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O tal pin à lapela

por Nuno Castelo-Branco, em 31.01.13


Eles são discretos mas rambém uns boca-rotas de truz. Adoram falar, sussurrar confidências à meia voz. Já há muito tinha sido informado do "código secreto" que dava a conhecer aos outros crentes, a pertença à congregação. Gente dos partidos da oposição e membros do governo, espetam à lapela aquilo que por muitos fora interpretado como um macaquear da modinha americana, ufana de inflamados patriotismos de oportunidade. Pois sim...!

publicado às 11:14

Coisas da parvónia

por Nuno Castelo-Branco, em 22.05.12

Pelo João Gonçalves, ficamos a saber que o dr. Medeiros Ferreira anda por aí numa rematada pedinchice para a manutenção do 5 de Outubro. Pois  pode pedir à vontade que pelo menos durante os próximos anos, não há mais "Afonso Costa" para ninguém. Com Fátima a rebentar pelas costuras, há quem ainda não percebeu que certos mitos acabaram de vez, precisamente aqueles que julgavam extirpar as raízes culturais deste povo em apenas duas gerações.  Vê-se!

 

A divertida carta do homem que "negociou" a entrada de Portugal na CEE "por razões políticas", está preciosamente esmaltada com as fantasias  e contorcionismos propagandísticos do costume, desde as negridões nocturnas do salazarismo que comemorava o 5 de Outubro com feriado, alçamento de bandeirola e banda a tocar A Portugesa, até à histérica exaltação do Venerando belenense de cada tempo! Como nota cómica, acrescentou a PIDE ao assunto, salientando as lojas de portas abertas durante a data de lazer do último dia de praia em cada verão secundo-republicano. Pois então o que poderá Medeiros Ferreira dizer de tudo o que se passa na 3ª República, com centros comerciais de portões e estacionamentos religiosamente escancarados no sacrosantinho dia? Pior ainda, Medeiros Ferreira diz não estar a pensar "só" no 5 de Outubro, mas a verdade é outra, o 5 de Outubro é o o único feriado que lhe interessa manter. Conforme-se. O país perdeu muitíssimo mais com o fim do 1º de Dezembro e isto no momento em que a República admitiu viaturas da Guardia Civil da Monarquia espanhola em ostensiva patrulha e estacionamento na placa do Monumento aos Restauradores de 1640.

 

Como se não soubéssemos da gritaria e arrepelar de cabelos que se passou e ainda se passa em determinadas lojas... Claro que sabemos, disso somos informados regular e detalhadamente, mas sendo a coisalaica uma questão de quase integrismo religioso, percebe-se o fanatismo. Em suma, dá-nos tremendo gozo, até para aqueles azuis e brancos que usam avental fora da cozinha.

 

Medeiros Ferreira pode esperar mais uns anos e quando os seus colegas voltarem ao poder, talvez lhe façam a vontadezinha. Se a Alemanha estiver pelos ajustes, claro.

 

 

 

publicado às 09:59

Porque também já estou um pouco farto deste tema

por Samuel de Paiva Pires, em 12.01.12

Cristina, passando ao lado da acusação de branqueamento, não voltando a entrar no argumento metodológico, complementando o texto de Pessoa com o que se segue e, concluindo que o mundo não é a preto e branco, permita-me o estrangeirismo provinciano de dizer que I rest my case:

 

1. Agência Lusa, 19 de Maio de 2004, via Rui Monteiro:

 

No dia 19 de Maio de 2004, a convite de António Arnaut, o pretendente ao trono de Portugal, D. Duarte Pio, deslocou-se à sede do Grande Oriente Lusitano (GOL) – Maçonaria Portuguesa, no que constituiu a primeira visita de um membro da Casa de Bragança a esta instituição maçónica.

“Não há hoje nenhum contencioso entre a Maçonaria e a Casa de Bragança”, declarou à agência Lusa António Arnaut, para reiterar que aquela “não esteve envolvida” na morte do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, ocorrida há 100 anos no Terreiro do Paço.

Na sua opinião, “qualquer mal-entendido que existisse” na sociedade portuguesa, desde que dois membros da Carbonária, Manuel Buíça e Alfredo Costa, cometeram o duplo atentado, em 01 de Fevereiro de 1908, “ficou dissipado com a visita cordial” de D. Duarte Pio às instalações do GOL, em Lisboa.

Segundo o antigo grão-mestre, a “reconciliação da Maçonaria Portuguesa com a Casa de Bragança” concretizou-se nessa altura.

“A visita do representante da Casa de Bragança, que almoçou no Palácio Maçónico, teve o significado de uma reconciliação efectiva e apagamento de quaisquer equívocos”, sublinhou.

Há quatro anos, António Arnaut declarou que a visita do herdeiro da coroa “teve um grande significado histórico”, já que a Maçonaria, “embora injustamente”, tem sido responsabilizada pela morte do rei D. Carlos e do filho primogénito.

D. Duarte Pio foi recebido no Palácio Maçónico por dignitários do GOL, como o presidente do Tribunal Maçónico, o presidente da Grande Dieta e membros do Conselho da Ordem, além do grão-mestre.

Vincando a não participação da Maçonaria no regicídio, António Arnaut disse à Lusa que o actual grão-mestre do GOL, o historiador António Reis, demarcou-se da “romagem discreta” que um grupo de cidadãos realiza hoje às campas dos regicidas Manuel Buíça e Alfredo Costa, no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.

“A Maçonaria era contra a ditadura de João Franco e pela restauração da democracia”, precisou.

Frisando que alguns membros da Casa de Bragança pertenceram no passado à Maçonaria, Arnaut recordou, por exemplo, que o próprio visconde Ribeira Brava (avô de Isabel de Herédia, mulher de D. Duarte Pio) integrou o fracassado movimento de 28 de Janeiro de 1908, quatro dias antes do regicídio, que visava o derrube da Monarquia.

 

2. Agência Ecclesia, 10 de Janeiro de 2012:

 

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Policarpo, criticou hoje em Fátima a “influência direta” da Maçonaria em “coisas políticas”, mas descartou a exigência de que os políticos se assumam como maçons.

