Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



As camionetas de protesto político

por John Wolf, em 19.10.13

Podemos afirmar, sem reserva de lugar, que as camionietas nasceram para a política em 1955. O Apartheid americano inspirou o movimento cívico de protesto contra a segregração racial dos negros. A passageira Rosa Parks recusou ceder o seu lugar a um branco que seguia na mesma camioneta e iniciou, desse modo, o famoso boicote das camionetas de Montgomery que durou mais de um ano e que levou ao levantamento da lei de discriminação racial no estado do Alabama. Como forma de protesto pacífico, milhões de negros americanos prescindiram do transporte das carreiras de autocarros, demonstrando também o seu peso económico nesse sector, mas foi a marcha a pé de manifestantes, de Selma a Montgomery em 1965, que conduziu à conquista do direito de voto de milhões de afro-americanos. Mais de quarenta e cinco volvidos sobre esses eventos, uma analogia invertida acontece em Portugal. Os representantes de milhares de trabalhadores maltratados e em conflito aberto com o governo de Portugal, não conseguiram a autorização para atravessar a ponte 25 de Abril a pé, como forma de protesto pelas medidas de austeridade que afectam dramaticamente as suas vidas. A alternativa para a manifestação foi organizar uma travessia motorizada, a bordo de mais de 400 camionetas - segundo as últimas estimativas. Na América da segregação dos anos 50, os utentes mandaram as camionetas dar uma volta, enquanto que em Portugal, os transportes colectivos ganham relevo especial na luta pelos direitos económicos e sociais dos portugueses. É curioso como a história dos homens se serve das mesmas ferramentas para alcançar fins políticos diversos. A camioneta passará a constar, como nunca antes, nos anais do protesto político em Portugal. A viatura comprida ganhará o estatuto de ícone de resistência. Os condutores dos autocarros serão os mestres de uma cerimónia que faz viajar as grandes consternações nacionais sobre as águas movediças do futuro económico e social do país. A passagem de uma margem para a seguinte não confere a chegada a um porto seguro. A viagem será uma parte apenas de um longo traçado de reclamações que faz parte da vida dos portugueses. A camioneta irá servir hoje, de um modo simbólico, como carro de fuga do assalto perpetrado pelos governantes à alma mater de um povo. O regresso será mais longo que a ida - o retorno à paz económica e social que os passageiros não desejam ver apenas da janela do autocarro.

publicado às 10:46






Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas