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O silêncio pode ser ensurdecedor

por John Wolf, em 21.10.17

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Acabo de regressar da manifestação humana, de homens e mulheres, despidos de ideologia ou partidos políticos, que aconteceu na Praça do Comércio a propósito da falência ética e técnica do presente governo. Para cima de dez mil pessoas estiveram, solenes e dignos, em pose de indignação interior. Não foi necessária uma liderança vocal do protesto, não foram necessários acessórios partidários. As pessoas, toldadas e incrédulas pelo abandono do Estado em Pedrógão, Mação ou Arganil, vieram em paz, à civil. No entanto, o movimento silencioso e sereno foi contemplado por uma provocação com provável origem no governo e as suas filiais de geringonça. Bastou uma pequena seita de provocadores, que hasteou a bandeira da culpa do PS, PSD e CDS, para que alguns arrufos e socos mal orientados decorassem o terreiro do Paço. Os media, que vivem de sangue e emoções à flor da pele, para vender publicidade e comprar tele-espectadores, aproveitaram a pequena deixa para denominar a manifestação de "violenta". A RTP, pertença do Estado e do governo, apelidou o evento de "manifestação contra os incêndios", mas está a ser cínica e a obedecer aos patrões. O protesto foi mesmo contra a inexistência do governo, do Estado. Foi a favor da maior prerrogativa que um Estado deve defender - a protecção dos seus cidadãos. Mais nada.

 

fotografia: John Wolf

publicado às 19:33

A grande gala da Constituição

por John Wolf, em 22.11.13

Não estive presente na gala da Constituição apresentada por Mário Soares, mas acedi a imagens em directo a partir do portal da Esquerda. Primeira nota; a qualidade do webcast era excelente. Não houve interrupções no streaming. A única coisa chata (decerto que também para os organizadores) foi estar sempre a aparecer publicidade ao Commerzbank (tinha de ser um banco alemão) - o pop-up não se cansava de aparecer. Mas adiante. Mário Soares fez as honras da casa, mas o espectáculo começou verdadeiramente com o artista Carlos do Carmo que sem demoras se pôs a revisitar a sua carreira, não se sabe se de fadista ou de político frustrado. Masturbação para aqui, narcisismo para acolá - não se sabia se a noite seria aproveitada para homenagear a sua carreira (pelo que se foi percebendo através do Facebook, Carlos do Carlos passou a ser Pepsi para muita gente). Por momentos o evento fez lembrar outros palcos. Por instantes tive a impressão de estar a ver uns globos de ouro ou uma revista à portuguesa. Uma quantidade de frases bonitas foi declamada, decalcada da lei fundamental para umas estrofes de encantamento ideológico. E depois foi dada a palavra a Pacheco Pereira, que servindo-se de retórica elaborada, afastou a tentação dos outros, a inclinação para lhe chamarem novamente de camarada. O filósofo das quinas prosseguiu a aula de etimologia para explicar em detalhe a origem do termo - sim, vem de cama, e se quisermos tem a ver com cópula. Os outros palestrantes, brutos ou menos Bruto da Costa, foram por esse caminho também de defesa da constituição e ataque às políticas de destruição do país, mas não passou de diagnóstico intenso, como se a comissão de honra tivesse sido convocada para validar a sua imunidade em relação às responsabilidade políticas que estão na origem da crise. Como se uma nave especial tivesse vindo de um além para aterrar num país que não lhes pertence. O lirismo da modalidade praticada por Manuel Alegre contagiou os estilos de quase todos, como se o poeta fosse o inspirador dos arcanjos da constituição. Devo confessar que abandonei o webcast quando o senhor que se seguiu a Pacheco Pereira fez uso de outras palavras para dizer o mesmo. Em jeito de reportagem incompleta do certame, devo dizer que não fui testemunha de vestígios de um plano substantivo para salvar o país. A noite foi de convívio de frases sonantes e lágrimas ao canto do olho, mas nada se altera com este encontro de egos gigantes. Mais valia os polícias terem dado à sola da escadaria da Assembleia da República e terem marchado em direcção à aula magna para, de viva voz, recitarem as estrofes do seu descontentamento. Tenho a certeza de que poderiam render a guarda destes sentinelas da constituição com mais conhecimento de causa da dureza da vida. O que aconteceu ontem foi um festival de estilos e peitos inchados. Não fiquei até ao fim do concurso da eurovisão, por isso não sei quem levou o prémio para a mais pura demagogia da noite.

publicado às 10:16

Like a bridge over troubled waters

por John Wolf, em 12.10.13

Por alguma razão entranhada na psique sindicalista, a ponte 25 de Abril continua a ser o símbolo de excelência de libertação da opressão política. Arménio Carlos, ao insistir na antiga ponte Salazar como local de protesto, acaba por revelar alguns defeitos de liderança e falta de juízo e, demonstra que não tem problemas de consciência ao colocar em perigo dezenas de milhar de manifestantes, se de facto a marcha sobre a ponte acontecer. Miguel Macedo apresentou alternativas ao percurso da manifestação da CGTP, mas não sabemos quais são. Por isso vamos especular. Será que o túnel do Marão (que ainda se encontra em construção) está na lista de locais aprazíveis para a prática da arte do protesto? E que tal um dos estádios do Euro? O do Algarve, por exemplo, que está às moscas quase todos os dias do ano. Até poderiam cobrar um valor simbólico pelo ingresso - uma taxa moderadora dos ânimos exaltados. Na minha opinião, embora a ponte em questão seja uma bridge over troubled waters nacionais, existem outros locais que poderiam servir para remeter uma mensagem forte ao destinatário. Ao pretenderem caminhar sobre a estrutura metálica em regime de meia-Maradona com as mãos de Deus ao alto e a abanar, acabarão por fazer publicidade ao sistema capitalista do inimigo. A Golden Gate de Lisboa foi construída em 1966 pela gigante multinacional norte-americana - a United States Steel Corporation - essa sim um símbolo de poder económico, político e social - capaz de fazer cair governos e uniões sindicais. Ou seja, em nome dos direitos, liberdades e garantias do trabalhador nacional, vai-se à boleia na camioneta do inimigo. Embora rebuscada, esta interpretação também pode ser trazida ao lume da discussão. Preferia que uma obra nacional, um espaço público português fosse o local eleito. E o Estádio Nacional, que já esteve associado a outros discursos, não pode ser aproveitado para o efeito? E uma das muitas auto-estradas a caminho de nenhures? Talvez houvesse aqui uma oportunidade para dar sentido aos milhões de euros dos contribuintes gastos em vão. A insistência da CGTP confirma que a inter-sindical ainda não se actualizou. As pontes já  não são o que foram. Arménio Carlos quer usar a mesma cassette de sempre, o mesmo encadeado melódico de mensagens que não altera as regras do jogo. O protesto sobre a ponte faz lembrar outras feijoadas - muito gás e poucos resultados práticos.

