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Continuando no tom humorístico, apenas dizer que, por estes dias, estive fora de Lisboa, em trabalho, no Seminário Nacional do Programa Eco-Escolas, um programa desenvolvido pela Associação Bandeira Azul da Europa, tendo por objectivo a mudança de hábitos através da educação ambiental. Transcrevo, em baixo, o e-mail que recebi de um professor de uma escola da Madeira, onde um colega seu se mostra muito indignado com uma simples mangueira. Fica o belo naco de prosa, que já me provocou umas belas gargalhadas. Já agora, note-se o muy republicano final e o preconceito em relação aos monárquicos - O PPM original ou o actual MPT são exemplos de que os monárquicos são dos que mais se têm preocupado com este tipo de questões, mas, de facto, a falta de conhecimento subjaz aos que mais se arrogam de determinadas prerrogativas. O costume, para não variar.
Olá.
Segue de seguida o tratado escrito por um colega que trabalha a escassos dias na nossa escola e que depois de acusar o funcionário junto ao Conselho Executivo, e este último explicar, que o auxiliar da acção educativa estava a lavar de mangueira uma pequena parte do terreiro da escola, porque tratava-se de um local que de volta e meia cheirava a urina. Depois desta ocorrência, o colega em baixo assinado, escreveu o documento que se segue e enviou-o por e-mail a diversos colegas da escola e para a própria instituição. O que sabemos!!!
Zé Manel
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Assunto: Varrendo e regando o cimento e o alcatrão
Caros colegas e amigos,
Na passada Sexta-feira, dia quente, de chuva e de ar saturado de humidade, por acaso o meu rico dia livre, véspera de fim-de-semana prolongado, dirijo-me à escola para tratar de uns pequenos assuntos da minha direcção de turma. Ao passar o portão principal, quase ao mesmo tempo de dar os bons-dias aos funcionários de serviço, hábito tão importante e tão esquecido nos locais de trabalho, deparo-me com uma cena que me arranca uma exclamação tentada em puro vernáculo regional e transcrita a modos de Horácio Bento:
- Ah, senhor! ‘Tá regando o cimento?! Olhe qu’aei nã medra nada, home …
O zeloso funcionário olhou-me como um misto de espanto e indiferença e seria falsear a realidade se transcrevesse o seu pensamento. Só por um diletante exercício de estilo, e guardando todo o respeito pela pessoa em questão, que é uma simpatia de pessoa, poder-se-ia imaginar algo assim:
- Olha m’esse… Atão era eisso! Havera-de varrer c’a vassoura, não?
Este hábito tão atávica e arreigadamente madeirense de varrer o terreiro com uma mangueira, com a preciosa água potável que brota do recôndito pré-histórico da nossa ilha, é algo que sempre me incomodou, e isto muito antes de o Sr. Secretário do Ambiente e Recursos Naturais ter lançado o mote para uma campanha contra tal hábito, há já talvez quase dois anos, campanha essa que ficou esquecida e envergonhada numa ou noutra notícia de rádio ou de jornal, na comemoração de uma qualquer efeméride ambiental. No entanto, a actualidade das preocupações com a água está patente nas opiniões expressas pelo Presidente do Governo em Maio último.
http://www.jornaldamadeira.pt/
http://www.pgram.org/versao_
Pode-se objectar que o hábito de varrer com a mangueira não é o principal factor de desperdício de água, que o estado de degradação das antigas condutas das cidades aliado à recente loucura pelas piscinas e pela relva nos jardins, são factores de maior peso, embora o consumo doméstico pareça ser determinante. E por consumo doméstico temos desde o autoclismo aos banhos, do lavar os dentes ao cozinhar, da rega do jardim e plantas ao varrer do terreiro com a mangueira…
Seria interessante se alunos, talvez do Secundário, conseguissem calcular os consumos médios na escola: duas descargas de autoclismo por dia por elemento da comunidade escolar – parece-me aceitável – quantos litros perfazem? Três ou quatro lavagens de mãos – agora com a gripe A deveria ser muito mais – outros tantos litros? Lavar de loiça na cozinha e bares, outros tantos litros…
O zeloso funcionário regava o jardim e varria o terreiro com uma mangueira de, no mínimo, uma polegada de diâmetro, cujo único redutor de caudal era a pressão dos seus próprios dedos. Esteve assim entretido em tal mister e circunscrito a uma área de mais ou menos 30 m², como pude constatar desde que cheguei à escola às 10:45 hs, até sair às 11:50 hs, sensivelmente. Até fiz um pequeno vídeo para memória futura, a partir da varanda da sala dos professores, com o telemóvel, esta arma terrivelmente diabólica na mão de alunos e professores.
Pergunto-me, e pergunto aos colegas, sendo a nossa escola uma eco-escola, se ninguém nunca terá visto tamanho desperdício de água. Por mim, acho que tal se resolve com uma ordem simples – varrer é com a vassoura – e com um pequeno investimento – há vassouras próprias para varrer alcatrão ou cimento. No limite, há máquinas que empurram as folhas por pressão de ar. Mas consomem energia eléctrica…
Por fim, sugiro que se convide, no âmbito do tema de Área de Projecto, a Dr.ª Susana Prada, da Universidade da Madeira, responsável pela elaboração de uma recente e inestimável carta hidrográfica da nossa ilha, e porque não o Secretário do Ambiente e Recursos Naturais, a ver se é desta que se faz uma campanha a sério contra o mau hábito de varrer com água potável…
Para terminar, porque isto já vai longo, espero que os colegas não vejam nesta mensagem mais do que o normal cumprimento de um dever cívico e republicano por ser hoje o 5 de Outubro, ainda que acredite que entre os monárquicos haja quem partilhe as mesmas preocupações ambientais e cívicas.
E viva a República!
Saúde e fraternidade,