“Como políticos, se são maçons, se são católicos ou se são do Sporting, não vejo que isso tenha uma relevância muito grande”, disse o cardeal-patriarca aos jornalistas, no final da reunião do Conselho Permanente da CEP.

Para este responsável, “outra coisa" é que "a Maçonaria, enquanto tal, teve influência direta em coisas políticas; isso está mal”.

 

3. Público, 10 de Janeiro de 2012:

 

O ex-presidente da Assembleia da República Mota Amaral, que assume a sua ligação ao Opus Dei, considerou nesta terça-feira que não há motivo para se lançar uma “caça” a quem está ligado às obediências maçónicas em Portugal.

Nas declarações que fez aos jornalistas, o social-democrata e ex-presidente do Governo Regional dos Açores referiu-se a um acórdão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem que impediu o carácter obrigatório de os políticos declararem ligações à maçonaria.

“Quanto à questão em abstracto, acho que não é altura de lançarmos uma espécie de caça à maçonaria. Não é motivo para tanto”, respondeu.

Interrogado se considera perigosas as ligações da maçonaria à política, Mota Amaral contrapôs que “é preciso transparência”.

“Falo por mim. Pertenço ao Opus Dei há mais de 50 anos e toda a gente sabe isso. O meu ponto de partida é a transparência, é aquilo que pratico”, acrescentou.

publicado às 00:02

Branqueamentos não.

por Cristina Ribeiro, em 11.01.12

Tal como Nuno Resende, também começo a ficar farta do tema, mas há coisas, Samuel, que não podem passar em branco: todos sabemos que a carbonária não trabalhou sozinha - aliás teve, também, a preciosa ajuda de muitos monárquicos; de monárquicos assim Deus livre a Monarquia.

publicado às 18:45

Maçonaria e regimes políticos

por Samuel de Paiva Pires, em 11.01.12

Cristina, bem sei que já o recomendei em posts anteriores, mas talvez o texto de Fernando Pessoa lhe seja útil. A maçonaria não é a Igreja Católica, não tem uma hierarquia altamente centralizada de onde emana a norma a que todos devem obedecer, ou seja, não tem algo que se possa identificar como uma doutrina única. Ademais, a maçonaria não é a política, por isso mesmo é que há e sempre houve maçons politicamente adversários. Aliás, nisto se encontra grande parte da explicação para o que aconteceu nos anos que precederam 1910. Sem esquecer que a carbonária não era a maçonaria.

publicado às 18:10

Como é possível?

por Cristina Ribeiro, em 11.01.12

Para além de outros motivos- e Morais Sarmento confirmou o cabimento do " pé atrás "-, não entendo como é que, após o assassínio de D. Carlos e de D. Luís Filipe, no qual a maçonaria teve, comprovadamente, um papel essencial, pode, em Portugal, um monárquico ser maçon.

publicado às 17:46

Ainda a maçonaria

por Samuel de Paiva Pires, em 11.01.12

Para quem não assistiu ontem à noite à entrevista do Professor José Adelino Maltez, aqui fica:

 

publicado às 15:38

Maçonaria, metodologia e religião

por Samuel de Paiva Pires, em 10.01.12

 Algumas breves notas numa réplica 2 em 1 ao Corcunda:

 

1 – O individualismo metodológico está relacionado com o subjectivismo e partindo da área económica que postula a teoria subjectiva de valor, obviamente compreende que aos homens assiste a capacidade de conferir valor. Além do mais, o individualismo metodológico tem diversas correntes, as quais, genericamente, conforme sintetiza Kenneth Arrow, partem do pressuposto que todas as explicações devem ser feitas tendo como variável determinante as acções e reacções dos indivíduos, cuja interacção produz resultados que determinam, por exemplo, o funcionamento da economia e a alocação de recursos. O que não significa, portanto, que o individualismo metodológico descure as instituições, até porque entre as várias correntes deste existe precisamente uma fundamentada inicialmente por Popper e complementada posteriormente por Joseph Agassi que é o individualismo institucional. Eu nunca afirmei que os homens são desligados das instituições, apenas que estes são os únicos que verdadeiramente têm personalidade e capacidade de raciocínio moral.

 

2 – Também não disse que esse erro metodológico, de tomar a parte pelo todo, ou seja, realizar uma inferência cientificamente falsa, significava que se um padre fosse pedófilo, toda a Igreja seria. O que disse é que não se pode precisamente afirmar isso, pois é falso. Mas também é certo que se pode afirmar que há padres pedófilos. O que não faz com que todos sejam. O mesmo é dizer que, perante o caso com que nos deparamos na sociedade portuguesa, há maçons que alegadamente terão incorrido em práticas ilegais, o que não significa que outros maçons o tenham feito. Ademais, quanto a estas práticas, cabe ao Estado de Direito, nomeadamente ao Ministério Público, investigá-las e, caso se comprovem, condená-las. Porque nenhum indivíduo pode estar acima do Estado de Direito, muito menos os que são maçons, pois a tradição maçónica contribuiu precisamente para a criação, fundamentação e implementação do Estado de Direito.

 

3 – É errado dizer que a maçonaria se fundamenta na compreensão do Universo não-revelada, sem Graça. Isso acontece eventualmente na irregular, como pode não acontecer, visto que não é obrigatório. Já a maçonaria anglo-saxónica, regular, não só se fundamenta como obriga a que os maçons tenham uma religião revelada.