publicado às 08:09

Prisão em tempos de cólera

por João Pinto Bastos, em 28.06.13

Ontem, 226 manifestantes foram detidos e acusados de manifestação ilegal, por alegadamente terem cortado o acesso à Ponte 25 de Abril. No rescaldo dessa detenção, os manifestantes supra mencionados acusaram o Governo de querer "abafar o impacto da greve geral". Com esta sequência de eventos devidamente registada, há que perguntar o seguinte: 1) Os manifestantes em causa foram autorizados a cortar o acesso à Ponte 25 de Abril pelas autoridades públicas?; 2) Se a resposta for negativa, e, ao que tudo indica, é, há alguma justificação plausível para o corte de uma via pública, com o correspondente impedimento da livre circulação de pessoas e veículos? Não, não há. O objectivo destes festivaleiros foi, mais uma vez, formar um escândalo para tentar abafar o impacto da greve geral. Numa sociedade que já se desabituou dos achaques sindicaleiros, o impacto das greves gerais é, por norma, nulo. Há muito que não influem em nada. E quando assim é, a melhor forma de granjear a atenção dos mediazinhos é depredar, com um certo requinte selvático, bens públicos fundamentais. No fim, a culpa será sempre arremessada para o Governo. Manifestações espontâneas, como estes orquestradores do caos gostam de qualificar, resultam sempre nisto: crime, ilegalidade e falta de respeito pela comunidade.

publicado às 12:15

Quem quer ser professor?

por John Wolf, em 15.06.13

A pergunta é simples: quem quer ser professor por um dia que seja? Quem deseja acartar injustamente com os pecados e os défices dos outros? - A educação que não foi dada aos alunos pelos papás e pelas mamãs. A má criação que escoa directamente da sarjeta para a sala de aula. Quem quer trabalhar de acordo com modelos que não se adequam ao perfil cultural do país? Como podem constatar, tinha colocado uma pergunta que afinal se desdobra em muitas sem resposta. Desde que eu me lembre, os professores tiveram sempre mobilidade e não era pouca. Era imensa, de norte a sul do país. Quem não conhece o professor de Trás-os-Montes colocado no Algarve? Aqueles que tiveram de abandonar as suas famílias e prescindir de uma ideia de continuidade na residência, o sonho de viver na terra de origem. A profissão foi quase sempre malentendida pelos governantes de Portugal. Houve até quem a quisesse canonizar elevando a missão educativa a acto de fé, a bandeira de partido. Lembram-se de Guterres e a sua paixão? E houve outros como Roberto Carneiro que foram também cardeais da causa. Estou certo que mesmo que pagassem uma tarifa tripla a prospectivos docentes, não seria líquido que aceitassem o emprego. Por vezes não há dinheiro que chegue para pagar os ultrajes. Conseguem imaginar leccionar na franja da sociedade uma qualquer disciplina do programa curricular, quando no fundo estão a operar a múltiplos níveis que deveriam ser tratados por psícólogos, técnicos de reinserção social e polícias? Os professores levam para casa tantas horas extraordinárias que deixaram de ser horas, considerações de ordem pedagógica, trabalhos de casa, e, para além dessa normalidade, são obrigados a sacar da sua consciência para levar a bom porto uma barca tempestiva repleta de repetentes de um sistema caduco. Não existe repelente que consiga afastar dos professores os pesadelos, o stress, a insónia antecipada pela semana que se segue. A outra questão que coloco: quem quer ser manifestante por um dia apenas? Quem deve caminhar ao lado dos professores, se grita em nome dos docentes e de Portugal? Vou directo ao assunto. Se António José Seguro sente o mesmo ardor no peito que Guterres sentiu, então deve estar nas ruas, lado a lado com aqueles que alegadamente foram intimidados pelo governo, mas o lider socialista, se não está em Roma com o Papa, está noutro encontro ecuménico. No meio destes confrontos e da greve aos exames nacionais que se avizinha, os alunos irão agravar ainda mais a sua débil condição de aprendizagem. Na Segunda-feira provavelmente irão regredir na sua capacidade de expressão em língua portuguesa, a que se seguirão mais murros nas restantes disciplinas. Resta saber se os milhares de alunos devem ser tidos enquanto moeda de troca, ou se chegará o dia em que os próprios alunos se manifestam, para rejeitar de uma assentada, e em simultâneo, os políticos e os professores. A linha ténue que separa a sustentabilidade cognitiva e pedagógica do país, do perfeito caos, está a ser pisada. Qualquer dia para haver alunos nas salas de aulas teremos de ter uma requisição estudantil. Repito a pergunta: quem quer ser presidente do conselho directivo? Quem quer ser presidente? Quem quer Portugal?

publicado às 21:06

Do leitor e comentador Rui Sousa:


«O que me preocupa neste momento é o total desprezo e tentativa de branqueamento que muitos elementos da direita estão a dar a esta manifestação. Eu próprio sou de direita. Votei no PSD nos três últimos actos eleitorais, fui um dos que elegeu Cavaco Silva para Presidente. Mas estou cada vez mais descontente com o rumo do País. Fui ontem à manifestação, encontrei dezenas de pessoas que são ou foram militantes do PSD e CDS e que conheço há vários anos. Pôr em causa um acto de cidadania por estarem menos de 180 mil e não 500 e tal mil pessoas, como alguns cronistas do Insurgente estão a fazer, é de uma demagogia atroz. Foi a primeira vez que estive numa manif. Fui pedir compreensão pelo futuro dos meus filhos. Já nem peço pelo meu, que ainda me vou desenrascando na vida. Não foi uma manif. do PCP, da CGTP ou do Bloco. Foi das pessoas que estão preocupadas com o futuro do País, e que gostam demasiado dele para o verem morrer a cada dia que passa.»

publicado às 12:42

Na mouche

por Samuel de Paiva Pires, em 03.03.13

Margarida Bentes Penedo, Duas palavrinhas mais agitadas:

 

«Que me desculpem os meus amigos d'O Insurgente, mas não me apetece deixar passar.

 

A propósito de um grupo de reformados que hoje, durante a manifestação, vestiam camisolas a dizer "Nós não somos responsáveis", Rui Carmo comenta:

 

"Obrigado. Foi também pela inimputabilidade e pelo constante que se lixem as gerações futuras que chegámos aqui."

 

Este post é vil. Até pelo fundo de verdade que contém (como é costume acontecer com as mentiras mais eficazes).

 

Eu gostava que o Rui Carmo me informasse onde estavam "os jovens" mais "responsáveis". Aqueles que protestaram contra as mordomias que foram oferecidas aos empregados da função pública. E contra a Expo 98, e o Euro 2004, e as passagens de ano praticamente administrativas. E as internets "gratuitas", e os Magalhães, e as "festas das cidades". E a Fundações constituidas para os besuntarem, a eles e aos pais deles, com as "culturas", e as exposições, os concertos rock, e os "ateliers" das mais variadas "artes" a fim de lhes comprarem os votos ou (na pior das hipóteses) a indiferença. E os "investimentos" e as políticas "expansionistas" de Cavaco, de Guterres, de Barroso, de Sócrates e de toda a espécie de criadores de "um homem novo". Que permitiu, aos pais e aos avós desses "responsáveis" jovens, pagarem-lhes as contas dos iPhones, dos campismos, dos jogos de vídeo, das patuscadas, dos "doutoramentos", e das várias "emancipações" que eles escolheram viver - numa ignorância tão escura que não lhes permitiu sequer darem-se conta da sua dimensão.

 

Os velhos não costumam estar apetrechados com saúde, vagar, e vitalidade para se organizar em manifestações. São por isso um alvo fácil para cobardes, que lhes inflingem dano sem se arrepiarem.

 

Os velhos também não costumam passar cartão às boçalidades irrelevantes que se escrevem na blogosfera.

 

Mas estou cá eu. Que sinto gozo em oferecer umas perspectivas a certo tipo de putos, charilas e malcriados, com vontade de apresentar serviço.

 

Guardo as tolerâncias para os meus adversários; afinal, eles é que têm de viver dentro daquelas convicções que considero enlouquecidas. E gasto o rigor nas pessoas "da minha área". Porque ser lúcido inclui a ponderação necessária para, quando se analisa um problema, tentar vê-lo de todos os ângulos. A começar pelo ângulo dos envolvidos. Caso contrário, sofre-se de uma maluqueira de módulo igual e outro sinal qualquer.»

publicado às 01:07

O maior inimigo do liberalismo são os supostos liberais

por Samuel de Paiva Pires, em 02.03.13

Os meus conhecidos e amigos liberais muito preocupados com o número de pessoas presente na manifestação parecem ter metido o individualismo metodológico e o individualismo político na gaveta. Simultaneamente, parecem também ter-se esquecido das naturais desconfianças da força dos números. Procuram dar ou retirar importância à manifestação consoante a quantidade, quando estamos em face de uma manifestação que tem a força da razão, e portanto importa mais a qualidade. O mesmo é dizer que a manifestação até poderia ter tido apenas uma pessoa, que esta não deixaria de ter razão em manifestar-se contra um governo incompetente, medíocre, mentiroso e teimoso, que nos está a empobrecer, a ter cada vez mais capacidade de intrusão nas nossas vidas e que se encontra completamente desprovido de autoridade moral e legitimidade. De resto, continuo a registar a inveja que certa direitalhada tem da capacidade de organização da esquerda. Como escrevi hoje, a hegemonia cultural e política desta é não só mérito seu, como demérito da direitalhada. Assim vão longe, meus caros, não tenham dúvidas.

publicado às 23:29

A restauração da monarquia na manifestação

por Samuel de Paiva Pires, em 02.03.13

Às 18h10h, na SIC N, um manifestante no Porto, com uma bonita bandeira azul e branca, afirma perante as câmaras que a república é a grande responsável pelo estado a que chegámos, e que a recuperação do país passa pela restauração da monarquia.

publicado às 18:12

Vistas curtas

por Samuel de Paiva Pires, em 02.03.13

Há um argumento que vejo utilizado recorrentemente que me causa um certo espanto. Afirmam alguns que mandar a troika lixar-se seria condenar todo o país a uma desgraça, pretendendo passar a mensagem que só isso serviria para desqualificar qualquer tipo de manifestação, pelo que teremos de aceitar o que o governo tem feito. Desculpa-se a mediocridade e a incompetência deste governo, como se isto não pudesse ser de outra forma, mesmo sob uma intervenção externa.

