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Sempre tive em boa conta Manuela Ferreira Leite. Não é que nutra, note-se, uma especial admiração pela agora furibunda ex-líder do PSD, contudo, num passado não muito remoto, a minha pobre cabecinha cria, pelos vistos, erradamente, que Manuela Ferreira Leite era capaz, ao contrário do seu mui adorado conselheiro, José Pacheco Pereira, de raciocinar com alguma seriedade, deixando de lado os miserandos ódios pessoais que costumam, como é sabido, alentar os politiqueiros séniores do regime. Enganei-me redondamente. Ontem, para espanto de alguns e gáudio de outros, a nossa querida Manuela resolveu achincalhar os pacientes telespectadores comparando a situação actual do país com a situação do pós-guerra. Sim, leram bem, Portugal, segundo a douta criatura, é, neste preciso momento, similar à Inglaterra de 1945 ou à Espanha de 1939. Vejamos esta pérola: "Quando há uma guerra morrem milhões de pessoas e destroem-se imensas coisas e depois não há outra consequência a não ser crescer”. Sim, Manuela, o fim da guerra, por uma questão de lógica matemática, pressupõe, como é óbvio, o crescimento económico, o problema é que, em Portugal, que eu saiba, repito, que eu saiba, não houve, a avaliar por aquilo que vejo quando saio à rua, um conflito bélico. A não ser que os dichotes gonorreicos de Soares e respectiva comandita possam ser considerados um prenúncio de guerra, ou até a própria guerra. Bem se vê que, com um debate político assente em disparates deste calibre, será difícil, no futuro, discorrer, seriamente, sobre os múltiplos desafios que impendem sobre o Governo e o país. É que, pelo menos, para mim, a memória ainda é um património a ser preservado. E, analisando a fundo esse património, é fácil concluir que Manuela Ferreira Leite mudou radicalmente de opinião. Não é que haja algo de negativo relativamente a isso, mas é muito curioso comparar o que dizia Ferreira Leite em 2009 com o que diz agora. O mundo muda, de facto, muito rapidamente, e Manuela, à semelhança de muitos outros, também mudou. Só que neste caso, mudou, sobretudo, por revanche pessoal. É este o busílis da questão, e quanto a isto não há nada a fazer.
...como também se esvaziam vítimas da fome e famélicos da terra como a Dra. Ferreira Leite do negócio Citigroup, o Sampaio do vale de lágrimas de Crocodylus Lusitaniae, o Almeida Santos, o residente de Belém, as carradas de ex-deputados reformados em "sobrevivência" ao fim de oito anos de porfiado labor, juízes, gestores empresariais do Estado, uns tantos caçadores-recolectores, militares de alto coturno, empilhadores de reformas catadas aqui e ali em presidências disto e mais aquilo.
Esta noite foi o que se viu e ao contrário do estupefacto José Gomes Ferreira, apreciei o desgraçadamente necessário trabalho político que fez cozer em banho Maria, toda uma gargantuesca cáfila que por felicidade conseguiu concitar as súbitas adesões de gente auto-arvorada em defensora dos pobres e desprotegidos. Gozemos então o espectáculo de ver o PC, o futuro ex-BE e os apressados embarcadiços na canoa do sr. Costa das demolições, virem a terreiro defender aqueles que são na pirâmide remuneratória, o topo dos topos do sistema de pensões. Se é bem certo que o governo deixou em estado de sofrimento muita gente aflita pela anunciada política de corte das pensões dos mais fracos, também é verdade que esta tortura de uma meia dúzia de dias, serviu para mostrar cabalmente a ostensiva existência de um tipo de informação especializada em trujilladas mediáticas. Mentem, distorcem, são especialistas em campanhas a soldo de interesses que do país se têm servido como gamela exclusiva. Bem podem agora recorrer ao Alka-Selzer.
2. Soares quer ver membros do governo julgados e condenados por delinquência. Tem o pleno direito de querer e dizer o que bem entender, na condição do mais miserável cidadão poder exigir a reciprocidade, precisamente quando se trata de alguém que sem hesitar, voluntariosamente participou na condenação de centenas de milhar de pessoas ao abuso físico e moral, à limpeza étnica e ao total despojamento, sendo o roubo autorizado pela nova administração instalada em Lisboa. O dr. Soares sabe bem que a conivência com deliberadas políticas conducentes ao derramamento de sangue, é matéria insusceptível de prescrição. Isto, para não destrinçarmos outros casos convenientemente abafados pelas trujilladas hostes de trabalhadores da hora do telejornal. É o país que temos, a terra dos nossos amos.
Nas tribos primitivas é que uma das referências da comunidade é o feiticeiro ou a bruxa, figura reverenciada mais por temor do oculto do que por competência reconhecida, cujas leituras em entranhas ou interpretações das trovoadas são tidas como ciência exacta e condicionantes de todas as grandes opiniões e decisões.
Já vai sendo tempo de muita gente no PSD (e fora dele) evoluir para a Pós-História.
«Consegue perceber porque é que a agricultura é tão desconsiderada?
A nossa sociedade é muito apressada. Mesmo as pessoas que têm uma origem rural apressaram-se a urbanizar-se e a esquecer o mais depressa possível as suas raízes. Somos muito superficiais, o que quer dizer que os nossos filhos ou netos têm tendência para achar que os ovos nascem nos supermercados. E também temos um ADN colectivo pouco rigoroso, não ligamos aos números.»
Armando Sevinate Pinto, antigo Ministro da Agricultura do governo Durão Barroso, entrevistado pelo jornal I deste Sábado. Uma interessante entrevista que pode ser lida aqui.
Hilariante! Veja o video disponível no site da antiga presidente do PSD. É o contangiante "espírito marquise anodizada", em toda sua grandeza.
Chega hoje a notícia da alegada acusação de "vigaristas", dirigida aos promotores do OGE. Diz-se que tal apodo provém da Dra. Manuela Ferreira Leite. Assim num clarão de alguns segundos, recordo alguns "nomes de vigaristas":
A própria Manuela Ferreira Leite, Cavaco Silva, Mário Soares, Jorge Sampaio, Ângelo Correia, toda a banca (ora, ora... do que estavam à espera?), António Costa, Mota-Engil, Pacheco Pereira, o megafone TVI Emídio Rangel, Silva Lopes, Vítor Constâncio, toda a CIP, etc, etc e etc. Nem sequer contando com o Partido do governo e com uma boa parte do PPD, já conseguíamos formar vários regimentos de gente fardada à Capitão Kid!
Percebe-se bem a gritaria contra a entrada do FMI na República Portuguesa. Pelas notícias que correm e por tudo aquilo que a população há muito suspeita, há quem tenha muito a perder.
Veja mais AQUI!
O recrudescer da eterna guerra civil do PSD, parece ter encontrado agora mais uma personalidade que de tão controversa, a ninguém oferece dúvidas. O sr. Marcelo Rebelo de Sousa, diz que não pretende - para já - ser dirigente do partido, em substituição de MFL. Pela experiência que todos temos, as palavras de MRS podem querer dizer o que disse ou pelo contrário, o que não disse. Se o episódio da vichysoise consistiu apenas numa caricata nota de uma vida política cheia de casos de intriga televisionada ao domingo, a liderança do (ainda) maior partido da oposição parece cada vez mais surgir, como um mero detalhe de ambição pessoal. Afinal, o sr. MRS parece estar indeciso entre S. Bento e Belém. No entanto, uma coisa é aquilo que lhe convém e outra, bem diferente, é o que interessa ao país.
Imaginemos o muito improvável cenário de MRS como telefonista-presidente da república. Conseguiria a mínima confiança de qualquer um dos partidos parlamentares? O seu currículo de jornalista-capataz de opinião e de factos políticos, desmente a hipótese. Até onde irá esta desesperada república?
Fica apenas uma pergunta: o PSD não tem um único nome fiável para suceder à decente Manuela Ferreira Leite?
O presidente do governo autonómico da Extremadura espanhola, senhor Guillermo Fernández Vara, questiona acerca de ..."quem iria assinar acordos com um Estado que depois não cumpre os seus compromissos"?