 

4 – Quanto ao resto, remeto para o artigo de Fernando Pessoa que já referi, salientando aqui apenas isto:

 

«(…) toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só ideia - a tolerância; isto é, o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar como entender. Por isso a Maçonaria não tem uma doutrina. Tudo quanto se chama "doutrina maçónica" são opiniões individuais de maçons, quer sobre a Ordem em si mesma, quer sobre as suas relações com o mundo profano. São diversíssimas: vão desde o panteísmo naturalista de Oswald Wirth até ao misticismo cristão de Athur Edward Waite, ambos eles tentando converter em doutrina o espírito da Ordem. As suas afirmações, porém, são simplesmente suas; a Maçonaria nada tem com elas. Ora o primeiro erro dos antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçónico em geral pelas afirmações de maçons particulares, escolhidas ordinariamente com grande má-fé. O segundo erro dos antimaçons consiste em não querer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está materialmente dividida, como já expliquei. A sua acção social varia de país para país, de momento histórico para momento histórico, em função das circunstâncias do meio e da época, que afectam a Maçonaria como afectam toda a gente. A sua acção social varia, dentro do mesmo país, de Obediência para Obediência, onde houver mais que uma, em virtude de divergências doutrinárias - as que provocaram a formação dessas Obediências distintas, pois, a haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue de aqui que nenhum acto político ocasional de nenhuma Obediência pode ser levado à conta da Maçonaria em geral, ou até dessa Obediência particular, pois pode porvir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de momento, que a Maçonaria não criou.» 

publicado às 22:43

Algumas notas sobre a discussão do momento

por Samuel de Paiva Pires, em 09.01.12

1 - As instituições são compostas por indivíduos. Há bons e maus indivíduos em todo o lado. É algo inerentemente humano. A Igreja Católica Apostólica Romana também não é impoluta. Mas não é, por exemplo, por meia dúzia de padres serem pedófilos que toda a ICAR é pedófila. O erro é de forma, metodológico. Eu parto sempre de uma análise baseada no individualismo metodológico, porque a única entidade dotada de consciência e capacidade de raciocínio moral é o ser humano (passe a imodéstia da autopromoção mas porque começa a tornar-se repetitivo ter que explicar as bases metodológicas do meu pensamento a quem por este simpaticamente - ou não - se interessa, quem pretenda familiarizar-se com o individualismo metodológico pode ler a nota metodológica da minha dissertação de mestrado).

 

2 - Quando falo em teorias da conspiração, falo em teorias holísticas de abordagem à realidade social, que enfermam dos erros que Popper apontou no texto que deixei aqui, não de meras lutas pelo poder e intrigas políticas. Essas são humanas e perfeitamente naturais, quer os seus agentes individuais sejam maçons, católicos, ou do partido A ou B. Diabolizar e perseguir qualquer categoria destes agentes é plantar sementes que, no passado, redundaram em totalitarismos. Como assinala o Prof. Maltez no Facebook, "Quem é favorável, completamente favorável, a que todos façam, em todos os cargos e funções, públicas, privadas e concordatárias, os adequados registos de interesses, mas de todos os interesses materiais e espirituais, de forma não discriminatória, deve indicar um só sistema em direito comparado que o tenha conseguido. O que pressupõe a definição de uma lista de interesses registáveis de forma obrigatória. Pode ser por ocasião do censo populacional, com a restauração dos censores romanos. Conheço um software adequado, da companhia "Big Brother". E até o juramento vigente no regime da Constituição de 1933, nomeadamente sobre a não pertença a sociedades secretas. Basta restaurá-lo, apesar de ter sido absolutamente ineficaz."

 

3 - Em resposta ao Corcunda, afirmar que a maçonaria gaba-se do seu anticlericalismo, que quer erradicar o catolicismo ou que não acredita em Deus parece-me profundamente injusto e, novamente, metodologicamente errado. Precisamente porque não há uma maçonaria una e indivisível, com uma consciência única. Há ritos e lojas muito diferentes integradas por monárquicos, republicanos, liberais, socialistas, ateus, agnósticos, católicos, judeus, muçulmanos etc. Há uma pluralidade de crenças e pertenças onde vários indivíduos podem compaginar-se com esse anticlericalismo e outros não. É um universo simbólico assente na tolerância e pluralismo que não liga com os rótulos profanos e maniqueísmos com que estamos habituados a lidar.

 

4 - Como o Prof. Maltez já bem assinalou, a Maçonaria nos EUA e nos países anglo-saxónicos em geral não é uma sociedade secreta. É considerada uma actividade filantrópica, um clube, etc. Toda a sua actividade é pública. Os templos estão bem identificados e os maçons assumem-se como tal. Porquê? Porque no mundo anglo-saxónico a Maçonaria nunca foi socialmente perseguida, apesar das críticas de alguns sectores religiosos mais conservadores. O maior secretismo na Europa continental prende-se principalmente com o inverso, com as perseguições. E como muito do que se lê por aí deixa bem patente, talvez este secretismo ainda continue a justificar-se. Salazar, do lado de lá, deve estar orgulhoso. O legado da sua lei contra as associações secretas continua vivo. Por isso, talvez não seja demais relembrar o célebre artigo que o não maçon mas simbolicamente esclarecido Fernando Pessoa redigiu contra essa lei ridícula, de que deixo aqui um excerto que julgo ser elucidativo de como o que move muita gente é um certo voyeurismo, especialmente porque, como aponta o Prof. Maltez, "Em sociedades que sofreram a Inquisição, os autos de fé, Pina Manique, moscas, bufos, caceteiros e extinções, ainda há preconceitos e fantasmas, logo incompreensões resultantes de velhos conflitos entre política e religião, entre anticlericalismos ultrapassados e antimaçonismos requentados." Fica o excerto de Pessoa:

 

"Dada a latitude desta definição, e considerando que por "associação" se entende um agrupamento mais ou menos permanente de homens, ligados por um fim comum, e que por "secreto" se entende o que, pelo menos parcialmente, se não faz à vista do público, ou, feito, se não torna inteiramente público, posso, desde já, denunciar ao sr. José Cabral uma associação secreta - O Conselho de Ministros. De resto, tudo quanto de sério ou de importante se faz em reunião neste mundo, faz-se secretamente. Se não reúnem em público os conselhos de ministros, também não o fazem as direcções dos partidos políticos, as tenebrosas figuras que orientam os clubes desportivos, ou os sinistros comunistas que formam os conselhos de administração das companhias comerciais e industriais."

publicado às 01:00

Coisas de Conspiradores

por o corcunda, em 08.01.12

A gente às vezes lê coisas e nem acredita.