 

Até quem organiza esta manifestação, tal como as anteriores onde o slogan foi utilizado, sabe perfeitamente que este é demagógico e que não podemos simplesmente mandar lixar a troika. Mas não deixa de saber interpretar e canalizar um descontentamento generalizado que o sistema político se esforça por ignorar.

 

Muitos dos que criticam o slogan aproveitam também para gozar com os manifestantes, a esmagadora maioria pessoas desempregadas e/ou que se vêem financeiramente asfixiadas por uma enorme carga fiscal. O mais das vezes fazem-no porque a maioria das pessoas nas manifestações são de esquerda, e quem as organiza é também de esquerda. Têm, os tais críticos, uma visão redutora, dicotómica, das coisas. Opõem-se aos manifestantes por discordâncias ideológicas, não percebem que existe um solo comum de revolta quando o descontentamento faz-se sentir de uma forma generalizada e não respeita fronteiras ideológicas e classes sociais e profissionais. 

 

Ademais, para evitar um mal maior – a desgraça que aconteceria se mandássemos a troika embora – acabam a aceitar, e muitas vezes a defender, o mal menor, isto é, um governo que desde o início desrespeitou completamente a proporção entre o corte de despesas (2/3) e o aumento de receitas (1/3) preconizada no memorando de entendimento com a troika, que continua a alimentar uma gigantesca rede de interesses clientelares e a expropriar todos os portugueses do seu direito de propriedade sobre os frutos do seu trabalho para lá de um limite razoável e aceitável para que possa, por exemplo, financiar bancos falidos e instituições e empresas por onde circulam os amigalhaços.

 

Em resumo, perante aqueles que não deixam de tentar lutar contra quem, com requintes de sadismo e autismo, já para não falar na sofrível retórica amadora, nos vai condenando a um empobrecimento estrutural de proporções injustas, acabam a desculpar, a aceitar e, muitas vezes, a defender um governo incompetente que, como escreveu Alberto Gonçalves, tem "aura liberal, hábitos socialistas e processos napolitanos."

 

Estou a falar, como é óbvio, da direitalhada e de muitos liberais. São estes os principais responsáveis pela hegemonia da esquerda no debate público - não é tanto mérito desta como demérito daqueles. Não passamos disto, infelizmente. 

publicado às 16:40

Banda sonora para a manifestação de hoje

por Samuel de Paiva Pires, em 02.03.13

Hoje não vou à manifestação. Mas deixo uma sugestão de banda sonora, para deixarmos de enjoar a Grândola, que assenta tão bem a todos os arquitectos da nossa desgraça, deste governo ao anterior e a todos os outros cujos membros colocaram os seus interesses pessoais e dos seus partidos à frente dos interesses nacionais, trazendo-nos à ignóbil situação de protectorado em que nos encontramos. É que talvez seja bem pior que a crise financeira a crise intelectual, moral e política que infecta e corrói a democracia e o debate público.



publicado às 13:13

Alberto Gonçalves, Os mártires da banda larga:

 

«A propósito dos distúrbios de quarta-feira em São Bento, um dilema: que partido tomar nos confrontos entre a polícia e populares com pedras ou populares que se juntam a populares com pedras? É fácil: numa ditadura, branda que seja, deve-se defender os segundos; numa democracia, fraquinha que esteja, convém preferir a primeira. Embora não tenha nenhum fascínio pelas forças da ordem, lido pior com as forças da desordem, ou no caso os bandos de delinquentes que tentam contrariar pelo caos a escolha de milhões nas urnas. Numa sociedade apesar de tudo livre, cada indivíduo devotado à destruição de propriedade pública ou privada é uma homenagem à prepotência e, para usar um conceito recorrente por cá, um autêntico fascista. Se os fascistas que empunham calhaus (e os patetas que se lhes associam) querem impor arbitrariamente a vontade deles sobre a nossa, é natural considerarmos que uma derrota deles, ou uma bastonada na cabecinha, é uma vitória nossa.

 

É verdade, admito, que há quem hesite em chamar democrático ao regime vigente e livre à sociedade actual. Mas também não é difícil dissipar as dúvidas. Se os manifestantes detidos desaparecem sem deixar rasto e provavelmente para sempre, a coisa tende para o despotismo. Se, passadas três horas, os manifestantes reaparecem nas respectivas páginas da ditas redes sociais a exibir mazelas ligeiras e a choramingar o zelo securitário, a coisa tende obviamente para o lado bom. E cómico.

 

Aliás o Público, sem se rir, publicou uma reportagem hilariante acerca do assunto, ou da falta dele, sob o não menos hilariante título "Manifestantes abrigaram-se no Facebook para mostrar as feridas". A reportagem é uma sucessão de anedotas explícitas e implícitas, de que custa destacar uma. Talvez a distância que separa a repressão de que os agredidos se queixam do conforto do lar (com banda larga) e da liberdade de expressão de que beneficiam. Talvez a velocidade com que sujeitos fascinados pela violência passam a esconjurá-la quando esta se volta contra si. Talvez os inúmeros desabafos líricos despejados na internet e que o mencionado diário leva aparentemente a sério (um exemplo: "Não fugimos da justiça, em nome do rapaz em sangue que perguntava insistentemente 'porquê, porquê?'"). Talvez a citação do escritor Mário de Carvalho, que comparou o sucedido nos degraus do Parlamento às "ditaduras da América Latina".

