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Sobre a legitimidade da resistência armada do povo venezuelano aos grilhões do regime de Maduro, o presente arranjo governativo da República Portuguesa parece ter memória curta. Portugal também realizou um atentado a 25 de Abril de 1974, em nome da liberdade e dos princípios democráticos que tanto apregoa. Talvez devido ao facto de Portugal ser refém das centenas de milhares de portugueses que vivem nesse Estado, o ministério dos negócios estrangeiros tome o partido errado e se coloque ao lado de um ditador que mata à fome o seu povo. Na própria Constituição da República Portuguesa a figura de acção directa e defesa contra agressões estão contempladas. Embora as mesmas aludam ao conceito de ameaça e violação da integridade soberana perpetrada por forças estrangeiras, a verdade é que a História já demonstrou de um modo inequívoco que muitas vezes os maiores inimigos são de origem nativa. Maduro deve ser considerado um traidor do seu povo. O resto é conversa política e normativamente correcta. Mas a política e a História não estão escritas em manuais. É na rua que elas acontecem. Viva o povo de Venezuela!
O Governo da República de Portugal está de consciência tranquila em relação à Venezuela. Aliás, não convém nada uma mudança de regime. Não seria nada conveniente instigar um processo democrático que resultasse no afastamento de Maduro. Os socialistas portugueses, independentemente de pareceres da União Europeia (UE), não vêem com bons olhos uma crise profunda que abane o "status quo" daquela realidade. Referem um regresso à normalidade constitucional quando o que aquele país precisa é de um levantamento popular que afaste o ditador socialista Maduro e que o julgue por crimes cometidos contra o seu povo e opositores políticos. E este estado de arte política coloca Portugal numa situação particularmente difícil. São mais de 400 mil portugueses com residência na Venezuela, ao que se somam mais de um milhão e meio de luso-descendentes. A haver um processo de "descolonização" resultante de uma revolução democrática na Venezuela, Portugal terá de ter um programa de repatriamento de nacionais, um conceito operativo para lidar com os "retornados". Para já sacodem a água do capote afirmando que os que têm saído da Venezuela preferem Espanha devido às afinidades linguísticas, mas sabemos que quando a crise ganhar contornos mais intensos, outras valias, de índole jurídica, far-se-ão valer. Quando Santos Silva diz que não aceita os resultados das eleições, está de facto a fazer ouvidos de mercador, a fingir, a ser politicamente correcto, mas a mentir com os dentes todos. A geringonça é adepta de Maduro, como outros foram de Chavéz e dos Magalhães - aqueles PC - a verdadeira maravilha do engenheiro das amizades duvidosas.
Não perderemos pela demora. Os acontecimentos precipitar-se-ão na Venezuela, queira ou não queira o governo português, seja ele de que tons for. Não se trata já de um se, mas sim de quando. Há uns anos aqui neste blog foram as nossas autoridades avisadas - então sob a égide da coligação Passos Celho/Paulo Portas - e aparentemente nada mudou, naquele previsível exercício do empurrar os problemas com a barriga sempre faminta de negócios mais ou menos claros.
A Venezuela, tal como a África do Sul - o próximo da lista -, tem a particularidade de dentro das suas fronteiras contar com uma colossal comunidade de portugueses e luso-descendentes, praticamente todos eles com as suas geleiras e despensas vazias e ainda por cima, vítimas fáceis de todo o tipo de criminosos de delito comum. Por outro lado, sabe-se que são gente empreendedora e uma boa parte dela assentando arraiais no sector da distribuição alimentar no seu sentido mais lato: produção em unidades fabris, mini e supermercados, padarias, pequena indústria transformadora, fazendas de produtos agrícolas e gado. Enfim, são gente que não vive nem quer viver à espera do Estado para receber qualquer coisa.
Aqui está uma inevitabilidade que mais dia menos dia forçará a TAP a rever a sua controversa e oportunista política de preços nos voos para Caracas. Não tardará o momento em que a companhia do Estado será obrigada a colaborar numa atabalhoada evacuação que já se antevê relativamente aproximada do desastre de 1974-75-76. Aí teremos os terminais aeroportuários a abarrotar de refugiados - lá lhes chamarão novos retornados para disfarçar a catástrofe com um epíteto mais tragável - que daquele país apenas trarão a roupa com que desembarcarão numa Lisboa já esquecida de pretéritos, péssimos e vergonhosos exemplos. Lá terá então o nosso governo de recorrer de mãozita estendida ao Soviete Supremo de Bruxelas, recriando-se o IARN e tudo o que significou em termos de iniquidade, corrupção e abuso de confiança. Deve ser exactamente isto o que pretendem.
