mimos que excitaram a sua insaciável sede griffeuse, a menina apaixona-se e casa-se de surpresa, declarando a uma família apreensiva, ter decidido partir com o marido para o Dubai. Orgulhosa com a subida de estatuto, diz que ficará à frente do escritório dos negócios da empresa da qual também já se considera co-proprietária.
Imagina-se o resto da história: assim que chega à nova casa, são-lhe retiradas as colecções de mini-saias, t-shirts stretch, botas altas, tops e jeans. Interditam-lhe a amostragem pública do umbigo piercingado e claro está, nada de saídas à rua sem ser devidamente acompanhada por uma das tchadoradas cunhadas. Conduzir o carro americano do esposo? Alto lá... Cabelos soltos ao vento e de provocantes madeixas descoloradas? Nada disso! Idas à praia em fato de banho? Nem pensar... Kaipiroskas, capirinhas, shots, vodkas-melão? Qual quê?!
O trabalho no escritório é tão real como as miragens de palmeiras em oásis no deserto do Hadrammaut. Sobram-lhe isso sim, pilhas de panelas e pratos para lavar e um extenso booking de eventos sociais intramuros, nos quais aliás não participa. A familória onde pontifica uma sogra permanentemente envelopada com tarja negra, faz-lhe a vida num inferno, cobre-a de exorcismos e acaba por arrastá-la para uma nova crença, a única, a verdadeira. Erguem-se os braços ao céu, arrancam-se cabelos, línguas hiper-musculadas forçam o conhecido grito de guerra lalalalalalalalalalalala-uh..., até ter cessado a resistência. Acabaram-se os contactos via internet, os telemóveis com os quais falava com a antiga família de Lisboa. As cartas são proibidas, pois a língua portuguesa é incompreensível. Nada de férias na Europa, nada de música ímpia e decadente. O bebé que está para nascer terá um nome escolhido pelo pai - Osama - e jamais conhecerá os avós infiéis.
Não tem qualquer hipótese de contactar com o pessoal diplomático português, pois está sempre acompanhada. Nem sequer pode mesmo atrever-se a desabafar com as amigas que por lá fez, pois estas consideram-na abençoada por tal vida ter encontrado. É hoje uma mulher decente, pura, limpa da vergonha que o Ocidente lhe ferreteou à nascença. Já não é a Cátia Solange de outrora, mas sim a Zuleika, noor dos olhos do seu cada vez mais ciumento esposo.
Um dia, por acaso, encontra num restaurante do centro comercial, um grupo de portugueses bronzeados e barbudos, devidamente acompanhados pelas amigas de férias. Aproveitando o momento de um passageiro acanhamento da cunhada mais nova, entabula conversa e narra numas poucas frases, a desdita da sua vida. Erro fatal, ilusão perdida. O tal grupo de turistas que vinha passar uns dias de lazer no pequeno empório comercial e financeiro da península arábica, era muito compreensivo para com as "diferenças culturais, sociais, económicas e políticas" daquela gente com um ..."tão grandioso passado civilizacional e que apenas lutava neste mundo pelo seu direito à identidade"... Disseram-lhe mesmo que a Cátia Solange, ou melhor, a Zuleika, ainda estava muito influenciada pela propaganda de séculos de ditames católicos e de preconceitos imperialistas:
- ..."na Europa ainda vivíamos em cavernas e esta gente já tomava banhos no hammam"...,
O que a arrependida Cátia não poderia imaginar, é que findas as férias, aquele mesmo grupo lá voltaria aos seus alfacinhas afazeres quotidianos: compras no Colombo, jantares no Papa Açorda, um ocasional swing, uns cheiros na coca, umas farras de ladies-nights, tertúlias políticas na sede do Bloco e claro está, intermináveis discussões acerca das maravilhas do multiculturalismo e daquilo que verdadeiramente importa a todos: os direitos das mulheres (europeias e apenas essas, claro!), as questões fracturantes, o fim do capitalismo, o essencial papel reservado à intelectualidade e last but not least, a necessária e urgente laicização absoluta do Portugal moderno: é que estamos a um ano do centenário da república!
Estávamos à beira da piscina de água salgada do hotel da Inhaca. Todos os anos, o escusado feriado do 5 de Outubro servia para passarmos três dias naquela ilha situada na baía do Espírito Santo, diante da cidade de Lourenço Marques. Organizado o grupo de turistas ocasionais, os nossos pais aproveitavam o início do verão austral para uns dias de descontracção, desfrutando do convívio com os amigos e a excelente gastronomia propiciada pela cozinha do hotel. Naquele dia 6, alguém nos informou que os árabes tinham iniciado um ataque às posições israelitas na linha Bar-Lev no Sinai, reeditando em sentido contrário, o efeito surpresa de 1967. Em 1973, uma nítida prevalência do politicamente correcto imposto pela esquerda já todo-poderosa nas mentes dos círculos esclarecidos pelos pontapés nas latas de lixo do Maio 68, ditava a necessidade da eliminação de Israel, o "agente sionista que servia os interesses do imperialismo norte-americano" no Médio Oriente. Recordo-me da expressão preocupada da minha mãe, uma indefectível pró-Israel, acabrunhada pelas primeiras notícias chegadas da frente de combate e divulgadas pelo Rádio Clube de Moçambique. O desastre parecia irreversível e a destruição das forças israelitas, um indesmentível facto comprovado pelas pilhas de soldados mortos, canhões capturados e carcaças de tanques calcinados no Sinai. Era a hora das ululantes celebrações para alguns dos habituais convivas das tertúlias lá de casa, onde pontificava o histrionismo estalinista de um conhecido jornalista da revista Tempo. Militante do PC e seguidor fiel dos interesses geopolíticos da União Soviética, era com incredulidade que o ouvíamos discursar desabrida e violentamente contra a posição portuguesa em África e a irreversível vitória final do comunismo no mundo. Naquele tempo, já há muito se tinham evaporado as esperanças de um Israel vermelho e peão de Moscovo numa região ainda fortemente dominada pela presença ocidental. Estaline esperara-o com ânsia e dera as suas ordens para o reconhecimento do novo Estado na ONU. A realidade imposta pela memória recente do dúbio papel dos soviéticos antes e durante a guerra mundial, foi o cadinho onde se forjou a aproximação de Telavive ao Ocidente.
A primeira semana foi a de todas as esperanças numa blitzkrieg que trouxesse os T-55 russos às portas de Jerusalém, destruindo a existência de um país ainda com pouco mais de duas décadas de independência. Cantavam-se hinos à excelência do equipamento soviético e à perícia genial dos instrutores russos que tinham conseguido organizar as pungentes massas de fellahs, em hostes de guerreiros bem armados e invencíveis. Ninguém procurava nem falava em qualquer tipo de cessar-fogo, pois a vitória era certa. Não importava o número de baixas, mas sim o esmagar do odiado obstáculo aos objectivos moscovitas.
A posição da administração Nixon foi clara, rápida e eficaz e esta resposta contou também com a anuência portuguesa que permitiu o reabastecimento urgente das IDF através dos Açores.
Sabe-se qual foi o resultado da contenda. Dez dias decorridos após o ataque árabe, o exército israelita já tinha atravessado o Suez e estava a 100 km. do Cairo, iniciando-se assim, a frenética exigência soviética - com ameaça nuclear - pela cessação das hostilidades, salvando os seus aliados do colapso e da vergonha de uma estrondosa derrota militar de imprevisíveis consequências.
A guerra do Yom Kippur e o parcial sucesso obtido pelos egípcios no seu início, consistiu no providencial salvar da face do regime do general Anwar el-Sadat, sem dúvida um homem moderado e de grande dignidade pessoal. Quando do cessar fogo, os russos tinham perdido para sempre o mais poderoso aliado na região e iniciava-se o processo político que conduziu ao tratado de paz e estabelecimento de relações diplomáticas entre o Egipto e Israel. Para grande desespero dos amigos militantes do PCP que povoavam a nossa sala de jantar e para o nosso vingativo gáudio - da minha mãe, meu e do Miguel-, a União Soviética tinha averbado um pesado revés, tão mais grave porque comprometia irreversivelmente o seu prestígio em todo o chamado mundo árabe. Recordo-me de então ouvirmos no nosso quarto e com o som ao máximo, discos das Barry Sisters e de Rika Zarai, enquanto na sala de visitas, alguns espumavam de raiva: Bei mir bist du schejn...