 

À semelhança do rapaz em sangue, pergunto: porquê, porquê ficarmo-nos apenas pela referência às tiranias sul-americanas (já agora, quais: a cubana? A venezuelana? A utopia socialista de Jonestown? A argentina que na guerra das Falkland os comunistas apoiaram por oposição ao Reino Unido? Desconfio que será exclusivamente a chilena)? Com jeitinho, acaba-se a comparar a carga policial ao Holocausto ou ao genocídio do Ruanda, cujas vítimas só careciam de uma ligação à "rede" para sofrer tanto quanto os mártires de São Bento, caídos em combate às mãos da PSP. E levantados de imediato junto ao teclado e ao rato mais próximos. Ratos e homens, de facto.»

publicado às 18:36

Exemplar

por Samuel de Paiva Pires, em 15.11.12

A actuação da polícia ontem em S. Bento. Os direitos à greve e à manifestação não conferem qualquer direito à violência. Aquilo a que se assistiu ontem - um grupo de marginais que durante cerca de hora e meia apedrejou a polícia - é simplesmente inadmissível num Estado de Direito. E se é verdade que a carga policial atingiu pessoas que ali se manifestavam, não fazendo parte do grupo de marginais, também é verdade que a a polícia avisou, como é legalmente exigido, que iria proceder à dita carga e que, como tal, deveriam retirar-se da praça. O que estas pessoas deveriam ter feito imediatamente, tal como o Daniel Oliveira e outros dirigentes da CGTP e PCP fizeram ainda antes dos avisos, era abandonar o local. Não o fizeram, sujeitaram-se a ser alvo de bastonadas. Como escreve Henrique Monteiro, «Bateram em pessoas que jamais tinham atirado uma pedra? É possível. O que não é possível é ser de outra maneira;o que não é possível é durante uma carga, um polícia que esteve sob uma tensão enorme durante horas, indagar e interrogar-se sobre a justeza da sua ação. Isso é lírico.» Ademais, como escreve o Carlos Guimarães Pinto, «E, segundo, se não será apropriado concluir que as restantes pessoas que se mantiveram na manifestação muito tempo depois do tiro ao polícia ter começado estavam ou não a validar com a sua presença as acções daqueles indivíduos.»


Há ainda quem diga que a polícia deveria apenas ter investido e detido o grupo de arruaceiros que procedia ao apedrejamento. Se assim tivesse sido, a polícia colocar-se-ia numa situação complicada, podendo ser rodeada pelos restantes manifestantes, o que inclusive poderia originar ainda mais violência que aquilo a que se assistiu.


Por outro lado, ao contrário do Daniel Oliveira, não creio que a acção da polícia após a dispersão da praça em frente ao Parlamento possa ser considerada abusiva. Não há imagens do que se terá passado entre S. Bento e o Cais do Sodré, mas daquilo que as televisões captaram nas ruas adjacentes ao Parlamento nos momentos que se seguiram à dispersão e entre Santos e o Cais de Sodré posteriormente à confusão, os arruaceiros fugiram por várias ruas vandalizando estabelecimentos comerciais à sua passagem e ateando vários incêndios. É pena que não tenham sido detidos antes de o fazerem.

 

Para finalizar, tendo ainda em consideração o crescendo de violência que tem perpassado as manifestações das últimas semanas, a polícia não tinha alternativa a dar um sinal claro de que há certos limites que não podem ser ultrapassados. E a reacção da generalidade dos portugueses ao sucedido, excepção feita à extrema-esquerda - como seria de esperar -, aí está para provar que a polícia agiu como era esperado e se impunha.

 

publicado às 14:05

Na mouche

por Samuel de Paiva Pires, em 16.09.12

Filipe Faria, Da dissidência...:

 

«Os que defendem a troika embarcaram nesta ilusão colectiva que perde o seu tempo a discutir se vamos ter um défice anual de 5.5% ou de 6.5%. Isto claro, ignora que mesmo que fossem aprovados limites ao défice, dificilmente iríamos ter superavits. Nunca tivemos um único superavit desde o 25 de Abril; como tal, o que é que faz os defensores da troika pensar que se no melhor dos cenários voltarmos aos mercados de endividamento (apenas porque o BCE compra a nossa dívida com dinheiro europeu), começamos a ter superavits para reduzir uma dívida pública que já ronda os 110% do PIB? Isto é tão provável como amanhã eu ganhar a lotaria; principalmente depois da década perdida do euro, onde Portugal apenas conseguiu um crescimento económico anémico e onde a generalidade da riqueza que atingiu deveu-se ao endividamento. Mesmo este governo que é obrigado a cortar na despesa, não sabe como nem onde cortar, preferindo a asfixia fiscal; e enquanto houver dinheiro da troika, continuará a não saber.

 

Outra dissonância argumentativa que se encontra nos defensores da troika e do pagamento integral da dívida é que muitos deles dizem-se eurocépticos ou contra a centralização europeia. Porém, ao defenderem a permanência no euro (que é um instrumento de centralização política), ao defenderem a entrega dos comandos do país ao supranacionalismo por um período que pode, em teoria, demorar décadas infindáveis, estão a aprovar de forma latente essa mesma centralização e formação do super Estado europeu. Assim, consciente ou não, a defesa do euro e da troika é uma forma encapotada de apoio à centralização de Bruxelas. Ao menos os euro-entusiastas assumidos como Paulo Rangel são coerentes quando defendem a troika.»

publicado às 19:45

O meu avô e a política

por Samuel de Paiva Pires, em 16.09.12

Nos últimos meses, o meu avô materno, com quem aprendi a tomar atenção à política desde tenra idade, com quem partilho longas horas de conversa sobre tudo e mais alguma coisa, e em cuja biblioteca me fui instruindo até começar a fazer a minha própria, deixou pura e simplesmente de falar comigo sobre política. O meu avô, que andou muito tempo envolvido em política a um nível micro em Lisboa, ainda no tempo do salazarismo, que conheceu Fernando Pessoa ainda em criança por intermédio de um tio amigo de Pessoa e que ficava a ouvir os debates entre eles - que lhe serviram até para brilhar na escola -, que conviveu com muitos artistas do teatro de revista, que levava os cartoons do Stuart Carvalhais, com quem tinha acesos debates, para o DN, na década de 50 do século passado, que pouco tempo antes do 25 de Abril de 1974 mudou-se para Ferreira do Zêzere, onde veio a tornar-se uma das personalidades mais conhecidas da vila, em grande parte pelo seu pensamento político e crítico, plasmado muitas vezes nos recortes e comentários que afixava no portão de casa, lidos e discutidos por muita gente, sendo assim um precursor do que hoje chamamos blogs, e tendo também sido convidado a integrar vários partidos (até o MPT, quando este quase ganhou as eleições para a Câmara Municipal no início dos anos 90), o que sempre recusou, perdeu a chama pela política que tanto me inspirou.   

 

A tristeza de ver o país no estado em que está abateu-se sobre ele de uma maneira que eu julgava impensável. O meu avô trabalhou uma vida inteira (nunca para o estado), até mesmo depois de se reformar e tem uma reforma com a qual eu não conseguiria viver - e eu nem levo uma vida que se possa sequer considerar minimamente luxuosa (não tenho casa própria, não tenho carro e sou cada vez mais frugal nos gastos, que se resumem a roupa, comida, livros, despesas domésticas e actividades de lazer como ir jantar fora, assistir a um concerto ou beber um copo com os amigos).

 

Esta semana contei-lhe que ia fazer algo que até há bem pouco tempo eu julgaria impensável: participar numa manifestação. O meu avô alegrou-se um pouco e disse-me estar satisfeito por eu ter tomado esta decisão. Hoje, depois de chegar a casa, por volta das 20h, não me tendo juntado aos manifestantes que decidiram seguir para S. Bento, liguei-lhe, julgando que ele estaria a acompanhar pela televisão o que estava a acontecer. Mas não estava. Há muito que deixou de ver televisão com frequência, preferindo a companhia dos livros nas longas noites em que quase não dorme. Voltou a dizer-me que está triste com o nosso actual momento colectivo e que cora de vergonha quando pensa nos governantes que temos, tendo-se tornado intolerante a ouvir quase todos os políticos. Tinha-se até esquecido da manifestação. Foi então que decidi provocá-lo. Disse-lhe para ligar a televisão, pois estava a perder uma das maiores manifestações de sempre no país. Disse-lhe o que aqui publiquei quando ainda estava na manifestação. Disse-lhe que quando eu ainda estava a sair da Praça José Fontana, já a frente da manifestação tinha chegado à Praça de Espanha. A voz dele mudou completamente. Estava feliz por ver o país sair estrondosamente do torpor em que se deixou cair. Continuou a seguir a situação. Um pouco mais tarde, foi ele que me ligou, quando estava a assistir aos comentários dos Professores José Adelino Maltez, Viriato Soromenho Marques e Carlos Amaral Dias na RTP1. Ficámos alguns minutos a falar sobre política, meses depois da nossa última conversa sobre política. 

 

Só por isto, para mim já valeu a pena ir à manifestação. Mas não só por isto, hoje sinto vergonha de partilhar o mesmo espaço ideológico e político com alguns dos bloggers d'O Insurgente, do Blasfémias e o Miguel Castelo-Branco, blogs que leio assiduamente como mais nenhuns outros, desde que me lembro de ler blogs. Nos primeiros dois, entre muita ignorância do que está para lá da economia, com especial destaque para o mais recente spin doctor ao serviço do governo, João Miranda, contradições evidentes com posições defendidas num passado recente e os devaneios de wishful thinking de Helena Matos, fica patente uma total incapacidade de perceber o que está a acontecer na sociedade portuguesa. Repetindo o que escrevia vida das pessoas não se faz de números e modelos macroeconómicos. Há um solo comum que é a pátria onde a revolta supera ideologias, partidos e estratos sociais. Ou não faria sentido sermos uma nação e um país. Já quanto ao Miguel, também defensor do passismo, não consigo perceber o que pode levar alguém a dizer que as imagens na televisão mostraram que não estariam presentes mais de 10 mil pessoas - e, já agora, depois de ver alguns comentários do Miguel a respeito de quem vai divertir-se para o Bairro Alto, sempre aproveito para dizer que fui a um jantar de despedida de uma amiga que, tal como eu, emigrará nos próximos dias, embora o jantar não tenha sido em nenhum restaurante do Bairro Alto, até porque na sua maioria não são conhecidos por serem baratos.

 

Aprendi com o meu avô e com o Professor Maltez a casar a honra com a inteligência. Sou daqueles que prefere quebrar a torcer, e, como costuma dizer o Professor Maltez, viver como pensa em vez de pensar como vive. Para mim, os princípios não são sacrificáveis em função da situação política. Ser liberal é muito mais do que aquilo a que muitos ditos liberais reduzem o liberalismo. Ser liberal é, também, preferir estar sozinho, especialmente quando o ambiente que nos rodeia nos asfixia a consciência. E é por tudo isto que o liberalismo tem em muitos ditos liberais os seus principais inimigos. Tomara que esta situação pudesse ser superada. Talvez se começassem mesmo pelos comentários desta noite que também animaram o meu avô.

 

Leitura complementar: Um rebelde é um homem que diz nãoProvavelmente, nunca mais um governo consegue unir o país assim; Os maiores inimigos do liberalismo em Portugal são...Interpretações de quem não sabe do que fala 

publicado às 07:30

Interpretações de quem não sabe do que fala

por Samuel de Paiva Pires, em 15.09.12

Está por aí muita gente entusiasmada com um texto da Helena Matos, "Revolta-te por mim", no Blasfémias. O texto é perfeitamente idiota, desde logo por partir de presunções completamente erradas quanto ao que levou as pessoas a manifestarem-se e a quem participou. A manifesta incapacidade de muita gente para perceber o que se está a passar na sociedade portuguesa é assustadoramente confrangedora.

publicado às 22:33

Uma não-manifestação em 6 pontos

por Samuel de Paiva Pires, em 13.03.11

 

1 - Uma manifestação que junta pessoas de todo o espectro ideológico, pessoas alegadamente sem ideologia ou partido político, pessoas que foram lá pela sua própria razão pessoal (desde os jovens desempregados, aos descontentes com Sócrates, passando pelos descontentes com todo o regime e pelos que nem sabiam por que razão estavam ali), mas que, de uma forma ou de outra, acharam por bem manifestar o seu descontentamento com a situação geral do país, não é uma manifestação . É o Festival do Avante

 

2  - Uma manifestação que leva gente a exultar com este confrangedor manifesto, que nada propõe para o país, não é uma manifestação. É uma estupidificação.

