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«É chegada a altura de produzir um anúncio: desisto oficalmente de aguardar pela chegada do dia em que alguém se espante que seja quem precisamente tem pessoal interesse financeiro em haver cinema a defender os subsídios de que serão os maiores benefiários. Na concentração a favor do cinema português que se realizou nas escandarias da Assembleia da República ouvi um depoimento que é uma literal reencenação deste habitual extraordinário, rebobino: "Nós não estamos aqui a defender o nosso trabalho, estamos aqui sobretudo a defender a cultura em Portugal". Não me resta alternativa que não seja claudicar: trata-se de um traço aparentemente eterno, e retorna sempre. Todo o merdas que em Portugal culturaliza para viver só é habitado por motivos estratósféricos, quase assistencialistas para com Portugal e os portugueses: o Jaime Bulhosa, os cineastas e os actores, pela cultura; os professores, pela educação; os médicos e os enfermeiros, pela saúde; os juizes e os advogados, pela justiça; os banqueiros, pela economia. E os trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo? Esses não, esses estão apenas a defender interesseira mas compreensivelmente os seus postos de trabalho, tadinhos deles. As pessoas da cultura parecem estar isentas do imposto social que é o pudor, o decoro e a vergonha; mas se o não têm, ou se por elitismo (em cujo valor e importância, adiante-se, acredito, e defendo) não acham possível ser hipócrita ao ponto de os simular e exteriorizar, porque é que, ao menos, não estão calados, caralhos ma'fodam? Porque é que não deixam ser quem ambiciona poder consumir cultura em Portugal a mover-se para extrair do Estado os recursos que alimentem o que consideram essencial para si? Que sejam discretos, ao menos, é impossível? Que se defendam, inclusivamente, que nos defendam, mas sem nos esfregar nas trombas a auto-importância que se atribuem. Será pedir muito?»
Ou de como os comunistas não são capazes de ver o óbvio, "Qual é o valor da tua ferramenta?":
«150 ou coisa assim anos depois do início da luta comunista propriamente estruturada contra o capitalismo, ainda existem comunistas que escrevem coisas assim: "Até para o mais fiel defensor da boa fé dos mercados e do capitalismo, [não sei quê não sei que mais]". Isto significa que o Tiago Mota Saraiva vê o defensor do capitalismo, ou seja, a pessoa contra a qual dedica grande parte da sua energia ideológica, como alguém que alimenta as suas tácticas e estratégias políticas segundo o pressuposto de que "os mercados" possuem, ou são capazes de gerar, uma moral e justiça inquestionáveis, as quais devem ser preservadas e emolduradas em talha dourada. Ora, excepto para uma meia dúzia de excêntricos, nenhum defensor do capitalismo possui qualquer ilusão quanto à verdadeira competência do capitalismo: é, de muito longe, a forma de organização que mais informação consegue produzir para uso efectivo das relações económicas entre pessoas, organizações e países; e que, em consequência disso, a diferença de capacidade produtiva entre uma sociedade comunista e uma sociedade capitalista é tal que mesmo uma ideologia de inequívoca "boa fé" como o comunismo nunca jamais conseguirá oferecer aos seus súbditos condições de vida comparáveis ao capitalismo mais escandalosamente amoral e selvagem, e isto mesmo descontanto as mundialmente famosas desigualdades. E é só isto, um gajo não se põe a protestar boas fés, muito menos a nossa. Enquanto o Tiago Mota Saraiva não for a banhos com esta simples observação, a sua luta será sempre contra uma mera meia dúzia de fantasmas da raia capitalista, que com certeza lhe permitirão viver sem atribulações dialécticas, mas que muito dificilmente avançarão a sua causa (...)»
Pedro Lains decidiu pedir donativos no seu blog, com o objectivo de poder adquirir material bibliográfico para o tornar melhor. Angariou 100 euros, que afirmou destinarem-se a assinar o The Economist. O ridículo é de tal ordem que o melhor é mesmo ler o Maradona, aqui ou aqui ou aqui. Deixo duas passagens:
«É sem dúvida intrigante que o Professor Doutor Pedro Cains pretenda reunir os seus textos "mais cuidados" na categoria de "estudos de estudos". O que é esta merda? O gajo vai utilizar um blogue para estudar os estudos, é isso? Então o que nós lhe pagamos através do ICS - e, no meu caso, até pago com agrado - serve para quê? Para o ar condicionado? E se estas doações são para estudar os estudos, e como o dever de um académico é estudar e aprender sempre, já estou mesmo a ver uma segunda vaga de pedidos de doações, desta vez para estudar os estudos dos estudos, os quais, com inviolável imaginação, ficarão publicados na categoria de "estudos de estudos de estudos". E assim por diante, que o saber não usurpa doadores. É um belo esquema, este; tivemos o Esquema de Ponzi, agora temos o Esquema de Cains.»
«Claro que um Pedro Lains não faz um manicómio, mas estas pessoas que dão dinheiro ao Pedro lains não para o poder ler mas para que ele possa fazer um blogue melhor, mais aqueles todos que pagam à Maya para lhe lerem a sina, em acrescento àqueles outros que pensam que o Jorge Jesus pode operar no Yannick Djalo um milagre idêntico ao que realizou sobre o Fábio Coentrão, tudo isto não contribui para que eu me convença que eu é que sou o maluco.»
