Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



O Bolo Cavaco Silva?

por Nuno Castelo-Branco, em 24.12.09

 

 Uma das curiosidades consequentes de qualquer golpe de Estado, consiste sempre na apressada mudança dos nomes, sejam estes os das ruas, avenidas, praças e até cidades, ou noutros casos, a alarvice chega mesmo à pastelaria.

Pois bem, em Portugal somos peritos neste tipo de actividade e aqui deixo alguns exemplos:

 

1. A Av. Rainha Dª Amélia passou a chamar-se Av. Almirante Reis, o tal senhor que apenas se notabilizou por desfechar um tiro na própria cabeça. Fez bem, coitado. Como teria passado os anos a seguir à vitória da Rotunda? Aliás, esteja onde estiver, a rainha agradece. A Almirante Reis é frequentada por uma certa calibragem que não é passível de se coadunar com o vestido de cauda de uma rainha. É a ironia da justiça deste mundo.

 

2. Uma localidade. Lembram-se de Poço de Boliqueime? Pois… Quando Sua Excelência o Senhor Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva ascendeu a 1º ministro – já foi, já foi e não vale a pena “fazer de conta” que não -, o autarca lá do sítio logo mudou o nome à terra, promovendo-a a Fonte de Boliqueime. Mas, o problema é que o cavalheiro agora é o Supremo Magistrado, o Venerando  Presidente da República! Então como é? Para o segundo mandato, há que adequar a vila à sua nova categoria, saltando de Fonte, para Termas de Boliqueime. No mínimo! Aqui fica a sugestão.

3. Agora vem um dos meus favoritos.
Quando o Afonso Costa concluiu que a coisa já estava feita e que o Directório do PRP não corria riscos de ir parar à fronteira, lá saiu, mais os amigos,  dos Banhos de S. Paulo, onde “faziam de conta”, despreocupadamente nuzinhos e de toalha enrolada à cintura. Não fosse a Guarda Municipal pensar que estavam envolvidos na tramóia. Enfim, começaram logo a mudar o nome às coisas, a começar pelas ruas, avenidas, praças e navios da Armada. Logo depois, pegaram na Portuguesa – o tal Hino que o Keil e o Mendonça dedicaram em 1891 a D. Carlos e a D. Miguel! – e impuseram-no como símbolo nacional. Tudo bem, é grandioso e bonito. Chegou a vez da Bandeira. Pronto, é difícil, medonha, mas podemos tentar compreender.
Mas…
Que coisa, chegarem ao ponto de decretar sobre o novo nome do Bolo de Natal?! Incrível? Não, é verdade.
Daquelas cabecinhas pensadoras, aventaram-se algumas hipóteses, entre as quais o nome Bolo da Família. Mas não, a coisa cheirava muito a clerical. Estão a ver, família, logo eflúvios a incenso papista. Não dava.
Tiveram então a brilhante ideia de honrar o dito Bolo com o nome do primeiro presidente – aliás, pouco tempo depois forçado a demitir-se, acusado de cesarismo – Manuel de Arriaga. O Bolo era oficialmente conhecido por Bolo Arriaga!
Pelos vistos não pegou, até porque nestas coisas do merchandising, uma coroa sempre é uma coroa. Comprariam alguma coisa cujo rótulo ostentasse o "ovo estrelado" com os dizeres Fornecedores da Casa Presidencial? Duvido muito. Por exemplo, imaginem vocências abrirem um negócio com o nome o Presidente das Meias, o Presidente dos Cachorros Quentes, ou o Presidente dos Frangos. Falência tão certinha, como a reconhecida perícia de Sua Excelência a Senhora Doutora Dona Maria Cavaco Silva em fritar sonhos para a Consoada.
Já sabem como é. A cada um, o seu bolo, seja ele Arriaga, Bernardino, Carmona, Craveiro, Tomás, Soares, Sampaio ou Cavaco & Esposa. Cá por mim, obscurantista de tintes medievalescos à inglesa, abarbato-me com o velho e prestigiado Bolo Rei. Sem fava e com muitas frutas cristalizadas*

Feliz Natal a todos os estadosentidenses e anexos!

* Lá “saquei” o molar e assim, estou limitado aos gelados

 

 

publicado às 14:23





Posts recentes


Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas