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Parece que teremos uma reedição da frente de esquerda de outros tempos, mas desta vez amalgamando Estaline e Trotsky. Pelo menos, é isso que o Grande Coordenador Louçã parece desejar, mesmo que a contragosto. Seria excelente verificarmos a mistura daquela água choca da Lubianka, com o mais fino azeite da Lapa. Enfim, urge começarmos desde já a sugerir siglas para essa possível frente eleitoral comuno-comuna. Já tivemos outras noutros tempos e deram no que deram de tal forma, que hoje em dia o PC sujeitou-se a capturar a denominação do partido demo-cristão da sra. Merkel: CDU.
Nos idos anos de 1976, existiu a FEPU - nos seus melhores dias atingiria a bonita soma de 19,04% dos votos, arrebanhados pelo PC, MDP-Tengarrinha e FSP do Manecas das Intentas -, logo seguida da APU dos 18,8%. Outros tempos, mas de possível e desejável remix.
Aceitam-se sugestões.
O discurso obedeceu ao conhecido e caduco guião de outros tempos, politicamente tão inábil como sempre e propiciador do divórcio da hegemónica maioria silenciosa que sabe bem o que significaria um regresso a 1975. O Terreiro do Paço encheu e ainda bem que assim foi, pese a evidente mobilização que copiou à risca, os antigos métodos secundo-republicanos dos comboios e autocarros que chegaram de penates, ruidosamente carregados de mobilizáveis. No entanto, dada o momento que país atravessa, o arrazoado classista da Intersindical poderá desta vez colher alguma atenção, podendo ainda contar com o estranho mas sintomático precioso auxílio de certas entidades televisivas privadas. O governo deve ter ficado satisfeito, pois a gente da Intersindical esmerou-se no desfiar de uma conversa capaz de servir de antídoto tão forte para "a burguesia", como os alhos são para os vampiros da Transilvânia. Quase desaparecidos os proletários, eis o apelo aos precários. Embora não seja considerada plausível uma tomada do poder por um sector que ainda é politicamente marginal - os números de manifestantes "mais ou menos 80.000-90.000" não enganam ninguém -, parece contudo possível encontrar-mos alguma energia capaz de alertar este governo.
Já não existe qualquer possibilidade do tornear das questões candentes, entre as quais o "Caso PPP" é um rastilho tão explosivo como foi o do Crédito Predial de há pouco mais de um século. Na senda da loucura BPN-BPP, dos escândalos de corrupção evidentíssima que apenas o ministério público ainda pretende fazer crer não existirem e do total desnorte de um sistema político que amodorrou num situacionismo sem nexo, verifica-se um sério risco da escalada populista que inevitavelmente trará mais cedo ou mais tarde, uma ruptura fatal. O país da esquerda - ou de 1/3 desta, dadas certas evidências demonstradas nas urnas - quer saber tudo o que se passou quanto ao roubo, negligência e total incompetência que rodeou o estabelecimento dos acordos ruinosos, do descarado roubo. Por outro lado, os órfãos do leninismo imaginam um conluio de gente de cartola, bem ao estilo dos clubes de magnatas dos tempos da Belle Époque, quando a realidade é outra, infinitamente mais insidiosa e capaz de numa rajada, liquidar muitos dos santarrões bem falantes dessa mesma esquerda nacional.
Em poucas palavras, a população pretende ver saneado este assunto das Parcerias Público Privadas, recorrendo-se aos existentes argumentos jurídicos que prevêem a liquidação de contratos desiguais, flagrantemente leoninos. A imensa maioria sonha com uma quase impossível expropriação, não tendo em conta complicações internacionais, as entidades que disponibilizaram o financiamento daquelas obras e certas coincidências com outros nomes que agora surgem apensos aos zelosos emprestadores do dinheiro que chegou com a troika. Estamos sem defesa.