Parece que a Maçonaria está a sofrer um ataque gigantesco por parte de teorizadores da conspiração, de pessoas malevolentes que querem reavivar velhas perseguições e destruir uma entidade que para além de patriótica, tanto fez pela liberdade em Portugal.

 

Como é evidente a Maçonaria nunca nada teve a ver com perseguições religiosas, extinções e expulsões de ordens religiosas, hasta pública de bens roubados por decretos ilegais e substituição por essa via das elites do país. E nossos liberais, que tanto se insurgem contra o Estado Omnipotente, contra as nacionalizações e o crescimento do Estado, são capazes de olhar o saque da propriedade da Igreja, a repressão das consciências e a sua subordinação, como se isso nada tivesse tido a ver com um conflito entre religiões ou visões do mundo. Foi só uma questão espontânea de interacções entre indivíduos e quem diz o contrário é um maluquinho das conspirações.

 

Como é evidente, as pessoas que esgrimem o argumento da conspiração são as mesmas que afirmavam que o país precisava de destruir o catolicismo, ou de um Vaticano II, para que a democracia e liberdade emergissem. Os mesmos que afirmam que as pessoas que professam uma religião a deveriam subordinar a um conjunto de ideais cívicos que são passados através de segredos. Ou seja, os que dizem que as suas crenças e formas de associação são irrelevantes, são os mesmos que andaram durante os últimos dois séculos de dedo em riste, dando caça a todos os, reais ou imaginários, inimigos da liberdade. Sobre isto não há quaisquer dúvidas.

 

Sobre deformações da História e o grande patriotismo da associação não-religiosa benemérita o Nuno Castelo Branco já aqui meteu ordem numa história digna dos parodiantes.

 

Falta-me ainda relevar mais uma. Quando se refere como o conservadorismo europeu é obra de um maçon, Edmund Burke, é preciso não esquecer o ataque que à Maçonaria é endereçado nos escritos posteriores a 1790 e a ideia de que a Igreja é a última esperança e salvação da Europa. Curiosamente são esses escritos que dão origem ao conservadorismo europeu e não as discussões sobre Hastings, a carga fiscal, ou os gastos militares. Apresentada a coisa como aqui, o leitor mais incauto e menos versado na literatura conservadora, pode até acreditar que Burke realmente só se opunha a meia-dúzia de princípios da revolução e que no fundo era um pedreiro-livre que acreditava na liberdade como propriedade racional, quando na verdade a sua oposição é integral a essa visão racionalista.

 

A insistência de que a Maçonaria não é uma ideologia ou uma religião é talvez das mais curiosas. A Maçonaria gaba-se do seu anti-clericalismo, do seu apego à secularidade do Estado. Mas para o fazer não precisa de um conjunto de pressupostos, de uma afirmação de supremacia da sua própria racionalidade? Essa mesma racionalidade que lhe permite seleccionar e proceder a uma meta-intepretação de todas as religiões, para obter as suas finalidades seculares, não é em si uma racionalidade e uma interpretação cosmológica (ainda por cima alicerçada num deísmo que é totalmente insustentável nos dias de hoje) que se torna suprema face às outras? E como afirmar que uma posição que não é religiosa exclua a da sua concepção de verdade a possibilidade do Deus Vivo e Encarnado? E como todas as ideologias, esta não substituiu uma visão do bem divino por uma concepção secularizada que ordena, ela própria, a própria estrutura da Revelação?

 

No meio de tantas cortinas de fumo, esta visão do mundo, bem limitada e insuficiente, faz bem em esconder-se e lançar engodos e meias-verdades. Porque o rabo do gato está mesmo de fora.

publicado às 23:44

Na luta pela desmistificação, contra o fanatismo e a intolerância, os meus parabéns ao José Maria Barcia pela iniciativa de entrevistar vários maçons e interessados. Dificilmente seria possível começar de melhor forma do que com esta entrevista ao Professor Maltez, que aqui transcrevo na íntegra com a devida autorização do Zé Maria:

 

Antes de mais, o que representa para si a maçonaria?

Tenho uma concepção do mundo e da vida típica da profunda tradição liberal, fiel aos valores de Espinosa, Montesquieu e Kant que, em Portugal, tiveram expressão na luta de ideias de Silvestre Pinheiro Ferreira, Vicente Ferrer de Neto Paiva e Alexandre Herculano. Gostava de redundar o Estado conforme o exemplo dos decretos de Mouzinho da Silveira, a moralidade de Passos Manuel, o entusiasmo de José Estêvão, o sinal do Código Civil do Visconde de Seabra e o pioneirismo da abolição da pena de morte, de 1867, bem como para manter a boa relação entre a política e a religião do presente regime, fundado quando os velhos carbonários defenderam a liberdade dos católicos no cerco ao Patriarcado ou no assalto à Rádio Renascença, em 1975, quando novos totalitarismos nos ameaçavam.

 

Apertos de mãos, protocolos, símbolos e significados. Porquê?

Não conheço nenhuma instituição que não tenha uma ideia de obra, manifestações de comunhão entre os seus membros e cumprimento de estatutos internos. No caso da maçonaria, que não é uma religião nem mera ideologia, onde se vivem e revivem lendas, alegorias e símbolos, através de rituais conhecidos, é mais intensa e formalizada essa dimensão, até com a procura do próprio sagrado. Logo, ver de fora qualquer comunidade de coisas que se amam pode levar muitos a dizer que todas as cartas de amor são ridículas. Mas como dizia Fernando Pessoa, é bem mais ridículo não se escreverem cartas de amor. Ou não responder a uma entrevista na blogosfera, só porque o interpelante tem manifestado óbvias divergências com a minha concepção do mundo e da vida, mas talvez seja capaz de reconhecer que comete erros, tem dúvidas e pode enganar-se, até na listagem de inimigos públicos.

 

Como é a reunião ideal dentro de uma Loja?

Segundo aquilo que estudei, não pode haver reuniões dentro de lojas, há reuniões rituais das lojas, onde é proibida a discussão de matérias de política e de religião, porque se tem de fazer maçonaria. Quando as lojas promovem reuniões abertas a não maçons, as sessões brancas, elas são como todas as outras reuniões de qualquer grupo. Daí que não se possa inferir que um convidado seja maçon, ou ligado à maçonaria, dado que até conheço casos de convites a antimaçons para manifestarem suas perspectivas junto de maçons.

 

Qual é, ou qual deve ser o papel principal da maçonaria num país como Portugal?

Contribuir para a regeneração de uma sociedade secreta iniciática fundada em 1140 e sucessivamente redundada, a república dos portugueses, que, durante séculos, foi governada por reis.  Porque temos de a libertar do presente protectorado, com mais liberdade, mais sociedade e mais coisa pública. Isto é, contribuir para nova refundação  de Portugal.

 

Em resposta à polémica instalada na Assembleia da República, devem os maçons serem obrigados a admitirem que o são?

Qualquer cidadão deve contribuir para que cada um possa viver como pensa. Mas como as leis são gerais e abstractas, julgo que há dificuldades normativas quanto ao cumprimento do princípio da não discriminação, consagrado pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem, nomeadamente no artigo 11. Pelo menos, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem já condenou a Itália em 2007 por um acto legislativo desse teor, emitido por uma das suas regiões.

 

Num país que considera a maçonaria um ''clube privado de amigos'' que lutam apenas pelo seu interesse, haverá fundo de verdade nesta crença popular?

No ambiente anglo-americano, as maçonarias são, sobretudo, modelos de "societies of friends" e a percepção externa liga-as a actividades de filantropia. Porque os valores que defendem são tão naturais como o ar que aí se respira. Em sociedades que sofreram a Inquisição, os autos de fé, Pina Manique, moscas, bufos, caceteiros e extinções, ainda há preconceitos e fantasmas, logo incompreensões resultantes de velhos conflitos entre política e religião, entre anticlericalismos ultrapassados e antimaçonismos requentados. Uns esquecem-se que o conservadorismo contemporâneo foi fundado pelo maçon Edmund Burke, outros, que, do anarquismo ao socialismo, de Proudhon a Antero de Quental, foi comum a coincidência maçónica, bem como na fundação do projecto europeu, de Winston Churchill a Jean Monnet. Por outras palavras, a civilização ocidental a que chegámos é o resultado da convergência do humanismo cristão com o humanismo maçónico, tanto à direita como à esquerda, de liberais a socialistas, unidos na luta contra a ignorância, o fanatismo e a tirania, nomeadamente contra as experiências totalitárias do século XX.

 

De acordo com a notícias actuais, a maçonaria é vista como um problema à democracia. A lealdade aos irmãos é superior à responsabilidade de cargos públicos?

Do que imperfeitamente sei, a maçonaria, em todos os tempos e em todos os sítios, nunca abdicará de ser uma sociedade iniciática, sob pena de perder a respectiva natureza. De acordo com as regras que a regem não pode ser uma sociedade secreta política em regimes de liberdade que não imponham o dever de resistência, definido pela própria escolástica católica. Assim, seria inconstitucional e antimaçónico qualquer anacronismo de clandestinidade política de maçons num regime como o nosso, onde todas as normas fundacionais do Estado de Direito corresponderam aos ideais expressos pelos maçons históricos, nomeadamente na Constituição. Basta recordar os símbolos e os exemplos dos maçons Adelino da Palma Carlos, o primeiro chefe do governo,  da restaurada liberdade, de Emídio Guerreiro, líder do PSD, ou de Raul Rego, futuro grão-mestre do GOL, no PS.

 

Não sendo uma sociedade secreta mas sim uma sociedade com segredos, não há aqui um desvio à transparência exigida numa democracia?

O GOL, fundado em 1802, é a mais antiga sociedade demoliberal portuguesa, com continuada actividade. E sem ser por acaso é, em termos cronológicos, a segunda organização maçónica do mundo. Logo, é um dos elementos fundamentais do nosso património cultural que se perde nas brumas da memória, tal como a Igreja Católica. Isto é, tanto é um valor nacional, como é europeu e universal, e como tal é reconhecido tanto pela Comissão Europeia como pela própria ONU, participando, através do CLIPSAS, no Conselho Económico e Social da organização. Apenas se reconhece o óbvio, o próprio desenho maçónico que esteve na base da Sociedade das Nações em 1918, num processo onde participaram portugueses tão ilustres como o futuro prémio Nobel, Egas Moniz, ou o ex-chefe do governo, Afonso Costa, insignes maçons, por acaso inimigos políticos, no plano doméstico.

 

Será, de facto, fácil de admitir que a maçonaria sofreu uma degeneração dos seus princípios?

As coisas humanas, mesmo as que procuram o sagrado, tanto degeneram como se aperfeiçoam, tal como cada um de nós cai e se levanta. A perfeição apenas reconhece que cada um deve reconhecer a respectiva imperfeição para que possa procurar a perfeição. Segundo uma alegoria maçónica, chama-se a isso trabalhar a pedra bruta, para depois a polir e permitir a construção do templo interior.

 

Casos como o das secretas, não prejudicam gravemente a reputação da maçonaria? Deve haver limites à actuação dos membros ou mesmo castigos a quem usa em vão o seu posto de maçon?

Do que foi dito e tem aparecido, julgo que o principal problema está nos órgãos de investigação criminal do Estado português, nas leis por cumprir que regem a matéria e na falta de adequada fiscalização parlamentar. Não está nos bodes expiatórios e muito menos na eventual coincidência de alguns implicados em parangonas jornalística  com sociedades maçónicas. E a transparência talvez exija que não manipulem a luta pela transparência, alimentando uma fumarada que pode ocultar lutas partidárias pelo poder político, ou lutas de grupos de negócios pelo poder económico, social e comunicacional.

 

Historicamente, a maçonaria teve um papel relevante em Portugal. Que mais se pode esperar?

