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Quais os negócios decorrentes ou subjacentes à greve? Sim, esta questão deve obrigatoriamente ser colocada, mesmo que eles não gostem. Esta pergunta deve ser feita à margem de considerações ideológicas, em nome dos factos em si, desprovidos de carga partidária e sindical. A factura que geralmente é apresentada diz respeito à quebra de produtividade, o percentil do produto interno bruto afectado pela abstinência laboral. E o exercício oposto? A conta de somar que oferece um olhar diferente sobre os números. Se assumirmos uma abordagem simples e reducionista, poderíamos perguntar de um modo básico; há ou não maior consumo privado de combustível, uma vez que estando parados os transportes públicos os particulares são forçados (se tiverem viatura) a se fazerem à estrada? Dois pontos para a GALP. Uma vez que as concentrações de grevistas acontecem em locais definidos de antemão pelas centrais sindicais, o transporte para esses locais não se faz em camionetas contratadas para o efeito? Dois pontos para a empresa Barraqueiro. As empresas que fornecem as t-shirts, as faixas com mensagens de protesto ou as que realizam a montagem de palcos a partir dos quais os dirigentes gritam as suas mensagens não têm nada a lucrar? Ou será que os preços dos bens e serviços também estão de greve? A escassez de bens e serviços resultante da realização de greves encarece ou não os bens? A raridade de um bem não o torna mais valioso? O que gostaria de saber de um modo desapaixanodo; quais os números da mais-valia grevista? Como funciona o modelo de negócio da greve? Quem tem a ganhar? Porque provavelmente, e sem o sabermos, pode ser que seja uma galinha de ovos de ouro. Um país que descobre uma economia que não chega a ser sombra - é uma economia de greve, com tanto direito a existir quanto as outras economias regulares ou marginais. O dia de greve é um dia difícil de determinar, mesmo que seja um dia de grande determinação. Nunca nos devemos esquecer que o chão de uns pode ser o tecto de outros. Pode ser um tecto falso, mas não deixa de ser uma medida a ter em conta. Quando os sindicatos apregoam que desta vez "vão mostrar ao governo" a força de uma paralisia nacional, seria bom que realizassem as contas todas, para determinar quem sai a perder (menos) e quem sai a ganhar algo. Não se trata de um jogo de soma zero. Neste tira-teimas perdem todos - aqueles que fazem um belo dia de praia, menos os que vendem gelados. Neste duelo não há lições a dar nem a receber. A pausa no trabalho é uma interrupção voluntária ou uma coisa induzida pelo piquete que oferece agravos e raramente prémios pelo desempenho? Nesta contradição quase literária, que afirma "respeitar os que trabalham e os que fazem greve", é uma terceira via que de facto avança no terreno. Uma coisa que nem é peixe nem carne, sem ser vegetariana. É mais um animal de ódio e estimação ao mesmo tempo, uma hidra, um ser híbrido canino que não tem juízo; um cãosenso que não granjeia unanimidade e que morde a própria cauda. Um monstro que esmifra até ao tutano a ideia de uma nação a puxar para o mesmo lado. Portugal é uma sentença repartida pela associação, uma teia de colaboradores que se apresentam como rivais sem o ser. O governo e os sindicatos são de facto uma mesma entidade. Os políticos e os negócios vivem um estado idílico que impossibilita divórcios de ocasião, nem que seja por um dia. O momento em que nos encontramos, obriga-nos a rever as relações de subalternidade e domínio. É isso que está em causa num dia como hoje. Por favor, não deixem que lhes atirem a areia da Caparica para os olhos. O inimigo são eles todos. Somos nós. Ou será que ninguém quer saber?