Quando a esmagadora maioria da direita portuguesa se sente ultrajada pela lentidão que as autoridades têm demonstrado na informação do escândalo, cria-se assim uma situação que facilmente poderá degenerar num total abandonar do regime, por parte de quem teve até agora, todo o interesse em defendê-lo. Nos últimos trinta anos foi-se consolidando uma certa forma daquilo que, no dizer de Salazar, era "viver habitualmente". No caso da actual situação, isto significa a pleno aceitar e defesa daquele jogo pluripartidário que já caracterizara os tempos da Monarquia Constitucional, sistema interrompido entre 1910 e 1976. Para desgraça de Portugal, os principais agentes políticos desprezaram o povo que arbitrariamente tutelam, declinando qualquer tipo de esclarecimento, desdenhando aquela obrigatória formação que acende consciências e pior ainda, atrevendo-se a hipotecar uma história secular, às nada fiáveis promessas de um ridente devir pan-europeu, até agora de impossível concretização. Mentiram descaradamente e há que remediar na medida do possível, uma situação política desastrosa, estando esta acompanhada pela opressora dependência financeira e pelo mais que provável caos social que se perfila no horizonte. A direita que normalmente fica em casa - a maioria do país, incluída uma boa parte do PS -, de desiludida, passou a estar furiosa. Todos adivinham e até um certo ponto compreendem a dificuldade governamental - como sempre prisioneira dos tradicionais acordos inter-rotativos - em trazer à luz do dia, tudo aquilo que a população quer e deve saber. É a derradeira hipótese de obtenção de algum crédito popular, para uma 3ª República nesta sua aparente fase final.
Volatilizaram-se as esperanças do recurso a qualquer uma das instituições sobre as quais se ergue o sistema vigente. A inútil e escassamente representativa presidência da República, canibalizada por três mandatários superlativamente responsáveis pela situação que atravessamos, praticamente é coisa dispensável, morta, esvaziada de conteúdo. O Parlamento é abertamente detestado e injustamente apontado como a raiz de todos os males. Ninguém confia numas Forças Armadas que há muito perderam toda a autonomia, chegando ao ponto de permitirem todos os despautérios, comentários jocosos e a descarada falta de respeito proveniente dos sectores do poder civil e até, pasme-se, dos pretensos "comandantes supremos" em título. Pior ainda, parecem ter desistido do tradicional delimitar da sua intangível esfera de acção, precisamente no que respeita aos tradicionais interesses estratégicos de Portugal, perfeitamente estabelecidos há mais de sete séculos.
A austeridade foi encarada como inevitável e com ela se condescendeu, desde que fosse apresentado um horizonte de esperança. Isso não aconteceu, as autoridades têm sido completamente ineficazes na área política, hoje completamente negligenciada. A população que intervém, tem acesso á informação e utiliza os recursos tecnológicos que tem à sua disposição. Exige, quer saber mais e está disposta a impor-se.
Além dos poderes fácticos - a Intersindical entre eles -, torna-se cada vez mais difícil o país confiar numa voz séria e acima de qualquer suspeita. É por isso mesmo que há quem aguarde por aquilo que um símbolo da continuidade da nossa história, o Duque de Bragança, terá para nos dizer no próximo dia 5 de Outubro.
Depois de o editorial de hoje da Ana Sá Lopes, sinto que não existe muito mais a dizer. Afinal, quais são os critérios para se ser agente da PSP? Alguém me esclarece? Porque pelas atitudes que tomam, parece que se resume a uma questão de massa muscular. O QI certamente ficou de fora dos critérios.
Peço desculpa se estou a dramatizar e a generalizar, mas a situação de ontem revoltou-me, como há muito não me revoltava.
Ora bem, vamos analisar os factos, temos uma patética (mini) greve geral, que foi um autêntico flop. Que no máximo mereceria uns oráculos de telejornal. E o que é que a PSP decide fazer para animar a malta? Dar bastonadas em jornalistas, uma delas da France Press.
Acontece que para a organização e para os arruaceiros que por lá andavam (sim, note-se que não estou a falar de quem se manifestava pacificamente pelos seus direitos, mas dos palermas que lá andavam sem saber bem porquê) esta greve não podia passar despercebida - o que é que se pode então fazer?
- Vamos provocar confusão à la Grécia - porque é tão giro e aparecemos na televisão e no youtube - e provocar desacatos com a Policia.
Estes desacatos levam-nos à intervenção policial - que faria todo o sentido se fosse feita de forma reponsável, de modo a garantir a segurança dos cidadãos, o que não aconteceu de todo. Tratou-se simplesmente de um espetáculo de força bruta, imposição de autoridade estúpida e violência gratuita.
Será que não concebem o prejuizo que causaram a Portugal?
Será que não conseguem perceber que estavam a atacar - é mesmo a palavra - de forma despropositada os manifestantes? Não percebem o conceito de desproporcional?
Será que não entendem que os tipos com camâras são jornalistas? E que estão apenas a fazer o seu trabalho?
Tenham dó...
Posto isto, estou intrigada sobre o nível de inteligência das nossas forças policiais. Não perceberam que estavam a ser provocados e que cairam que nem uns patinhos a dar espectáculo?
Não perceberam que esse espectáculo iria ecoar nos países em redor e prejudicar gravemente a nossa imagem, detruindo todo o trabalho que tem vindo a ser feito, com tanto sacrificio dos Portugueses?