Por enquanto as autoridades nacionais ainda estão a tempo de gizar planos de aliciamento dos primeiros interessados com créditos, possibilidade de atribuição de terras de cultivo seja do que for e repovoamento de localidades semi-abandonadas, bastando para isso a formação de uma entidade competente e com plenos poderes para executar esta missão. Eles virão, não duvidemos. Não deverá ser nada difícil aliciar muita gente que se encontra no mais completo e absurdo desespero. O tempo urge e já não vale a pena fazermos de conta de que tudo correrá pelo melhor. A situação não evoluirá satisfatoriamente, tenhamos então a certeza disso. Se o governo bolivariano - aliás um bom amigo dos sucessivos governos portugueses - é ostensivamente incapaz, a oposição está ao mesmíssimo nível da sua congénere brasileira, pois além de inepta, é escandalosamente corrupta e mafiosa.
Sim, isso mesmo, a oposição é mafiosa.
Sabendo-se de antemão o calibre de todas as castas que há décadas se têm sucedido no controlo do poder a partir do Palácio de Miraflores e as inevitáveis ingerências externas por parte dos EUA, Rússia, Cuba e outros actores internacionais interessados na região, Portugal deverá defender os interesses dos seus que por sinal, significam uma fantástica oportunidade para as várias maleitas que este país tem sofrido desde há algum tempo: quebra da natalidade, urgente redinamização do sector imobiliário semi-abandonado ou nas mãos de uma banca totalmente falida, estiolar do empreendedorismo, abandono do interior e uma miríade de outras situações que os telejornais quotidianamente apontam. Isto seria possível num quadro diferente, em que a agilizaçãod e procedimentos burocráticos fosse uma realidade que o regime, no seu todo preso aos interesses instalados, não quer nem pode executar.
Não procurem mais noutras latitudes, não vale a pena mantermo-nos na já longa e fastidiosa fase wishful thinking como agora alguns gostam de dizer. Há que proceder a uma criteriosa evacuação faseada de todos os interessados, preferencialmente de uma forma discreta e ordenada.
Os portugueses e luso-descendentes da Venezuela decerto estarão interessados em instalar-se num país muito seguro, com condições infinitamente superiores - a todos os níveis - às daquele em que miraculosamente têm sobrevivido. Mais ainda, Portugal deles precisa urgentemente, como dos luso sul-africanos tem, percamos as ilusões, imperiosa necessidade num futuro bastante próximo. Para cúmulo da felicidade comem o que nós comemos, entendem perfeitamente o que dizemos, não se lhes passa pela cabeça mais tarde ou mais cedo exigirem a construção de outro tipo de templos e muito menos ainda condescendem com um género de santas ideias que consideramos ultrapassadas há pelo menos meio milénio. Estes governos que se têm revezado no exercício do poder em S. Bento não podem deixar às gerações que aí vêm, mais uma canga que se soma ao défice, às PPP, à dívida pública e ao controlo de Bruxelas. Evitem pelo menos todas as hipóteses que remotamente possam no futuro trazer violência, prepotência e abusos de toda a ordem às ruas das cidades portuguesas. Para bom entendedor, isto basta.
Tudo o mais não passa de ignóbil hipocrisia que pagaremos todos da pior forma. Basta olharmos para além, para o resto da Europa.
Hollande 23% - 32% Costa. Serão almas génias?Já viram isto? Ok. Estou a brincar, mas isto não é caso para gargalhadas (já vamos à Venezuela e aos Magalhães). Por ora tratemos dos gauleses. Já sabemos que irá haver uma tentação clara para justificar a perigosa vitória de Le Pen, nas eleições regionais em França, invocando o clausulado securitário. Os Je suis Charlie e os Bataclans podem até servir para sustentar as "causas próximas", e até no plano cultural, no húmus da mentalidade, nas correntes filosóficas, poderíamos decifrar a profundidade conceptual que define o nacionalismo francês. Mas não vamos chamar o alemão Fichte nem Rousseau, e exigir explicações. Será no relógio contemporâneo que o fenómeno de ascensão da extrema-direita se move. Lembro-me do que disse o pai (octagenário) de um ex-amigo francês: "a selecção nacional de futebol de França está a ficar muito escura". Pois bem, é nesse plano da exclusão do legado histórico (e colonial) que se operam as modalidades de francês de primeira e marselhês de segunda. Hollande também tem a sua quota de responsabilidade. Em nome da justiça socialista cometeu excessos - por exemplo, e muito convenientemente, foi atrás do património alheio, radicalizou-se na sua falsa imodéstia ideológica, e demonstrou que não soube estar ao centro e se balançar no frágil palco da sociedade francesa. O que aconteceu em França nem carece de mais um empurrão de um terrorista islâmico. França está a viver o resultado de um investimento ideológico lançado pela geração Le Pen precedente. Tempos