Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Porque são as câmaras municipais tão apetecíveis? Porquê é que sentimos tamanha agitação em torno da autarquia? Querem uma fotografia rápida da câmara? Se existe um animal selvagem que também pode concorrer na categoria de mascote da prevaricação política em Portugal, esse bicho é o presidente de câmara e os seus associados. A explosão de alegria que se fez sentir com o desmoronamento do antigo regime e a instalação da Democracia, foi acompanhada pelo fenómeno de disseminação do poder, pelo esfregar de mãos daqueles ávidos por saquear a coisa pública para benefício próprio. As câmaras municipais obedecendo a esse princípio de dispersão de autoridade e administração, foram a fachada perfeita para colocar em campo as preferências locais. Funcionaram como uma camorra desprovida de sangue e suor, mas que são responsáveis por uma torrente de lágrimas, a lamentação daqueles que ficáram a arder. De norte a sul do país, a devassa passou de licenciamento em licenciamento, de director municipal para director municipal, de empresário amigo para familiares, de tias e enteados para afilhados do mesmo conluio de interesses. Ora era um irmão de um presidente de câmara que de repente viu o seu projecto urbanístico aprovado em sede de assembleia municipal, ora era uma adjudicação de um contrato milionário para recolha de lixo à empresa de um compincha que apoiou a campanha - os favores são para se debolber. É isto que está em causa no descalabro nacional, a institucionalização da corrupção em doses maciças, sem vergonha ou pudor. As sentenças transitadas em julgado que serviram para condenar autarcas foram também parar à câmara - à câmara frigorífica-, onde as consequências efectivas pela prática de ilícitos foram congeladas numa espécie de morgue da irresponsabilidade. De um modo geral, salvo raras e deficientes excepções (não se esqueçam de Santana Lopes que saltou da Figueira para fazer figura de banana enquanto primeiro-ministro de Portugal), a câmara municipal é um destino final, a última morada de pseudo-políticos ao serviço de uma falsa nação que faz fronteira com o concelho seguinte que professa a mesma religião de engano e desvio. No patamar político da câmara municipal foi sendo possível passar despercebido, e, quando as falcatruas foram destapadas, houve quem já desse uns passos de samba lá para os lados do Rio de Janeiro. Porque é que mais de setecentos marmanjos colados em outdoors de cores duvidosas querem estender-se ao comprido na câmara? A resposta é simples; é uma profissão muito bem remunerada. As prestações extraordinárias, fora de portas e horas, são pagas a peso de ouro, com créditos para esquecimento futuro. De uma assentada é possível envolver a aranha e a teia de interesses e esperar pelo silêncio dos outros nas horas difíceis. Estão todos enleados, com a corda pelo pescoço, mas não parece. Por esta e outras razões, Portugal está a passar as passinhas do Algarve há muitos anos e não apenas em Agosto. As câmaras são ardentes. E estamos de luto enquanto não chegam os senhores que se seguem.
O ministro da informação do partido socialista - João Ribeiro, veio a público dizer que Passos Coelho apanhou a carreira partidária e que se deslocou para parte incerta e que se encontra longe da realidade. A candidatura do chefe do executivo a um segundo mandato está fora de questão - de acordo com o porta-voz rosa. "Os portugueses querem é emprego", reclama o PS. Muito bem. Vamos lá por partes. O Passos Coelho tem nacionalidade portuguesa? O Pedro é português? É, sim senhor. E quer emprego? Exactamente. Será que o PS não entendeu o sentido das palavras que profere; o primeiro-ministro está a escutá-los com toda a atenção e quer ser o primeiro a ter emprego. Os socialistas têm de ter cuidado com aquilo que dizem. Há quem ande por aí a aproveitar o que andam a dizer, a desviar para uso pessoal outros significados. Há gente em casa a apropriar-se de chavões para abrir a sua porta de casa e fazer a sua caminha."Os portugueses querem emprego? Ou os portugueses querem "é" emprego? Pois. Há aqui algumas considerações a ter em conta. Os portugueses querem "em" prego? Não me parece. Os portugueses já penhoraram as suas posses. Já puseram tudo no prego. Os portugueses querem "é" emprego? O que significa isto? Que querem trabalho que seja mesmo um emprego? Por outras palavras, os biscates e part-time não servem? O emprego tem mesmo de ser algo inequívoco para o caso de alguém perguntar; o que é isso que trazes "aí" na mão? Isto? Sim. Ah, isto? Isto "é" emprego. E o que quer João Ribeiro? Que pasta dar-lhe-ão em troca e que "é" um emprego? O trabalho de porta-voz deve ser considerado um emprego? Recebe salário mensal? Ou será que a dedicação pro bono lhe trará um emprego? Uma secretaria de Estado? Quiça um ministério inteiro? O que querem os portugueses sabemos nós. Mas regressemos aos mandatos. Por mais que Seguro e companhia venham a lume dizer que são os génios do emprego e crescimento, a verdade é que os mandatos deixaram de ter relevância. Se os socialistas chegarem ao emprego nunca será a tempo e horas de inverter a marcha. Os dados foram lançados para bem e para mal. Mais para mal do que para bem, e os socialistas cumprirão o mandato de Passos Coelho sem tirar nem pôr um "é". Podem chamar-lhe outra coisa, mas não deixará de ser a mesma nota de encomenda. Será também um mandato de austeridade e contracção económica. Será um mandato de execução orçamental com uma emergência a braços, com um país em descalabro. O João Ribeiro pode declamar o que quiser do púlpito do Rato, mas todos sabemos que são falsas promessas. E já agora; qual é a profissão de João Ribeiro? É que temos pouquíssimos dados curriculares a seu respeito e não sei se merece que lhe dêem emprego, mesmo que já tenha iniciado o estágio com tanto entusiasmo. É curioso como uns querem o emprego que os outros não querem largar. Parece mesmo uma coisa de inveja de vizinhos. O meu "é" maior que o teu.