Não consigo conceber qual é o objectivo de destruir a nossa imagem - de país estável e cumpridor, que está a atingir as metas definidas - e transformar a percepção da opinião pública internacional sobre Portugal, como que se tratasse de um país instável e de arruaceiros, tal e qual a Grécia.
Todo o caos e instabilidade que "de repente" assolou o país é provocado por meia dúzia de arruaceiros, forças policias incompetentes (para não dizer mais) e pela intersindical comunista. É simples.
O giro de tudo isto, é o facto de neste momento essas imagens estarem a correr mundo, comparando-nos injustamente à Grécia. Quando na realidade a "grande greve" foi um flop e a maioria dos Portugueses, que continua a apoiar o governo, estava nesse momento nos seus locais de trabalho, a fazer a sua parte para tirar Portugal da crise.
O povo, unido, jamais será vencido! Luta-luta-camarada, luta! Luta-luta-luta, contra a reacção!
E lá ia avenida fora, a mais ampla coligação jamais vista e que abrangia desde o "anarquista" que para o ser basta usar umas rastas e não tomar banho, a comunistas - trotsquistas, maoístas, estalinistas de cartaz do deus em punho, reformadores (?), zuchistas, castristas, "sem-partido" -, jotinhas betos, jotinhas mitras, jotinhas assim-assim, uma data de "alternativos" a eles mesmos, uns gringos italianos a berrar qualquer coisa partisana de fuzilamentos sumários, os infalíveis usuários das dentaduras à Cunhal (da Caixa), uns admiradores dos Kadhafis, muitas senhoras ersatz de franja ex-benzoca da Av. de Roma Alternativa 76 do CDS do "professor" e topo dos cúmulos, admiradores de uma das partes signatárias do Pacto Molotov-Ribbentrop. Foi uma excursão ás farturas, deu para tudo. Ainda bem, gostei de "ver na tv".
Gente precária pobríssima, precária famélica e precária proletária, que precariamente comunicava à viva voz ou dedilhava sms a toda a hora, através de precários telemóveis XPTO chulados aos precários pais presentes ou ausentes. Mariconeras a tiracolo com os precários PC's/FNAC para a reportagem na "rede social", as precárias gangas da Bershka, as precárias riscas da Zara, as precárias lantejoulas da Mango, os "Semartefónes", "Nétebuques", IPOD, IPHONE e IPAD às "resmas e resmas".
No palco ouviu-se pela milionésima vez, a nada precária garganta papuda do Tordo da tourada, a vozita ronhonhó do Janita ou do irmão - sei lá qual deles é?, são iguais! - e os Homens da Luta que para chatice máxima e sincero desgosto meu, parece que já não vão à Eurovisão. Coisas do capitalismo a soldo duma reacção europeia que não permite "letras políticas".
O grande vencedor da tarde?
Aqui está ele. Transpirando-se anti-capitalismo por todos os poros, o precário retempero de forças foi feito na estação McDonald's do Rossio. "Ele" era batatas fritas, "ele" era sundays aos quilos, "ele" era Coca-Cola small, medium ou maxi, "ele" era "maxbârgueres" com/sem queijo, com/sem cebola, com/sem "beicõ", "ele" era "chizequeiques", ou para desenfastiar, "méquechiquenes" quentinhas e dois saquinhos de "quét-châpe". Uma precária carrada de notas de dez Euros despejadas nas caixas registadoras. A Prosegur terá hoje mais trabalho de recolha. É tudo.
Uma precária tarde anti-capitalista bem passada. As precárias bases do PC, PS, CDS, BE e PSD vieram à rua e no próximo sábado, o Expresso lá dirá quantos pontos terão subido ou descido Pedro Passos Coelho e José Sócrates. O Marcelo dos olhinhos brilhantes babar-se-á amanhã à noite, na TVI.
O Bairro Alto já está cheio como numa festa - em "quéque" pronuncia-se "fêsta" - de santos populares. A Trindade já viu piores noites, o Chimarrão-Chiado abarrota de gulosos, o Haagen Dazs serve umas cassatas, as docas vendem pratos por foto e a Portugália mais umas dúzias de bifes com molho. Mais daqui a uma hora, quando bater a meia noite, começa a peregrinação ao Purex, à esquina da Fátima Lopes, Rua do Diário de Notícias, Portas Largas e para uns poucos extenuados manifestantes, uma precária ceiazinha junto à vidraça do Bica do Sapato. Segue-se o Lux e o Kremlin.
E daí?