Há umas semanas, o Luís M. Jorge notava que o Maradona havia desaparecido da blogosfera nos meses que precederam o lançamento do recente O Meu Pipi - Sermões, daí decorrendo a sua sugestão de que poderíamos estar em presença da mesma pessoa. O vocabulário e a escrita do Maradona são, sem dúvida, de um plano muito superior ao que habitualmente se encontra na bloga. Contudo, há outra referência blogosférica que também desapareceu durante uns meses, para regressar nas últimas semanas, e em grande. Trata-se, claro, do célebre Dragão. Se bem que seria um caso verdadeiramente notável e surpreendente, pois ao contrário do Maradona, o Dragão não tem por hábito o tipo de escrita do Meu Pipi, a verdade é que nem mesmo o primeiro se compara ao segundo no que ao vocabulário concerne. E tal como o Pipi consegue escrever coisas verdadeiramente admiráveis, com uma erudição vocabular fenomenal, também o Dragão o faz. Ora atentem:
«Bem, à falta gritante de ideias próprias, o cromo que nos pastoreia teve a humildade de apelar às ideias dos outros. Louve-se o público reconhecimento e auto-penitência deste vácuo cabeludo. O problema é que, para bucólico enredo, as ovelhinhas são de todo dignas do pastor. E como se tal monturo não bastasse, sobram umas regras ainda mais lazarentas que o presépio. Atente-se só neste detalhe formidável: a melhor ideia é necessariamente a mais votada. Supimpa! Fazendo fé nos últimos trinta anos, o resultado acabado e resplandecente duma série de votações maioritárias em determinadas "ideias" a concurso é, entre várias outras maravilhas, a bancarrota, a perda da independência, a ruína moral e económica, a usurpação da república por seitas e séquitos, a administração da injustiça, a cleptocracia burocrática.»
O Maradona leva-se a ele e ao Combate de Blogs demasiado a sério. E, vai daí, encontrou a desculpa perfeita para a fraca performance do seu A Causa foi Modificada, na categoria de "Melhor Blog do Ano". Na sua cabeça, deveria existir uma correlação linear entre o número de visitas diárias de um blog e os votos obtidos nesta votação. Ora, este alegado argumento é um tiro que sai pela culatra ao Maradona. É que o seu blog tem cerca de 1000 visitas diárias, e apenas 234 votos, neste momento. O que falta ao Maradona é bombardear familiares, amigos e conhecidos com e-mails (todos sabemos que muitos nem lêem os nossos blogs, mas quando mobilizados para estas coisas até vão lá votar), utilizar o Facebook, Twitter e afins. Se quer assim tanto ser o Blog do Ano, largue a coca e mexa-se!
* João, basta colocar uma vez a palavra "sexo" no campo da Etiqueta. Assim resulta.
Entre Fevereiro e Março passou discretamente pelas salas de cinema o filme de Maradona, do realizador/músico sérvio Emir Kusturica. O género estaria oficialmente dentro do documentário, mas na prática trata-se de um filme de propaganda, um pouco ao estilo de Michael Moore.
Kusturica, nacionalista sérvio, activista anti-independência do Kosovo e realizador de filmes memoráveis (particularmente nos anos noventa), tem-se dedicado mais nos últimos tempos à sua carreira com os No Smoking Orchestra, com a qual tem visitado Portugal regularmente. Não deixou contudo de desenvolver um projecto antigo, o de homenagear o ídolo dos argentinos e napolitanos, vencedor quase a solo do Mundial de futebol 1986 e tristemente caído nas malhas da cocaína, Diego Maradona. Para isso, deslocou-se várias vezes à Argentina, onde o esperava um ex-craque com o volume de um tonel, assistiu a ritos da igreja maradoniana, levou-o a Belgrado e não cessou de focar a sua "mensagem revolucionária". Um dos pontos altos do filme é aliás um comício de Hugo Chavez, com el pibe ao lado, como sempre meio louco, em que o presidente venezuelano brindou os assistentes com as suas habituais pantominices.
Anda para aí uma confusão entre Gabriel Silva e Estrela Serrano, membro da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação - será só a mim que este nome soa orwelliano? Até dá arrepios...), como se pode ver aqui, ali (resposta de Estrela Serrano), acolá e ainda a adenda.
No meio disto tudo, o melhor post é mesmo do Maradona:
... o que eu gostava que a Estrela Serrano, da ERC, me mandasse um mail e que pedisse para que, em nome da "liberdade de expressão", eu o publicasse no "corpo" do meu blogue! Gostava tanto, tanto, tanto. Eu até acho que o Gabriel Silva podia fazer um workshop desta merda: "Dez conselhos para que uma gaja qualquer da ERC invoque estupidamente a liberdade de expressão para impingir textos merdosos em blogues alheios". Doutora Estrela Serrano...quer fazer um homem feliz, quer poder sentir as suas mãos a passar nas minhas pernas? Mande-me uma cartinha para "o corpo" do meu blogue.... nem precisa de ser em nome da "liberdade de expressão", pode ser em nome doutra merda qualquer, em nome do Quim ou assim.