Nesta questão do Médio Oriente, os interesses económicos mesclam-se naturalmente com a luta pela supremacia geoestratégica dos principais intervenientes na cena política mundial. Liquidada a URSS e para sempre pulverizado o seu império em realidades políticas nacionais, os EUA fizeram exercer o seu papel tutelar e mesmo apesar do contratempo imposto pela mal conduzida política no Iraque, ninguém contesta hoje o forte pendor ocidental de regimes como o jordano, saudita, egípcio e dos Estados menores da área do Golfo.
Israel foi ao longo de cinquenta anos, a espada que zelou pela segurança de uma Europa entorpecida pela decadência da sua outrora poderosa influência na política mundial. Os ímpetos do extremismo islamita que apontam a própria península ibérica como um objecto de futura reconquista e a desejada desestabilização do Magrebe, oferecem um preocupante cenário de irresolúveis problemas futuros nos quais o nosso país será fortemente envolvido. A corrupção, inépcia, esterilidade da produção intelectual e brutal forma de organização social nos países "árabes", tornam Israel no preferencial e mais seguro aliado do ainda existente Ocidente.
Há perto de cinco séculos, no exacto momento em que a Europa era pelos otomanos invadida através dos Balcãs, as galeras do sultão faziam aguada no porto de Marselha, contando com o beneplácito de um Francisco I desejoso do enfraquecimento do imperador Carlos V. No século XVII, quando da derradeira incursão turca na Europa central fez chegar os janízaros às portas de Viena, Luís XIV atacava a rectaguarda cristã representada pelos territórios dos Habsburgos na Flandres e em Espanha Desta forma, prejudicava gravemente a posição de Leopoldo I que sempre contou com o auxílio dos tercios enviados pelos seus primos de Madrid. Em 1717, a esquadra francesa deixava os seus aliados isolados para enfrentar a armada turca no Cabo Matapan, fugindo para um porto seguro. A vitória conseguida pelos portugueses, impediu a ameaça à segurança marítima do Mediterrâneo oriental. Quando décadas mais tarde Bonaparte entrou efemeramente vitorioso no Cairo, declarou-se muçulmano, procurando estabelecer no antigo reino dos faraós, a sólida base para as ambições do seu poder pessoal.
Ciclicamente, as actividades diplomáticas do Quai d'Orsay, são consentâneas com a tradicional política francesa de obtenção de vantagens egoístas, olvidando a nova realidade política europeia da qual a França é fundadora e elemento de primordial importância. O simples factor de pressão psicológica que é representado pela presença de muitos milhões de "árabes" dentro das suas fronteiras, torna a posição de Paris bastante previsível e inóqua na seriedade da sua política que não pode deixar de ser equacionada sob o prisma da desconfiança e inconsistência.
Pouco conheço acerca da cultura judaica e creio jamais ter conhecido um judeu ou um israelita. Já me cruzei com alguns nas ruas de Paris, Londres, Nova Iorque e até em Lisboa, ao sábado, quando frequentam um café da zona do Rato, após o cumprimento dos seus afazeres religiosos na sinagoga. No entanto, estou seguro da minha convicção acerca da proximidade que existe entre a forma de organização política e social vigente em Israel e aquela que a totalidade dos países do Ocidente perfilha. É este exemplo prático da política o que é mais importante e verdadeiramente interessa. Tudo o mais são meros artifícios, divagações e preconceitos de outros tempos. Deixo apenas uma questão, talvez de pormenor, acerca da categoria moral em que esta guerra pode ser avaliada:
- Como teria a comunidade internacional reagido nos anos 60 e 70, se o exército português se tivesse entrincheirado em quartéis construídos no meio da população civil, fazendo-a pagar o elevado preço dos normais danos colaterais infligidos pelo inimigo?
É exactamente esta, a situação imposta pelo Hamas ao seu próprio povo.
Na verdade, Israel tem sido ao longo deste último meio século, o eficiente guerreiro que combate com a espada de Jan Sobieski. Saibamos compreendê-lo, pois a velha máxima do ..."inimigo do meu inimigo"... é actual e inultrapassável.