perigosos assolam a Europa, mas outro género de revoluções também denunciam a falência de uma outra Esquerda demagógica, de decepção. A Venezuela é a outra face da mesma aresta ideológica. A divisa do socialismo-extremo hiperinflacionou-se e rebentou a escala do bem comum, profundamente anti-capitalista, e destruidora de liberdades e garantias. O legado de Chávez de nada vale no mercado secundário de inspiração ideológica. Cuba também já está a dar o berro. Resta saber que fonte de inspiração ainda se mantém de pé para visionários locais. António Costa deve pensar nas sucessivas legislaturas e na efectiva possibilidade de estar a preparar o terreno para incursões radicais da Direita em Portugal. A ideologia é uma espécie de boomerang e balão de ar quente em simultâneo. Vai e volta com ainda maior pujança, ou simplesmente cai por terra. As decisões do comité-central do PCP e da coordenadora do BE podem produzir um efeito de ricochete ainda mais violento do que se possa imaginar. Basta não acertarem o passo. E tudo indica, já nesta antecâmara, que Jerónimo de Sousa não quer acertar a sua passada à música de António Costa. O que está acontecer em França é um exemplo-vivo das consternações que afligem a Europa. Não julguem por um instante que isso é lá com eles. Não é disso que se trata. Nem precisamos de ir a Munique e regressar com o troféu das garantias dadas. Lamento muito. É agora.
Que eu saiba não existe uma comunidade portuguesa na Crimeia, mas existe uma de dimensão assinalável na Venezuela. Não sei com o que anda entretido Machete nos dias que correm. O chefe dos negócios estrangeiros não assinou o manifesto dos 70 e ultimamente não tem andado a pedir perdão aos sete ventos. Pois bem, não é preciso ser um especialista em relações internacionais para observar que a situação em Caracas está muito perto de se tornar explosiva e irreversível. Deixemos por enquanto a ideologia fora do debate, a eterna discussão dos sucessos da revolução boliviana, as sociedades útopicas de pão, paz e liberdade para todos, e concentremo-nos na mera logística que implica Portugal de um modo substantivo. Segundo um amigo e correspondente de nacionalidade venezuelana: "Hoy queda en envidencia que: Venezuela se encuentra totalmente aislada en la región. Lo que pasó hoy en la OEA es una demostración de que el pasado no existe, el presente es lo que importa y en el futuro ya veremos. Además, queda en evidencia que la verdad aturde y es incómoda... no habrá un árbitro que intervenga en esa pesadilla de realidad y antes de ser árbitro, prefiere hacer el papel de los tres monos sabios. Por último, que el Gobierno que está técnicamente caído no tiene más asidero que la fuerza, la represion y las armas, solo asi se mantiene el gobierno, solo así saldrá. La población civil está derrotada, pisoteada y subyugada, el castrochavismo, el fascismo de América Letrina se impondran al estado de derecho, al progreso y a la integración, apenas porque un puñado de locos en Venezuela y en Cuba quieren que asi sea." E continua numa outra tirada em inglês não técnico: "(...) Regarding the situation in Venezuela, Chavez and Maduro make Salazar and Caetano look puny. However, because of the empathy with the situation, I expected Portugal to be in the frontline against the tyrant dictatorship. Even my colleagues in media and professionals in journalism, observe the situation in silence, oblivion and amnesia! I cannot blame them because they have not yet taken the side of the Government, but the few friends I have in Portugal, have been concerned and active about the situation in Venezuela. In Portugal, only when the selfish interest of the portuguese is at stake, the events are shown on the news in a very particular way (texto não-editado). De acordo com a mesma fonte, neste momento são governos, políticos chulos e parasitas que apoiam a ditadura na Venezuela. Refere ainda a tristemente célebre intervencão do Brasil na OEA (www.venezuelaaldia.com) e a dívida colossal que irá em última instância determinar o descalabro da sociedade venezuelana na totalidade do seu espectro. O "meu homem em Caracas" refere ainda as movimentações russas no sentido de esta instalar bases militares na Nicaragua, Cuba e Venezuela. Como nota final do meu correspondente, Portugal deveria seriamente preparar um plano para acolher uma boa parte dos 500.000 portugueses que vivem estes tempos tumultuosos na Venezuela. A serem obrigados a "se evadir" do regime, certamente que Portugal será entendido como porto de abrigo natural. Mas todos sabemos que não tem sido apanágio da política externa portuguesa preparar a eventualidade de certos acontecimentos de um modo racional e antecipado. Enquanto houver negócios a concretizar, o Palácio das Necessidades virará a cara às efectivas prioridades políticas, em nome de Magalhães e companhia.