Que os valores professados pela tradição liberal possam ser tão naturais quanto o ar que se respira num país livre, com homens livres. E que os maçons não esqueçam momentos dramáticos em que se dividiram em jogos profanos e dissidências politiqueiras, como foi flagrante com o cabralismo e a patuleia, ou no processo de decadência da Primeira República, com afonsistas, almeidistas, camachistas, sidonistas e outros istas da personalização poder, desrespeitando as fundamentais constituições da ordem. O que nos falta é uma nova maçonologia, isto é, uma actividade científica e não meramente apologética, que estude o fenómeno maçónico, não apenas no campo historiográfico, mas também nos domínios da filosofia, da antropologia, das belas artes, da literatura ou da arquitectura.

 

Em Portugal debate-se sempre constantemente o problema da corrupção. A maçonaria pode ter um papel contra este problema?

Tenho um artigo sobre a matéria no número um da nova série da Revista de Maçonaria, que congrega profanos e maçons de várias obediências. É exactamente a mesma coisa que tenho vindo a dizer em revistas científicas desde o século passado e que me levaram a estar associado à implantação em Portugal de duas experiências de introdução da Transparency internacional, finalmente consolidada com a associação cívica Transparência e Integridade, cujos princípios advogo militantemente.

 

O que se pode esperar da maçonaria para os próximos tempos?

Que seja liberdadeira, de acordo com as regras tradicionais da liberdade individual, da autonomia da sociedade civil e da integração dos valores da libertação nacional no cosmopolitismo, para que cada nação possa converter-se armilarmente na super-nação futura, a república universal. Isto é, que tenha saudades de futuro, conforme o sonho do maior dos símbolos maçónicos do século XX português, Fernando Pessoa.

publicado às 21:19

Samuel, não existe qualquer caça a bruxas... caçadoras!

por Nuno Castelo-Branco, em 07.01.12

Diz-se que no vale do Nilo, ainda há quem adore o deus Aton, participando em cerimónias evocativas durante os períodos de tempestades solares ou do solstício. Na Índia as vacas são sagradas, assim como algumas espécies de macacos que saltitam de telhado em telhado, obrando livremente sobre pedras de templos bem carcomidos pelo passar dos séculos. Há quem acredite em discos voadores, na Terra oca, na base nacional-socialista de um IV Reich na Antártida, enquanto outros com um sentido mais prático das coisas, agremiam-se em sociedades discretas e infinitamente mais eficazes. Para colocar um ponto final quanto a este desinteressante tema, apenas queria deixar uma sucinta resposta que todos possam facilmente entender, de tão visíveis são as evidências.

 

O meu querido amigo Samuel cita o Prof. Adelino Maltez que nos lembra a história de um "GOL (que) não começou em 1910. Foi fundado e existe continuadamente desde 1802. Já esteve em 1806-1808, na luta contra Junot, em 1817, 1820 e por aí fora. Sempre com a liberdade."

 

Terá sido assim? Claro que não, senão vejamos: 

 

Para sermos mais correctos, quando o país inteiro já tinha conhecimento do Tratado de Fontainebleau que destronava a Casa de Bragança e retalhava o nosso território em proveito de franceses e espanhóis, o embrião do GOL  foi receber Junot às portas de Lisboa, logo escrevendo uma carta a Napoleão a implorar um Rei - da "casa" Bonaparte ou um sargentão serviçal de ocasião - para Portugal. Os irmãos ainda tiveram o topete de enviar uma deputação a Baiona e não sendo suficiente tal protesto de amizade por quem ocupava o país saqueado e o reduzia a um governo-geral, os então pouco discretos convivas, foram entusiasticamente arregimentar-se na Legião Portuguesa ao serviço do invasor depredador da Pátria. Chegaram mesmo a participar na III Invasão Francesa e nas campanhas de Bonaparte na Prússia e na Rússia. Isto tem um nome, vem no dicionário e a palavra começa pela letra T. Sabe-se que nas últimas décadas consiste num termo que caiu em desuso, mas nem por isso deixa de surgir na lista das ignomínias mais repulsivas.


Quanto ao presente caso que tantos aborrecimentos tem dado a quem há oito gerações manda no nosso país, há quem entre para estas organizações, com o límpido fim da promoção de grandes ideais enunciados e que  afinal poderão resumir-se a três. Também se conhece o pendor que outros têm por cerimónias iniciáticas, fardamentas exóticas, arquitecturas que agradariam a Cecil B. DeMille ou senhas e contra-senhas que nos remetem para os tempos da nossa infância. Tudo isto é natural e tão trivial como os clubes de modelismo, de arqueiros ou recriação de torneios medievais.

 

A partir do momento em que se conspira contra a legalidade constitucional - repito, constitucional - do Estado, promove-se a eliminação física do soberano, a perseguição a um amplo sector da população portuguesa - a Igreja "concorrente" e os seus seguidores -, indiscriminadamente se prende e coage aqueles que se pretende ver afastados do poder, estamos então perante uma situação bem difícil de resolver, se é que tem resolução. Neste caso que tem varrido a imprensa na última semana, as discretas entidades surgem ligadas aos interesses económicos - cá está o vil metal em causa, daí o frenesim - , ao espiolhar da vida pública e privada dos cidadãos, assim como ao claro prejuízo do interesse e formal dignidade do Estado. Para que sejamos claros quanto a um aspecto relevante, os já nada discretos, lesam a "concorrência" no campo da economia. Colocar amigos em lugares onde os concursos não passam de um pro forma, afastar outros em benefício da irmandade e para cúmulo, tentar obter-se o controlo das instituições estatais detentoras de armas, da informação e defesa do Estado, é demais. 

 

Não há qualquer margem para um exagero e não existe caça às bruxas, até porque de facto quem governa Portugal há dois séculos, é a Maçonaria. Se ela naturalmente sofre de lutas e rançosos ódios intestinos, rotineiramente fazendo cair os seus próprios regimes - nem precisamos de enumerar quais -, tal se deve em primeiro lugar, à necessidade de reciclagem para que "algo mude". Ainda ontem, o Sr. Arnaut proclamava com orgulho, os inestimáveis serviços prestados à pátria e à liberdade, procurando reduzir a isto, a acção que o GOL tem na conformação desta nossa sociedade tão desigual e injusta. Se apenas se pretende contabilizar os sucessos que fizeram o seu tempo, qual foi a verdadeira razão para o violento desencadear da destruição da Monarquia Constitucional, qual a razão para a queda das 1ª e 2ª Repúblicas - bem ao contrário daquilo que querem fazer crer, o Estado Novo contou com muitos e bons irmãos, a começar pelo longevo Chefe do Estado e o Presidente da Assembleia Nacional - e chegando aos nossos dias, o actual estado de desagregação do esquema vigente? 

 

Lá estarão muitos idealistas e como agora se usa dizer, gente solidária? Certamente. Participarão nas tertúlias aqueles que apenas metafisicamente se preocupam com o devir da humanidade? É bem provável. 

 

O pior será o resto que sempre se soube, aquilo que agora se sabe e a incógnita enroupada de secretismo que talvez jamais vira á luz do dia, ou utilizando um termo mais próprio desta temática, da alvorada de uma manhã sem nevoeiro. 

 

A discussão está aí bem renhida e logo na imprensa que se julgava domesticada. Consiste num tema tão válido como o da gripe das aves, da doença dos pézinhos, do aeroporto na desértica margem sul, ou o TGV. Fale-se, debata-se o assunto, pois havendo limpidez, dissipar-se-ão receios ou desconfianças.

publicado às 19:51

A maçonaria e a caça às bruxas em curso

por Samuel de Paiva Pires, em 07.01.12

Quando seja lá quem for que esteja a fornecer informações à comunicação social conseguir que todos os maçons da classe política saiam do armário, a seguir o que é que acontece? Metemo-los a todos num barco daqui para fora? E a seguir, fazemos o mesmo aos da Opus Dei? E aos ateus? E aos monárquicos? E aos gays? E sobra quem para (des)governar o país? Esta caça às bruxas à qual não faltam idiotas úteis ainda vai ter muito que se lhe diga.

publicado às 17:08

No seguimento deste post, onde dou conta de um determinado artigo de Karl Popper, deixo uma tradução feita por mim de parte do mesmo. Trata-se de "Towards a Rational Theory of Tradition", in Karl Popper, Conjectures and Refutations, Londres, Routledge, 2010, pp. 165-168:

 

«Uma teoria da tradição tem de ser uma teoria sociológica, porque a tradição é obviamente um fenómeno social. Menciono isto porque pretendo brevemente discutir convosco a tarefa das ciências sociais teoréticas. Esta tem sido frequentemente mal compreendida. De forma a explicar qual é, penso eu, a tarefa central das ciências sociais, gostaria de começar por descrever uma teoria que é defendida por muitos racionalistas – uma teoria que eu penso que implica exactamente o oposto do verdadeiro objectivo das ciências sociais. Chamarei a esta teoria a ‘teoria da conspiração da sociedade’. Esta teoria, que é mais primitiva que a maioria das formas de teísmo, é semelhante à teoria da sociedade de Homero. Homero concebeu o poder dos deuses de tal forma que tudo aquilo que acontecesse na planície de Tróia seria apenas um reflexo das várias conspirações no Olimpo. A teoria da conspiração da sociedade é apenas uma versão deste teísmo, de uma crença em deuses cujos caprichos e vontades regulam tudo. Deriva de se abandonar Deus e depois perguntar ‘Quem está no seu lugar?’ E o lugar dele é então preenchido por vários homens e grupos poderosos – sinistros grupos de pressão, que são culpados de terem planeado a grande depressão e todos os males de que sofremos.

A teoria da conspiração da sociedade é muito difundida, e contém muito pouca verdade nela. Só quando teóricos da conspiração chegam ao poder é que se torna algo como uma teoria responsável pelas coisas que realmente acontecem (um exemplo do que eu chamei “Efeito de Édipo”). Por exemplo, quando Hitler chegou ao poder, acreditando no mito conspirativo dos Sábios do Sião, tentou ultrapassar a conspiração destes com a sua própria contra-conspiração. Mas o interessante é que uma teoria da conspiração nunca – ou quase nunca – acontece da forma que se pretende.

Esta observação pode ser vista como uma pista quanto à verdadeira tarefa de uma teoria social. Hitler, disse eu, elaborou uma teoria da conspiração que falhou. Porque falhou? Não apenas porque outras pessoas conspiraram contra Hitler. Falhou, simplesmente, porque uma das coisas notáveis acerca da vida social é que nunca nada acontece exactamente como se pretende. As coisas acontecem sempre de forma um pouco diferente. Raramente produzimos na vida social precisamente o efeito que queremos produzir, e geralmente acontecem-nos coisas que não queremos no processo de barganha. Claro que agimos com determinados objectivos em mente; mas à parte destes objectivos (que podemos ou não realmente atingir) existem sempre consequências não pretendidas das nossas acções; e normalmente estas consequências não pretendidas não podem ser eliminadas. Explicar porque não podem ser eliminadas é a tarefa principal da teoria social.

(…)

Eu penso que as pessoas que se aproximam das ciências sociais com uma vulgar teoria da conspiração negam a elas próprias a possibilidade de alguma vez entenderem qual é a tarefa das ciências sociais, pois assumem que podemos explicar praticamente tudo numa sociedade perguntando quem o quis, quando a tarefa real das ciências sociais é explicar aquelas coisas que ninguém quer – como, por exemplo, a guerra, ou a depressão. (A revolução de Lenine, e especialmente a revolução de Hitler e a guerra de Hitler são, penso, excepções. Estas foram realmente conspirações. Mas foram consequências do facto de teóricos da conspiração terem chegado ao poder – que, de forma significativa, falharam na consumação das suas teorias).