Muitos países, praticamente todos, assim o diz a experiência da história.
Se o Sr. Vara está assim tão preocupado com a honorabilidade dos tratados internacionais, dê o exemplo: na Extremadura existe uma localidade que foi formalmente devolvida pela Espanha a Portugal, no Congresso de Viena em 1814-15. Madrid assinou o compromisso e jamais o cumpriu. Presidente da Autonomia Extremenha que administra a Vila de Olivença - e o seu termo -, o sr. Vara que inste junto do seu governo central., tornando as suas recentes declarações mais consentâneas com a reivindicada coerência.
Em matéria de não cumprimento de acordos inter-estatais, a Espanha é até, um dos Estados que mais prevarica. Ainda está bem presente a apressada retirada do Iraque, apesar do formal compromisso de Madrid. Apenas deixamos aqui este exemplo, para não recuarmos muito no tempo.
A campanha eleitoral teve o seu verdadeiro início no debate de Sábado à noite e deste, apenas retivemos a tirada de Manuela Ferreira Leite, referindo-se ao TGV. Soou a desabafo que avisa os portugueses para um estado de coisas que os últimos anos apenas têm agravado. Em alguns segundos fez o pleno de uma certeza de séculos, hoje habilidosamente escondida por detrás do biombo da integração europeia. Contestada na Irlanda, França, Dinamarca e Holanda, a "integração" pressupõe aquilo que muitos - a maioria - dos Estados não querem ceder, ou seja, a soberania, por mais residual que esta se tenha tornado.Os sectores de distribuição, largas extensões de terra alentejana, o imobiliário e agora de forma mais visível os media, têm sido "integrados" ao sabor das conveniências económicas e políticas de um vizinho cuja própria unidade se encontra numa fase de evolução e incógnita. Ferreira Leite fez bem e a prova disso mesmo, consistiu na imediata reacção do governo de Madrid e na mal disfarçada estupefacção do nosso primeiro-ministro. O TGV não é uma prioridade que todos sintam como inexcusável e muito pelo contrário, coloca questões às quais ainda não houve uma resposta que tranquilize a parte portuguesa do negócio:
1. Qual o verdadeiro preço do empreendimento e a utilidade de uma linha de Lisboa ao Porto, na qual se pouparão escassos minutos de viagem? Qual os preços das mesmas? Poderão concorrer satisfatoriamente com os actuais vôos low-cost?
2. Que consequências essa súbita proximidade entre Lisboa e Madrid não provocará o êxodo de empresas e até de representações diplomáticas, concentradas na capital espanhola por evidente racionalização de gastos e gestão de serviços?
3. Se a linha para Madrid servirá sobretudo para argumentar politicamente com o almejado contacto com a Europa além-Pirinéus, qual a real utilidade de linhas internas portuguesas que ao contrário de países como o Japão, não irão servir para o transporte de pessoal aos centros de trabalho e pelo contrário, terão infalivelmente de ser subsidiadas pelo Estado?
4. Liquidada - com a indiferença do governo - a empresa Bombardier que podia ter contribuído poderosamente para a construção de material ferroviário para esse "TGV", que interesse representará tal empreendimento para a nossa cada vez mais reduzida indústria?
Este seria um tema que os principais contendores deveriam exaustivamente abordar durante a campanha, para uma cabal avaliação popular daquilo que o interesse nacional deverá ditar às urnas. Até hoje, permanece no ar a desconfiança popular por um empreendimento que aparenta consistir numa promessa de benefícios evidentes para certos sectores que fazem a "navegação triangular" entre a banca, betão e política. O regime que prove o contrário!