 

3 - Uma manifestação com um elevado grau de organização - parem lá com a alarvidade de dizer que foi uma manifestação espontânea - que não consegue ser consequente, que não concebe uma única proposta a não ser as que as premissas do manifesto deixam adivinhar - de índole estatista - que não tem sustentação e coerência interna, e cujos organizadores se refugiam no argumento de que não se acham no direito de propôr seja o que for, mas antes querem que os políticos façam algo para mudar a situação, não é uma manifestação. É uma capitulação perante o Estado e perante aqueles que nos têm vindo a (des)governar. Até dou de bandeja que seja positivo o elevado civismo a que assistimos, a expressão geral de descontentamento e a alegria que perpassou a mesma. Mas esta apenas reforça a legitimidade do Estado, no sentido de os governantes intervirem ainda mais na sociedade com políticas de boas intenções, que a mais das vezes levam a resultados imprevistos e não necessariamente satisfatórios - veja-se a actual situação que o país vive.

 

4 - Uma manifestação que proporciona um espectáculo em que muita gente verbaliza as verborreias desconexas que há muito tempo vinha contendo, não é uma manifestação. É um falhanço do regime. A incapacidade da maior parte dos jovens da minha geração de ter um método, um processo de alcançar os objectivos que pretendam (se é que pretendam alguns), e a incapacidade de serem donos da sua própria vida - criem uma empresa, emigrem, façam por singrar na vida - e de não ficarem à espera do Estado-paizinho, demonstra o generalizado falhanço do sistema de educação, e os efeitos nefastos do assistencialismo (importantíssimo ler isto).

 

5 - Uma manifestação em que muitos participantes repetem até à exaustão a falácia de pertencerem à "geração mais qualificada de sempre", não é uma manifestação. É uma presunção de estatuto artificial que devia envergonhar qualquer um dos seus vociferadores. A verdade é que somos a geração mais certificada de sempre. O que não quer dizer que sejamos a mais qualificada ou competente. A geração dos nossos pais e avós teve cursos muito mais exigentes e que lhes conferiram muito mais competências do que os actuais cursos conferem. E os que nem cursos superiores tinham, possuem na generalidade mais competências do que nós. Nas últimas décadas generalizou-se e massificou-se o ensino superior, diminuindo-lhe a qualidade. Alardear uma certificação formal, que na maioria das vezes deixa adivinhar uma confrangedora capacidade de trabalho, método e competência, não é uma manifestação. É uma demonstração de snobismo pseudo-aristocrático.

 

6 - Uma manifestação em que o principal mote da mesma é uma geração que, não tendo um método ou capacidade de pensar (ponto 5), não fala no que realmente contribui para a actual situação, como por exemplo, a rigidez da legislação laboral e a idiótica lei das rendas, que não está minimamente preocupada com o estapafúrdio endividamento externo a que o actual (des)governo nos submete (ah pois, não querem saber de política, não é verdade?) e para a qual a resposta ao estatismo socialista dos últimos 37 anos é mais socialismo (ler isto), não é uma manifestação. É uma receita para a desgraça.

publicado às 16:18

O Avante Sex Festival este ano chega mais cedo

por Samuel de Paiva Pires, em 11.03.11

 

Há uns meses, escrevi um texto sobre o Avante, por muitos lido, divulgado e criticado. Neste, entre várias outras coisas, critiquei aqueles que, não sendo comunistas, também contribuem para o PCP através da participação nesse ajuntamento colectivo, desculpando-se muitos com o "vou lá só pelo convívio" e coisas do género. Acaba, portanto, por ser uma festa com pessoas de todos os quadrantes políticos.

 

Ora, este ano o Avante chega mais cedo. A preceder todos os festivais musicais de Verão e festas partidárias, eis que no Sábado, 12 de Março, iremos assistir a uma gigantesca libertação de libido e adrenalina, da esquerda à direita. Le Bon e Freud explicaram como se comportam as massas, descrevendo os processos psicológicos que ocorrem nos indivíduos que as compõem. Resumidamente, o que acontece é uma perda de discernimento e da vontade própria individual, dissolvendo-se os indivíduos numa massa, acabando estes por regredir até um estado mental primitivo onde predomina o inconsciente, que permite aceitar sem entraves as ideias que passam dos líderes para a massa. Freud explica este processo pela regressão da libido, em que cada indivíduo acaba por estar relacionado com os outros através de laços libidinais. A massa adquire desta forma um sentimento de invencibilidade, precisamente pela regressão mental que ocorre, sendo extremamente sugestionável, pelo que tão facilmente pode ser heróica quanto criminosa.

 

Posto isto, o que me parece é que Sábado irá ocorrer uma grande festarola, com efeitos semelhantes a uma vitória do Benfica no campeonato, que vai deixar muita gente contente. Ora vejamos:

 

1) Será uma iniciativa que estimulará a economia: operadores de transportes públicos e gasolineiras vão ter uma facturação acrescida ao normal; tipografias, serigrafias e empresas de publicidade já estarão a ter uma facturação elevada com a produção de panfletos, t-shirts, bandeiras e afins; cafés, restaurantes e tascas vão ganhar imenso com a venda de cervejas durante a manifestação e de jantares a seguir a esta; os bares do Bairro Alto, Cais do Sodré e Santos vão ter uma noite em cheio, assim como as discotecas; pensões e hotéis também sofrerão um aumento de reservas.