A tarefa das ciências sociais é explicar como é que as consequências não pretendidas resultam das nossas intenções e acções, e que tipo de consequências resulta se as pessoas fizerem isto ou aquilo ou aqueloutro numa determinada situação social. E é, especialmente, a tarefa das ciências sociais analisar desta forma a existência e funcionamento de instituições (como as forças policiais ou companhias de seguros ou escolas ou governos) e colectivos sociais (como estados ou nações ou classes ou outros grupos sociais). O teórico da conspiração acreditará que as instituições podem ser entendidas completamente como resultado de um desenho consciente; e quanto aos colectivos, habitualmente confere-lhes uma espécie de personalidade de grupo, tratando-os como agentes conspirativos, como se fossem homens individuais. Opondo-se a esta visão, o teórico social deve reconhecer que a persistência de instituições e colectivos cria um problema a ser resolvido em termos de análise das acções sociais individuais e das suas consequências sociais não pretendidas (e muitas vezes não desejadas), assim como das pretendidas.» 

publicado às 13:52

Com letra do maçon Vinicius de Moraes e do Maestro Tom Jobim (que dá também nome a uma loja maçónica brasileira) legendada em "orientalês": 

 

publicado às 02:01

Sobre a maçonaria

por Samuel de Paiva Pires, em 06.01.12

Não deixa de ser curiosa esta recente onda de indignação. Só me questiono de onde virá e quem andará a informar aparentemente tão bem os jornalistas. Infelizmente continuamos a ter uma sociedade com franjas de intolerância e fanatismo. Talvez seja um pouco o que Scruton denomina de ressentimento transferido (As Vantagens do Pessimismo), o que serve mais para expiar os pecados próprios de certos acusadores, sempre prontos a encontrar bodes expiatórios para explicar o que não percebem ou desconhecem. E já Popper explicou bem porque certas mentes são muito propensas às teorias da conspiração ("Towards a Rational Theory of Tradition", in Conjectures and Refutations).

 

Entretanto, a não perder este post de José António Barreiros (via João Gonçalves) e os posts do Prof. José Adelino Maltez no Facebook, precisamente no combate ao fanatismo e intolerância. Mais do que nunca, importa relembrar Fernando Pessoa: "o primeiro erro dos antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçónico em geral pelas afirmações de maçons particulares, escolhidas ordinariamente com muita má-fé" (1935). O segundo erro "em não querer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está materialmente dividida."

publicado às 14:28

Não é só com pedreiros que se constroem coisas

por Samuel de Paiva Pires, em 05.01.12

No meio da azáfama com esta estorieta dos pedreiros livres no parlamento ainda ninguém fez a pergunta que realmente importa: então e serventes, trolhas e mestres de obras, não há?

publicado às 23:48

Em poucas e certeiras palavras

por Nuno Castelo-Branco, em 04.01.12

"Nunca devemos desprezar a importância de nos sentirmos importantes. E há tanta gente que se leva tão a sério... Já a razão porque carreiristas e traficantes se sentem bem neste tipo de organizações é bem mais fácil de compreender: mesmo que não tenham nascido para isso, elas são o lugar ideal para construir carreiras a medíocres e fazer negócios menos claros.

Mas a coisa fica bem mais grave quando percebemos que naqueles espaços se traficam, em segredo, os segredos do Estado. Ou seja, que estas organizações se apoderam, usando da sua obscuridade, de funções que a democracia reservou ao Estado."

 

Daniel Oliveira, no Expresso e no Arrastão




publicado às 15:35

Coitado do Mozart...

por Nuno Castelo-Branco, em 04.01.12

Foi mesmo apanhada a inventar com quantos dentes tem na boca, num patético Exsultate, jubilate. Nem Ricardo Costa hesitou em dizê-lo a quem o quis ouvir. O facto de gente envolvida nas tertúlias estar sentada à volta de mesas onde se fiscalizam certas actividades relacionadas com as mesmas, diz muito acerca da situação a que chegámos.

 

De toda aquela flagrante aldrabice na conferência de imprensa que pretendeu ser uma mozartiana Missa Solemnis, acabou por lhes sair uma Missa Brevis e a ver vamos se não se torna num Requiem. Salvo honrosas excepções, o PSD anda a mentir e a descaradamente efabular há demasiado tempo. Mais precisamente, desde 1974. Tudo isto é uma vergonha para Portugal, escandalosamente esbulhando e caçoando daquilo que ainda é um país.

 

A verdade é que o duo Dª Teresa-Irmão Montenegro, nem sequer se trata de compinchagem numa "Falsa Jardineira".

publicado às 09:41

PSD: um espectáculo deplorável

por Nuno Castelo-Branco, em 03.01.12

De roer as unhas, esta conferência de imprensa dada pelo PSD, onde uma deputada de seu nome Teresa, procurava interromper qualquer jornalista que sendo mais afoito, colocasse qualquer pergunta embaraçosa para os rendondéis da sua cabecinha.

 

O discurso "sacode a água do capote" não passou. Ali há mesmo um gatarrão escondido com o rabo de fora, disso não sobeja fímbria de dúvida. Questionado o Sr. Montenegro acerca da sua pertença à "coisa discreta", este contestou com a garantia de "jamais as suas acções poderem alguma vez ser consideradas como contrárias ao interesse nacional". Claro que isto não passa de uma espécie de fintazita que nada esclarece, até porque o almejado interesse nacional é para os "discretos", o interesse da própria discreta. Trata-se de uma desculpa velhota de uns quase 150 anos, decerto corroborada pelo crava-cassetes Ricardo Carvalho do PS.

 

É mesmo verdade, os tontos do poder julgam-se de tal forma "discretos" que confirmam todos os dias aquilo que há umas semanas aqui dissemos: voltaram a 1909, quando a coisa verde-rubra - naquela época na ordem de mastro invertida - queria dizer "pertença à coisa". Relvas, Carlos A. Amorim, ou Montenegro - estranhamos a rendição de PPC -, já andam de esmalte à lapela. Tenham atenção aos debates parlamentares, aos ministros e aos noticiários televisivos. Claro que podem alegar uma cópia patrioteira daquilo que os americanos fazem, mas simplesmente não convencem nem a costureirinha da Sé.

publicado às 16:33






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