O segundo caso, este praticamente despercebido após a fragorosa derrota louçanista no debate com o primeiro-ministro, consiste na acusação feita "à direita", de estar a promover uma "campanha de ódio" contra o Bloco de Esquerda. Curiosa lamúria, quando provém precisamente do partido que se especializou na pior forma de populismo que tão maus resultados teve na Europa do século XX. Há já uma década, o BE iniciou um ininterrupto programa de acicate ao ódio, inveja, suspeição e acusação de todo o tipo de iniquidades aos seus imaginados inimigos que grosso modo, correspondem a todas as outras forças políticas concorrentes. Ainda estão bem presentes as imagens do dia do Regicídio em 2008, quando no Terreiro do Paço um bando de energúmenos que fazem as vezes de tropas de choque bloquista - as SA de Louçã -, tentaram sem sucesso, perturbar a cerimónia de reparação nacional à memória das vítimas do 1º de Fevereiro. Seguiu-se o caso "Verde Eufémia", com o violento ataque à propriedade privada de um pequeno empresário, não se perdendo a oportunidade para a agressão física a quem corajosamente defendeu o seu trabalho. Seria curioso proceder ao visionamento dos videos disponíveis, para concluir até que ponto os "anarquistas do Bloco" e os "verde-eufemistas" coincidem na identidade. Já este ano, no 1º de Maio, assistiu-se ao deplorável e vergonhoso espectáculo do ataque a Vital Moreira, procurando um bem identificado membro da "juventude do BE", fazer cair o odioso da agressão sobre os sectores do PC presentes na manifestação da Intersindical. Caída a máscara - denunciada no 5 Dias e noutros blogues da esquerda -, regressou o silêncio comprometedor da imprensa colaboracionista, geralmente pertencente aos famigerados "grandes interesses" que Louçã tanto gosta de "denunciar".
O sr. Francisco A. Louçã diz-se vítima de ódio, procurando religiosamente alçar-se à categoria de mártir, talvez à semelhança dos seus compreensíveis "aliados tácticos e tácitos" do Médio Oriente. De facto, a última semana demonstrou que o Conducator do BE não tem relevância para suscitar mortal antipatia, descoberto que foi o seu calcanhar de Aquiles. No debate com Sócrates, o país ficou finalmente ciente de um programa caquético de cem anos e que pressupõe a acelerada passagem de Portugal para um fatal regime de atraso, bestialidade legislativa e repressão de todas as liberdades. Nada de novo, nada que não soubéssemos desde sempre. Mas a máscara caiu e mais vale tarde que nunca. O ódio de que Louçã fala, de facto existe: não contra este ou aquele menino de ouro, privilegiado das sinecuras que o BE julga sempiternamente suas, mas um ódio visceral, profundo e invencível a tudo aquilo que um "regime BE" possa significar. Nisto Louçã tem carradas de razão. Não pode esperar que "a direita" - onde talvez até inclua o PC - se deixe levar mansamente em direcção ao matadouro. Pelo que parece, o Conducator perdeu as ilusões. Ainda bem.
Sr. Louçã, chegou a hora de Portugal inteiro lhe gritar um cosmopolita STOP HATE HERE!
Segui em diferido, o debate televisivo entre Manuela Ferreira Leite/Paulo Portas. Estava no ginásio e enquanto pedalava para o necessário aquecimento, escutei os comentários dos apainelados da SIC, entre os quais pontificavam a senhora Clara Ferreira Alves (uma conhecida Dra.) e o senhor Ricardo Costa (mais um conhecido Dr.). Com a moderação de Mário Crespo, este debate foi capaz de durante uma hora, apresentar ao país a dissecação de um outro que afinal, não existiu! Ao chegar a casa, vinha com a sensação de uma esmagadora vitória de Paulo Portas que segundo aquilo que foi transmitido pelos apainelados da SIC balsemeira, trucidara a "desajeitada" dra. Manuela.
Pesquisei na net e lá descobri a gravação do frente-a-frente que em nada se assemelhou ao que o comentareirismo oficialóide quis fazer transparecer. Paulo Portas esteve bem, como sempre. Foi claro e incisivo - sem qualquer laivo de grosseria ou falta de respeito, o que aliás, não faz o seu estilo - e desfiou num bem conseguido resumo, as medidas que o CDS procurará implementar se for governo. Números precisos, linguagem acessível a todos, os temas que há muito são da sua eleição - pensionistas, agricultores e segurança - e a desejável auto-confiança que geralmente lhe propicia um êxito muito superior às manigantes expectativas dos seus adversários.