Apenas isto: kiri-ki,kikikikiki, kiri-ki, kikikik!
Depois de Louçã, Jerónimo e Cavaco, já há mais "modésses aderentes" à manifestação do actual sistema/regime. A JSD acaba de "aderir" e para cúmulo, os deputados das "juventudes partidárias" - menos os PS's - também.
Como se vê, o regime em peso manifesta-se contra si próprio! É o cúmulo da parvoíce.
Almocei hoje com o meu pai no Atrium Saldanha, num local a abarrotar de devoradores de saladas, sandecas-cacete e comida ao quilo. Confesso que me agrada a variedade e ao contrário do que se possa pensar, não se come mal, se soubermos escolher.
À saída, tivemos conhecimento de uma exposição patente nas imediações e assim, lá decidimos visitá-la, até porque o anúncio prometia. De facto, dela não saímos defraudados na expectativa.
Os quadros eram de uma impressionante riqueza cromática e as figuras humanas, um misto de todo o burlesco presente em todas as épocas da pintura europeia. Estranhas personagens faziam em pleno, uma súmula dos fácies exibidos pela arte de um Bruegel, Honoré Daumier ou Paula Rego. Alguns dos temas exibiam uma forte influência da visão sombria emprestada pelo pincel de Goya nas suas imagens dos Desastres da Guerra, percebendo-se igualmente algumas reminiscências das telas exibidas no Carnavalet e que evocam o sangrento período dos acontecimentos de 1789-94.
Bocanhonhas desdentadas, ou pelo contrário, com reluzentes dentolas acrílicas, recordando--nos o brutamontes dentes-de-ferro das aventuras 007 dos anos 60, além de um autêntico e imaginativo desfile de roupagens de outros tempos, hoje presentes apenas em remotas áreas do planeta, onde preponderam os coletes aos quadrados, calças à boca de sino e artificialmente ajustadas a uma quádrupla barriga pendente de um alegado esfomeado, saias-saco de bruxa plissadas em terylene negro, camisas abertas até à já inexistente cintura, pesadas correntes metálicas à volta do pescoço, patas de coelho em metal dourado e usadas como sofisticado adereço porta-chaves, bonés de pala presilhada, os inevitáveis e risivelmente desportivos bonés á la mitra, chapéus de feltro, sacos plásticos cheio de comes e bebes, um ou outro cajado, saiotes sobre calças, esquisitas chancas nos pés, cabeleiras hirsutas, bigodes zapatistas e bochechas patilhudas. Maguerres e mamparras aos magotes, carrancas patibulares de moita-carrasco, desproporcionadas dimensões físicas de uma impressionante variedade e toda a inverosímil probabilidade. Inacreditável. Que grande artista é o autor, que imaginação e esmagador poder de impressionar o visitante.! Sendo uma exibição interactiva, o ruído de fundo era infernal, num misto de pregões de bazar e velhas marchas ou baladas remotamente revolucionárias, a par de um colossal chorrilho de ordinarices, dichotes chocarreiros e impublicáveis, além dos previsíveis e revoltantes insultos. No mundo em que vivemos, é normal ser-se feio ou bonito, alto ou baixo, gordo ou magro, mas estes modelos de excepção são apenas isto mesmo. Únicos.
Não sei onde o pintor encontrou tantos e tantos modelos de um calibre tal, que apenas poderão ombrear com a imagem que para sempre terei da discoteca estelar incluída na série Star Wars, onde um Luke Skywalker passa uns momentos no meio de inenarráveis - mas simpáticas - criaturas de outro mundo. Em contraste com o que hoje vi, onde a simpatia era coisa tão rara como água no Saara.
É certo que a perícia do artista poderá ser criticada sob o ponto de vista da falta de originalidade, pois se as mulheres parecem meras cópias dos tracanazes e mastronças que Paula Rego sangrentamente expõe, os homens, esses, são um misto dos comedores de batatas de Van Gogh, com os idos pequeno-burgueses oitocentistas de Daumier. Nem uma cara lavada, sã e simpática do bom camponês de sempre. Nem uma citadina figura anónima ou discreta que exale confiança. Nada que evoque a tranquilidade do pacato dia a dia, mas apenas uma inquietante e plena ausência daquilo que julgamos ser a gente do nosso tempo. Parece que este pintor retrata um Portugal desconhecido e perdido para lá das brumas da memória.
Deixei o meu pai à boca do metro do Marquês. Uns vinte minutos de visita a uma inesperada exposição de cruel neo-realismo resistente, deixou-nos cabisbaixos e amarfanhados pela surpresa.
O emérito autor? A CGTP.