 

2) Os jovens contestatários vão libertar a sua adrenalina e libido, quer pela participação na manifestação, quer pelas actividades sexuais que acontecerão a seguir a esta;

 

3) Membros do BE, PCP, PNR e outros grupos que se têm colado a esta manifestação, vão também libertar as suas frustrações e sentimentos revolucionários, na senda de Marx, Lenine, Trotsky ou Hitler e Mussolini, tendo como recompensa a sensação de fidelidade aos seus líderes ideológicos;

 

4) A PSP e o SIS vão encarar isto como um treino em que colocarão em prática muitos dos seus instrumentos e técnicas, oleando as respectivas máquinas e deixando os respectivos funcionários com um sentimento de dever cumprido pela imposição da sua autoridade;

 

5) José Sócrates vai inventar umas medidas quaisquer e dizer que as manifestações fazem parte da festa da democracia; Cavaco Silva vai continuar a ladainha de incentivo à contestação por parte dos jovens; os bloquistas e comunistas que verdadeiramente estão por trás da manifestação sentir-se-ão realizados, ao mesmo tempo que não percebem que a aparente contestação é uma forma de reforço da legitimidade do regime e dos governantes actuais.

 

6) Por último, e talvez o ponto mais importante no meio desta parvoíce toda: Lisboa e Porto vão ser as capitais europeias do sexo. No fundo, a quebra de adrenalina no fim da manifestação será compensada com a libido libertada posteriormente, acordando toda a gente com um rasgado sorriso e uma sensação de que realmente revolucionaram alguma coisa, quando tudo permanecerá na mesma. 

 

 

publicado às 01:10

Regime detém organizadores da Manif

por Pedro Quartin Graça, em 07.03.11

O regime angolano não perdeu tempo. Hoje de madrugada agiu e deteve um conjunto de organizadores da manifestação convocada para hoje e de que demos conta aqui nestas páginas. Entre os detidos está precisamente o "rapper" angolano "brigadeiro Mata Frakus" e toda a equipa do Novo Jornal, detidos no Comando Provincial de Luanda desde o início desta madrugada, segundo o portal electrónico Angola 24horas.

O Movimento para a Paz e a Democracia em Angola (MPDA) exigiu, através de um comunicado, a "libertação urgente e incondicional" dos detidos. "Exigimos que 'Brigadeiro Mata Fakus' e toda a equipa do Novo jornal, nomeadamente Ana Margoso, Pedro Cardoso, Afonso Francisco e Idalio Kandé, sejam postos em liberdade antes da realização das manifestações", refere o MPDA em comunicado ao alertar que, "caso contrário, vai tomar medidas repressivas que poderão pôr fim a diplomacia angolana no exterior". "O MPDA poderá proceder à convocação de uma marcha geral nos próximos dias, caso o governo corrupto não aja dentro do prazo e dentro da lei estabelecida naquela república das bananas", acrescentou. Ao condenar a "política de intolerância e de violação dos direitos humanos levada a cabo pelo regime ditatorial" e as "prisões arbitrárias, extrajudiciárias e todo o tipo de ação de intimidação e humilhação contra as populações angolanas", o MPDA reiterou o apelo à população angolana a participar na manifestação convocada para hoje. "O MPDA faz apelo às massas angolanas que, no interior e no exterior, enfrentam com bravura, coragem, determinação patriótica e heroísmo, para reiterarem o apoio aos nossos irmãos e irmãs vítimas do regime ditatorial dirigido pelo José Eduardo dos Santos", realça o comunicado. "Pedimos sobretudo à diáspora angolana, na Europa, nos Estados Unidos, Brasil, África do sul e na Ásia, para redobrar as suas reivindicações e ações junto da comunidade internacional para exigir a libertação urgente e incondicional dos nossos irmãos e irmãs", acrescentou. O MPDA considera "justas e necessárias" as manifestações dos angolanos para a "liberdade e salvaguarda da soberania da nação (angolana), desde que aquelas estejam dentro da lei e sejam aprovadas em unanimidade pelo partido da situação". A manifestação vai decorrer apesar das detenções, disse o coordenador do protesto citado por aquele portal. O protesto anti-governamental, convocado anonimamente através das redes sociais, SMS e em vários sitos da Internet, está marcado para hoje em Luanda, embora responsáveis do MPLA já tenham garantido que o protesto não se vai realizar. À Lusa, Dias Chilola, um dos organizadores, afirmou no domingo que as pessoas vão sair as ruas para se manifestarem de "forma pacífica e em liberdade", apesar dos discursos "intimidatórios e demagógicos" que dirigentes do MPLA e governantes proferiram nos últimos dias. Discursos que, segundo angolano de 45 anos, residente em Lisboa, "já não pegam". "Queremos viver a democracia, mas também que a democracia chegue a nós. Que as pessoas escolhidas nos expliquem quais os passos que estão a dar no sentido de melhorar essa democracia. E é por isso que vamos marchar", afirmou Chilola, salientando que a manifestação é "um direito democrático". O anúncio da manifestação levou o Governo angolano a tomar medidas para minimizar a contestação por parte das forças armadas e polícia, designadamente o pagamento de salários em atraso, envio de alimentos em falta há seis meses para casa de militares e promoção de outros oficiais.

publicado às 08:17

Queremos a Verdade sobre o PEPAC!

por Samuel de Paiva Pires, em 28.05.10

 

O PEPAC - Porque os Estágios Parecem Algo Complicado precisa de sair à rua! Por que não utilizar a Manifestação de amanhã para o fazer? Sugerimos que saiam à rua e entupam o Marquês de Pombal com os flyers do PEPAC que aqui apresentamos em jpg (em alta resolução, podem adaptar ao formato que considerarem melhor), e que poderão imprimir em vossa casa. Se tod@s imprimirmos 50, imaginem quantos não saírão!!! Façam o download em http://www.box.net/shared/meah7i5hhd

publicado às 23:53






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