Manuela Ferreira Leite deve ter surpreendido muitos indecisos. Esta Senhora é um verdadeiro quebra-cabeças para apainelados aficcionados e promotores do gajismo militante de uma meia dúzia de sirigaitas que vão alternando nos escaparates das listas parlamentares. Apresentou-se bem arranjada - como sempre -, sorridente e amistosa quando necessário e compenetrada na análise da actual situação. Foi moderada quando se referiu ao seu principal adversário - José Sócrates - e chamou a atenção para a calamitosa situação em que centos de milhar de portugueses se encontram, apelando ao bom senso e fazendo ver a imperiosa necessidade de acudir aos casos prementes e mais urgentes. Ao contrário daquilo que o PSD sempre foi e é, mostrou o rosto humano que se compadece com o sofrimento alheio e pela primeira vez nesta pré-campanha, ficámos com a sensação de "o Partido" ter ficado como algo de longínquo ou instrumental, embora necessário para a prossecução de um programa de emergência. De facto, MFL foi a face do estadista que devia ser a norma de todos os agentes políticos. O problema não é ela e sim o PSD. Firme e segura das suas convicções, não cedeu às alfinetadas da Sra. Judite de Sousa (a conhecida "chefa" de redacção, a Dra. Seara), nada prometeu e conseguiu desligar-se da habitual abstracção dos "grandes princípios" ideológicos que regem as forças partidárias - onde geralmente se atolam lunáticos como o sr. Louçã - , para atender à realidade da miséria, do desperdício e da racionalização dos recursos. Foi quase maternal.
Além das sondagens fabricadas ao sabor de ditames mais ou menos identificados, estes apainelamentos são afinal um prolongamento dos ditos estudos de opinião. Gente perfeitamente arregimentada e comprometida, que faz nitidamente o jogo de quem mais prejudicado poderá ficar por um bom resultado de MFL. Ontem, a desfaçatez foi nítida, manipuladora e vergonhosa a roçar a indecência. Num debate onde não houve nem seria previsível haver um vencedor ou um vencido, ficou apenas o triste registo de um simulacro de jornalismo mercenário, de gente que serve a agenda plutocrática de terceiros, provavelmente os sponsors do costume.
Agora, muito dependerá do debate Portas/Louçã - o terceiro lugar é uma tentadora perspectiva para ambos - e o de amanhã, Sábado, quando possivelmente saberemos quem será o previsível vencedor no dia 27 de Setembro.
(imagem tirada daqui)
Há um grande problema na sociedade portuguesa contemporânea, perpassada por um suposto regime democrático de pequenas quintinhas de interesses instalados, em conjunto com uma massificação da informação destinada a analfabetizar e enformar mais do que informar, um sistema educacional em degenerescência acentuada e, por último, mas mais importante que tudo o resto, sociedade essa onde pululam os arautos defensores da democracia legitimados e propagandeados como anti-fascistas, muitos dos quais, se pudessem, até preferiam governar em autocracia. Se tivermos ainda em conta a matriz católica e mediterrânea/latina por oposição ao verdadeiro liberalismo político e responsabilizador do indíviduo de que os países nórdicos e prostestantes são exemplo, temos os ingredientes necessários para um grande problema: o politicamente correcto a raiar o moralismo sem moral e prejudicial ao interesse nacional apodera-se das mesquinhas e provincianas mentes portuguesas levando a um gravoso estado de falta de coesão nacional em torno de um objectivo de verdadeiro desenvolvimento da nação e do país, aquele tipo de faceta que caracteriza nações como a alemã, a japonesa ou a americana, de acordo com a tal psicologia dos povos ou nações, matéria arriscada mas comprovada pelos exemplos históricos de renascimento das cinzas de tais nações.
Este falso moralismo torna-se ainda mais evidente ao nível dos que estão comprometidos com os interesses e o sistema vigente, os que se dedicam a tratar essencialmente daquilo que parecemos adorar, isto é, tudo aquilo que se nos apresenta como acessório ou secundário. Nesta conjuntura é também de assinalar o autismo político da maioria das personagens envolvidas no aparelho governamental e estatal, e a claustrofobia democrática. Aliás, não sei até que ponto a expressão claustrofobia democrática é acertada, parece-me bem mais acertado algo como claustrofobia da liberdade e pensamento político, mas como não é um chavão ou soundbyte a comunicação social não adere tão bem.
Há ainda outro factor que me parece de lamentar, a falta de sentido de humor e de capacidade de aceitação de outras opiniões e discussão digna desse nome, que leva muitas vezes a que virgens ofendidas se manifestem contra quem se atreve a colocar em causa os seus interesses ou se apresente com ideias contrárias ao tal politicamente correcto, o que, no caso português, indica um grau de pouca cultura de liberdade política em toda a sociedade.
Se por um lado é criticável o que Manuela Ferreira Leite afirmou, por outro, é uma chatice quando se é politicamente incorrecto. Caso ainda não se tenham apercebido, este país está a entrar numa espiral de decadência social e política. Uma democracia saudável não seria atravessada por tudo o que acima estatuí. Nesse caso, uma ditadura à romana, a tal ditadura de 6 meses com vista a reestabelecer a normalidade estrutural e minorar as problemáticas mais prementes e causadoras de agitação e constestação social, poderia eventualmente ser uma hipótese a equacionar. Mas como os senhores do estadão protegem muito bem os seus interesses, devendo ter ficado com os olhos em bico, lá vêm mil e uma virgens ofendidas, como as que estavam há pouco na SIC Notícias, armar-se em bastiões defensores de primeira linha da democracia e da liberdade, quando na sua maioria são os mesmos que conformam o que o Professor Maltez classifica de micro-autoritarismos sub-estatatais.
Isto como se a democracia fosse esse regime político perfeito e não pudesse ser colocado em causa. Aliás, é um mal de que me parece padecer a academia norte-americana e anglo-saxónica, essa apologia descarada à democracia no campo de estudos da Política Comparada, utilizada ainda como forma de fundamentação de políticas externas de cariz essencialmente ideológico destinadas a exportar a democracia e implantá-la artificalmente em países cujas sociedades e modelos antropológicos não se coadunam com os princípios da democracia liberal (por oposição à meramente eleitoral).
Adiante, entre os tais argutos moralistas e exemplos de falta de sentido de estado encontram-se certas personagens que me causam um profundo asco quando infelizmente me aparecem no televisor, essa incoerência ambulante que é o senhor Bernardino Soares, e uma autêntica nulidade, o senhor Alberto Martins.
O primeiro diz que as afirmações de MFL foram “infelizes e despropositadas”, o que me parece até bastante acertado, até porque não estou aqui a defender MFL mas simplesmente a tentar analisar determinadas acepções e incoerências. No entanto, refere ainda que “o PSD pode dizer que é ironia, mas há ironias que não se podem fazer e esta é uma delas”. Mais uma vez, se se tratasse de uma ironia, revela-se a tal falta de sentido de humor. Mesmo assim, não o sendo, então mas afinal há ou não verdadeiramente liberdade de expressão? O tempo do lápis azul já passou ou não? Liberdade de expressão implica que cada qual pode dizer o que bem lhe aprouver, embora, claro, sendo susceptível de sofrer acções judiciais por difamação ou afins acções, ou, pelo menos, estando sujeito à crítica alheia, mas que não deveria nunca destinar-se a calar a liberdade de expressão de outrém, o que Bernardino Soares parece tentar. Mas também não é nada de surpreendente vindo de quem acha que a Coreia do Norte é uma democracia. Aliás, no campo das incoerências, o comunismo só tem reflexo prático em regimes autoritários, tendencialmente ou verdadeiramente totalitaristas, portanto, não é praticável em democracia. Mas esta gente também não sabe os fundamentos histórico-políticos do que alegadamente defende, e se sabe então são uns hipócritas, mas como o povo português também não prima pelo conhecimento, ficamos todos contentes com estas alarvidades.
O segundo refere que "A democracia não pode ter intervalos de seis meses. O contrário da democracia é a ditadura - e só quem não sabe o que foi a ditadura pode admitir intervalos lúcidos para a democracia". Isto revela, em primeiro lugar, a tal mania de clamar pela luta anti-fascista, que a par com a integração nas comunidades europeias se apresenta como forma de legitimação do regime e dos medíocres que desse se servem. Este problema que o Professor Maltez classifica como os complexos da esquerda e os fantasmas de direita, só poderá ser resolvido com o tempo, quando daqui a 30, 40 ou 50 anos a maioria destas personagens já tiver desaparecido e já se tiver obtido o distanciamento histórico suficiente para criar um regime com o propósito de servir o país, e não com o propósito de servir uns quantos que acham que a nação lhes deve tudo por terem alegadamente lutado contra o fascismo. E revela ainda, em segundo lugar, a falta de conhecimento de teoria política do sr. Alberto Martins. Segundo Aristóteles, o contrário da democracia não é a ditadura, o contrário da democracia, isto é, a sua forma degenerada, é a demagogia. Não há por aí alguma alma caridosa que ofereça ao líder da bancada socialista um manual de ciência política?
Por último, parece-me ainda de salientar as considerações de Luís Marques Guedes de que "Manuela Ferreira Leite estava a fazer uma crítica à forma autoritária, errada, de governar do engenheiro Sócrates e deste Governo e ao fazer essa crítica ilustrou-a com aquilo que ela acha que não se deve fazer", que as declarações foram "Com certeza uma crítica forte à forma de governar autoritária deste Governo, ironicamente chamou a atenção que isso porventura seria próprio num regime não democrático, mas que em democracia não é forma de se trabalhar, de se governar", e ainda "a reacção da sala é uma reacção irónica, de sorrisos, quando Manuela faz essa crítica velada à forma de governar errática, autoritária, deste Governo".
Começando pela última, significa que ainda há pessoas que parecem ter algum sentido de humor. Mas como a entoação de MFL não me pareceu ser sequer irónica, não sei até que ponto era de facto uma nota humorística. Como tal, se foi uma crítica à forma de governação de José Sócrates, resta-me concluir este já longo post notando evidentemente que maiorias absolutas no regime parlamentar português propiciam governações de cariz tendencialmente autoritário, e fechando ainda com uma pergunta que já me vem a assolar desde o 1.º ano da faculdade: Será que vivemos mesmo em democracia em Portugal?
Passaram quase dois meses a atacar Manuela Ferreira Leite pelo seu silêncio e quando finalmente esse silêncio é quebrado aparecem os mesmos a desvalorizar demagogicamente o seu fortíssimo ataque à governação socialista. No seu discurso, tocou nos pontos chave a que é preciso chamar a atenção, especialmente no contexto da Universidade de Verão, como o sejam a questão do desemprego, da falta de meritocracia, da necessidade de aproximar os jovens da política, e atacando as políticas do governo socialista com argumentos inegáveis quanto aos resultados dessas, bem contrários à propaganda socialista do "país das maravilhas" e das "novas oportunidades".
Através destas reacções só se demonstra mais uma vez a esquizofrenia e autismo político de grande parte da classe dirigente e afins. Se era para isto, e todos sabemos que era, mais valia terem estado calados. É que ao chamarem insistentemente a atenção para o alegado silêncio de MFL só acabaram por gerar o efeito contrário, dando-lhe o destaque que agora confirmou pela positiva com o seu excelente discurso.
Em termos de psicologia das nações creio que Portugal daria um excelente case study. Pelo menos quanto à classe política. Esquizofrénicos e autistas é o que não falta.
A líder do maior partido da oposição dá uma entrevista (a que não assisti) sobre o que acha do estado das coisas que importam para o país, e o que toda a gente se presta a discutir é a sua posição de acordo com a lei relativamente aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Pois está bem, uma crise alimentar, crise petrolífera, bloqueios e greves de pescadores, camionistas e agricultores, violência nas escolas, crise dos partidos políticos e a falta de uma verdadeira estratégia nacional são coisas que não importam, é melhor viver no mundo do acessório.